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2 O ÂMBITO DE ABRANGÊNCIA DA COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA

2.2 Poderes da competência investigatória

2.2.4 Requisitar informações e documentos da Administração Pública.

14 HC 71.231, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento 5-5-94, DJ de 31-10-96. No mesmo sentido:

MS 24.567-MC, decisão Rel. Min. Carlos Velloso, decisão monocrática, julgamento em 18-6-03, DJ de 26-6-03.

15 HC 86.429, Rel. Min. Marco Aurélio, decisão monocrática, julgamento 8-8-05, DJ de 16-8- 05. 16 HC 71.039, Rel. Min. Paulo Brossard, julgamento em 7-4-94, DJ de 6-12-96.

Continuando a análise do Art. 2° da Lei n.° 1.579/52, observa-se que as comissões parlamentares de inquérito poderão requisitar de repartições públicas informações e documentos.

Embora incontroverso que esse poder abrange a requisição à Administração Pública direta e indireta, questão relevante é a ausência de menção expressa às sociedades de economia mista e às empresas públicas, que são pessoas jurídicas de direito privado, eis que o dispositivo se limita a fazer referência às repartições públicas e autárquicas.

Apesar da referida ausência, deve-se compreender que tais entidades estatais também se sujeitam ao dever de apresentar documentos e informações às comissões parlamentares de inquérito, já que, embora sujeitas ao regime de direito privado, por exercerem uma forma de intervenção na economia, perseguem interesse público, o que determina vinculações típicas do Direito Público.

Portanto, ainda que sob regime de direito privado, sujeitam-se a certas limitações das pessoas públicas, legitimando-se, assim, o controle parlamentar sobre as atividades que desempenham e o dever de colaborarem com o poder público.

2.2.5 Determinar diligências

Outra permissão às CPIs constante do Art. 2º da Lei nº 1.579/52 é a possibilidade de determinar a realização de diligências. Podem ser as mais

variadas possível a fim de realizarem com eficácia as investigações necessárias à descoberta dos fatos investigados.

Entre as diligências possíveis, pode-se citar a realização de perícias e exames, bem como a requisição de documentos, a polêmica possibilidade de quebra de sigilo bancário, fiscal e de dados, que será comentado mais especificamente no próximo capítulo deste trabalho monográfico, tudo na busca de todos os meios de provas legalmente admitidos.

Sem prejuízo da análise no próximo capítulo, em que estão comentados os limites das CPIs, insta conhecer, desde logo, o entendimento do STF sobre a possibilidade de quebra de sigilo bancário, fiscal e de dados. Vejamos, in verbis:

A quebra do sigilo das correspondências, da comunicação telegráfica, de dados e das comunicações telefônicas afigura-se como exceção que, voltada para o êxito de investigação criminal ou instrução processual penal, há de ser implementada a partir de ordem judicial, sendo certo que as comissões parlamentares de inquérito detêm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais — artigo 5º, inciso XII, e 58, § 3º, do Diploma Maior. Nesse contexto, conclui-se que os dados aludidos possuem destinação única e, por isso mesmo, devem ser mantidos sob reserva, não cabendo divulgá-los. A Lei Complementar n. 105/2001 surge no campo simplesmente pedagógico, no campo pertinente à explicitação do que já decorre da Lei Fundamental. O sigilo é afastável, sim, em situações excepcionais, casos em que os dados assim obtidos ficam restritos ao processo investigatório em curso.17

É preciso advertir que a quebra de sigilo não se pode converter em instrumento de devassa indiscriminada dos dados — bancários, fiscais e/ou telefônicos — postos sob a esfera de proteção da cláusula constitucional que resguarda a intimidade, inclusive aquela de caráter financeiro, que se mostra inerente às pessoas em geral. Não se pode desconsiderar, no exame dessa questão, que a cláusula de sigilo que protege os registros bancários, fiscais e telefônicos reflete uma expressiva projeção da garantia fundamental da intimidade — da intimidade financeira das pessoas, em particular —, que não deve ser exposta, enquanto valor constitucional que é, (Vânia Siciliano Aieta, A Garantia da Intimidade como Direito Fundamental, pp. 143/147, 1999, Lumen Juris), a intervenções estatais ou a intrusões do Poder Público,

17 MS 25.686, Rel. Min. Marco Aurélio, decisão monocrática, julgamento em 28-11-05, DJ de 2-12-

quando desvestidas de causa provável ou destituídas de base jurídica idônea.18

Então, é possível a quebra do sigilo de dados pelas CPIs em situações excepcionais. No entanto, somente poderão decretá-la se cumprirem determinados requisitos, quais sejam, que a investigação se desenvolva no estrito âmbito de competência do órgão dentro do qual elas são criadas, haja interesse público e, principalmente, decisão fundamentada, demonstrando a necessidade da referida quebra. Ademais, é dever das CPIs manter o devido sigilo das informações obtidas no decorrer das investigações.

Outro ponto importante no que se refere ao poder de determinar diligências – que, aliás, também será visto quando do estudo dos limites investigatórios das CPIs – é a possibilidade de determinar, moderadamente, buscas e apreensões: as CPIs possuem, genericamente, o poder de determinar às autoridades policiais e administrativas a realização de buscas e apreensões de documentos necessários às investigações.

A cautela que deve existir no uso desse recurso nas investigações é brilhantemente salientada pelo Ministro Carlos Velloso, ao afirmar, ipsis litteris:

a Comissão pode, em princípio, determinar buscas e apreensões, sem o que essas medidas poderiam tornar-se inócuas e quando viesse a ser executadas cairiam no vazio. Prudência, moderação e adequação recomendáveis nessa matéria, que pode constituir o punctum dollens da Comissão Parlamentar de Inquérito no exercício de seus poderes, que, entretanto, devem ser exercidos, sob pena da investigação tornar-se ilusória e destituída de qualquer sentido19.

18

MS 25.668-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 18-4-05, DJ de 24-11-05.

19 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. As comissões parlamentares de inquérito e o sigilo das

comunicações telefônicas. Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política. São Paulo : RT, n. 26, 1998. p. 49

Não se pode esquecer, quando se fala em busca e apreensão, da inviolabilidade de domicílio, inserta no dispositivo constitucional assegurado no Art. 5º, inciso XI, que só a autoriza em casos excepcionalíssimos e por determinação judicial, poder que as CPIs não possuem.

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