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2 ENERGIA FÓSSIL E DESENVOLVIMENTO NACIONAL: O CARÁTER ESTRATÉGICO DO PRÉ-SAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO

2.2 A BUSCA BRASILEIRA POR AUTOSSUFICIÊNCIA ENERGÉTICA E A DESCOBERTA DO PRÉ-SAL

A partir da necessidade do fortalecimento da matriz energética nacional, sustentada no aumento da produção doméstica de petróleo, nos esforços de prospecção offshore e na utilização de fontes alternativas de energia, o Brasil, em 2006, encontrou as maiores reservas de recursos fósseis já identificadas no País – o Pré-Sal.

O percurso trilhado até a sua descoberta foi extenso. A procura por petróleo no Brasil teve início na década de 1860, entretanto, transcorreram-se quase oitenta anos até que as primeiras jazidas fossem localizadas. Como aponta Morais, a dificuldade em se encontrar reservas petrolíferas foi permeada por dúvidas em relação à ocorrência do mineral no País, uma vez que as descobertas iniciais foram dificultadas pela baixa incidência de exsudações29 de óleo no solo, diferentemente do que se via em diversas partes do globo.30

26Ibidem, p.38. 27Ibidem. p.39. 28Ibidem. p. 77.

29 Exsudações são vazamentos naturais de petróleo e gás que ocorrem na maioria das bacias petrolíferas. 30 MORAIS, José Mauro de. Petróleo em águas profundas: Uma história tecnológica da PETROBRAS na

exploração e produção offshore. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): Petrobras, 2013. ISBN: 978-85-7811-159-5. p.20.

As incertezas quanto à existência do recurso no País apenas começariam a ser amenizadas em 1939, quando em Lobato, no Recôncavo Baiano, houve a descoberta em solo nacional. Nos anos seguintes, o petróleo também foi identificado nos campos de Candeias, Itaparica e Aratu, além de outros menores também localizados na Bahia. Nas três décadas subsequentes à localização das primeiras jazidas, novas reservas foram mapeadas em diversos estados do Nordeste, porém sem o indicativo de que estas pudessem prover volumes capazes de reduzir a crescente dependência de importações. Apenas em 1974, com a revelação dos primeiros campos na Bacia de Campos, a possibilidade de se produzir em volumes suficientes para viabilizar a autossuficiência brasileira passou a ser considerada em bases objetivas.31

Na década de 1970, com as descobertas de grandes reservatórios na Bacia de Campos, o desafio da Petrobras – empresa estatal de economia mista que, desde sua criação em 1953, desempenhou um papel estratégico na busca brasileira por autonomia energética – era desenvolver a tecnologia para extração offshore. Segundo Furtado, o desafio era construir e operar sistemas de produção em lâminas d’água cada vez mais profundas. A produção em águas profundas, para a Petrobras, é uma história de sucesso. Os PROCAPs32 1000, 2000 e 3000, desenvolvidos a partir dos anos 1980 até o final dos anos 1990, foram programas bem sucedidos que estabeleceram as bases tecnológicas para a extração em águas ultraprofundas.33

Com as prospecções na Bacia de Campos, conforme informa Morais, tinha início uma fase importante na história do petróleo no Brasil. Começava um ciclo de descobertas, a exemplo dos Campos de Pargos, Badejo, Namorado e Enchova. Nos anos e décadas seguintes houve um aumento substancial das reservas brasileiras, o que, de acordo com o autor, acabou“permitindo à Petrobras trabalhar objetivamente com a perspectiva da autossuficiência, uma meta que vinha sendo perseguida, com maior ou menor ênfase, desde a fundação da empresa”. Essa nova realidade permitiu a redução gradativa da dependência das importações, até que em 2006 o volume produzido nacionalmente superou a quantidade relativa ao consumo, alcançando, assim, a dita autossuficiência. Destaca-se que isso ocorreu 32 anos após a primeira descoberta na Bacia de Campos e 87 anos do início das explorações sistemáticas promovidas por órgãos federais, em 1919.34

31Ibidem. p.20.

32 Programas de Capacitação Tecnológica em Sistemas de Produção para Águas Profundas.

33 FURTADO, André Tosi. Pré-sal, Desenvolvimento Industrial e Inovação. Revista Paranaense de

Desenvolvimento, Curitiba, v. 34, n. 125, p.79-100, jul. 2013. p. 82. Disponível em:

<http://www.ipardes.pr.gov.br/ojs/index.php/revistaparanaense/article/view/635>. Acesso em: 06 jul. 2018.

A conquista foi comemorada em abril de 2006 no lançamento da plataforma P-50. Poucos meses depois, em agosto do mesmo ano, a Petrobras colheu os frutos de décadas de pesquisa, desenvolvimento científico e inovação tecnológica, quando, liderando um consórcio com a Britsh Gas e a Partex, identificou petróleo no poço RJS-628 A. Essa descoberta, bem como as imediatamente posteriores, revelaram-se como o começo de uma “nova realidade geológica para o Brasil e para a indústria petrolífera internacional”. Dava-se início ao mapeamento da província do Pré-Sal.35

De fato, a descoberta do Pré-Sal foi fruto de uma decisão da Petrobras – resultante dos Planos Estratégicos da empresa, publicados a partir de 2003 – de consolidar a corporação como uma empresa integrada de energia, com base em três pilares: ênfase em Exploração e Produção; valorização do gás natural como substituto do petróleo no mercado interno, visando liberar o petróleo, commodity de curso internacional, para exportação, reserva ou evitar importação; [...] 36

O primeiro local escolhido para perfuração na região que posteriormente se convencionaria a chamar de Pré-Sal, foi o Bloco BM-S-10, na área de Parati. Segundo Morais, em março de 2004 a área foi selecionada em virtude dos conhecimentos e experiências já adquiridos sobre a estrutura da seção geológica acima da camada de sal, composta por um tipo de rocha semelhante às encontradas na Bacia de Campos. Na data de 31 de dezembro de 2004, começaram as perfurações no poço 1-RJS-617. Após 8 meses de atividade, em agosto de 2005, a Petrobras informou a ANP sobre evidências de existência de hidrocarbonetos no poço.37

Os indícios encontrados fomentaram a perfuração de um segundo, este na área de Tupi, no Bloco BM-S-11. Morais afirma que caso não se encontrasse petróleo o projeto de exploração do Pré-Sal seria abandonado devido ao alto custo das operações. Em 24 de março de 2006, com a perfuração do poço RJS-628 A, as operações em Tupi foram iniciadas. Quatro meses após, em 11 de julho de 2006, a Petrobras anunciou ter encontrado indícios de petróleo e gás de boa qualidade no local. No mês de setembro, a 4.895 metros de profundidade vertical, jorrou petróleo de densidade de 28º API38 e alta produtividade.39

35BARROS, Pedro Silva; PINTO, Luiz Fernando Sanná. O Brasil do pré-sal e a Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (OPEP). Boletim de Economia e Política Internacional, Brasília, v. 4, n. 6, p.07-16, out. 2010. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. p.11. Disponível em:

<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4701/1/BEPI_n4_brasil.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

36 SAUER, Ildo L.; RODRIGUES, Larissa Araújo. Op. cit., p. 195. 37 MORAIS, José Mauro de. Op. cit., p. 222.

38 A escala API, medida em graus, expressa a densidade relativa de um óleo ou derivado. O grau API é tanto

maior quanto mais leve é o óleo ou derivado. Petróleos com grau API acima de 30 são considerados leves; entre 22 e 30 são médios; abaixo de 22, pesados.

Após superar quase 5 mil metros desde a superfície do mar e atravessar a camada de sal, foi possível chegar ao maior reservatório até então visto no País. As análises iniciais assinalaram reservas estimadas entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo.40

O resultado impulsionou a perfuração de um poço de extensão (1-RJS-646) em Tupi Sul (10 km do poço descobridor) a fim de verificar a continuidade do reservatório e sua limitação. Ao fim da atividade, foi constatada a existência de uma enorme acumulação de petróleo e gás na área.41

Novas acumulações foram identificadas após as avaliações iniciais. A Tabela nº 1 discrimina as principais acumulações descobertas na província do Pré-Sal no período subsequente, mais especificamente entre 2006 e 2010.

Tabela 1 - Principais acumulações de petróleo descobertas no Pré-sal da Bacia de Santos (2006 - 2010)

Principais acumulações de petróleo descobertas no