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2 O ÂMBITO DE ABRANGÊNCIA DA COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA

3.6 A busca de fins lícitos

Uma das principais preocupações que se deve ter com esse poder conferido ao Legislativo, de instauração de CPIs, prerrogativa democrática, é quanto aos fins buscados pelos seus executores, os parlamentares.

Mesmo que o fim imediato seja o controle sobre atos do governo e da administração, bem como informar a opinião pública e, ainda, auxiliar no aprimoramento do exercício da função típica de legislar, infelizmente, nos dias atuais, algumas CPIs têm servido, de forma mediata, para fins políticos ilegítimos, em que os parlamentares as utilizam para promoção política pessoal ou para atacar partidos políticos rivais, buscando levianamente macular a imagem política de seus adversários e angariar votos com sensacionalismo.

Como se não bastasse, esses parlamentares tem seu intento absurdo e vergonhoso satisfeito com a cobertura dada pela mídia, que, ao invés de apenas informar, visam, sim, moldar a opinião pública, transformando em vilão ou mocinho o parlamentar que serve aos seus interesses.

Assim, muitas vezes - para não dizer quase sempre -, a investigação não ocorre como deveria, haja vista o interesse partidário ou eleitoral, direto ou indireto, nas suas conclusões.

Assim, a CPI, erroneamente, tem sido usada como meio de perseguição político-partidária. Para evitar isso, entre outros fatores, é que a Constituição Federal é expressa em exigir fato certo e determinado para apuração. Se mesmo com referida exigência se observa isso hoje, uma investigação com caráter de generalidade, de objeto indeterminado, incerto, indiscriminado, facilitaria ainda mais o uso da CPI com arma política de devassa.

O correto seria um mínimo senso de ética, caráter e moral por parte dos parlamentares, respeitando os interesses do povo, por quem foram eleitos, e a quem representam, a fim de que esse instrumento de democracia conferido pela Constituição Federal seja usado licitamente, sem invasão desnecessária das liberdades públicas individuais, mas exercido dentro dos limites constitucionais e legais impostos, afastando qualquer finalidade de perseguição política ou promoção pessoal, assim como as conseqüências nefastas da devassa da vida do outro.

Com o desenvolvimento do presente trabalho, objetivou-se propiciar maiores esclarecimentos acerca deste tema de tão grande relevância no cenário político brasileiro, que são as CPIs, apresentando, de forma mais objetiva, os poderes que lhe são outorgados, bem como os limites de sua competência investigatória, haja vista, principalmente, a realidade fática brasileira, em que, cada vez mais, faz-se necessária a instauração de CPIs.

O controle externo dos atos praticados pelo Executivo é, certamente, uma das principais contribuições do Legislativo ao processo político. Permiti-se, por meio dele, a análise da gestão da coisa pública e, por conseqüência, a adoção das medidas que se entendam necessárias.

A lei funciona como limite para a atuação de qualquer autoridade administrativa. Se houver indício de improbidade ou irregularidade no desempenho da função pública, tal fato pode ensejar a constituição de uma comissão de inquérito.

Como foi visto, as comissões parlamentares de inquérito possibilitam a fiscalização e a investigação sobre os atos do governo em todos os seus âmbitos (federal, estadual e municipal), encaminhando suas conclusões, quando for o caso, não só ao Ministério Público responsável, como também a outros órgãos, governamentais ou não, e até aos cidadãos, que podem utilizar o instrumento da ação popular quando necessário, tudo a fim de que se promova a responsabilização administrativa, civil ou criminal dos infratores.

Foi possível perceber, em relação ao tratamento outorgado às CPIs em todas as Constituições brasileiras, que, felizmente, ao longo dos anos, foi sempre crescente o aumento dos seus poderes, culminado com os outorgados pelas Carta Magna de 1988, que foi a Carta Constitucional que mais se preocupou em pormenorizar a forma como deve ocorrer seu funcionamento, bem como lhes conferiu poderes mais amplos.

Para o satisfatório exercício do mister fiscalizatório, as CPIs receberam da atual Carga Magna poderes de investigação próprios das autoridades judiciárias, além de outros previstos em leis específicas e nos Regimentos Internos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, todos comentados no segundo capítulo, com a pretensão de esclarecer a amplitude desses poderes.

O poder de investigação das CPIs, contudo, não é ilimitado. As comissões parlamentares de inquérito só podem atuar dentro do âmbito de suas atribuições normativas, ou seja, somente serão criadas se tiverem como objetivos fatos que se insiram em sua competência constitucional.

Por serem emanações do próprio Poder Legislativo, as CPIs não estão autorizadas a ingressar no domínio da jurisdição, fazendo as vezes de Poder Judiciário, visto que a cláusula constitucional de “poderes de investigação próprios das autoridades judiciais” deve ser interpretada como poderes probatórios, tal como vem sendo destacado na doutrina e na jurisprudência.

Nesse sentido, foram mostrados, no terceiro capítulo, os limites da competência investigatória, esclarecendo, em verdade, a linha tênue existente

entre os poderes e os limites, preocupando-se não apenas em estudá-los no âmbito das disposições constitucionais e legais, mas também, e principalmente, no âmbito doutrinário e jurisprudencial, apresentando, a todo momento, o entendimento da Corte Máxima Constitucional Pátria.

Nesses limites, percebeu-se que as CPIs estão obrigadas a respeitar os direitos e garantias fundamentais contidos na Constituição, como a inviolabilidade de domicílio, o sigilo das telecomunicações e todos os demais preceitos constitucionais que façam referência aos direitos fundamentais, bem como à separação de poderes e à forma federativa de Estado, dentre muitos outros.

Conclui-se, pois, que, certamente, a atividade fiscalizadora do parlamento, por meio das comissões parlamentares de inquérito é de ímpar relevância, uma vez que zelam pela honestidade na condução da coisa pública e visam ao aperfeiçoamento do regime democrático.

Assim, as CPIs, como órgão de investigação, constituem instituto de suma importância para a defesa da moralidade administrativa. No entanto, é necessária a correta condução das investigações, buscando os fins visados pelo legislador quando a instituiu, não sendo permitido o uso de suas prerrogativas para satisfazer interesses particulares, como promoção pessoal e perseguição política, pois a finalidade pública deve nortear todos os atos da Administração.

Portanto, esse instrumento de democracia conferido pela Constituição Federal deve ser usado licitamente, sem invasão desnecessária das liberdades públicas individuais, mas exercido dentro dos limites constitucionais e legais

impostos, afastando qualquer finalidade outra que não exclusivamente o interesse público.

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MS 24.118-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 29-10-01, DJ de 6-11-01.

MS 24.749, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento 29-9-04, DJ de 5-11-04

MS 25.281-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, decisão monocrática, julgamento em 9-3-05, DJ de 15-3-05.

MS 25.668-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 18-4-05, DJ de 24-11-05.

MS 25.686, Rel. Min. Marco Aurélio, decisão monocrática, julgamento em 28-11- 05, DJ de 2-12-05.

MS 25.966-MC, Rel. Min. Cezar Peluso, decisão monocrática, julgamento em 17- 5-06, DJ de 22-5-06.

STF - HC n. 79.244/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. em 23.2.2000, DJU de 24.3.2000, p. 38.

STF – HC nº 71.039/RJ – Rel. Min. Paulo Brossard, decisão: 7 de abril de 1994

STF – HC nº 71.039/RJ – Rel. Min. Paulo Brossard, decisão: 7 de abril de 1994.

STF – Pleno – MS 23.469-DF, MS 23.435-DF e MS 23.471/DF – Rel. Min. Octavio Gallotti, decisão: 10-11-99.

STF – Pleno – MS nº 23.466-1/DF – medida liminar – Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Diário da Justiça, Seção I, 22 de jun. de 1999, p. 31.

STF – pleno HC nº 79.244-8/DF – medida liminar – Rel. Min. Sepúlveda Pertence.

Constituições da República

Constituicão Politica do Imperio do Brazil, de 25 de março de 1824.

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Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de 1937.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1967.

Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, à Constituição de 1967. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de 05 de outubro de 1988.

Legislação infraconstitucional

Lei nº 1.579, de 18.3.52, publicada no DOU de 21.3.52 e Retificada em 24.3.52 - Dispõe sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito.

Lei nº 10.001, de 04.9.2000, publicada no DOU de 5.9.2000 - Dispõe sobre a prioridade nos procedimentos a serem adotados pelo Ministério Público e por outros órgãos a respeito das conclusões das comissões parlamentares de inquérito.

Lei nº 8.906, de 4.7.94, publicada no DOU de 5.7.94 - Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Regimento Interno do Senado Federal.

Sites:

www.stf.gov.br

www.stj.gov.br

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