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4.1 JUROS

4.1.1 Breve histórico

Em rápida passagem histórica1, observa-se que a discussão sobre os juros jamais foi pacífica na história, sendo influenciadas por questões econômicas, religiosas e jurídicas. Registra-se inclusive passagem bíblia sobre a cobrança de juros2.

Com efeito, várias foram as alterações, na história, acerca da cobrança dos juros, bem como sua limitação. Salientam-se as principais, tais como o Código de Hammurabi, no qual estabeleceu taxas para determinados empréstimos de grãos e prata e a Lei das XII Tábuas, cuja intenção foi restringir a usura, expedindo-se algumas limitações à cobrança de juros, assim como ocorreu na Grécia antiga (BAPTISTA, 2008, p. 01-03). Comportamento distinto deu-se na Idade Média, cuja influência religiosa considerava pecaminosa a cobrança de juros3.

1 Em que pese a importância e as peculiaridades da historicidade dos juros, a fim de tornar o trabalho mais objetivo, far-se-á, resumidamente, um apanhado geral sobre o histórico do objeto deste capítulo.

2 "Não exigirás juro algum de teu irmão, quer se trate de dinheiro, quer de gênero alimentício, ou do que quer que seja que se empreste a jutos. Poderás exigi-lo do estrangeiro, mas não de teu irmão, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em todas as tuas empresas na terra em que entrarás para possuí-la." (BLÍBLIA, 1998, p. 239). 3 Com efeito, Baptista (2008, p. 04) afirma que na "Idade média era proibida a cobrança de juros. Tal vedação teve lugar por força da grande influência do poder clerical na organização socioeconômica. Considerada pecaminosa, pois o bem vendido não pertencia ao mutuante, a cobrança de juros era entendida como uma forma de 'vender o tempo'". Questiona Aquino (1961 apud SAVONE JUNIOR, 2008, p. 36): "Como é

Devido ao desenvolvimento comercial a partir do século XV, já não se sustentou mais a orientação religiosa4, permitindo-se a cobrança de juros5.

No Brasil não foi diferente, porquanto houve diversas modificações referentes aos juros, sempre acompanhadas de discussões doutrinárias e jurisprudenciais. O código civil de 1916, influenciado pela ideologia individualista (conforme já estudado) permitiu a livre estipulação da taxa de juros6. Tempos depois, viu-se o Estado obrigado a limitar tais disposições7, editando, para tanto, o Decreto n. 22.626/338, cujo objetivo foi restringir a total liberdade dada pela legislação civil da época9.

Posteriormente, registra-se a promulgação da Lei n. 4.595/64, com o escopo de regulamentar as taxas de juros com relação às Instituições Financeiras10, conforme se verá mais adiante. Ainda, tem-se as súmulas 12111 e 59612, ambos do Supremo Tribunal Federal, igualmente estudadas a seguir.

Destaca-se, também, a Constituição Federal de 1988, na qual prescrevia o limite da taxa de juros no revogado e problemático §3.º do artigo 19213, além do Código Civil que trouxe regulamentação expressa sobre o assunto14.

possível, na verdade, transferir-se ao mutuário a propriedade do dinheiro mutuado e, sem embargo, cobrar-lhe o preço pelo uso desse dinheiro que já propriedade sua?".

4 Segundo Scavone Júnior (2008, p. 39), "[...] o desenvolvimento das relações sociais, bem como o plexo de intrincadas relações jurídicas que surgiram em razão do desenvolvimento econômico e comercial dos séculos XV e XCI e da posterior revolução industrial (século XVIII), além do desenvolvimento tecnológico do século passado, não permitiram a manutenção da vetusta orientação da Igreja Católica"

5

Consoante ensina Baptista (2008, p. 05), "Na frança, lei datada de 21 de abril de 1793 liberou as taxas de juros, sendo certo que o exemplo espalhou-se por toda a Europa. Na Inglaterra, a liberação ocorreu em 1854, na Dinamarca em 1855, na Espanha em lei de 14 de março de 1856, na Holando em 1857 e na Suiça de 1864." 6 "Art. 1.262. É permitido, mas só por cláusula expressa, fixar juros ao empréstimo de dinheiro ou de outras

coisas fungíveis." (BRASIL, 1916) 7

"Sentindo, porém, o legislador, que os abusos, especialmente nos períodos de crise, são levadas ao extremo de asfixiarem toda a iniciativa honesta, baixou o Decreto 22.626, de 7 de abril de 1933." (PEREIRA, 2006, p. 140).

8 "Dispõe sobre os juros nos contratos e da outras providencias." (BRASIL, 1933) 9

Para tanto, "[...] limitou os juros a 1% ao mês no art. 1.º e, no art. 4.º, proibiu o anatocismo mensal [...]" (SCAVONE FILHO, 2008, p. 46).

10 Consoante artigo 4.º, inciso IX, que dispõe: "Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República: [...] IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover: - recuperação e fertilização do solo; - reflorestamento; - combate a epizootias e pragas, nas atividades rurais; - eletrificação rural; - mecanização; - irrigação; - investimento indispensáveis às atividades agropecuárias;" (BRASIL, 1964)

11 "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada." (BRASIL, 1963)

12 "As disposições do decreto 22626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional." (BRASIL, 1976)

13 O artigo 192 da Constituição Federal e seu parágrafo terceiro assim prescrevia: "O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, será regulado em lei complementar, que disporá, inclusive, sobre: [...] § 3º - As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada

Por fim, ressaltam-se as legislações que dispuseram acerca da possibilidade da capitalização de juros, quais sejam, legislação sobre cédula de crédito industrial15, comercial16, rural17 e bancária18, além da Medida Provisória n.º 1.963-17, de 30/03/2000 (atual n.º 2.170-36, de 23/08/2001).

Não pretendendo findar toda a história dos juros, servem as linhas acima apenas para demonstrar o quão conturbada foi, e é, a sua taxação e aplicação. De mais a mais, no decorrer do capítulo serão abordados, com mais detalhes, alguns períodos supra indicados, a depender de sua importância para o presente trabalho.