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3.2 MODALIDADES DE CONTRATOS BANCÁRIOS

3.2.2 Conta corrente

Outra operação deveras importante no cenário contratual bancário é o da "conta corrente". Isto porque, esta modalidade negocial atinge praticamente toda pessoa economicamente ativa.

Segundo Luz (1996, p. 60) "A conta corrente bancária é o negócio jurídico que se destina a fundir numa só massa patrimonial créditos contrapostos entre um Banco e seu cliente, tornando o saldo líquido imediatamente exigível pelo credor."

A conta corrente registra todos os lançamentos de entradas e saídas dos negócios bancários realizados. Os depósitos efetuados em conta corrente recebem o nome de remessa, cujas práticas podem ser feitas tanto pelo correntista como pelo banco, este na qualidade de concessor de eventual crédito.

Portanto, todas as operações realizadas serão retratadas na conta corrente, lançando-se o "haver" e o "deve". Nesse sentido, "o empréstimo, o depósito, a abertura de crédito, o desconto de documentos, entre outros, se subsumem na conta corrente bancária." (RIZZARDO, 2008, p. 83).

Destarte, observa-se o elemento essencial à conta corrente: compensabilidade dos créditos com os débitos.

Com isso, todos os negócios realizados no bojo da conta corrente, tanto as operações passivas quanto as ativas, são compensadas. Dá-se a compensabilidade nos termos

16 Diniz (2003, p. 578-579) traz nove espécies de depósitos bancários, dentre eles: à vista; de aviso prévio; prazo fixo; popular, limitado; sem limite; em conta conjunta; regular, de títulos da dívida pública, de ações; vinculado.

do art. 368 do Código Civil que assim prevê: "Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem." (BRASIL, 2002)

Tendo em vista compensação automática das entradas e saídas das quantias, levanta-se, desde já, o saldo disponível, que, por sua vez, torna-se exigível como um todo, todavia a sua executoriedade depende de reconhecimento pelo devedor (PEREIRA, 2008, p. 525)

No que se refere às funções atribuídas à presente operação bancária, colhe-se da doutrina:

A conta corrente, além de envolver a entrega de importância pecuniária, visa outros objetivos, que se concretizam na realização de uma gama variada de serviços por conta e ordem do cliente. Não há somente uma entrega de dinheiro e a posterior devolução. O banco se encarrega de proceder pagamentos, cobranças e outras operações inerentes ao serviço de caixa. (RIZZARDO, 2008, p. 83)

Outro aspecto relevante é a divisão entre a conta corrente conjunta e a individual. Diz-se conta corrente individual aquela que possui apenas um titular, ao passo que a conta corrente conjunta possui dois, ou mais, titulares, cujas movimentações lhes são concedidas. Estas movimentações terão de ser observadas de acordo com o estipulado pelos correntistas17, podendo ser restringida à assinatura de todos os titulares, como de qualquer um indistintamente. Contudo, esta estipulação não acarreta na modificação da responsabilidade passiva dos correntistas18, apenas na responsabilidade ativa perante o banco, uma vez que todos possuem o direito de impor à instituição financeira o cumprimento das obrigações inerentes ao contrato.

Outra importante classificação desta operação bancária é entre a conta corrente a descoberto e a com provisão de fundos.

Na conta corrente a descoberto o banco disponibiliza ao correntista certa quantia de dinheiro, ou crédito. Noutros termos, o contrato de conta corrente serve como suporte para uma abertura de crédito, contrato este analisado posteriormente. Por outro lado, a conta corrente com provisão de fundos é aquela na qual o cliente realiza uma operação de depósito. Essa operação poderá ser observada, outrossim, no curso da conta corrente, independemente desta ter sido inciada a descoberto.

17

A conta conjunta poderá ser, ainda, do tipo fragmentária, na qual cada "correntista pode sacar até certo limite, acima do qual é necessário o consentimento do outro correntista, ou sem limite, até encerrá-la." (SANTA CATARINA, 2008).

18 "A responsabilidade passiva é de todos os integrantes, independemente de cláusula a respeito, pois há outorga de poderes para um ou vários titulares asisnarem cheques, ordens de pagamento, remessas, cobranças etc." (RIZZARDO, 2008, p. 85).

Para melhor compreender o contrato em estudo, cumpre transcrever as obrigações das partes, a começar pelas obrigações das instituições financeiras:

a) fazer todas as anotações relativas aos débitos e créditos intercorrentes, com absoluta isenção, apurando em cada lançamento o resultado líquido da conta; b) prestar conta dos lançamentos, informando o saldo;

c) pagar as ordens de pagamentos que lhe forem apresentadas na boca de caixa ou pela câmara de compensação, instrumentadas por cheque ou documento outro, se houve, convencionado entre as partes;

d) fornecer talonários de cheque;

e) usar-se de toda diligência na administração dos interesses de seu cliente, responsabilizando-se pelo uso indevido do cheque, para o qual não tenha havido a omissão do correntistas nem sua colaboração ou participação. (LUZ, 1996, p. 70)

E dos correntistas:

a) empregar todo o zelo na guarda do talonário de cheques, comunicando imediatamente eventual extravio, roubo ou furto, devolvendo, em caso de encerramento da conta, os que não tenham sido utilizados;

b) corresponder aos avisos de lançamento ou remessa de extrato da conta; c) observar as normas legais atinentes ao uso do cheque. (LUZ, 1996, p. 70/71).

Finalizando, os contratos de conta corrente extinguem-se pelo distrato ou resilição unilateral mediante denúncia. Em regra, estes contratos são por tempo indeterminado, todavia nada impede a fixação de prazo de duração da conta corrente, operando-se a extinção no término deste prazo. Doutro norte, por ser a conta corrente um contrato intuitu personae (LUZ, 1996, p, 71), a morte ou a incapacidade do correntista igualmente é causa de extinção.

Analisadas as principais operações bancárias passivas, passa-se, agora, ao estudo das operações bancárias ativas.