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FINANCIAMENTO DO TERRORISMO E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A) Direito Penal

Como já mencionado acima, a lei que trata de terrorismo é a Lei nº 7170, chamada de Lei de Segurança Nacional, que, em seu artigo 20, que qualquer pessoa que “devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas ou subversivas”. Este dispositivo, portanto, não define claramente o financiamento do terrorismo, que é referido em outros dispositivos

29 COAF - Resolução nº 015, art. 1º - As pessoas arroladas no artigo 9º da Lei 9.613, de 3 de março de 1998 e que são reguladas pelo COAF deverão, adicionalmente às disposições das respectivas Resoluções, comunicar imediatamente ao COAF as operações realizadas ou os serviços prestados, ou as propostas para sua realização ou prestação, qualquer que seja o valor:

I - envolvendo Osama Bin Laden, membros da organização Al-Qaeda, membros do Talibã, outras pessoas, grupos, empresas ou entidades a eles associadas, conforme os Decretos nºs 3.267, de 30 de novembro de 1999, 3.755, de 19 de fevereiro de 2001, 4.150, de 6 de março de 2002, e 4.599, de 19 de fevereiro de 2003, que dispõem sobre a execução das Resoluções nºs 1.267, de 15 de outubro de 1999, 1.333, de 19 de dezembro de 2000, 1.390, de 16 de janeiro de 2002, e 1.455, de 17 de janeiro de 2003, respectivamente, todas do Conselho de Segurança das Nações Unidas, observado que a lista das pessoas e entidades está disponível no endereço eletrônico: http://www.un.org/ Docs/sc/committees/1267/1267ListEng.htm;

II - envolvendo o antigo governo do Iraque ou de seus entes estatais, empresas ou agências situados fora do Iraque, bem como fundos ou outros ativos financeiros ou recursos econômicos que tenham sido retirados do Iraque ou adquiridos por Saddam Hussein ou por outros altos funcionários do antigo regime iraquiano e pelos membros mais próximos de suas famílias, incluindo entidades de propriedade ou controladas, direta ou indiretamente, por eles ou por pessoas que atuem em seu favor ou sob sua direção, conforme o Decreto nº 4.775, de 9 de julho de 2003, que dispõe sobre a execução da Resolução nº 1.483, de 22 de maio de 2003, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, observado que a lista das pessoas e entidades está disponível no endereço eletrônico: h t t p : / / w w w. u n . o r g / D o c s / s c / c o m m i t t e e s / I r a q K u w a i t / I r a q S a n c t i o n s C o m m E n g . h t m ; III - envolvendo as pessoas que perpetrem ou intentem perpetrar atos terroristas ou deles participem ou facilitem o seu cometimento, ou as entidades pertencentes ou controladas, direta ou indiretamente, por essas pessoas, bem como por pessoas e entidades atuando em seu nome ou sob seu comando, conforme o Decreto nº 3.976, de 18 de outubro de 2001, que dispõe sobre a execução da Resolução nº 1.373, de 28 de setembro de 2001, do Conselho de Segurança das Nações Unidas;

IV – que possam constituir-se em sérios indícios dos atos de financiamento ao terrorismo, previstos na Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo, internalizada no ordenamento jurídico nacional por meio do Decreto nº 5.640, de 26 de dezembro de 2005;

V – que possam constituir-se em sérios indícios dos crimes previstos nos artigos 8º a 29 da Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983.

legais, como a Lei nº 9.613, sem que haja no direito brasileiro uma definição concreta do delito. Assim, a forma de punição ao financiamento do terrorismo somente pode ser feita se for tratado como participação no próprio terrorismo, na forma do artigo 29 do Código Penal, que trata do concurso de pessoas.30

Assim, para que se possa punir o financiamento, tem que ser demonstrado que a eventual provisão de recursos para terrorista ou uma organização terrorista se relacionem concretamente com um ato terrorista. Da mesma maneira, a participação material e a indireta dependem, pelo menos, do início da execução de um ato terrorista propriamente dito.

Ressalte-se, desde logo, que vários autores brasileiros criticam este dispositivo legal, por considerar uma definição deficiente e, mesmo, inconstitucional, já que violador do princípio da reserva legal, ao apenas mencionar a expressão terrorismo, sem jamais defini-lo.31 Da mesma maneira, Lei de Lavagem de Capitais também somente faz referência ao terrorismo e seu financiamento.32

De toda maneira, considerando-se o dispositivo da Lei de Segurança Nacional como aquele que define o terrorismo na legislação brasileira e, por extensão, a partir do marco do concurso de pessoas, o financiamento do terrorismo.

Assim, os bens jurídicos protegidos, segundo o artigo 1º, da Lei nº 7.170, são a integridade territorial e a soberania nacional, bem como o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito, além da pessoa dos chefes dos Poderes da União.33

Com relação aos sujeitos do delito, o crime em questão pode ser cometido por qualquer pessoa física, não se exigindo, para tanto, qualquer qualidade especial. Pessoas jurídicas, no direito brasileiro, somente são admitidas como autores de crimes ambientais34 e, por isso, não podem praticar atos de terrorismo ou seu financiamento.

30 Código Penal, art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

31 Sobre o tema, vide GUIMARÃES, Marcello Ovidio Lopes. Tratamento penal do terrorismo. São Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 97 e seguintes.

32 Vide nota 10.

33 GUIMARÃES, op. cit., p. 53-54.

34 A Constituição Brasileira de 1988 estabeleceu, em seu artigo 173, § 5º, que “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com a sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular”. Também afirmou que: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (artigo 225, § 3º). Em que pese a possibilidade de haver incriminação pessoas jurídicas por crimes econômicos ou financeiros, não houve qualquer regulamentação a esse respeito, havendo previsão de responsabilidade penal de entes coletivos em crimes ambientais, por força da Lei nº 9.605. Sobre o tema, vide SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2ª edição, São Paulo: Método, 2003, 272 p.

Os sujeitos passivos do crime são o Estado e a coletividade em geral, afetados pela prática de tais crimes.

O tipo objetivo diz respeito aos elementos constitutivos, a lei brasileira faz referência a diversas condutas que caracterizam o crime em questão. Inicialmente, devastar significa causar dano extenso e considerável. Já saquear significa despojar violentamente, causando dano patrimonial extenso, acompanhado, em regra, de outras formas de violência a pessoas e a coisas. Extorquir faz referência à idéia de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. Roubar, por sua vez, faz referência á subtração de coisa alheia móvel e, por isso, se contrapõe à idéia de saquear, por ser conduta individualizada e não generalizada. Seqüestrar significa privar alguém de sua liberdade, bem como a idéia de manter em cárcere privado. Depredar contrapõe-se à idéia de devastar e significa causar um dano de menor quantidade. A idéia de incendiar se refere a dar causa a um fogo perigoso, que, ao lado da explosão, são possivelmente algumas das formas mais comuns de terrorismo.35

Já atentado pessoal, que é das expressões mais criticadas na Lei de Segurança Nacional, significa tentar atingir uma pessoa. Finalmente, a expressão terrorismo significa causar dano considerável a pessoas e cosias, na perspectiva do perigo comum, pela criação real ou potencial de terror ou intimidação e pela finalidade político-social.

O tipo subjetivo é o dolo e o especial fim de agir caracterizado “por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas ou subversivas”. Não há previsão de modalidade culposa.

No que se refere às causas de justificação, são aplicáveis aquelas previstas no artigo 23 do Código Penal, isto é, estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de direito.

A pena é de reclusão, de 3 a 10 anos. Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo. Não existem medidas de segurança específicas, valendo-se a regra geral, em que pode substituir a pena, no caso do autor possuir doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, que lhe retirem por completo a capacidade de entendimento, na forma do artigo 96 e seguintes, do Código Penal.

Em havendo condenação criminal, pode-se decretar a perda de bens e valores em favor da União Federal, conforme ao artigo 91, do Código Penal, que trata dos efeitos da condenação.

No que se refere especificamente a programas de compensação ou reparação

de vítimas de terrorismo, há o programa orçamentário Indenizações e Pensões Especiais de Responsabilidade da União, que paga pensões a vítimas de atentados terroristas praticados durante o período das ditaduras militares, entre 1964 e 1985. Além disso, pleitos nesse sentido podem ser encaminhados para a Comissão de Anistia, do Governo Federal.36