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Limitação dos juros bancários remuneratórios

4.1 JUROS

4.1.5 Limitação dos juros bancários remuneratórios

O ponto de partida para análise do limite dos juros remuneratórios bancários é a Lei n. 4.595/64, mormente o seu artigo 4.º, inciso IX, que prescreve:

Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República:

[...]

IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover: - recuperação e fertilização do solo; - reflorestamento; - combate a epizootias e pragas, nas atividades rurais; - eletrificação rural; - mecanização; - irrigação; - investimento indispensáveis às atividades agropecuárias; (BRASIL, 1964)

É salutar lembrar, também, a Emenda Constitucional n. 40, expungindo o §3.º do artigo 192 da Constituição Federal - que limitava a taxa de juros à 12% (doze por cento) ao ano -, bem como que as taxas de juros bancários, sob o ponto de vista prático33, não estão submetidas ao Decreto n. 22.626/33, conforme entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal sob o n. 596.

Em que pese as críticas realizadas34, passa-se a expor o atual entendimento jurisprudencial, uma vez que este trabalho não tem como escopo dirimir a controvérsia relativa à limitação dos juros bancários. Entretanto, cita-se o seguinte trecho doutrinário que reflete tal celeuma:

Certo é que a torrencial doutrina acerca da auto-aplicabilidade do antigo art. 192, § 3.º, da Constituição Federal, e da inconstitucionalidade do art. 4.º, IX, da Lei 4.595/64, não teve o condão de demover os tribunais do questionável posicionamento, mormente que é o Excelso Pretório que, em última análise, interpreta autenticamente os dispositivos constitucionais, tendo feito isso na ADIn 4, que merece respeito. (SCAVONE JUNIOR, 2008, p. 263).

Com fulcro no artigo 4, inciso IX, da Lei de Reforma Bancária, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar a taxa de juros a serem aplicadas pelas instituições financeiras em suas operações. Veja-se o voto do relator Massami Uyeda, no AgRg no Ag 1420090/SC, julgado em 25/10/2011:

Em referência aos juros remuneratórios, a Segunda Seção deste egrégio Superior Tribunal entende que não incide a limitação a 12% ao ano, prevista no Decreto

33 Encontram-se na doutrina (citam-se, a titulo de exemplificação Luiz Antonio Scavone Junior e André Zanetti Baptista) argumentos favoráveis à aplicação da Lei de Usura aos contratos bancários, porém não cabe neste trabalho adentrar nesta seara.

34

Segundo Rizzardo (1990 apud BAPTISTA, 2008, p. 80) "a lei 4.595 em nenhum momento permitiu a graduação de juros acima da taxa legal. Autorizou o Conselho Monetário Nacional a delimitar as taxas de juros e outros encargos, mas não a elevá-los a qualquer níveis, ficando liberados os bancos dos percentuais ordenados pelo Código Civil e Pelo Dec. 22.626. Engendrou o STF uma construção fictícia, dando um alcance à lei 4.595 favorável às entidades bancárias, o que, de certa forma, obedece a uma tradição de nossa instituições, sempre voltadas a consolidar as estruturas das forças econômicas dominantes."

22.626/33, salvo hipóteses legais específicas, visto que as instituições financeiras, integrantes do Sistema Financeiro Nacional, são regidas pela Lei nº 4.595/64. Nota- se que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar tais encargos, aplicando-se a Súmula nº 596 do STF.

Veja-se, mais, que este entendimento não foi alterado após a vigência do Código de Defesa do Consumidor, cujas normas também se aplicam aos contratos firmados por instituições bancárias. E a fim de se harmonizarem os referidos diplomas legais, aquele Órgão Julgador consagrou a manutenção dos juros no percentual avençado pelas partes, desde que não reste sobejamente demonstrada a exorbitância do encargo (v.g. AgRg REsp nº 590.573/SC, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, DJU 25.05.2004).

Entretanto, a 2ª Seção desta Corte, quando do julgamento do REsp n° 715.894/PR, Rel. Ministra Nancy Andrighi, sessão do dia 26.04.2006, firmou o entendimento de que, nos contratos bancários, quando não houver previsão da taxa de juros, aplicar- se-á a taxa média de juros do mercado em coerência com as Súmulas n°s 294 e 296 deste Tribunal. (BRASIL, 2011)

Com efeito, essa taxação se dá, hoje, através da média de juros praticadas pelas instituições financeiras, conforme publicada mensalmente no "site" do Banco Central. Sobre isso, explica Peres (2010 p. 61):

[...] surgiu a Circular nº 2.957, de 30/12/1999, do Conselho Monetário Nacional, dispondo acerca da prestação de informações relativas às operações de crédito praticadas no mercado financeiro, mais uma ferramenta que possibilita o controle das instituições financeiras credenciadas ao banco Central, a controlar o risco dos tomadores de crédito e a impor suas taxas de juros de uma forma avalizadora e fiscalizada.

Com a edição da circular nº 2957, aditada com a circular nº 2.970, as instituições financeiras começaram a remeter mensalmente ao Banco Central as taxas de juros praticadas, resultando na publicação da tabela nominada "Taxa de juros das operações ativas", obtida no site oficial do banco Central, que estampa as taxas médias de mercado para as várias espécies de mútuo bancário, desde janeiro de 1999. Uma verdadeira invenção do Conselho Monetário Nacional e do Governo, que em vez de criar medidas políticas, deveria colocar em discussão, com a população, propostas de leis que visem à transparência das relações financeiras.

Essa tabela mostra a média das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras, mês a mês, as quais refletem a dinâmica dos juros remuneratórios incidentes nas operações.

Portanto, é cediço que os juros aplicados pelas instituições financeiros são aplicados pela taxa média divulgada pelo Banco Central35, não se aplicando a limitação prevista no Código Civil, bem como no Decreto n. 22.626/33. Neste raciocínio, ressalta-se que o Grupo de Câmaras de Direito Comercial do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em 19/12/2006, homologou alguns enunciados pertinentes a matérias de direito

35 Nesse sentido: "APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS. REEXAME DO JULGAMENTO COLEGIADO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 543-C, § 7º, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. EXISTÊNCIA DE DIVERGÊNCIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A ORIENTAÇÃO EMANADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUANTO AOS JUROS REMUNERATÓRIOS. CONTRATOS NÃO JUNTADOS AOS AUTOS. LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO DIVULGADA PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL, SALVO SE A TAXA COBRADA PELA CASA BANCÁRIA FOR MAIS VANTAJOSA AO CONSUMIDOR. ACÓRDÃO ANTERIOR RETIFICADO. '[...] A ausência de juntada do contrato, pela instituição financeira, não obstante tenha sido a ela imputado o respectivo ônus, tornou impossível a comprovação dos juros remuneratórios praticados. Nessa hipótese, o reconhecimento da abusividade na cobrança dos juros conduz à aplicação da taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen.(REsp 1112880 / PR, Ministra Relatora Nancy Andrighi, j. 12/05/2010)' (Apelação Cível n. 2008.018046- 7, de Palmitos, rel. Des. Guilherme Nunes Born, dj. em 20.09.2011)." (SANTA CATARINA, 2012).

comercial, dentre os quais a que informa acerca da limitação dos juros bancários, conforme extrai-se:

I – Nos Contratos Bancários, com exceção das cédulas e notas de crédito rural, comercial e industria, não é abusiva a taxa de juros remuneratórios superior a 12% (doze por cento) ao ano, desde que não ultrapassada a taxa média de mercado à época do pacto, divulgada pelo Banco Central do Brasil. [...] (SANTA CATARINA, 2006)

Diante disso, para melhor analisar os juros impostos pelas instituições financeiras em sua atividade comercial, nos termos dos entendimentos jurisprudenciais dominantes, transcreve-se a taxa média anual aplicada nas operações ativas em abril de 2012 (último mês, até então, divulgado pelo Banco Central):

Quadro 2 - Taxa de operações de crédito

Pessoa Jurídica Capital de Giro 23,05 Conta Garantida 103,48 Aq. de bens 12,88 Vendor 16,85 Hot Money 38,42 Desc. promis. 36,66 Desc. 55,16 Pessoa Física Cheque especial 174,10 Crédito especial 44,66 Aquisição de bens Veículos 26,03 Outros 63,31 Total 27,65

Fonte: Banco Central

Assim sendo, e tendo por base a taxa de juros aplicadas pelas instituições financeiras, verificar-se-á, então, a capitalização destes juros, mecanismo apto a elevar ainda mais os encargos de quem se utiliza dos produtos bancários.