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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 1 A Opção pedagógica da RIS-ESP/CE

5.1.5 Breve reflexão sobre a opção pedagógica da RIS-ESP/CE

Diante de tudo isso, percebe-se que a RIS-ESP/CE propõe um processo formativo inovador e pautado, de fato nos princípios da educação por competência, EIP e da educação de adultos.

Apesar da lógica de organização pedagógica ser avançada, ainda existem grandes desafios, como já citados, para sua efetivação prática no cotidiano. Entretanto, são vários aspectos da base de constituição da RIS-ESP/CE que concorrem para que ela se aproxime de uma estrutura de EIP. Esse formato interprofissional concedido à atuação na RIS é percebido também pelos residentes como indutor da EIP:

O formato da residência acaba fazendo que a gente se cobre mais de estar trabalhando junto, [...] o formato da residência acaba conduzindo que você trabalhe junto, querendo ou não faça alguma coisa junto. E ai você estando fazendo aquela coisa junto você vai aprender. Porque eu vou estar lá com meu conhecimento, você estará ali com o seu conhecimento... e você vai estar desenvolvendo aquela atividade de acordo com o que você sabe e eu estarei fazendo de acordo com o que eu sei. E as vezes aquilo que você sabe não é o que sei, então a gente acaba trocando (RM1)

[às vezes, nos cenários de prática,] fica difícil a questão das outras pessoas entenderem esse processo né. Mas quanto a RIS, a residência mesmo, eu acredito que a RIS já fortalece bastante essa questão do trabalho interprofissional. Na roda, no nossos encontros, lá na escola, no próprio como é que a gente fala, o iniciozinho da residência, no foco na educação em saúde... (RA6)

Um ponto que favorece é que nossas ações sempre tenham que ser desenvolvidas em conjunto. E ai eu acho que algumas vezes a gente começa a pedir ou a solicitar mais a colaboração com o outro (RM5) A própria prática cotidiana, a resolutividade de casos que a gente encontra acaba obrigando, fazendo com que a gente discuta. Pra mim, isso é muito importante e o próprio trabalho em si, o trabalho multi acaba gerando essas discussões. RA1

Também o preceptor de campo, PC2, apontou que a singularidade do desenho da RIS determina a interprofissionalidade:

Primeira coisa que acho que favorece a colaboração é o próprio modelo da RIS, de ser multi. Esse já é um grande desafio. O que acho mais bacana é porque os meninos conseguem sair de seus quadradinhos, isso é muito legal. Eles conseguem interagir (PC2). Apesar dos limites existentes, muitas estratégias de garantia desses princípios são efetuadas no cotidiano das ações pedagógicas desse programa. No entanto, como afirma C2, esse modelo formativo é desafiador por natureza:

Esse modelo formativo é dependente dos sujeitos, é dependente dos seres humanos concretos. E por essas questões que eu falei do residente, do preceptor eu percebo que a atuação e linha de cuidado tem sido o nosso maior desafio e do lado de cá eu percebo que inclusive pouco viabilizado né, mas quando viabilizado eu acho que é o que garante que algumas das nossas equipes tenham atuações magníficas assim, uma superação completa do modelo centrado no profissional, na doença e no procedimento (C2).

Ou como afirma a própria preceptora de núcleo de Maracanaú ao perceber que a formação da RIS-ESP/CE depende da postura do residente frente ao processo de aprendizagem:

[depende] de querer, do que está querendo e de viver esse processo né formativo. Que eu notei que quando chegaram, chegaram com uma visão, mas estavam querendo tanto, tinha uma palavra chave neles muito grande né eu quero aprender e são formados, alguns com bastante experiência né, mas eu quero aprender, isso aqui tá sendo novo pra mim e eu quero aprender e quero contribuir, então cada dia somando, somando tá aí hoje profissionais bacanas mesmo em termo de qualificação teórica, em termo de qualificação prática que é o diferencial que eu vejo que a residência dá pra você se você quiser, porque também tem e a gente observa, tem uns que vão sair mais vazio do que entrou, porque não se abriram pro conhecimento vim, pra prática, pra experiência poder engrandecer alguma coisa. Então, tem lá o seu conhecimento teórico e tudo, mas sai bem limitado porque não abriu a porta pra poder os benefícios da residência entrar (PN1).

Ou seja, não é a constituição de um currículo ou a proposição de atividades e ferramentas que desencadeará a efetiva prática e aprendizado interprofissional. Existe um aspecto desse processo que é subjetivo. Entretanto, esse caráter subjetivo não pode ser encarado de forma determinista como aponta a preceptora PN1.

Some-se a isso a proposta de interiorização e descentralização da RIS- ESP/CE, torna este projeto ainda mais desafiador. E, como afirma RA4, fica dependendo também da postura do preceptor em dar continuidade à proposta da formação nos cenários de prática:

A proposta da RIS é muito clara, acho que vai muito da preceptoria, da função da preceptoria, se reforçasse mais, lá nas aulas coloca de uma maneira, e se chegasse aqui realmente colocado, oh essa assim, tem que ser assim, eu acho que em algumas vezes as pessoas tem que uma pressãozinha pra colocar o negócio pra andar (RA4).

Percebe-se, na fala de RA4, uma insatisfação com o trabalho da preceptoria. No entanto, vale ressaltar que este é um projeto em construção visto seu pouco tempo de criação e estruturação dentro da instituição. O processo de permanência dessa

proposta da residência é, por certo, um processo de qualificação. Essa análise aponta desafios e proposições que já podem nortear essas mudanças.

Na análise dos aspectos propostos para essa seção, fica evidente também o quase insignificante posicionamento dos residentes e preceptores sobre os princípios pedagógicos que regem a RIS-ESP/CE. Nenhum deles falou das teorias e correntes que regem seu processo formativo. Todas as vezes em que aqui se discutiu educação de adultos, metodologias ativas, EIP e currículo por competências, todas essas foram com colocações partidas da coordenação. Se por desconhecimento ou falta de publicização desses princípios dentro do próprio programa, não é possível concluir. Mas desponta a premente necessidade de que educandos (residentes) e educadores dos serviços (preceptores) compreendam de que forma se estrutura o processo formativo do qual estão fazendo parte.

Em suma, dentre os aspectos desse formato promotor da interprofissionalidade na RIS-ESP/CE, pode-se destacar enquanto fatores de evolução para que a EIP se concretize: a lotação dos residentes em equipe, o fomento à roda de equipe, a existência do preceptor de campo, o processo de territorialização como primeira atividade da equipe, a formação dos preceptores, a adoção da metodologia da tenda invertida, o uso do método da roda enquanto dispositivo de ensino-aprendizagem e o uso de metodologias ativas.

Ao mesmo tempo, dois desafios que ficam bem claros: a pouca ênfase que é dada ao currículo de núcleo e a interiorização sem a devida preparação dos preceptores. No entanto, estes aspectos configuram-se como desafios sim, mas não podem deixar de ser analisados como apenas faces ainda pouco desenvolvidas de uma proposta maior e bastante ousada de mudança de paradigmas da formação em saúde e promoção da formação interprofissional.

5.2 Educação interprofissional em serviço na RIS-ESP/CE: os atores, seus lugares