• Nenhum resultado encontrado

A busca de soluções efi cazes

Após a descrição das etapas deste percurso de construção e reformulação de instrumentos, é importante referir que a busca de soluções efi cazes para os problemas que comprometem a aproximação entre os diversos intervenientes no processo edu- cativo e os impedem de “olhar no mesmo sentido” não se limi- tou ao aperfeiçoamento de procedimentos relacionados com a avaliação intercalar. Complementarmente foram concebidos e experimentados com sucesso outros instrumentos e estraté- gias, com fi nalidades mais imediatas, visando intervir em situa- ções “perturbadoras” do quotidiano escolar como a difi culdade de gestão do tempo por parte de alguns alunos, a sua tendência para a dispersão e a adoção de comportamentos pouco adequa- dos em sala de aula.

Exemplifi cando algumas das práticas implementadas, é de salientar a distribuição de um calendário “personalizado”, para registo das tarefas a realizar, aos alunos inseridos em grupos com mais fraco aproveitamento (fi gura 6). Encontrando-se este geralmente associado a difi culdades de organização do trabalho diário, pareceu-nos que esta “mancha gráfi ca” seria um impor- tante complemento das informações e alertas dos professores, ao mesmo tempo que poderia combater os habituais “esqueci- mentos” e recordar a cada um que o tempo de que dispõe para melhorar os seus resultados é limitado.

Figura 6 – Calendário relativo à frequência da Turma Mais pelos alunos do 4º grupo - nível 2 (2009/2010)

Na tentativa de promover a abertura de “canais de comunica- ção” na sala de aula, foi ainda implementada uma outra estratégia bem sucedida: a realização diária de “mini-testes” ou “questões- -aula”, incidindo sobre os conteúdos lecionados na aula do próprio dia em que o exercício é realizado. Avaliados quantitativamente e considerados na classifi cação fi nal, estes momentos de verifi cação

Fevereiro 2011

Seg ter qua qui sex sab dom

Nota em Teste Nota 2º 14/2/2001 período

Março 2011

Abril 2011

“Um vencedor nunca desiste, e quem desiste nunca é vencedor”. 14 15 16 17 18 19 20

21 22 23 24 25 26 27

28

Seg ter qua qui sex sab dom 1 2 3 4 5 6

7 8 9 10 11 12 13

14 15 16 17 18 19 20

21 22 23 24 25 26 27

28 29 30 31

Seg ter qua qui sex sab dom 1 2 3

4 5 6 7 8

“A diferença entre o razoável e o bom é um pequeno esforço extra.”

Fichas/ questionários/ trabalho em aula LPO MAT HST GEO ING Avaliações turma+

das aprendizagens permitem geralmente ao aluno, caso adote uma postura atenta e ativa durante a aula, obter uma recompensa ime- diata pela sua concentração e empenho. A prática descrita funciona, por conseguinte, como um “reforço positivo” suscetível de motivar os discentes para uma mudança de atitude face às tarefas escolares, na medida em que comprova, de modo “palpável”, a efi cácia das atitudes exigidas pelos docentes.

Ainda com o objetivo de valorizar o esforço diário e incentivar a cooperação nas tarefas da sala de aula, pareceu-nos pertinente incluir no calendário apresentado um espaço destinado ao registo das classifi cações obtidas nos momentos de avaliação acima refe- ridos (fi gura 6). Uma vez que estes resultados são habitualmente superiores aos conseguidos na turma de origem, a atualização regu- lar desta grelha poderá constituir para os alunos uma prova de que “afi nal vale a pena tentar” – certeza que estimula a perseverança na superação das difi culdades e contribui para a progressão nas apren- dizagens.

Ao longo das etapas deste percurso da TurmaMais, efetuámos, por outro lado, algumas experiências destinadas especifi camente ao desenvolvimento de competências no domínio da “Formação para a Cidadania”. Estas decorreram essencialmente de um momen- to de “consciente ousadia” em que decidimos canalizar para uma das TurmasMais um grupo de alunos com graves problemas, não só de aprendizagem como também disciplinares. No caso concreto destes alunos “problemáticos”, em relação aos quais nenhuma das estratégias “tradicionais” tinha surtido efeito até meados do segun- do período, compreendemos que era urgente, em primeiro lugar, abalar a sua confortável resignação a uma situação de inevitável insucesso naquele ano letivo. Era, por outro lado, fundamental cons- truir “pontes” para os trazermos “de volta” à sala de aula e para aí restabelecermos uma comunicação há muito cortada.

Após uma frutífera troca de experiências, pareceu-nos funda- mental a formalização de um compromisso escrito, através do qual estes alunos fossem alertados para a exigência do cumprimento de regras básicas de comportamento, sem as quais não poderiam per- manecer na TurmaMais nem ter uma última oportunidade de termi- nar com sucesso o ano letivo em curso. Criámos então um modelo

de “contrato” entre os professores e cada um dos discentes (fi gura 7), muito sintético e aparentemente pouco exigente, mas que pretendia, simultaneamente, favorecer a interiorização de regras e demonstrar que a mudança e o esforço pedidos pelos professores não eram sobre-humanos e estavam ao alcance de todos.

Figura 7 – Contrato assinado pelos alunos do 4º grupo - nível 2 (2009/2010)

Para que a assinatura desta “declaração” fosse mais do que um ato simbólico, procurámos fazer sentir aos alunos que não estavam a assinar mais um “papel”, mas antes a aceitar uma opor- tunidade de melhoria que a escola tinha decidido oferecer-lhes em troca de uma mudança de atitude. Conferimos ao momento alguma solenidade, através da presença na sala de aula de todos os professores envolvidos no projeto, e reforçámos a ideia de que cada um tinha a liberdade de aceitar ou recusar a proposta apresentada. Sublinhámos ainda que os compromissos só deve- riam ser assumidos por aqueles que se dispunham a tentar cum- pri-los e que a honestidade deveria prevalecer sobre qualquer

Eu, (nome) ________________________________, aluno nº ______ da turma _____, declaro que pretendo frequentar a Turma Mais entre os dias 18/02/10 e 26/03/10, como forma de tentar melhorar o meu aproveitamento escolar.

Para atingir este objectivo comprometo-me a: - ser assíduo e pontual;

- ter um comportamento adequado à sala de aula;

- estar atento ás explicações dos professores e às intervenções dos colegas; - participar activamente nas tarefas lectivas;

- realizar com empenho as tarefas propostas pelos professores; - rever atentamente os conteúdos leccionados em aula.

Cartaxo, 22 de Fevereiro de 2010 O aluno

_________________________________________

outro condicionalismo. (Curioso será notar que, na ocasião, um aluno recusou assinar o documento de compromisso, explicitan- do verbalmente que a recusa se relacionava com a sua incapaci- dade de cumprimento – a autoconsciência expunha-se).

Sabíamos, no entanto, que a formalização deste propósito de melhoria não bastaria para operar todas as mudanças com- portamentais necessárias e que era essencial articular esta forma de contacto inicial com outras práticas e com novos instrumentos facilitadores do diálogo. Por conseguinte, delineámos outra das estratégias de comunicação que se tornou emblemática da Tur- maMais: partilhar com os alunos toda a informação relativa à ava- liação, tanto de conhecimentos e competências como de atitudes, transformando o ato avaliativo numa prática ao serviço da regula- ção de comportamentos e da progressão nas aprendizagens.

O conceito que deu origem a esta nova estratégia era sim- ples: se é verdade que os alunos se interessam pela sua avaliação e se os professores diariamente avaliam os seus alunos, por que não explorar este ponto de convergência de olhares e estabe- lecer a comunicação a partir desta prática quotidiana até aqui reservada aos docentes? Reformulámos algumas grelhas utiliza- das na observação direta, de forma a torná-las funcionais para os docentes e claras do ponto de vista do aluno e passámos a expô-las regularmente perante a turma, a fi m de que cada aluno interiorizasse os diferentes parâmetros avaliados. Mostrámos, por outro lado, a aplicabilidade dos critérios de avaliação, fazen- do algumas simulações que permitiram aos discentes comparar a sua classifi cação atual com a que poderiam obter caso agissem em conformidade com o que era valorizado nos diferentes parâ- metros. Na mesma perspetiva, passámos a revelar a informação contida nos nossos instrumentos de registo e a demonstrar com clareza o que valorizávamos e o que penalizávamos. Em suma, “avaliar” passou a ser sinónimo não só de “classifi car”, como também de informar, partilhar e responsabilizar – deste modo, estabeleciam-se verdadeiros elos de ligação entre os diferentes agentes do processo educativo, que permitem construir uma escola Mais aberta, Mais atuante e Mais efi caz na formação dos seus alunos.

A adesão à TurmaMais motivou, na nossa escola, uma intensa refl exão acerca dos condicionalismos que afetam a efi cácia do processo de ensino e comprometem o sucesso e a qualidade das aprendizagens. Neste processo de auto-análise, foram vários os problemas detetados e diversas as estratégias de intervenção propostas. Porém, um olhar mais crítico leva-nos agora a com- preender que a aparente diversidade das soluções encontradas inclui um denominador comum a todas as práticas entretanto implementadas: a exploração das virtualidades do ato de comu- nicar.

A experiência de utilização dos instrumentos apresentados e a implementação dos procedimentos descritos comprovam a efi cácia do diálogo na superação dos obstáculos com que dia- riamente nos deparamos. Demonstram ainda que a partilha da informação contribui para a aproximação entre alunos, professo- res e pais, corresponsabilizando-os relativamente aos resultados escolares e permitindo a todos dar o seu contributo para a tão desejada melhoria das aprendizagens.

Num último apontamento, não podemos deixar de destacar a pertinência da partilha de experiências entre escolas, bem como do contacto com as instituições de ensino superior, que viabiliza- ram um acesso direto às novas perspetivas e recentes investiga- ções na área das Ciências da Educação. Tudo isto impulsionou o trabalho que temos vindo a desenvolver na TurmaMais e fez-nos acreditar que as soluções para os problemas germinam no mesmo terreno onde estes foram detetados.

“Era uma vez uma escola ao redor da qual sopravam ventos de mudança. Certo dia, os professores, curiosos e audazes, deci- diram abrir-lhes as portas e deixá-los entrar...”

Este artigo foi construído perseguindo um objetivo simples: prestar testemunho sobre uma experiência local de uma forma de trabalhar. Uma fi losofi a que acreditamos merecer ser aplica- da em mais escolas, benefi ciando mais alunos e durante mais tempo. Juntamos a este desejo, informação que corrobora esta nossa opinião – uma opinião que foi sendo fundamentada pelos resultados entretanto obtidos e sem os quais nada do que escre- vemos teria valor.

Temos esperança que os instrumentos que criámos e aqui descreveremos possam ser de utilidade para outras escolas e que a nossa experiência possa ajudar a ultrapassar obstáculos que nos são comuns e que urge resolver.