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Sobre a Teoria da Relatividade

No documento OS ESTUDOS DE ASTRONOMIA EM PORTUGAL DE (páginas 150-153)

CAPÍTULO VI OS ESTUDOS CIENTÍFICOS EM PORTUGAL

2. Sobre a Teoria da Relatividade

Costa Lobo diz-nos que a obra matemática de Einstein “est remarcable, mais elle ne peut

porter de l’ombre sur l’oeuvre génial de Newton...” considerando a Teoria da Relatividade

“uma doutrina interessante derivada por cálculos admiráveis, mas sem interesse para o

mundo físico.”239

Depois de alguns outros considerandos, diz-nos ainda que:

“En ce qui concerne la doctrine de la relativité, j’observerai que je n’adopte

pas le point de vue choisie. La science ne peut avoir d’object que la réalité de l’Univers, c’est-à-dire l’absolu,240 qui ne comporte qu’une théorie.

Vouloir partir des conditions particulières à un observateur, c’est poser autant de sciences qu’il y a d’observateurs, c’est le paganisme scientifique avec une multitude de dieux. Nous aurions alors une science pour chaque organisme.(...)”241

A meu ver a teoria de Costa Lobo de um Universo absoluto, não responde ao conhecimento que na década de trinta já se tinha do Universo. Dando outra vez o exemplo da estrela Alfa Centauri, por exemplo, que está aqui tão “perto”, a 4 anos-luz (a luz viaja a 300.000 km/s), significa que uma viagem do homem para esta estrela, às velocidades espaciais que hoje conhecemos, levaria uma “eternidade.”

238

Augusto J.S. Fitas, A Teoria da Relatividade em Portugal (1910-1940, p. 33, “Einstein Entre Nós”, coordenador Carlos Fiolhais, Imprensa da Universidade, Cimbra, 2005.

239

Costa Lobo, O Instituto (70), p. 479, 1923. 240

O sublinhado é nosso. 241

Costa Lobo, “La structure de l’Univers,” O Instituto (70), p.481, 1923.

Por outro lado, quando consideramos corpos extremamente massivos, que exercem campos gravitacionais extremos, temos que nos socorrer da relatividade geral para obtermos resultados como o que obtemos para o planeta Mercúrio.

Estas noções já estavam definidas na década de 30 e, por isso, eram bem conhecidas do tempo de Costa Lobo, por isso é de estranhar o seu apego a um Universo absoluto.

Sintetizamos agora, em quatro pontos, as teorias da Gravitação Universal e da Relatividade vistas por Costa Lobo e, a seguir, comentadas por especialistas nesta área da ciência:

1. “C’est un fait incontestable que la loi de la gravitation domine partout”

“Voici quelques définitions que je proposerai: Point materiel, le minimum de masse considérée independament de toute propriété que nous pourrons lui atribuer: Espace, l’ensemble des positions effectives et possibles des points materiéls:Univers physique, la totalité de ces points:Distances entre deux points, le minimum de points indespensables pour établir la liaison entre eux sans discontinuité et sans double emploi: - Orientation, l’ensemble de deux distances.”242

2. A matéria é descontínua e não contínua; “como se tinha pensado”, esta descontinuidade coloca problemas à teoria da gravitação de Newton; como é que dois corpos se podem atrair se a matéria que os compõe é descontínua? A ideia de uma força mútua (interacção gravitacional) entre um planeta e o Sol levanta a questão de como pode um planeta e o Sol actuar um sobre o outro, separados de distâncias tão grandes, sem quaisquer ligações visíveis entre eles? (questões colocadas por Costa Lobo)

3. Teoria do éter radiante:

“Com esta teoria desaparece como por encanto o fantasma do éter, invenção

providencial para as explicações, porém sem utilidade no universo; noção profundamente perturbadora que conduziu às mais perigosas ilusões.”243

242

Costa Lobo, “La structure de l’Univers”, Separata de “O Instituto”, pag. 13, vol. 70º, nº 11. 243

Costa Lobo, “Novas Teorias Físicas, sua correlação com os Fenómenos Biológicos e Sociais”, O Instituto, (65) nº 9, 1918, pp. 430-449.

Por conseguinte, Costa Lobo desaprova o éter, e propõe um “éter radiante.” Numa memória apresentada em 1915 no congresso de Valladolid,244 (neste congresso refere-se ao Congresso de Granada de 1911) e ainda noutro congresso em 1918,245 ou ainda numa conferência sua dada na Sorbonne em 1936 e, em 1937, na Faculdade de Ciências de Toulouse,246 corrobora a sua Teoria do éter radiante.

Sobre a sua Teoria do éter radiante Costa Lobo afirma:

“(…) in my opinion, however, there is an important fact which ought to guide

us, that is the universality of Newton’s laws”247

E acrescentava que a desintegração

“of the atom into elements of matter, very small in relation to the atom and at

considerable speeds”248

era suficiente para explicar a razão pela qual a gravitação

“leads us to admit enormous speeds compared relative to the light; it is

consequence of the fact verified from the instantaneousness now admitted, as a consequence of the way in which the phenomena of gravitation present themselves”249

Resumindo, Costa Lobo defendia a existência de um éter radiante em que

“the luminous ray is a suite of spheroidal corpuscles of very different

dimensions (...) the luminous phenomenon is produced by the shock given to the retina due to corpuscular radiations of certain velocities and dimensions”250

244

Costa Lobo, O Princípio da GravitaçãoUniversal, pag. 10, Imp. Da Universidade, 1932 245

Costa Lobo, Novas Teorias Físicas, sua Correlação com os Fenómenos Biológicos e Sociais, 1918 (nós temos a versão em português)

246

Costa Lobo, Compléments à la “Théorie Radiante, O Instituto, vol. 91, p.268-273 247

Costa Lobo, O Instituto, (62), 1931 248

Idem, (64) 1931 249

Idem, (65), 1931 250

Costa Lobo, Revista da Faculdade de Coimbra, “theories in Physics resulting from the Phenomena Radio- activity” Revista da FCUC, 11 (2), p. 61-73 ou citado por Augusto José dos Santos Fitas, “Einstein entre nós”, p. 33, Imprensa da Univ. Coimbra, 2005

Augusto J.S. Fitas, físico e historiador da ciência da Universidade de Évora, citando estes argumentos de Costa Lobo, comenta:

“Toda esta teoria era apresentada de uma forma especulativa, sem qualquer

suporte matemático (...) teoria de uma ingenuidade grotesca nos seus raciocínios e que contrariava os desenvolvimentos científicos dos últimos cem anos”251

Pela mesma altura um outro físico dizia desta teoria:

“M. Costa Lobo bâtit une théorie comme s’il n’eût aucune connaissance des

derniers progrès de physique (…) on peut presque dire que la théorie de M. Costa Lobo aurait pu être conçue au commencement du XVIIIème siècle”252.

4. Como consequência da sua teoria do éter radiante Costa Lobo rejeita as Teorias da Relatividade Restrita e Geral de Einstein.

No documento OS ESTUDOS DE ASTRONOMIA EM PORTUGAL DE (páginas 150-153)