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2 O ÂMBITO DE ABRANGÊNCIA DA COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA

2.2 Poderes da competência investigatória

2.2.8 Encaminhar suas conclusões

Outro poder das CPIs é o de encaminhar as conclusões das investigações efetuadas aos órgãos competentes para julgar e punir, caso necessário, já que à CPI não é dado julgar, quiçá punir. Como já amplamente dito acima, se a CPI vier a julgar estará pretendendo exercer competência exclusiva do Poder judiciário, ferindo fatalmente o Princípio da Separação de Poderes.

Apesar de não julgar, o relatório final apresentado pela CPI deve ser conclusivo. A partir das investigações realizadas, será apresentado relatório, no qual se solicitará ao órgão competente para o conhecimento da matéria a adoção das medidas cabíveis.

Para que não restassem dúvidas sobre a eficácia que se deve dar às investigações das CPIs, que de modo algum podem ser inócuas, sob pena de macular a moralidade administrativa, foi criada a Lei Federal nº 10.001, de 4/9/2000, que dispõe sobre a prioridade nos procedimentos a serem adotados pelo Ministério Público e por outros órgãos a respeito das conclusões das Comissões Parlamentares de Inquérito.

Logo em seu Art. 1º, referida lei determina, verbis:

os Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacional encaminharão o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito respectiva, e a resolução que o aprovar, aos chefes do Ministério Público da União ou dos Estados, ou ainda às autoridades administrativas ou judiciais com poder de decisão, conforme o caso, para a prática de atos de sua competência.

Em contrapartida, para garantir que o relatório será não só recebido, mas considerado em todos os seus termos, o Art. 2º e seu parágrafo único, além

de determinar que “a autoridade a quem for encaminhada a resolução informará ao remetente, no prazo de trinta dias, as providências adotadas ou a justificativa pela omissão”, também aduz que “a autoridade que presidir processo ou procedimento, administrativo ou judicial, instaurado em decorrência de conclusões de Comissão Parlamentar de Inquérito, comunicará, semestralmente, a fase em que se encontra, até a sua conclusão”.

Mais ainda, elevando à posição ímpar as conclusões do relatório das CPIs, o Art. 3º da lei citada determina que o processo decorrente de investigação parlamentar terá prioridade sobre qualquer outro, salvo aquele relativo a pedido de habeas corpus, habeas data ou mandado de segurança.

Relevante destacar que mencionada lei exige que o relatório das CPIs seja encaminhado não só, como preceitua o Art. 58, §3º, da Carta Magna “ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores", mas também “às autoridades administrativas ou judiciais com poder de decisão, conforme o caso, para a prática de atos de sua competência”.

Seguindo o mesmo caminho, o Art. 37 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados dispõe sobre o assunto da seguinte forma, in verbis:

Art. 37. Ao termo dos trabalhos a Comissão apresentará relatório circunstanciado, com suas conclusões, que será publicado no Diário da Câmara dos Deputados e encaminhado:

I - à Mesa, para as providências de alçada desta ou do Plenário, oferecendo, conforme o caso, projeto de lei, de decreto legislativo ou de resolução, ou indicação, que será incluída em Ordem do Dia dentro de cinco sessões;

II - ao Ministério Público ou à Advocacia-Geral da União, com a cópia da documentação, para que promovam a responsabilidade civil ou criminal por infrações apuradas e adotem outras medidas decorrentes de suas funções institucionais;

III - ao Poder Executivo, para adotar as providências saneadoras de caráter disciplinar e administrativo decorrentes do Art. 37, §§ 2º a 6º, da Constituição Federal, e demais dispositivos constitucionais e legais aplicáveis, assinalando prazo hábil para seu cumprimento;

IV - à Comissão Permanente que tenha maior pertinência com a matéria, à qual incumbirá fiscalizar o atendimento do prescrito no inciso anterior; V - à Comissão Mista Permanente de que trata o Art. 166, § 1º, da Constituição Federal, e ao Tribunal de Contas da União, para as providências previstas no Art. 71 da mesma Carta.

Ainda perfilhando o mesmo raciocínio, a Jurisprudência do STF, no Mandado de Segurança nº 23.452 / RJ - Rio de Janeiro, que teve como relator o Min. Celso de Mello, julgado em 16/09/1999, ao tratar da nota de confidencialidade dada às CPIs relativa aos registros sigilosos bancários, fiscais ou telefônicos de investigados, comenta que a eventual necessidade de revelar tais dados, pode-se dar para efeito das comunicações destinadas ao Ministério Público ou a outros órgãos do Poder Público, in verbis:

(...)

A Comissão Parlamentar de Inquérito, embora disponha, ex propria auctoritate, de competência para ter acesso a dados reservados, não pode, agindo arbitrariamente, conferir indevida publicidade a registros sobre os quais incide a cláusula de reserva derivada do sigilo bancário, do sigilo fiscal e do sigilo telefônico. Com a transmissão das informações pertinentes aos dados reservados, transmite-se à Comissão Parlamentar de Inquérito - enquanto depositária desses elementos informativos -, a nota de confidencialidade relativa aos registros sigilosos. Constitui conduta altamente censurável - com todas as conseqüências jurídicas (inclusive aquelas de ordem penal) que dela possam resultar - a transgressão, por qualquer membro de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, do dever jurídico de respeitar e de preservar o sigilo concernente aos dados a ela transmitidos. Havendo

justa causa - e achando-se configurada a necessidade de revelar os dados sigilosos, seja no relatório final dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (como razão justificadora da adoção de medidas a serem implementadas pelo Poder Público), seja para efeito das comunicações destinadas ao Ministério Público ou a outros órgãos do Poder Público, para os fins a que se refere o Art. 58, § 3º, da Constituição, seja, ainda, por razões imperiosas ditadas pelo interesse social - a divulgação do segredo, precisamente porque legitimada pelos fins que a motivaram, não configurará situação de ilicitude, muito embora traduza providência revestida de absoluto grau de excepcionalidade.

Ora, percebe-se que tanto o legislador, na lei aludida, como os parlamentares, no Regimento Interno, como, ainda, o STF, no julgado colacionado, pretenderam que as CPIs encaminhem suas conclusões a quaisquer órgãos estatais, caso necessário para a garantia de sua eficácia, sendo apenas exemplificativos os órgãos apresentados acima.

Nesse sentido, com o mesmo objetivo, deveriam as conclusões, quando possível, ser encaminhadas também a órgãos não-estatais, quando pertinentes às suas atribuições, e até aos cidadãos, que, como sabido, podem se utilizar do remédio constitucional da ação popular, em caso de ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

Como em todo regime democrático, no Brasil não há poder sem limitação. As Comissões Parlamentares de Inquérito não fogem à regra: devem observar os limites de seu poder investigatório.

As CPIs sujeitam-se à Constituição Federal, lei maior do Estado. Dentro de sua atividade de controle e fiscalização, têm o dever de agir em conformidade com os mandamentos constitucionais de moralidade, razoabilidade, proporcionalidade, impessoabilidade, publicidade e motivação.

Nesse sentido, a jurisprudência pátria:

Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, em sede originária, mandados de segurança e habeas corpus impetrados contra Comissões Parlamentares de Inquérito constituídas no âmbito do Congresso Nacional ou no de qualquer de suas Casas. É que a Comissão Parlamentar de Inquérito, enquanto projeção orgânica do Poder Legislativo da União, nada mais é senão a

longa manus do próprio Congresso Nacional ou das

Casas que o compõem, sujeitando-se, em conseqüência, em tema de mandado de segurança ou de habeas corpus, ao controle jurisdicional originário do Supremo Tribunal Federal (CF, Art. 102, I, "d" e "i")20.

Neste capítulo, serão vistos, de forma pormenorizada, os principais limites a serem observados inescusavelmente no decorrer da atividade fiscalizatória das CPIs, sob pena de, ultrapassados quaisquer deles, o ato da comissão ser considerado ilegítimo, ensejando controle por parte do Poder

Judiciário, a fim de corrigi-lo, em respeito ao Princípio Constitucional da Inafastabilidade do Poder Judiciário.

Para melhor entender os limites constitucionais, diga-se, desde logo, que eles são divididos em formais e materiais. Os limites formais são os requisitos para a sua instituição constantes do Art. 58, § 3, da Carta Republicana, enquanto os limites materiais são os princípios constitucionais que devem ser respeitados para que quaisquer atos sejam considerados válidos.

Assim, apontamos como limites formais aqueles já mencionados satisfatoriamente no primeiro capítulo deste trabalho, quando se comentou sobre os procedimentos para instauração das Comissões Parlamentares de Inquérito, quais sejam, o requerimento feito por 1/3 dos membros do Senado ou da Câmara dos Deputados; a apuração de fato determinado, relacionado à competência constitucional da respectiva Casa Legislativa; o prazo certo para o funcionamento da CPI, que deve estar indicado no requerimento de sua criação.

Quanto aos limites materiais, os principais estão a seguir detalhadamente delineados.

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