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César Augusto de Campos Rodrigues

No documento OS ESTUDOS DE ASTRONOMIA EM PORTUGAL DE (páginas 63-68)

CAPÍTULO III OS PRINCIPAIS ASTRÓNOMOS PORTUGUESES

3. César Augusto de Campos Rodrigues

Campos Rodrigues nasceu em Lisboa a 9 de Agosto de 1836. Aos 16 anos assentou praça na companhia dos guardas marinhas, tendo completado o curso preparatório da marinha na Escola Politécnica, em 1854. Em 1855 foi enviado para Macau a bordo do brigue Mondego. No caminho para Macau elaborou um diário náutico em conformidade com as cartas meteorológicas de Matthews Fountaine Maury, superinten- dente do Observatório Naval de Washington. Depois de cerca de quatro anos nesta parte do mundo, tendo recebido louvores pelo trabalho prestado, partiu para

Portugal a 1 de Dezembro de 1859.

Fonte: OAL

No regresso o brigue Mondego naufragou no Oceano Índico. Pelo comportamento durante a tragédia Campos Rodrigues recebeu altos louvores e, de regresso, matriculou-se na Escola Politécnica onde, em 1863, terminou o curso de engenheiro hidrógrafo. Como engenheiro hidrógrafo ocupou-se durante alguns anos da hidrografia do rio Minho, tendo- se notabilizado perante o Chefe Geral dos Serviços Geodésicos, Filipe Folque, que o chamou, em 1869, a entrar como astrónomo para o Observatório da Tapada da Ajuda. No dia 11 de Janeiro de 1869 integrou o quadro do pessoal do Real Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), que substituiu o Observatório da Marinha, tendo no mesmo ano ficado a fazer parte da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos do Reino.

Campos Rodrigues recebeu ao longo da vida várias condecorações, tendo terminado a carreira militar como contra-almirante.

Foi um homem “dotado de uma grande inteligência, espírito metódico, bondade, modéstia,

trabalhador infatigável e inventor insigne,”70 e até de dons “artísticos”.

“Como homenagem ao seu amor ao estudo, à sua merecida competência e aos

trabalhos científicos que evidenciavam a lucidez da sua inteligência,”71

em Março de 1906, o Clube Militar Naval colocou, para homenagear os seus feitos, o retrato de Campos Rodrigues na sede da Associação, ao lado dos retratos dos oficiais mais prestigiados da marinha portuguesa, o que significava para aqueles tempos, em termos militares, um alto louvor.

Campos Rodrigues foi técnico superior de Hidrografia, Geodesia, Topografia, Sismologia e, naturalmente, Astronomia de observação; fez estudos em Nomografia, tendo deixado numerosas tabelas, réguas de cálculo, gráficos e ábacos, simplificando resoluções de fórmulas utilizadas no Observatório Astronómico de Lisboa.72 Efectuou ao longo da sua vida as mais variadas e melhores observações astronómicas que lhe mereceram os mais variados elogios, e sobretudo o prémio VALZ73 da Academia das Ciências de Paris, em 1904.

As suas primeiras observações astronómicas começaram muito cedo, quando da primeira viagem que fez para Macau.

Por essa altura um oficial americano, Matthew Fontaine Maury (1806-1873), tornava-se célebre pelas suas pesquisas oceanográficas e meteorológicas:

“During the years 1834 to 1841, Maury produced published works on sea

navigation and detailing sea journeys. He also began writing political essays pushing for navy reform. In 1842, Maury was appointed superintendant of the Depot of Charts and Instruments of the Navy Department in Washington. In this position he began publishing his research on oceanography and

70

Jaime Aurélio Wills de Araújo, “O almirante Campos Rodrigues como Engenheiro Hidrógrafo”, Academia das Ciências de Lisboa, tomo I, MCMXXXVII, pp. 276-291

71

Gago Coutinho, Memórias da Academia das Ciências, lida na sessão de 19 de Novembro de 1936, pp. 263-273, MCMXXXVII

72

Na Revista da Armada, Nº 383, de Fevereiro de 2005, vem uma extensa explanação do trabalho de astrónomo levado a cabo por Campos Rodrigues no Observatório da Ajuda

73

“As informações referentes ao Prémio Valz encontram-se em: http://gallica.bnf.fr, Comptes Rendus de l’Academie des Sciences, tome 139, 1904, p. 1075, “Le Prix Lalande-Benjamin Valz est une récompense d’astronomie qui a été attribuée par l’Academie des Sciences de Paris (…) jusqu’en 1996.” in Wikipédia

meteorology, as well as charts and sailing directions. By the fall of 1853 Maury had become internationally recognized for his work. He was sent to a congress at Brussels as the United States representative. Maury’s system of recording the oceanographic data of naval vessels and merchant marine ships was thereafter adopted world-wide. In 1855, he published The Physical Geography of the Sea, which is now credited as ‘the first textbook of modern oceonography’ ”74

Campos Rodrigues enviou as observações astronómicas colhidas na sua viagem para Maury e este agradeceu-lhe com os elogios, que podemos ler no fim deste trabalho. Aliás, o Observatório de Washington tinha nessa altura uma relação de colaboração com a “Academie des Sciences de Paris” e é natural que tenha influenciado, anos mais tarde, já Maury tinha morrido, a atribuição do Prémio Valz ao astrónomo português.

Filipe Folque, Chefe Geral dos Serviços Geodésicos, tinha por Campos Rodrigues estima e consideração profissional. Por isso, em 1869, convidou-o para astrónomo no novo Observatório Astronómico de Lisboa. Cerca de vinte anos mais tarde, em 1890, foi nomeado director do Observatório Astronómico de Lisboa, em substituição do falecido primeiro director do Observatório, Frederico Augusto Oom, que estava neste lugar desde 1861.

Campos Rodrigues continuou ao longo da vida a enviar as observações astronómicas que fazia para outros centros de astronomia europeus e para Washington, a fim de, nesses centros, serem tratados e inseridos nas grandes tabelas de efemérides que se levavam a cabo nos principais observatórios astronómicos. Em 1900 o Observatório de Paris lançou uma campanha internacional para a determinação da paralaxe solar, isto é, a distância da Terra ao Sol.

“Na verdade, é de pasmar que fôsse o pobre e desprotegido Observatório da

Tapada, quem no grandioso concurso então realizado, para obter os mais numerosos e exactos dados de observação, segundo um plano acertado de antemão na conferência astronómica de Paris, lograsse assim uma absoluta primasia. O número de observações foi aqui o mais avultado, apesar de, em

74

Dumas Malone, Dictionary of American Biography, New York, Scribner, 1961

Washington, por exemplo, se terem aplicado dois instrumentos meridianos a êsse trabalho. O êrro provável dos resultados é inferior ao de todos os outros observatórios, e mesmo, em absoluto, fica abaixo do que até ali tinham obtido os mais afamados astrónomos, e, portanto, foi às observações de Lisboa que teve de ser atribuído o mais elevado pêso, na dedução da média final pelos processos do cálculo dos mínimos quadrados. Nenhuma observação de Lisboa teve de ser regeita.”75

Sobre este mesmo assunto, diz-nos o OAL:

“Conjuntamente, os treze observatórios realizaram, aproximadamente, 19.000

observações, das quais cerca de 3.800 foram efectuadas no OAL.

Os erros associados às observações de Lisboa foram os menores de todo o conjunto, e nenhuma observação teve que ser rejeitada; o seu peso no cálculo dos valores finais foi máximo, como se pode ver na tabela abaixo mencionada.”76

Fonte: OAL

75

Vice-Almirante Augusto Ramos da Costa, “A obra do sábio”, Revista Militar, (88), revista nº 7, p.873, 1936

76

www.oal.ul.pt/camposrodrigues/

O sucesso destas observações, aliado aquelas que Campos Rodrigues vinha fazendo há já alguns anos e enviando periodicamente para Paris, valeu-lhe em 1904, o “Prix Valz”, medalha de grande mérito atribuída pela Academie des Sciences de Paris, aos investigadores da área da astronomia.

No que respeita a obras escritas, ao contrário de Filipe Folque, que escreveu e deixou publicada uma numerosa lista de trabalhos, Campos Rodrigues deixou muito pouco publicado.77

Dada a relevância de elogios que Campos Rodrigues recebeu ao longo da vida das mais variadas instituições e pessoas, que demonstram o elevado grau de profissionalismo que este astrónomo atingiu, transcrevemos no fim deste trabalho quatro páginas da Academia das Ciências de Lisboa onde vêm inseridos alguns desses elogios.78

77

O trabalho realizado por Campos Rodrigues ao longo da vida encontra-se descrito numa Memória da Academia das Ciências de Lisboa, p. 276-291, 1937, lida por Jaime Aurélio Wills de Araújo em 1936 (já atrás citada); uma bibliografia publicada de Campos Rodrigues encontra-se inserida na página 23 de um discurso panegírico a Campos Rodrigues, lido em 1906 por João Brás de Oliveira. Há muitas outras palestras sobre a obra de Campos Rodrigues, entre outros, os de Gago Coutinho, Frederico Oom e Manuel Peres.

78

Jaime Aurélio Wills de Araújo, Academia das Ciências de Lisboa, Tomo I, p. 276-291, 1937

No documento OS ESTUDOS DE ASTRONOMIA EM PORTUGAL DE (páginas 63-68)