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4 PROJETO CORREIOS NEGRO, QUESTÕES RACIAIS E A COMUNICAÇÃO

4.3 Breve histórico sobre os correios e a identidade racial na empresa

De acordo com Correios (2018b), a atividade de correios teve sua origem formal no Brasil em 25 de janeiro de 1663, com a criação do Departamento de Correios e Telégrafos (DCT). A partir do Decreto-Lei nº 509/19697, o departamento se tornou empresa pública, passando a ser nomeada como Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Sediada em Brasília, a empresa é vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Ainda conforme Correios (2018a), atualmente, a ECT, conta com 105.793 empregados, e possui 21.716 unidades – entre agências próprias, agências filatélicas, agências comerciais, agências franqueadas, agências comunitárias, caixas de coletas e postos de vendas de produtos – em todos os estados brasileiros. Na regional do estado do Rio Grande do Sul, são 7.239 empregados e 42 unidades.

Entre as atribuições dos Correios (CORREIOS, 2018b), estão a execução do sistema de envio e entrega de correspondências; a operacionalização de certames nacionais como o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM); o transporte das urnas eletrônicas nas eleições; a rede de agências que disponibiliza à população serviços de conveniência básicos, como o Banco Postal e a consulta a órgãos de proteção ao crédito e obtenção de documentos como o CPF.

Segundo consta no site institucional da empresa, o respeito às pessoas é um dos valores corporativos dos Correios, e está fundamentado na “valorização de suas competências prezando por um ambiente justo e seguro” (CORREIOS, 2018a, documento eletrônico). Como forma de concretizar esse valor corporativo, a empresa afirma no Relatório igualdade racial e enfrentamento ao racismo (CORREIOS, 2018b), assumir compromisso com a promoção da igualdade racial e de gênero, tornando-se, em 2011, signatária do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, uma iniciativa do Governo Federal, por meio da Secretaria de Políticas para as Mulheres, com o objetivo de estimular a equidade de gênero e raça no mundo do trabalho. Cabe destacar que os Correios mantêm esse Programa até o ano vigente (2018).

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BRASIL. DECRETO-LEI Nº 509, DE 20 DE MARÇO DE 1969 – Publicação original - Portal da Câmara dos Deputados. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-509-20- marco-1969-376774-publicacaooriginal-1-pe.html

Conforme Correios (2016), nos anos de 2013 e 2015, a ECT recebeu o Selo Pró- Equidade de Gênero e Raça, conferidos por esse mesmo Programa, que tem como eixo o incentivo para que as empresas realizem o censo de perfil étnico/racial junto a seus empregados. Para exemplificar esse censo, a seguir é reproduzida a tabela (Tabela 1) da edição de 2018 do Relatório de igualdade racial e enfrentamento ao racismo dos Correios:

Tabela 1- Perfil étnico/racial dos Correios, por gênero e cargo

Fonte: CORREIOS (2018b, documento eletrônico)

De acordo com a tabela 1, destaca-se que atualmente negras e negros representam 46,13% (48.866) do total de empregados/as dos Correios. Esse censo é realizado por meio de auto declaração, ou seja, 46,13% dos empregados e empregadas dos Correios se consideram e/ou se assumiram como negros. Cabe relembrar que atualmente negros representam 54,9% da população brasileira, segundo dados do IBGE (SARAIVA, 2017). Além disso, vale cabe ressaltar que o cargo de analista (maior posição hierárquica apresentada na tabela) é composta por 28,6% de negros e 64,6% de brancos, sendo possível inferir que mesmo com a quantidade expressiva de negros na Organização, poucos desses atuam nos cargos mais altos da hierarquia na ECT.

Ao encontro da representatividade da identidade racial negra na ECT (quase metade dos trabalhadores) destaca-se que diversas atividades identificadas com as questões raciais têm sido realizadas por empregados negros dos Correios. Algumas dessas atividades parecem consequência de iniciativas do movimento sindical da empresa em nível nacional ou regional, como a participação em eventos nacionais que tratam

sobre a questão racial, e configuram-se como mobilização empreendida pelos empregados que se identificam como negros e negras, como é o caso do Projeto Correios Negro que consiste no foco desta monografia. Assim, em continuidade deste subitem busca-se apresentar algumas dessas atividades, com ênfase principal para as ações regionais, tendo em vista a abrangência geográfica proposta para este trabalho.

Conforme Silva e Moraes (2015, p. 659), algumas experiências em diversidades vêm se concretizando nos Correios “por meio de programas, projetos, ações e acordos coletivos8, principalmente o acordo de 2014/2015, [...] que evidencia, nas cláusulas sociais, o respeito à diversidade e aos direitos humanos”. O estudo de Silva e Moraes (2015) aponta que nos anos de 2014 e 2015 foram criados capítulos especialmente dedicados ao combate às discriminações de gênero e de raça, no acordo coletivo de trabalho. Tais fatos, conforme as autoras (2015) evidenciam a importância dada pelos Correios ao ambiente de trabalho, e têm início a partir da mobilização de empregados e participação ativa dos movimentos sindicais.

Os Correios desenvolveram também, baseados no Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015, o programa corporativo Diversidade, Inclusão e Direitos Humanos (SILVA; MORAES; 2015), uma iniciativa que objetiva orientar e fomentar a incorporação das dimensões de gênero, raça, etnia, geração e orientação sexual, nas ações corporativas, com o propósito de contribuir com a capacitação institucional relacionada à diversidade e inclusão em direitos humanos.

Em continuidade, destaca-se de acordo com Correios (2016), a iniciativa Núcleo da Questão Racial dos Empregados Negros (NQR)9 da ECT/RS, criado por um grupo de empregados negros que participou, no ano de 2001, do VII Encontro da Questão Racial organizado pela Secretaria de Assuntos Raciais da Federação Nacional dos Empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Similares (FENTECT), em São Paulo.

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Entende-se por Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) “um ato jurídico que é celebrado entre uma entidade sindical de trabalhadores e trabalhadoras e uma ou mais empresas correspondentes ao ramo de trabalho, pelo qual são estabelecidas regras na relação trabalhista existente entre ambas as partes.” (SILVA; MORAES; 2015; p. 659)

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Ressalta-se que durante a coleta realizada para esse trabalho não foram recuperados registros de época e nem atuais sobre o número de trabalhadores vinculados a esse grupo.

Após o evento, no mesmo ano, este grupo de empregados iniciou o Núcleo no Rio Grande do Sul.

A partir de registros do Correios (2016), pode-se constatar que desde sua criação, o NQR tem participado de eventos como o Fórum Social Mundial, nos anos de 2002 e de 2005; e a Jornada de Estudos Afros do Estado do Rio Grande do Sul, em 2004, que abordou temas como: negro na construção da ECT e afro-descendentes na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Além disso, também apoiou iniciativas como o III Seminário Estadual – Caminhando para a Igualdade Racial, realizado em Porto Alegre, pela Assembléia Legislativa do Estado do RS.

Em 2007 o NQR propôs a primeira edição do projeto Correios Negro, que contou com a parceria da Diretoria Regional dos Correios do RS. Esse projeto consistiu na realização de um evento para empregados da ECT e para públicos externos da Empresa, no mês de novembro daquele ano, em referência ao dia da Consciência Negra10. Na ocasião, conforme Correios (2016), o NQR se organizava como um Grupo de Trabalho (GT), submetido a uma portaria administrativa para demandas do evento, como: auxílio financeiro e justificativa para os empregados se ausentarem de suas tarefas rotineiras em virtude de seu envolvimento com as atividades necessárias para organização do evento.

A partir de 2008 o NQR passou a denominar-se Coletivo de Negros Empregados dos Correios (Concor). De acordo com o blog Concor (2008)11, o coletivo “possui como finalidade discutir o papel do negro na sociedade e na ECT, sua origem, suas contribuições, cultura e história” e assume como meta a inserção da ECT e de seus empregados no contexto da luta pela igualdade racial, incentivando o engajamento de todos nas reivindicações dos movimentos afrodescendentes. Dessa forma, o Projeto Correios Negro é iniciado como parte dessa meta.

Com o decorrer dos anos, segundo Correios (2016), o Projeto Correios Negro se tornou a principal atividade dos empregados que integravam o Coletivo, tendo em vista que o projeto passou a ser realizado anualmente. Assim, no item a seguir, dá-se

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De acordo com o Portal Brasil Escola (2017), o dia da Consciência Negra é celebrado no dia 20 de novembro em homenagem a data da morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do período colonial brasileiro, o Quilombo dos Palmares. Em 2011 a data foi instituída como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra por meio da Lei 12.519/11.

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continuidade à apresentação do histórico sobre os Correios e sobre as questões raciais na Empresa, por meio do aprofundando sobre o Projeto Correios Negro.

4.4 Coletivo de Negros Empregados dos Correios e a organização do Projeto