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CORREIOS NEGRO NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DOS CORREIOS (ECT) DE PORTO ALEGRE/RS: UMA ANÁLISE DE BOLETINS INTERNOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

Marjana Borges Antunes

CORREIOS NEGRO NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DOS CORREIOS (ECT) DE PORTO ALEGRE/RS: UMA ANÁLISE DE BOLETINS INTERNOS

Porto Alegre 2018

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Marjana Borges Antunes

CORREIOS NEGRO NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DOS CORREIOS (ECT) DE PORTO ALEGRE/RS: UMA ANÁLISE DE BOLETINS INTERNOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Relações Públicas.

Orientador: Prof. Dr. Rudimar Baldissera Co-orientadora: Profa. Ms. Cássia A. Lopes da Silva

Porto Alegre 2018

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Marjana Borges Antunes

CORREIOS NEGRO NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DOS CORREIOS (ECT) DE PORTO ALEGRE/RS: UMA ANÁLISE DE BOLETINS INTERNOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Relações Públicas.

Aprovado em: ____ de _______ de _____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. Dr. Rudimar Baldissera (Orientador)

__________________________________________ Prof. Ms. Cássia A. Lopes da Silva (Co-orientadora)

__________________________________________ Profª Pós-Drª. Luciana Garcia Mello (Examinadora)

__________________________________________ Profª Drª Mônica Bertholdo Pieniz (Examinadora)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO

AUTORIZAÇÃO

Autorizo o encaminhamento para avaliação e defesa pública do TCC (Trabalho de Conclusão de Cursos) intitulado CORREIOS NEGRO NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DOS CORREIOS (ECT) DE PORTO ALEGRE/RS: UMA ANÁLISE DE BOLETINS INTERNOS, de autoria de MARJANA BORGES ANTUNES, estudante do curso de RELAÇÕES PÚBLICAS desenvolvido sob nossa orientação.

Porto Alegre, __ de ________ de 2018

Assinatura:

Nome completo do orientador: Prof. Dr. Rudimar Baldissera

Assinatura:

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Antunes, Marjana

CORREIOS NEGRO NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DOS CORREIOS (ECT) DE PORTO ALEGRE/RS: UMA ANÁLISE DE BOLETINS INTERNOS / Marjana Antunes. -- 2018.

91 f.

Orientador: Rudimar Baldissera.

Coorientadora: Cássia Aparecida Lopes da Silva. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Curso de Relações Públicas, Porto Alegre, BR-RS, 2018.

1. Comunicação Organizacional. 2. Empregados. 3. Correios Negro. 4. Negritude. 5. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.. I. Baldissera, Rudimar,

orient. II. Lopes da Silva, Cássia Aparecida, coorient. III. Título.

CIP - Catalogação na Publicação

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais por juntos me mostrarem o valor do trabalho e o poder transformador da educação. Por terem me apresentado a vida com tanto amor e paciência, por me mostrarem diariamente o quanto é importante andar de cabeça erguida e ter orgulho de cada conquista, por serem meus maiores exemplos de vida, meu amor e gratidão por vocês é incondicional. Agradeço aos meus irmãos por serem as pessoas que estarão sempre na torcida para que dê tudo certo. Em especial, minha irmã e melhor amiga Maria, não tenho palavras para descrever o quanto é importante na minha vida. Obrigada por todas as vezes que acreditou em mim, mesmo quando nem eu acreditava, por todas palavras de incentivo e conselhos, enfim, por estar sempre presente. Citando vocês estendo a minha gratidão a toda nossa grande família.

Agradeço ao meu namorado, Kevin, por ser o meu conforto nos dias difíceis, por me mostrar diariamente que mesmo com as adversidades não devemos perder as esperanças. Teu amor e compreensão foram essenciais para esta conquista.

Agradeço a Escola Ruy Coelho Gonçalves e todos os professores do meu ensino fundamental e médio, levarei por toda a minha vida os ensinamentos de vocês. Agradeço também aos professores da Fabico por demonstrarem em cada aula a importância de uma comunicação crítica, em especial agradeço a Professora Mônica, uma grande amiga que sempre guardarei no coração.

Ao meu orientador Professor Rudimar, agradeço por todas as aulas inspiradoras durante esta jornada na Fabico e por suas considerações que foram fundamentais para este trabalho. A co-orientadora, Professora Cássia, agradeço por ter aceitado o convite de embarcar nesta pesquisa comigo, mesmo sem nos conhecermos bem, muito obrigada por toda a dedicação dispensada para que este trabalho fosse concluído.

Agradeço também as duas representantes dos Correios, Rejane e Âgela por toda a disponibilidade, paciência e ajuda que me deram desde o recebimento da autorização da empresa até a busca pelos materiais necessários para a pesquisa.

Por fim, agradeço a todos os amigos que torceram de alguma forma para que eu chegasse até aqui. Em especial, agradeço as amigas fabicanas Lisandra, Jaynan, Maria Alice e Gabriela Seixas: obrigada por serem as melhores companheiras que eu poderia ter nesses quatro anos e meio de graduação.

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RESUMO

O presente estudo teve como objetivo geral verificar como o Projeto Correios Negro e temas relacionados a ele são abordados pela comunicação organizacional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos com seus empregados, sede de Porto Alegre/RS, em seus boletins internos. Os fundamentos foram organizados em dois movimentos: um mobilizando questões sobre negritude, identidade e movimento negro; e o outro buscando aspectos da cultura e comunicação organizacional. Para o primeiro tema foram trazidas informações acerca do histórico da escravidão no Brasil (MUNANGA, 2015; SANTOS, 2010; PAULA 2011; FERNANDES, 1972; 2008; GONZALEZ, 1982) e das noções de raça e racismo (MUNANGA, 2003) para que se compreenda o cenário de desigualdades raciais no país. Em continuidade, foram acionadas noções de identidade e diferença, a partir de Silva (2014) e de identidades negras, por Munanga (2015), além de destacar um histórico sobre os movimentos negros, com base em Barros (2004),entendendo-os, a partir de Toro e Werneck (1996), como forma de mobilização social. Após, foi abordada a ideia de cultura com base em Geertz (1989) e, por meio dos autores Fleury (2013), Schein (2009) e Baldissera (2009) tratou-se sobre cultura organizacional. Para dar conta dos conhecimentos acerca de comunicação organizacional, buscou-se fundamentação em Kunsch (2006), Marchiori (2009) e Baldissera (2008; 2009; 2010; 2014), e no que tange a comunicação entre a organização e empregados, teve-se como base Curvello (2002; 2010) e Baldissera (2010). Os procedimentos metodológicos empregados para realização da pesquisa qualitativa (MINAYO, 2001), aliada a observações quantitativas sobre a amostra (FONSECA, 2002), foram a análise e interpretação (GIL, 2008). Assim, a análise dos boletins internos da ECT foi realizada com foco em: a) conteúdo das matérias; b) concentração periódica; e c) aspectos visuais das matérias. Dentre os principais resultados, identificou-se que as matérias publicadas demonstram pouca abordagem do Correios Negro e temas relacionados a ele nos boletins internos da Organização, além disso, encontraram-se poucas evidências de que as questões raciais abordadas nas matérias sirvam como catalisadores para conscientizar os empregados dos Correios a refletirem de maneira mais aprofundada sobre as questões raciais.

Palavras–chave: Comunicação Organizacional, Empregados; Correios Negro, Negritude;

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ABSTRACT

The present study had as general objective to verify how the “Correios Negro” Project and related topics are approached by the organizational communication of the Brazilian Post and Telegraph Company with its employees, Porto Alegre / RSheadquarters, in its internal bulletins. The foundations were organized in two movements: one mobilizing questions about blackness, identity and black movement; and the other seeking aspects of organizational culture and communication. For the first theme, information about the history of slavery in Brazil (MUNANGA, 2015, SANTOS, 2010, PAULA 2011, FERNANDES, 1972, 2008, GONZALEZ, 1982) and the notions of race and racism (MUNANGA, 2003) were brought to understand the scenario of racial inequalities in the country. In continuity, notions of identity and difference, starting with Silva (2014) and of black identities, by Munanga (2015), and a historical one on the black movements, based on Barros (2004), understanding them, from Toro and Werneck (1996), as a form of social mobilization. Afterwards, the idea of culture based on Geertz (1989) was approached and, through the authors Fleury (2013), Schein (2009) and Baldissera (2009) dealt with organizational culture. In order to notice the knowledge about organizational communication, we sought to base Kunsch (2006), Marchiori (2009) and Baldissera (2008, 2009, 2010, 2014), and on communication between the organization and employees, based on Curvello (2002; 2010) and Baldissera (2010). The methodological procedures used to carry out qualitative research (MINAYO, 2001), together with quantitative observations on the sample (FONSECA, 2002), were the analysis and interpretation (GIL, 2008). Thus, the analysis of the ECT internal bulletins was carried out focusing on: a) content of the materials; b) periodic concentration; and c) visual aspects of the material. Among the main results, it was identified that the published articles demonstrate little approach of the “Correios Negro” and issues related to it in the internal bulletins of the Organization, in addition, there was little evidence that the racial issues addressed in the material serve as catalysts to raise awareness in the employees of the Post Office to reflect more deeply on racial issues.

Keywords:Organizational Communication, Employees; Correios Negro, Blackness; Brazilian

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Matérias do Boletim Interno da Diretoria Regional dos Correios do Rio Grande do Sul ... 50 Quadro 2 – Edições do Projeto Correios Negro e suas temáticas... 55

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Reprodução da Matéria A... 58

Figura 2 – Reprodução da Matéria K... 59

Figura 3 – Reprodução da Matéria C... 60

Figura 4 – Reprodução da Matéria H... 61

Figura 5 – Reprodução da Matéria B... 63

Figura 6 – Reprodução da Matéria I... 65

Figura 7 – Reprodução da Matéria M... 68

Figura 8 – Reprodução da Matéria D... 73

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 NEGRITUDE: HISTÓRICO E CONFORMAÇÕES NO CENÁRIO BRASILEIRO ... 16

2.1 Breve histórico sobre a escravidão do negro no brasil ...16

2.2 Raça, racismo e lugar do negro: conceitos e contexto na sociedade brasileira ...21

2.3 Construção de identidade e a identidade negra ...26

2.4 Movimentos negros como forma de resistência e mobilização social ...30

3. CULTURA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ... 35

3.1 Sobre a noção de cultura ...35

3.2 Cultura organizacional ...37

3.3 Comunicação organizacional ...41

3.3.1 Comunicação entre organização e empregados ...44

4 PROJETO CORREIOS NEGRO, QUESTÕES RACIAIS E A COMUNICAÇÃO DOS CORREIOS COM SEUS EMPREGADOS... 47

4.1 Procedimentos metodológicos ...47

4.2 Procedimentos de coleta de dados e corpus de análise...49

4.3 Breve histórico sobre os correios e a identidade racial na empresa ...52

4.4 Coletivo de Negros Empregados dos Correios e a organização do Projeto Correios Negro ...56

4.5 A igualdade racial refletida na comunicação organizacional dos correios com seus empregados, a partir da divulgação do projeto correios negro ...59

4.5.1 Conteúdo das matérias ...59

4.5.1.1 Matérias de Divulgação em geral do evento ... 59

4.5.1.2 Matérias que abordam questões raciais pautadas pelo Correios Negro... 64

4.5.2 Concentração periódica das matérias coletadas ...71

4.5.3 Aspectos visuais das matérias ...73

4.5.3.1 Ordem da matéria na edição do boletim ... 74

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4.6 O Projeto Correios Negro e as questões raciais retratados na comunicação

organizacional da ECT ...78

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 80

REFERÊNCIAS ... 84

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1 INTRODUÇÃO

Inicio dizendo que nesta primeira parte do capítulo introdutório emprego a primeira pessoa do singular, pois é daqui que falo, e é daqui que posso dizer “Eu”, sem arrogância, mas para demarcar um lugar de existir e dizer.

Importa destacar que, conforme Saraiva (2017), atualmente a população brasileira é composta por 54,9% de negros e negras, mas apesar disso, apenas 8,8% dos negros possuem o ensino superior completo (ANALFABETISMO..., 2017). Dessa forma, como negra e egressa de escola pública, considerei que a escrita desta monografia, como trabalho de conclusão de curso, devia atentar para um tema que envolvesse as questões raciais, pois isso, certamente, é fundamental como conquista de uma aluna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porém, esta escrita da pesquisa também é primordial, pois se conforma como um movimento para atentar para essas questões a partir de nosso lugar de fala, nossas perguntas e, ainda, para incentivar que outros negros e negras também tenham acesso a direitos básicos como educação e trabalho dignos.

Após essas breves considerações sobre a força basilar „que impulsionou‟ e „me impulsionou para‟ esta pesquisa monográfica, a seguir discorre-se sobre a pesquisa propriamente dita, iniciando pela apresentação do tema. De acordo com Correios (2018b), negros e negras representam 46,13% do corpo de empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e diversas ações são realizadas na empresa em prol da promoção da igualdade racial. Entre essas ações destaca-se o Projeto Correios Negro que consiste na realização de atividades (eventos, palestras, apresentações artísticas) anualmente, tendo como temática central a consciência negra e, como público, integrantes da ECT e comunidade em geral.

Ressalto que a existência do Projeto Correios Negro era do meu conhecimento tendo vista que tenho familiares que são empregados na EBCT. Porém eu não conhecia os materiais sobre as ações do Correios Negro e havia poucas informações oficias sobre o Projeto. Além disso, o que também despertou meu interesse em realizar este trabalho monográfico foi o fato de o Projeto ter sido criado por um grupo de empregados e, depois de alguns anos de realização, ter sido incorporado pela ECT.

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Nessa direção, entendendo a comunicação interna como uma permanente relação de trocas, visando a integração dos públicos aos objetivos da organização, a partir de Curvello (2002), partiu-se do seguinte problema de pesquisa: como o Projeto Correios Negro e temas relacionados a ele são abordados pela comunicação organizacional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos com seus empregados, sede de Porto Alegre/RS, em seus boletins internos?

Para atender o problema proposto, foi definido como objetivo geral: verificar como o Projeto Correios Negro e temas relacionados a ele são abordados pela comunicação organizacional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos com seus empregados, sede de Porto Alegre/RS, em seus boletins internos. Como objetivos específicos, foram estabelecidos: a) levantar o histórico de divulgação do Projeto Correios Negro na comunicação organizacional da ECT destinada a seus trabalhadores; b) examinar a relevância dada para o Projeto na comunicação organizacional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; e c) verificar a abordagem das questões raciais a partir de publicações da organização que tratam sobre Projeto Correios Negro.

Definidos os objetivos, destaca-se que os procedimentos metodológicos para a realização deste estudo compreenderam a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e os procedimentos de análise e interpretação como técnica de análise do corpus empírico. No quarto capítulo deste relatório, esses procedimentos são melhor descritos.

Esta monografia, no intuito de atender aos objetivos propostos, está da forma que se descreve a seguir. Após este capítulo introdutório, para o segundo capítulo, entendeu-se que seria necessário realizar uma breve descrição acerca do histórico da escravidão no Brasil e discorrer sobre as noções de raça e racismo, uma vez que se reconhece a importância do conhecimento sobre esses conceitos para que se compreenda o cenário de desigualdades raciais no país. Para isso foram consideradas principalmente publicações de Munanga (1999; 2003; 2015), Santos (2010), Paula (2011), Fernandes (1972; 2008) e Gonzalez (1982). Na sequência foram apresentados os entendimentos sobre identidade e diferença, a partir de Silva (2014) e identidades negras, por Munanga (2015). E ainda neste capítulo, foi apresentado, de modo sucinto, um histórico sobre movimentos negros brasileiros, tendo como base Barros (2004), e entendendo-os a partir de Toro e Werneck (1996) como forma de mobilização social.

(16)

No terceiro capítulo, discorre-se sobre a noção de cultura a partir de Geertz (1989) e sobre as concepções de cultura organizacional com base em Fleury (2013), Schein (2009) e Baldissera (2009). Em seguida, a comunicação organizacional foi compreendida por meio de Kunsch (2006), Marchiori (2009) e Baldissera (2008; 2009; 2010), e as considerações sobre comunicação entre a organização e empregados foram tecidas fundamentalmente a partir das reflexões de Curvello (2002; 2010) e Baldissera (2010).

Após o levantamento teórico, no quarto capítulo foram explicitados os procedimentos metodológicos, definidos a partir de Minayo (2001), Gil (2008) e Fonseca (2002), bem como foi realizada a análise e interpretação do material empírico.

Por fim, o quinto capítulo é dedicado às considerações finais acerca do estudo realizado.

(17)

2 NEGRITUDE: HISTÓRICO E CONFORMAÇÕES NO CENÁRIO BRASILEIRO

Neste primeiro capítulo, com o propósito de melhor compreender a realidade racial brasileira, primeiro e de modo sucinto, discorre-se sobre algumas questões históricas relativas ao processo de como os africanos foram trazidos para o Brasil. Na sequência, destacam-se aspetos relativos ao lugar ocupado pelos negros na contemporaneidade.

2.1 Breve histórico sobre a escravidão do negro no Brasil

Munanga (2015, documento eletrônico) afirma que o fator histórico “constitui o cimento cultural que une os elementos diversos de um povo através do sentimento de continuidade histórica vivido pelo conjunto de sua coletividade”, o que permite inferir que a partir do conhecimento de sua história e suas origens, seja possível compreender a si mesmo. Dessa forma, apesar de haver poucas informações e publicações disponíveis sobre a história dos povos africanos trazidos para o Brasil, inicia-se este texto contextualizando a história desses povos para compreensão dos negros brasileiros da atualidade.

Tendo em vista que uma das principais estratégias de colonização no Brasil foi calcada na destruição da memória coletiva dos escravizados e colonizados, considera-se impossível descolar o fator histórico do período de escravidão, o que se afirma com base em Santos (2010, p. 2):

Desde o sequestro dos escravizados até o seu embarque, utilizava-se a técnica da desidentificação étnica, expressa também na conversão forçada ao catolicismo e na adoção arbitrária de nomes católicos, como Francisco, Jose, Maria, João, etc. Os comerciantes de escravos europeus sabiam bem que quanto menos identificação houvesse entre os escravizados, mais eficaz seria submetê-los ao servilismo, sufocando possíveis protestos.

Dessa forma, parece evidente que houve uma estratégia arbitrária de negação da identidade de origem dos escravizados, o que pode justificar o fato de ainda hoje existirem lacunas sobre a origem desses povos. Nesse sentido, Santos (2010, p.2) defende que o tráfico transatlântico de escravos pode ser considerado como “um dos primeiros

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fatores de enfraquecimento dos laços étnicos entre os africanos e um dos mais longos genocídios da história do ocidente moderno.”

De acordo com Munanga (2015) na mesma época em que se “descobriu” a América, os europeus também encontraram o continente africano, em meados do século XV. E, ainda segundo o autor (2015), apesar da organização política dos estados africanos ser considerada de alto nível em diversas instâncias, a tecnologia de guerra era menos avançada. Assim, o processo de escravização foi iniciado pela necessidade de suprir a demanda de mão de obra barata para desenvolver as Américas.

No tráfico transatlântico de escravos foram reunidos povos africanos de diferentes etnias em condições desumanas, além disso, a comunicação entre eles foi dificultada devido à separação das comunidades comuns. Nessa perspectiva cabe observar que os grupos eram separados de suas comunidades de origem para evitar a união entre os escravizados e prevenir possíveis rebeliões. É nesse contexto que, conforme ressalta Santos (2010, p. 2) a denominação “negro” passou a existir:

Não havia negros entre os africanos [...] O que havia era uma centena de grupos étnicos com designações tão variadas quanto suas culturas, como fulas, mandingas, umbundos, quimbundos, cabindas, etc. No Brasil, e em todo o mundo fora da África, essas pessoas foram chamadas de negros, criolos. Em outros termos, com o tráfico transatlântico de escravos iniciou-se um poderoso processo de racialização dos “africanos” em “negros” nas Américas.

Vale salientar que, de acordo com Santos (2010), a raça negra não existia antes da escravização, pois haviam entre os escravizados diversos grupos culturais e étnicos de diferentes regiões do continente africano. Sendo assim, essa denominação foi criada pelos colonizadores com o objetivo de agrupar todas essas culturas, enfraquecendo sua essência.

Destaca-se, conforme Fenton (1999) e Guimarães (2002), que por racialização, compreende-se a imposição de categorias de um grupo subordinado por um grupo dominante, junto com definições do grupo assim categorizado como inferior. Dessa forma, entende-se que a racialização, num primeiro momento, foi imposta aos escravizados, mas, de acordo com Monsma (2013) os africanos e seus descendentes aceitaram esta identidade como uma forma de defesa, que facilita a resistência ao racismo, já que a condição de negros lhes permitiu uma espécie de união.

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A partir de então iniciou-se a anulação das identidades africanas, que perpassou desde o desinteresse pela sua história, crenças e costumes até a estranheza de seus traços físicos. De acordo com Munanga (2003), características como a cor da pele, o cabelo, a forma do nariz e dos lábios e a forma da cabeça foram estudados cientificamente para a classificação dos negros como inferiores aos brancos. O tamanho do crânio dos negros, por ser menor que o padrão europeu, foi usado como um dos argumentos reducionistas que justificavam sua intelectualidade inferior.

O propósito destes estudos, de acordo com Paula (2011), foi justificar e legitimar o processo escravocrata, contando inclusive com apoio da doutrina cristã que pregava a colonização como uma missão civilizadora, em que os pagãos – negros, cuja religião de origem foi negada – pagavam por seus pecados, tendo a oportunidade de redenção ao sofrerem na terra para serem recompensados no céu. A autora (2011, p.9) ainda destaca a violência a qual os escravizados eram submetidos, que ultrapassou os interesses comerciais da escravidão:

[...] muito além do mercantilismo, a escravização dos negros no Brasil está articulada a um perverso e complexo sistema de violência física, simbólica e psicosocial que combina elementos econômicos (o mercantilismo), a elementos ideológicos [...] e que no bojo do direito canônico [...] ganham “legitimidade eclesiástica”, ou “legalidade divina”: se a escravização dos negros africanos foi ratificada pela própria igreja católica, e principalmente por ela, dona da “verdade” sobre os céus e a terra – quem “poderia na terra contestá-las”. Esta situação se manteve no Brasil por cerca de trezentos anos, porém, mesmo nesse cenário houve espaços de resistência dos negros durante a escravização. Exemplos disso foram os quilombos que, de acordo com o Portal Geledés (2012, documento eletrônico), foram espaços “criados por escravos negros fugidos que procuraram reconstruir neles as tradicionais formas de associação política, social, cultural e de parentesco existentes na África.” Por meio de espaços como esses os negros iniciaram seu fortalecimento como povo, de forma que as pautas abolicionistas avançaram gradualmente até a abolição da escravidão com a Lei Áurea de 1888, na qual a Princesa Isabel declarou extinta a escravidão no Brasil.1

Entretanto, mesmo após a abolição da escravatura no Brasil, parece possível compreender que ainda foi longo o percurso dos negros em busca de condições de vida

1

BRASIL. Lei n. 3.353, de 13 de maio de 1888. art. 1º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM3353.htm> Acesso em: 16 nov. 2018.

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dignas. Fernandes (1972), afirma que os negros viveram num estado de dependência social tão intenso, que foram impedidos de participar de forma autônoma, das mínimas formas de vida social organizadas, como a família e outros grupos primários. Essa situação fez com que, após serem libertos, perdessem o único ponto de referência que os associava ativamente à economia e à vida social, que era o trabalho, obrigando-os, conforme o autor (1972, p. 38), a desenvolverem “um esforço próprio de auto-educação e de auto-esclarecimento, em escala coletiva”. Nesse sentido, percebe-se que ao longo da história as necessidades de auto-organização das pessoas negras fazem parte de seu cotidiano como forma de sobrevivência, resistência e conquista de direitos.

Fernandes (2008) também retrata a integração do negro na sociedade de classes, no período subsequente à abolição da escravidão, atentando para a colocação do negro no “novo regime” de trabalho adotado após a conquista da liberdade. O autor (2008, p. 31) defende que os senhores de escravos entenderam a abolição como uma dádiva, pois “livraram-se de obrigações onerosas ou incômodas que os prendiam aos remanescentes da escravidão”; por sua vez, os ex-escravos deveriam se acostumar com o novo formato de trabalho por conta própria. Dessa forma, para ocuparem os postos de trabalho disponíveis, além de concorrer com os chamados “trabalhadores nacionais”, ou seja, pessoas não negras que já estavam inseridas na sociedade brasileira, os negros tinham que também concorrer com europeus que chegaram ao Brasil em busca de emprego. Tal situação foi percebida como normal pela sociedade brasileira, conforme pondera Fernandes (2008, p. 32):

A legislação, os poderes públicos, e os círculos politicamente ativos da sociedade se mantiveram indiferentes e inertes diante de um drama material e moral que sempre fora claramente reconhecido e previsto, largando-se o negro ao penoso destino que estava em condições de criar por ele e para ele mesmo. Mediante o exposto, parece possível reconhecer que o regime escravocrata, mesmo extinto, foi perpetuado após a abolição e se manteve na mentalidade, no comportamento e até nas relações sociais dos brasileiros. Dessa forma, a questão da indiferença, conforme ressaltado por Fernandes (2008) também pode estar associada às barreiras que impediram os negros de ascenderem socialmente em comparação aos não negros pobres, que concorriam aos mesmos postos de trabalho.

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Outro aspecto que se considera relevante é tratado por Santos (2010), e diz respeito ao período após a exploração dos escravizados, quando esses passaram a ser qualificados pelas elites intelectuais e políticas como um fator que causaria atrasos para o desenvolvimento do país. Para o autor (2010), essa conformação do pensamento das elites brasileiras originou o processo de branqueamento da população, que consistiu na relação sexual forçada entre o colonizador branco e as mulheres negras, resultando na mistura das raças denominada mestiçagem. Munanga (1999, p. 93), disserta sobre a estratégia de branqueamento da população negra no Brasil:

Os defensores do branqueamento progressivo da população brasileira viam na mestiçagem o primeiro degrau nessa escala. Concentraram nela as esperanças de conjurar a “ameaça racial” representada pelos negros. Viram-na como marco que assinala o início da liquidação da raça negra no Brasil.

Os autores (Nascimento, 1978; Munanga, 1999; Santos, 2010) consideram o branqueamento da população brasileira como uma estratégia que visava à anulação completa dos negros no Brasil. Nascimento (1978, p.70) constata que esta política de embranquecer a população se estruturava “de forma a limitar de qualquer maneira o crescimento da população negra”, e a forma utilizada para esse processo incentivou a exploração sexual, sobretudo das mulheres negras. Munanga (1999, p.93) constatou que o branqueamento “começou pelo estupro da mulher negra e originou os produtos de sangue misto: o mulato, o pardo, o moreno, o pardavasco, o homem de cor” que posteriormente se tornaram “o símbolo da nossa democracia racial”.

Na obra “Casa grande e senzala”, de 1986, Gilberto Freyre argumentou que a mestiçagem entre as “três raças” era o que singularizaria o Brasil como um país de mestiços, dando origem a concepção de democracia racial entendida por Nascimento (1978) como uma construção ideológica na qual pretos e brancos convivem em harmonia, com oportunidades de existência iguais, sem nenhuma interferência de suas respectivas origens raciais ou étnicas. Dessa forma, a democracia racial no Brasil é entendida neste texto como um mito por não levar em consideração os fatores históricos citados ao longo desse capítulo (além de outros fatores não acionados neste estudo), os quais retratam a designação de uma posição de desigualdade entre as raças na conformação da sociedade brasileira. Moore (2007, p.12) considera que o mito da democracia racial opera como uma barreira de rejeição do outro, afirmando que:

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O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio, conduzindo-o inevitavelmente à sua trivialização e banalização. Essa barreira de insensibilidade, de incompreensão e de rejeição ontológica do Outro, encontrou, na América Latina, a sua mais elaborada formulação no mito-ideologia da “democracia racial”.

Complementarmente, cabe observar que a falta de discussão sobre esse tema é entendida por Silva (2017, p. 9) como “o embrião do racismo velado, pois é responsável pelo violento silenciamento político da população negra no Brasil”. Diante disso, de modo reduzido, pondera-se que uma reflexão crítica sobre a democracia racial diz respeito a questionamentos como: seria possível que aqueles que vivem num país considerado sem raças ou de “mestiços”, denunciassem o racismo? Para embasar melhor o raciocínio sobre essa temática, a seguir apresentam-se aspectos relativos aos conceitos de raça e racismo.

2.2 Raça, racismo e lugar do negro: conceitos e contexto na sociedade brasileira

Antes de aprofundar a discussão sobre racismo, aborda-se o conceito de raça em sua lógica temporal. Munanga (2003) afirma que a palavra raça é originada do latim,

ratio, que significa sorte, categoria, espécie. O autor (2003) destaca que esse conceito foi

inspirado pela teoria biológica do naturalista sueco Carl Von Linn, defendida nas ciências naturais para classificar plantas e animais e, posteriormente, apropriada para os seres humanos. No latim medieval, o conceito de raça diz respeito a “um grupo de pessoas que têm um ancestral comum e que, ipso facto, possuem algumas características físicas em comum” (MUNANGA, 2003, p. 1).

Segundo o mesmo autor (2003) nos séculos XVI e XVII na França, o conceito de raça passou a ser utilizado também como indicador social, diferenciando a nobreza (povo franco) da plebe (povo gaulês), pois a nobreza, de origem germânica, considerava-se dotada de sangue “puro”, insinuando suas habilidades especiais e aptidões naturais para dirigir, administrar e dominar os gauleses. Munanga (2003, p.01) ainda atenta para o fato de que o conceito de raças puras foi trazido da botânica e da zoologia para as relações de dominação e de classes sociais, “sem que houvessem diferenças morfo-biológicas notáveis entre os indivíduos pertencentes a ambas as classes”.

(23)

Contudo, as descobertas do século XV causaram incerteza nos conceitos já criados, como destaca Munanga (2003, p.1), uma vez que devido à dominação cristã vigente nesse período, ficou sob responsabilidade da igreja encontrar uma explicação para a origem dos povos africanos, denominados como “outros” até meados do século XVII. Para Paula (2011, p.2), a Igreja Católica instituiu nesse contexto, um processo de “demonização” destes povos, e de todos da mesma origem.

De acordo com Munanga (2003), no século seguinte, com o início do iluminismo, as crenças religiosas deram lugar à razão na explicação sobre raça, que passou a ser formulada pelo viés de status científico. Entretanto, o reconhecimento das diferentes raças não foi suficiente, e os estudiosos da época criaram critérios de análise para a hierarquização das espécies como a cor da pele, olhos e cabelos que originaram as raças brancas, amarelas e negras. Mais tarde, no século XIX, foram acrescentados os critérios morfológicos como nariz, espessura dos lábios, queixo, crânio, ângulo facial etc. Por fim, no século XX, com o avanço dos estudos genéticos, percebeu-se que a raça não está associada aos patrimônios genéticos dos indivíduos e desta forma o conceito de raça foi invalidado, como descreve Munanga (2003, p. 4):

Combinando todos esses desencontros com os progressos realizados na própria ciência biológica (genética humana, biologia molecular, bioquímica), os estudiosos desse campo de conhecimento chegaram à conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um conceito, aliás, cientificamente inoperante para explicar adversidade humana e para dividi-la em raças estancas. Ou seja, biológica e cientificamente, as raças não existem. Desde então, conforme o autor (2003, p. 5), há uma discussão conceitual sobre a utilização do termo raça, já que para ele, se estes autores tivessem se dedicado apenas a compreender as diferentes raças, sem realizar hierarquias sobre as mesmas, “eles não teriam certamente causado nenhum problema à humanidade”. Nesse sentido compreende-se que não haveria ainda hoje reflexos dessa hierarquização no que diz respeito ao racismo e a maneira como se constitui na atualidade, além dos diversos resquícios deste discurso que permanecem no imaginário da sociedade. Desta forma, Hall (2003) considera raça como “a categoria discursiva em torno da qual se organiza um sistema de poder socioeconômico, de exploração e exclusão - ou seja, o racismo”.

Após esta constatação biológica e científica de que as raças não existem, alguns biólogos antirracistas sugeriram que o conceito de raça fosse banido dos dicionários e dos

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textos científicos. Foi neste período em que se popularizou um novo termo, etnia, que para Munanga (2003, p. 12) consiste em:

um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território.

O autor (2003) ainda acrescenta que na etnicidade as pessoas brancas, amarelas e negras carregam em si múltiplas etnias. Pode-se pensar, por exemplo, que o negro brasileiro, apresenta bagagem cultural diferente se comparado ao negro norte americano, porém o indicador de racismo se apresentará de diferentes formas de acordo com o território em que estão inseridos. Dessa forma, a mudança do termo raça para etnia, não elimina o racismo, apenas atualiza suas práticas:

Embora a raça não exista biologicamente, isto é insuficiente para fazer desaparecer as categorias mentais que a sustentam. O difícil é aniquilar as raças fictícias que rondam em nossas representações e imaginários coletivos. Enquanto o racismo clássico se alimenta na noção de raça, o racismo novo se alimenta na noção de etnia definida como um grupo cultural, categoria que constituí um lexical mais aceitável que a raça (falar politicamente correto). MUNANGA (2003, p. 10-11)

Portanto, importa salientar que o racismo surge a partir das classificações de raça e está presente mesmo na concepção de etnia. Para Munanga (2003, p. 12), esse fenômeno se baseia “na essência das raças hierarquizadas, raças fictícias ainda resistentes nas representações mentais e no imaginário coletivo de todos os povos e sociedades contemporâneas”. Nessa direção, em relação ao racismo, Fernandes (2008) afirma que se por um lado não há um esforço sistemático e consciente das pessoas não negras em ignorar ou modificar a verdadeira situação racial dominante, por outro lado, há pelo menos uma disposição para esquecer o passado ou deixar que as coisas se resolvam por si só. Essa constatação faz refletir sobre como a falta de debate pode ser prejudicial às transformações da sociedade já que não se pode combater aquilo que não se conhece.

A partir dos conhecimentos até aqui acionados, no que diz respeito especificamente ao negro brasileiro, o cenário atual permite perceber a presença sistemática do racismo, o que se pode confirmar com dados de pesquisas que se reproduz a seguir. Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do

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ano de 2016 (SARAIVA, 2017), mais da metade da população brasileira (54,9%)2 é de pretos ou pardos. Porém, mesmo sendo maioria na população, os negros mantêm essa posição somente nos indicadores menos favoráveis. De acordo com Cerqueira e outros (2018, p. 40):

Uma das principais facetas da desigualdade racial no Brasil é a forte concentração de homicídios na população negra. Quando calculadas dentro de grupos populacionais de negros (pretos e pardos) e não negros (brancos, amarelos e indígenas), as taxas de homicídio revelam a magnitude da desigualdade. É como se, em relação à violência letal, negros e não negros vivessem em países completamente distintos.

Além disso, de acordo com Cerqueira e outros (2018), a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (16,0% contra 40,2%) e tratando-se dos jovens negros, sua chance de ser vítima de homicídio é 2,7 vezes maior em relação a brasileiros de outras raças. Outro dado relevante sobre violência, apresentado no estudo publicado por Cerqueira e outros (2018) mostra que a taxa de homicídios é maior entre as mulheres negras (5,3) que entre as não negras (3,1) – apresentando diferença de 71%. O estudo ainda constata que a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu no período compreendido entre 2006 e 2016. Cabe ressaltar que o crescimento se deu próximo ao decreto da Lei Maria da Penha (Lei 11340/06)3, o que pode indicar, acredita-se, que a partir da criação dessa lei, as mulheres não negras tenham mais proteção efetiva em relação a este tipo de violência, enquanto as mulheres negras, que estão na base da pirâmide social, e por isso, têm menos assistência e proteção efetiva do Estado, tenham sofrido a consequência desse fato.

Voltando-se para a questão de escolaridade, segundo dados do IBGE (ANALFABETISMO..., 2017) sobre educação, a taxa de analfabetismo entre pessoas pretas e pardas (9,9%) é mais de duas vezes maior que o analfabetismo entre brasileiros brancos (4,2). As pessoas brancas mostraram-se mais escolarizadas (9 anos) em relação às pretas ou pardas (7,1 anos); e apenas 8,8% dos pretos ou pardos têm nível superior completo, enquanto 22,2% dos brancos alcançam este nível de escolaridade.

2

Ressalta-se que o IBGE, conforme consta em Saraiva (2017), considera como negros o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretos ou pardos.

3

BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm > Acesso em 19 nov. 2018.

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Seguindo a lógica de acesso das pessoas negras à educação, é possível delinear também os lugares ocupados por elas no ambiente de trabalho. Considerando que possuem menos estudos acabam por ocupar os trabalhos mais subalternos. Gonzalez (1982, p. 14) considera que os lugares ocupados pelos negros na década de 60 eram, sobretudo, as prestações de serviço consideradas “atividades menos qualificadas tais como limpeza urbana, serviços domésticos, correios, seguranças, transportes urbanos e etc.”

Atualmente, estes dados se repetem em relação à terceirização, de acordo com Severo (2015), a maioria das empregadas nos serviços de limpeza e manutenção são mulheres negras e conforme dados do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação do Estado do Rio de Janeiro 92% dos trabalhadores nos serviços de limpeza terceirizados são mulheres, enquanto 62% são negros. Em relação ao mercado de trabalho de forma geral, essa situação não é diferente. Ainda na década de 1980, Gonzalez (1982, p. 2), expunha, em tom de denúncia, a relação entre trabalho e marginalização da juventude negra:

um dos mecanismos mais cruéis da situação do negro brasileiro na força de trabalho concretiza-se na sistemática perseguição, opressão e violência policiais que contra ele se desenvolvem. Quando seus documentos são solicitados (fundamentalmente a carteira profissional) e se constata que está desempregado, o negro é preso por vadiagem; em seguida, é torturado (e muitas vezes assassinado) e obrigado a confessar crimes que não cometeu. De acordo com a visão dos policiais brasileiros, “todo negro é um marginal (thief) até prova em contrário”.

A autora ainda afirma que há no Brasil uma efetiva “divisão racial do trabalho”, na qual os brancos, mesmo possuindo a mesma qualificação profissional – até mesmo inferior – são preferidos em relação aos candidatos negros a uma vaga de emprego. Sobre os fatos afirmados por Gonzalez na década de 80, apesar de as práticas cotidianas se apresentarem de uma forma mais sutil, percebe-se que essa ainda é uma realidade no atual contexto brasileiro. Conforme dados do IBGE (2017), atualmente os negros apresentam taxa de desemprego superior a dos trabalhadores não negros, posto que entre os trabalhadores brancos, o desemprego é de 9,9% e entre os negros (pretos e pardos) a taxa de desocupação ficou em 14,6%, representando 63,7% dos desocupados no país. Entre os que possuem emprego, os negros são 67% dos que recebem os menores salários (até 1,5 salário mínimo).

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Ao pensar sobre os indicadores de ocupação do negro no trabalho, destaca-se que, segundo Werneck (2013), o racismo é considerado como institucional ou sistêmico por apresentar uma atuação complexa, já que se organiza e se desenvolve através de estruturas, políticas, práticas e normas capazes de definir oportunidades e valores para pessoas e populações a partir de sua aparência atuando em diferentes níveis: pessoal, interpessoal e institucional. Dessa forma, considerando o racismo como uma estrutura, torna-se mais fácil pensar nos fatos históricos que levaram à realidade de ocupação dos negros no mercado de trabalho atualmente, e a forma como essa lógica se mantém.

Ainda de acordo com Werneck (2013, p. 18), o racismo institucional atua na operacionalização para “atingir coletividades a partir da priorização ativa dos interesses dos mais claros, patrocinando também a negligência e a deslegitimização das necessidades dos mais escuros”.

Os fatores apresentados demonstram muitas questões a serem pensadas sobre a forma como a discriminação racial molda o entendimento dos negros sobre si, a sua construção de identidade. Nesse sentido, no próximo subitem será desenvolvido o tema da construção de identidade e a identidade negra.

2.3 Construção de identidade e a identidade negra

Inicia-se este subitem dando relevo à distinção entre “identidades objetivas” e “identidades subjetivas” realizada por Munanga (2015, documento eletrônico): as identidades objetivas dizem respeito a características culturais e linguísticas, enquanto as identidades subjetivas representam “a maneira como o grupo se define e ou é definido pelos seus grupos vizinhos”. Nessa direção, entende-se que as identidades objetivas, estão relacionadas ao contexto sociocultural (costumes, tradições etc), enquanto as identidades subjetivas estão relacionadas à tomada de consciência sobre si mesmo e a forma como os outros o definem. Contudo, considera-se que os aspectos objetivos e subjetivos da identidade estejam intimamente ligados, pois, os contextos socioculturais estão associados à forma como o indivíduo compreende a si mesmo.

Em relação às identidades subjetivas, o autor (2015) afirma que o processo de identidade nasce a partir da tomada de consciência entre “nós” e “outros”, nesse sentido,

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compreende-se que a colocação de Munanga (2015) converge com as noções de identidade e diferença abordadas por Silva (2014, p. 74) tendo em vista que o autor define a identidade como “aquilo que sou” e a diferença como “aquilo que o outro é”. Dessa forma entende-se que para identificar as diferenças é preciso autoidentificar-se.

De acordo com Silva (2014) a afirmação de uma identidade possui uma cadeia de declarações negativas sobre outras identidades, as diferenças. Por exemplo, ao afirmar a identidade de negro, está se negando que é branco. Nesse contexto, ressalta-se a importância que os movimentos negros têm na construção da identidade negra, considerando que é dentro do movimento que se reforça o conhecimento sobre a sua própria história.

Silva (2014) considera ainda que a identidade e a diferença são resultado de atos de criação linguística, logo, não são elementos da natureza. Para o autor (2014, p.76) identidade e diferença devem ser ativamente produzidas. Nesse sentido afirma que a identidade e a diferença “não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais”.

Complementarmente, ao pensar na fabricação das identidades no contexto social e cultural, o autor (2014, p.81) aborda as relações de poder que estão inseridas nesse processo, em que a definição de identidade e diferença “está sujeita a vetores de força, a relações de poder” e, dessa forma elas são impostas e disputadas por diferentes grupos sociais. Portanto, de acordo com Silva (2014), a afirmação da identidade e a delimitação da diferença implicam em operações de inclusão, exclusão e classificação/hierarquização.

Silva (2014, p. 82) enfatiza que “deter o privilégio de classificar, significa também deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos grupos assim classificados” dessa forma o autor (2014) compreende que a forma mais comum de classificação se estrutura em torno de oposições binárias. Ainda de acordo com Silva (2014, p. 83) “em uma oposição binária um dos termos é sempre privilegiado, recebendo valor positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa”. Nessa direção o autor (2014, p. 83) constata que “fixar uma identidade como norma é uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças” e retifica que:

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Normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma identidade específica como o parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a essa identidade todas as características positivas possíveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser avaliadas de forma negativa [...] A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista como uma identidade, mas simplesmente como a identidade [...] Numa sociedade em que impera a supremacia branca, por exemplo, “ser branco” não é considerado uma identidade étnica ou racial. (SILVA, 2014, p. 83; grifos do autor)

Dessa forma considera-se que as noções apresentadas nos subitens anteriores resultam na constatação de que a identidade negra, considerando as oposições binárias, assume a carga negativa de ser a diferente. A partir das noções apresentadas na recuperação histórica dos negros percebe-se que os europeus tiveram o privilégio de classificar os negros como inferiores.

Silva (2014, p.86) considera ainda que há movimentos que conspiram para complicar e subverter a identidade, como exemplo o autor cita o hibridismo cultural, em que são colocadas em xeque as identidades separadas ou segregadas. O autor (2014, p. 87) destaca que “a hibridização se dá entre identidades situadas assimetricamente em relação ao poder” e que seus processos “estão ligados a histórias de ocupação, colonização e destruição” muitas vezes forçados. Neste sentido pode-se refletir sobre a forma como estes processos agem na concepção de identidade dos grupos não privilegiados nas relações de poder, que é o caso das pessoas negras no Brasil. No processo de colonização, por exemplo, a identidade negra brasileira foi construída a partir da negação das múltiplas identidades africanas dos escravizados e reforço das identidades europeias.

Nessa direção, busca-se aprofundar a concepção de identidade, especificamente em relação à negritude, a partir dos estudos de Munanga (2015, documento eletrônico) que destaca os fatores histórico, lingüístico e psicológico como essenciais para a construção de uma identidade: “a identidade cultural perfeita corresponderia à presença simultânea destes três componentes no grupo ou no individuo” desta forma debruça-se sobre cada um destes aspectos. Quanto ao fator histórico, o autor (2015, documento eletrônico) acredita que sua consciência cria “um fio condutor que liga o sujeito ao seu passado ancestral o mais longínquo possível” e funciona como um cimento cultural que une um povo a sua coletividade. Portanto, relembra o autor (2015, documento eletrônico),

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este é o motivo pelo qual “o afastamento e a destruição da consciência histórica eram uma das estratégias utilizadas pela escravidão e pela colonização para destruir a memória coletiva dos escravizados”.

Por sua vez, o fator linguístico, de acordo com Munanga (2015), também foi afetado pelo período de escravização, de modo que os vocábulos africanos são pouco conhecidos no Brasil. Entretanto, o autor (2015) aponta que não houve uma perda total de seus aspectos visto que dentro das religiões de matriz africana “persiste uma linguagem esotérica que serve de comunicação entre os humanos e os deuses (orixás, inquices)” (MUNANGA, 2015, documento eletrônico) tornando possível manter um fator de identidade. Além disso, o autor cita outras formas de linguagem que afirmam a identidade negra, como estilos de cabelos e penteados, estilos musicais etc.

Em relação ao fator psicológico, o autor questiona se seria possível notar alguma diferença entre o temperamento de negros e brancos, e afirma que se há diferenças devem estar atreladas ao histórico do negro e suas estruturas sociais comunitárias, sem qualquer vínculo com diferenças biológicas, como pensariam os racialistas.

Após a explicitação destas concepções, o Munanga (2015, p.15) questiona se seria possível compreender a identidade negra sem considerar o contexto político ideológico, e afirma:

se cientificamente a realidade da raça é contestada, política e ideologicamente este conceito é muito significativo, pois funciona como uma categoria de dominação e exclusão nas sociedades multirraciais contemporâneas observáveis. Em outros termos, poder-se-ia reter como traço fundamental próprio a todos os negros (pouco importa a classe social) a situação de excluídos em que se encontram em nível nacional. Isto é, a identidade do mundo negro se inscreve no real sob a forma de “exclusão”.

Diante do exposto, a exclusão do negro dos círculos sociais e dos direitos destinados apenas aos brancos, assim como o racismo, também está incluída na concepção de identidade das pessoas negras. Munanga (2015) também afirma que a exclusão se estende à negritude, termo que, de acordo com o autor, pode ser visto como uma confirmação e construção de uma solidariedade entre os oprimidos. Para o autor a negritude não deve ser vista de forma passiva, mas, pelo contrário, como “uma convocação permanente de todos os herdeiros dessa condição para que se engajem no combate para reabilitar os valores de suas civilizações destruídas e de suas culturas negadas.” (MUNANGA, 2015, documento eletrônico)

(31)

A esse ponto, após discorrer de modo sucinto sobre identidade e identidades negras, pode-se refletir sobre a importância dos espaços coletivos formados por pessoas negras para formação e para compreensão da sua identidade coletiva e individual. Nessa direção, no subitem que segue, trata-se sobre os movimentos negros na perspectiva de mobilização, como forma de construção, fortalecimento e compreensão das identidades.

2.4 Movimentos negros como forma de resistência e mobilização social

Inicialmente, destaca-se que os movimentos negros consistem num movimento social. Barros (2004, p.1) afirma que há duas razões para o início de um movimento social: em primeiro lugar podem ser iniciados como “uma resposta dada a uma situação histórica concreta” e em segundo lugar como uma “sistematização programática de proposições e soluções objetivas para os problemas postos, desde os mais pontuais aos mais abrangentes.” Dessa forma, pode-se entender que os movimentos sociais surgem como resposta a alguma realidade que necessita de uma transformação, de acordo com o período vigente. Por exemplo, os movimentos negros são uma resposta ao racismo.

Segundo Santos (1985) há duas definições existentes para o termo “movimento negro” são elas: movimento negro no “sentido estrito” ou no “sentido amplo”. O movimento negro no sentido estrito é classificado pelo autor como excludente, pois considera movimento negro somente “o conjunto de entidades e ações dos últimos cinquenta anos, consagrados explicitamente à luta contra o racismo” (SANTOS, 1985, p. 287). Já a segunda definição, em sentido amplo, contempla “todas as entidades, de qualquer natureza, e todas as ações, de qualquer tempo [...], fundadas e promovidas por pretos e negros” (SANTOS, 1985, p. 303).

Partindo da concepção apresentada por Santos (1985), levando em consideração o sentido amplo, parece evidente que não há como discriminar uma data exata em que iniciaram os movimentos negros. Por isso, é possível que as mobilizações entre os primeiros africanos trazidos para o Brasil já sejam consideradas uma esfera dos movimentos negros. Nascimento e Nascimento (2000, p. 204) afirmam que não há africano no Brasil sem seu histórico de protagonismo de luta contra a escravização e contra o racismo. Nesse sentido, reforçam que:

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não existe Brasil sem o africano, nem existe africano no Brasil sem o seu protagonismo de luta anti-escravista e anti-racista. Fundada por um lado na tradição de luta quilombola que atravessa todo o período colonial e do Império e sacode até fazer ruir as estruturas da economia escravocrata e, por outro, na militância abolicionista protagonizada por figuras como Luiz Gama e outros, a atividade afro-brasileira se exprimia nas primeiras décadas deste século sobretudo na forma de organização de clubes, irmandades religiosas e associações recreativas.

Entretanto, ao considerar as esferas do movimento negro no sentido estrito, Xavier (2003, p. 5), afirma que há três períodos importantes sobre a história do movimento negro no Brasil:

o primeiro seria o da “ilusão da integração pacífica”, cujo ponto máximo foi a criação da Frente Negra Brasileira; o segundo período, marcado pelas “denúncias sociais da miséria provocada pelo racismo, que se estende do final da FNB, na década de 1930 até a década de 1970; por fim, o terceiro período, que é o da “consciência da necessidade de romper a estrutura reprodutora do racismo”, cujo ponto de partida é o ano de 1978, com a fundação do MNUCDR (Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial). Nesse sentido pode-se dizer que o movimento negro iniciou com a criação da Frente Negra Brasileira (FNB), em 1931, num cenário que reforçava o mito da democracia racial, conforme apresentado no subcapítulo anterior. De acordo com Barros (2004, p. 12) os integrantes da FNB “procuravam romper as barreiras sociais impostas aos negros para sua total integração, denunciando as manifestações de discriminação e preconceito”, portanto, acreditava-se, nesse período, que seria possível viver uma democracia racial efetiva.

Ainda segundo Barros (2004), após os movimentos negros deste período perceberem que a democracia racial não seria possível, iniciaram a segunda fase, marcada pelo fim das ilusões da possibilidade de uma integração social dos negros. Nesse período não foram anuladas as mobilizações políticas em prol da questão racial, pelo contrário, surgiram novas instituições com os mesmos propósitos e formas de lutar diferentes. Pode-se citar como exemplo o Teatro Experimental do Negro (TEN), liderado por Abdias do Nascimento em 1944. De acordo com seu líder:

o TEN não nasceu para ser apenas uma reação contra a exclusão do negro no teatro. Ele foi imaginado como frente de luta, então deveria ter várias ramificações, vários setores a serem atingidos por uma ação transformadora de nossa realidade. Por isso o TEN é também uma continuação das lutas da Frente Negra, mesmo mantendo uma identidade própria. O diferencial é que o TEN não queria saber de integração” (NASCIMENTO, 2003, documento não paginado).

(33)

A fase do TEN retratou um momento de denúncias contra desigualdades entre negros e brancos. Porém, mesmo com os avanços da consciência racial sobre suas reivindicações, com o início da ditadura militar em 1964, muitos grupos populares não perduraram. No entanto, esse período representou, de acordo com Barros (2004, p. 21) “o acúmulo de uma massa crítica, permitindo que se desse o salto qualitativo da intervenção dos movimentos negros a partir da década de 1970”.

Em 1978 foi criado o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUDCR). Esse grupo simbolizou, conforme aponta Barros (2004), uma mudança significativa para os movimentos negros, em que população negra deveria engajar-se na luta pela própria superação das estruturas que permitiam a discriminação e a marginalização do negro no Brasil. As principais pautas do MNUDCR, segundo o autor (2004, p.22), foram “desmascarar o mito da democracia racial brasileira e articular as lutas dos afrodescendentes com as lutas dos demais marginalizados”, tendo sido cumprido o primeiro objetivo, enquanto o segundo se perdeu no contexto da mudança de MNUDCR para (apenas) Movimento Negro Unificado (MNU) que ocorreu em 1979.

O breve histórico sobre o movimento negro no Brasil até aqui relatado corrobora com a visão de Gonzalez (1982, p. 18), ao afirmar que falar sobre o movimento negro “implica no tratamento de um tema cuja complexidade, dada a multiplicidade de suas variantes, não permite uma visão unitária” segundo a autora (1982), os negros não constituem um bloco monopolítico, de características rígidas e imutáveis. Por isso, ainda hoje as discussões sobre as formas de luta não estão acabadas e variam de acordo com a ideologia de cada movimento, ou individualidade.

Contudo, apesar da multiplicidade de visões do movimento negro no Brasil, conforme explicitado nos parágrafos anteriores cabe refletir sobre a conformação dessas distintas perspectivas como mobilização social. Para isso, parte-se da concepção de mobilização de Toro e Werneck (1996, p.5) segundo a qual mobilizar é o ato de “convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados”. Gomes (2017, p. 99) considera o caráter político do movimento negro como “capaz de transformar em emancipação aquilo que o racismo constituiu como uma regulação conservadora” e dessa forma as categorias antes consideradas critérios de exclusão (como a cor da pele), se tornam mecanismos de

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inclusão, no caso das cotas raciais, por exemplo. Neste sentido é possível entender que o propósito comum dos movimentos negros foi a sua inclusão em espaços até então inatingíveis a eles.

De acordo com Toro e Werneck (1996) a participação na mobilização social deve ser considerada como valor e sinal democrático e uma necessidade para o desenvolvimento social. Dessa forma, além de buscar um propósito comum, deve-se entender que, segundo os autores, cada sociedade constrói sua ordem social e por isso as relações em sociedade não devem ser naturalizadas, pois estão passíveis a mudanças. Nesse sentido a participação deixa de ser uma estratégia para converter-se em ação rotineira e essencial, pois todos devem acreditar que têm algo para contribuir com a sociedade. Considerando as afirmações apresentadas pelos autores, questiona-se porque a participação na mobilização antirracista é do interesse apenas de pessoas negras já que o racismo foi uma construção social das pessoas brancas que hoje não se vêem como responsáveis pela transformação dessa realidade. Entende-se que as reivindicações do movimento negro buscam o combate ao racismo e essa luta não se torna uma responsabilidade apenas deste grupo, mas também da população responsável pela criação das desigualdades que envolvem o racismo, pois a mobilização antirracista é uma responsabilidade da sociedade como um todo.

Os autores propõem ainda o horizonte ético na mobilização social como aquilo que dá sentido a este processo. Desta forma, pode-se aplicar a utilização deste conceito para que as desigualdades raciais possam ser compreendidas nesta perspectiva, e, para além disso, pode-se pensar no racismo como o fator que dá força para esta mobilização, sendo que foi a partir da luta antirracista que os movimentos negros iniciaram.

Considerando a partir de Toro e Werneck (1996), que toda mobilização deve apresentar caráter de utilidade para a sociedade, relembra-se alguns movimentos já mencionados neste texto como atuantes na mobilização antirracista que são considerados, por diversos autores, como importantes marcos para a história brasileira no contexto da questão racial, são eles: a Frente Negra Brasileira (FNB), iniciada em 1931; o Teatro Experimental do Negro (TEN) do ano de 1950; e o Movimento Negro Unificado (MNU) de 1978 além de alguns grupos regionais, inclusive no Rio Grande do Sul, como a União dos Homens de Cor (1943) e o Grupo Palmares, ambos de Porto Alegre, conforme

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Pereira (2010). Cada um destes movimentos mobilizou a sociedade de alguma forma em prol da reflexão para a garantia de direitos que amenizem as desigualdades raciais no Brasil, através de um processo de transformação desta sociedade.

Também podemos entender estes grupos como produtores sociais, pois têm a “intenção de transformar a realidade, tem certos propósitos de mudança e se dispõem a apresentar e compartilhar esses propósitos com as outras pessoas” (TORO; WERNECK; 1996, p. 22). Neste sentido, parece possível reconhecer, atualmente, mudanças provenientes dessas reflexões das lutas do movimento negro brasileiro, que aos poucos foram sendo implementadas no país, como se exemplifica a seguir. Salienta-se algumas reivindicações no âmbito social, político, cultural e educacional que foram além da questão racial, tornando-se contribuições para a sociedade como um todo, de forma ampla. Um desses exemplos foi a luta pela Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2011 (Lei das Cotas), constituída principalmente pelo Movimento Negro, e mesmo assim, hoje inclui também o critério econômico para seleção dos cotistas, o que também auxilia na democratização da educação aos não negros de renda baixa. Outro exemplo, foi a aprovação da Lei nº 10.639, de 20 de dezembro de 1996, que “estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática „História e Cultura Afro-Brasileira”, posto que a implantação dessa lei foi de suma importância para o reconhecimento da contribuição dos negros para o desenvolvimento do Brasil.

Após esta revisão sobre movimentos de resistência e luta das pessoas negras no Brasil, tendo em vista que o problema de pesquisa envolve a comunicação dos Correios com seus empregados, no próximo capítulo serão abordados os conceitos sobre cultura e comunicação organizacional.

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