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3. CULTURA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

3.3 Comunicação organizacional

3.3.1 Comunicação entre organização e empregados

A comunicação entre organizações e empregados tem sido conceituada, de forma simplificada, como comunicação interna. Contudo, vale destacar que, neste texto, opta-se pelo emprego da expressão “comunicação entre a organização e empregados” devido ao fato de que o conceito de “comunicação interna e externa” (e consequentemente de públicos internos, externos ou mistos), como divisão geográfica, já não compreende a realidade de comunicação na atualidade, pois, dentre outras coisas, os processos de comunicação estão inseridos “num contexto de expansão das TICs4

e suas possibilidades de virtualização que transcendem fronteiras físicas e proporcionam o entrecruzamento de papéis dos públicos das organizações” (SILVA, 2016, p. 59).

Inicialmente, destaca-se que, para Kunsch (2003, p. 154) a comunicação interna5, em perspectiva da fala oficial, é realizada por “um setor planejado, com objetivos bem definidos, para viabilizar toda a interação possível entre a organização e seus empregados”. Nessa direção, Curvello (2002, p. 17) afirma que a comunicação interna

exerce papel estratégico na construção de um universo simbólico, que, aliado às políticas de administração e recursos humanos, visa aproximar e integrar os públicos aos princípios e objetivos centrais da empresa. Para tanto, apropria-se dos elementos constitutivos desse universo simbólico (histórias, mitos, heróis, rituais) na construção e veiculação de mensagens pelos canais formais (jornais, boletins, circulares, reuniões), numa permanente relação de troca com o ambiente.

Para Curvello (2002) a característica de analisar os canais formais da comunicação interna a partir da relações de trocas com o ambiente é pouco pesquisada, pois geralmente leva em consideração somente o conteúdo emitido nestes canais (como os boletins) e não buscam compreender o contexto no qual estão inseridos. Além disso, o

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O termo Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) consiste no tratamento da tecnologia de informação, articulada aos processos de transmissão e de comunicação dessa mesma informação (O QUE É..., 2012)

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Apesar de se optar pela expressão “comunicação entre organização e empregados” neste trabalho, sempre que a autores acionados empregarem a expressão “comunicação interna”, essa expressão será mantida.

autor (2002) também ressalta a tendência de as organizações ocuparem seus meios de comunicação destinados aos empregados com informações que a organização tem interesse de que se tornem conhecidas pelos empregados. Assim, acabam deixando, muitas vezes, de realizar a reflexão sobre os assuntos que interessam aos empregados, os temas que eles gostariam (e/ou necessitam para o bom desempenho de suas tarefas) ver retratados nesses canais de comunicação.

Marchiori (2008, p. 209) considera que atualmente as “relações internas são naturalmente valorizadas e praticadas nas organizações porque constroem a identidade organizacional”. A autora afirma que os estudos nessa área têm avançado e pondera que “se a organização é uma instituição social, constituída de pessoas e definida por relacionamentos, é fundamental a existência de ambientes de trabalho que preservem a satisfação do funcionário e o respeito ao ser humano” (MARCHIORI, 2008, p. 209). Nessa direção, considera-se que para a autora a comunicação interna está diretamente relacionada à satisfação do funcionário.

Curvello (2002) também evidencia os fluxos da comunicação como ascendente, descendente e horizontal. O fluxo ascendente é caracterizado pelas manifestações dos funcionários em direção às mais altas hierarquias das organizações, como a direção; o fluxo descendente é aquele em que as informações se originam “nos altos escalões [...] sendo transmitidas ao quadro de funcionários, através de inúmeros canais, entre eles o boletim ou jornal de empresa” (CURVELLO, 2002, p. 17); e por sua vez, o fluxo horizontal caracteriza-se pela comunicação entre os pares e setores, geralmente no campo informal. O autor (2002) também afirma que o fluxo descendente de informações é o que prevalece na comunicação das organizações. E sobre este fluxo (descendente) de comunicação interna, cabe destacar que está compreendido na dimensão da organização comunicada (BALDISSERA, 2009c), na qual as organizações concentram seus esforços principalmente no que se refere à comunicação planejada.

Contudo, Baldissera (2010, p. 62) defende que “a idéia de organização compreende também, e fundamentalmente, sujeitos em relação laborando por objetivos específicos, definidos, claros” evidenciando que tais objetivos, apesar de claros não necessitam ser os mesmos (do empregado e da empresa). Dessa maneira, compreende-se que as organizações, apesar de exercerem poder disciplinar entre os sujeitos, imprimindo

a eles os seus objetivos, não conseguem “anular e/ou eliminar os objetivos portados por cada sujeito que se associou a outros em organização” (BALDISSERA, 2010, p. 63).

Nessa direção, Curvello (2010) afirma que as relações de trabalho entre a organização e os empregados vêm mudando com o tempo, pois, desde o período após a revolução industrial as relações entre a organização e funcionários tendem a ser baseadas na mobilidade e flexibilidade. O período que se vive hoje, de acordo com o autor, é de fluxos intensos de comunicação nos quais os empregados esperam participar ativamente das organizações, têm expectativas em relação à formação da mesma e não aceitam mais as concepções mecanicistas de trabalho.

Alguns autores, como Mumby (2010, p. 27) tem direcionado estudos para a abordagem humanística da comunicação, considerando o outro como poder de transformação:

Qualquer exploração da relação entre comunicação e humanização, assim, exige que consideremos o “outro”, mas não como alguém que precisa ser incorporado em nossa visão específica de mundo. Ao invés disso, o “outro” é exatamente aquela pessoa, aquele grupo, ou até mesmo aquele texto, que apresenta um horizonte de possibilidades diferente do nosso e que representa risco para nós porque se engajar em seu horizonte nos abre possibilidade de mudança e transformação.

A partir dos autores acionados neste capítulo, compreende-se que a comunicação das organizações com seus empregados não deve estar somente associada à impressão dos objetivos organizacionais para os empregados, pois esses também podem contribuir com a organização a partir de seus contextos socioculturais. Além disso, no que diz respeito ao caso estudado nesta monografia, entende-se que o tratamento dado pelos meios de comunicação dos Correios direcionados a seus empregados, quando se referem ao Projeto Correios Negro, podem gerar percepção de que a organização se importa em dar espaço formal para o “outro” (neste caso, os empregados negros e seu contexto sociocultural) nessas publicações. Entretanto, também é possível que a Organização atue nesse sentido como forma de (somente) atender aos interesses (e objetivos) organizacionais.

Portanto, dando sequência a este trabalho, no próximo item são descritos os procedimentos metodológicos e é tecida a análise à luz do referencial teórico acionado.

4 PROJETO CORREIOS NEGRO, QUESTÕES RACIAIS E A COMUNICAÇÃO