• Nenhum resultado encontrado

Córtex Pré-frontal, Rendimento Executivo e Comportamento Criminal: Síntese Teórica e

I. CÓRTEX PRÉ-FRONTAL, FUNÇÕES EXECUTIVAS E COMPORTAMENTO CRIMINAL

6. Córtex Pré-frontal, Rendimento Executivo e Comportamento Criminal: Síntese Teórica e

Uma breve análise a tudo o que foi exposto até aqui permite verificar que a complexidade do comportamento social reside na integridade estrutural e funcional da região frontal do cérebro. É nesta área onde se dá a convergência da informação recolhida do meio exterior (e processada nas áreas sensoriais da região cerebral posterior), da informação relativa ao meio interno e necessidades do organismo (que resulta do funcionamento de estruturas cerebrais anatómicas mais arcaicas e responsáveis pela manutenção dos aspectos fisiológicos relacionados com a sobrevivência), e é também nesta área onde residem as estruturas neuroanatómicas de execução comportamental, seja ela motora, linguística ou intelectual.

Efectivamente, a execução de comportamentos não é um processo simples nem linear. A escolha de um comportamento e a sua execução depende do processamento de uma vasta quantidade de informação e da integridade de uma série de funções que devem trabalhar em conjunto para a obtenção de qualquer tipo de objectivo. É a partir de três áreas pré-frontais específicas que se dá a coordenação, organização e controlo de diversas funções cognitivas, emocionais e comportamentais: a motivação e a energia indispensáveis para a execução comportamental dependem da região pré-frontal medial; a região orbital trata dos aspectos emocionais do comportamento e da inibição de impulsos e instintos; e a área dorsal tem a seu cargo um conjunto de funções – Funções Executivas – e que são responsáveis pela execução de actividades cognitivas e comportamentais complexas.

As Funções Executivas assentam no funcionamento conjunto de várias funções cognitivas, o que permite a adaptação a situações novas e a transformação de ideias ou movimentos simples em comportamentos complexos e orientados para objectivos ou para a resolução de problemas. Talvez se possa considerar que o funcionamento executivo é melhor representado pela capacidade de planificação (ver trabalhos de Fuster e Shallice) porque, fundamentalmente, é esta capacidade que permite que se realizem acções sequenciadas, que se tenha uma previsão do desenvolvimento de determinados comportamentos e se possam calcular as suas consequências a curto, médio e longo prazo. Isto possibilita que se organizem as etapas necessárias para servir a finalidade do funcionamento executivo que, no fundo, é a realização de acções complexas, tomar decisões e atingir objectivos. Mas será sempre um erro pensar-se que se consegue estabelecer um plano válido no vazio e, por este motivo, devem-se destacar todas as outras funções cognitivas que trabalham de modo articulado com a capacidade de planificação (ver figura 1).

Figura 1: representação esquemática das principais funções cognitivas que integram o funcionamento executivo frontal

Como já foi referido, a atenção e a memória de trabalho são funções que dependem do substrato neurológico pré-frontal e que têm a seu cargo algumas tarefas basilares e de extrema importância para o estabelecimento de planos de acção. A integridade funcional e a qualidade destas duas capacidades podem ter uma influência determinante na produção de esquemas de acção porque são as capacidades cognitivas que disponibilizam a informação necessária para as operações de planificação. A atenção permite que sejam conscientemente destacados os aspectos ou informações essenciais, ou inibidos os estímulos irrelevantes, para o desempenho da acção, raciocínio ou comportamento, e a memória de trabalho tem a seu cargo a manutenção dessa informação na esfera da consciência durante o tempo necessário para que os planos de acção sejam desenvolvidos e cumpram os seus objectivos.

Assegurada a questão da disponibilidade da informação, a capacidade de planificação ainda recorre a várias outras funções cognitivas frontais, cujo trabalho conjunto pode até ser considerado como um sistema subsidiário que aumenta a eficácia dos planos de acção, e que são as capacidades de monitorização, flexibilidade mental e categorização. Muito resumidamente, estas capacidades também dependem da integridade funcional da

atenção e da memória de trabalho para poderem desempenhar as suas tarefas, e têm as funções de manipular a informação já existente e, conjuntamente, dilatar a eficiência dos planos de acção.

A monitorização faz o controlo e a actualização constantes do desenvolvimento da tarefa através da avaliação da informação que vai sendo recebida pelos canais sensoriais externos e também proprioceptivos. Esta avaliação é fundamental para que a flexibilidade mental possa actuar no caso de se verificar que a eficácia do esquema não corresponde à realidade do objectivo pretendido, alterando o desenho do plano, substituindo, acrescentando ou eliminando passos ou etapas, alternando entre esquemas na eventualidade de surgirem obstáculos imprevistos, ou mudando de estratégia até terminar a tarefa iniciada. A categorização tem como função, a partir da análise dos elementos que compõem a acção, permitir que a tarefa em curso seja rapidamente comparada com as características de outras já realizadas e classificadas em categorias específicas, o que permite que se possa fazer algum tipo de previsão sobre o desenrolar e o desfecho da acção actual. Dada a variabilidade de papéis sociais, profissionais, familiares, que cada sujeito desempenha na sua vida, a categorização também permite identificar o tipo de situação e adaptar o comportamento de acordo com o contexto circunstancial.

Consequentemente (e de acordo com os síndromes anteriormente apresentados), as principais perturbações nos casos de lesão, ou disfunção, dorsofrontal estão relacionadas com alterações do funcionamento destas capacidades cognitivas e resultam em comportamentos pouco organizados, com défices mnésicos relacionados com manipulação da informação, e perseveração provocada por défice da flexibilidade mental que impede que se criem outras estratégias para contornar barreiras ou para criativamente adequar comportamentos diferentes a diferentes situações ou problemas.

A articulação das funções cognitivas dorsolaterais está na base dos processos de: aquisição de conhecimentos em níveis distintos e aprendizagem objectiva de factos do quotidiano; execução comportamental; e conhecimento abstracto de relações entre conceitos, ideias e pensamentos. Contudo, a aprendizagem não é feita apenas com base no conhecimento factual porque os aspectos emocionais, a cargo do córtex orbital, também têm um papel preponderante na capacidade de aprender e na tomada de decisão. Racionalmente, é possível analisar todos os passos e consequências de um determinado plano de acção com base no conhecimento de situações semelhantes que tenham ocorrido

noutras ocasiões, mas a carga emocional associada a essas situações pode aumentar ou diminuir a probabilidade de sucesso do plano.

O córtex orbital, devido à proximidade anatómica com as áreas límbicas de funcionamento emocional puro necessário para a sobrevivência do organismo, desempenha dois tipos principais de funções: um relacionado com a esfera emocional do comportamento, que diz respeito à associação de emoções a eventos, tarefas ou situações vividos ou observados pelo sujeito, e que constitui a base mais importante para a aprendizagem condicionada pela associação de emoções gratificantes ou penalizantes a certos factos; e a importante tarefa de inibir os constantes impulsos e instintos límbicos. É neste sentido que, quando existe disfunção orbital, as principais características que surgem são a desinibição e a ausência de controlo de impulsos que podem levar a comportamentos caracterizados como irresponsáveis, de alto risco e que podem ser considerados como anti-sociais. E, devido às semelhanças aparentes, são registos comportamentais que podem frequentemente ser confundidos com perturbações psiquiátricas que apresentam os mesmos sinais comportamentais.

É um facto que a estrutura psicobiológica tem uma influência determinante no modo como se dá a criação e a organização de comportamentos dado que desde muito cedo (tanto filogenética como ontogeneticamente) existem manifestações comportamentais que têm como objectivo a manutenção da sobrevivência. Talvez se possa considerar que a crescente complexidade da sociedade humana seja um reflexo da evolução comportamental do Homem ou, vice-versa, talvez a cada vez maior rede de relações sociais seja a causa de um maior desenvolvimento neurológico capaz de promover a adaptação ambiental. Como já foi referido, existe uma estrutura anatómica que proporciona as bases para a execução de comportamentos (sejam eles simples, complexos ou abstractos) mas a estimulação ambiental e a consequente aprendizagem podem potenciar ou, pelo contrário, prejudicar o funcionamento dessas estruturas orgânicas subjacentes à produção comportamental.

Neste contexto, o factor aprendizagem – seja ela realizada sobre aspectos objectivos, de modo racional e através da mediação cognitiva, ou feita de modo inconsciente através dos mecanismos de condicionamento de respostas – representa a importância que a estimulação externa representa no funcionamento neuronal porque todas as experiências vividas pela pessoa moldam – através da eliminação, modificação ou reforço (Stiles, 2000) – diversas redes neuronais, e respectivas conexões sinápticas, responsáveis por diferentes aspectos comportamentais. Por exemplo, a inserção num meio social marginal –

caracterizado por uma cultura da violência e da delinquência, com regras marginais que reforçam as acções criminais como um meio válido para garantir o acesso a bens que, de outro modo, não estão ao alcance dos seus membros – acaba por, forçosamente, moldar (através da utilização recorrente de circuitos específicos) determinadas redes neuronais de modo a que a produção comportamental e emocional seja a mais adaptada possível ao ambiente. Efectivamente, o ambiente social das pessoas tem um peso muito grande no modo como o seu funcionamento (neuro)psicológico se desenvolve, mas deve ressalvar-se que embora seja um aspecto muito importante, o comportamento anti-social não depende apenas da aprendizagem nem da imitação de modelos anti-sociais porque se trata de um tipo de funcionamento que pode ocorrer após alteração neurológica pré-frontal causada por lesões traumáticas, doenças ou outros factores causais, que provocam uma alteração comportamental diferente do registo anterior do sujeito.

Como já foi referido, a estrutura neo-cortical frontal é apontada como uma das últimas aquisições humanas em termos neuroanatómicos e, como também já foi dito, é nesta área específica onde reside a base da execução de comportamentos complexos. De facto, os outputs comportamentais gerados no lobo frontal são o resultado final da integração de variáveis motivacionais, aspectos cognitivos, supressão de impulsos, e controlo emocional. Voltando atrás à questão do comportamento racionalizado e da inclusão da dimensão emocional, ambos resultantes da actividade pré-frontal, é um facto que a parte emocional da conduta é controlada pela região orbital que desempenha a função de filtro sobre a constante carga impulsiva gerada no sistema límbico e que deve ser travada de modo a que o comportamento seja o mais ambientalmente adaptado possível. E, neste sentido, talvez possa ser sugerido que a dinâmica entre a região orbital e a região dorsal – sustentada pelas conexões internas do próprio córtex pré-frontal – permite que a área dorsal actue como um segundo filtro sobre a actividade orbital, suprimindo impulsos que tenham subsistido, adiando a manifestação de outros ou até mesmo, com base em acções cognitivamente mediadas e racionalizadas, transformando alguns impulsos em condutas socialmente aceites de modo a serem satisfeitos (figura 2).

Figura 2: representação esquemática do fluxo impulsivo desde a sua geração nas estruturas límbicas até ao output comportamental

Portanto, dada a importância do funcionamento pré-frontal no controlo, planificação e execução comportamental, é natural que disfunção nas regiões neuroanatómicas que compõem esta área cerebral acabe por acarretar sérias alterações do comportamento, levando mesmo ao aparecimento de acções consideradas como agressivas, violentas ou contra a lei social. Pela análise dos estudos apresentados nos capítulos anteriores pode concluir-se que é cada vez mais evidente que a alteração da região orbital tem como consequência a manifestação de comportamentos anti-sociais devidos ao aumento da impulsividade e a um processamento emocional desajustado. Mas também é visível que a disfunção dorsolateral pode implicar comportamentos anti-sociais que derivam da ausência de controlo cognitivo sobre as acções, o que se reflecte em condutas desorganizadas, causadas por uma incapacidade para planificar correctamente uma sequência de etapas, e perseverações em determinadas acções porque uma fraca capacidade de flexibilidade mental não permite que se encontrem alternativas comportamentais, nem as restantes funções cognitivas têm a integridade suficiente para que se faça uma correcta interpretação de determinados estímulos que, com frequência, podem ser mal avaliados.

Neste contexto, e com base na figura 2, é válido supor que no caso de alteração orbital deixe de haver o principal filtro sobre impulsos emergentes e que a área dorsal consequentemente não tenha a capacidade para controlar, nem tão pouco eliminar, todos os impulsos límbicos que teimam permanentemente em ser satisfeitos no imediato. No mesmo sentido, um fraco funcionamento da região dorsal pode contar com a filtragem de uma grande parte dos impulsos do sistema límbico realizada ao nível orbital, mas os que subsistem não são submetidos ao controlo racional dorsolateral e acabam por se manifestar através de comportamentos agressivos ou anti-sociais porque resultam de um fluxo impulsivo excessivo associado a más estratégias de análise e que por isso são executados

em circunstâncias inadequadas devido à ausência de planificação comportamental, à falta de mecanismos para encontrar soluções alternativas, e à incapacidade para adiar a sua satisfação até surgir um momento ou ocasião mais oportunos. Neste último caso pode não se tratar de uma ausência total de controlo sobre os impulsos, mas sim uma manifesta incapacidade para gerir a emergência pulsional de acordo com as necessidades reais da pessoa em relação com as exigências contextuais em dada altura.

Como foi sintetizado até este ponto, toda a reflexão teórica realizada assentou na identificação de vários aspectos relacionados com o comportamento criminal, e o facto de se poderem identificar factores retirados de diferentes dimensões – biológicas, psicopatológicas e sociais – como causas possíveis de comportamentos anti-sociais significa que a abordagem compreensiva aplicada ao fenómeno da criminalidade deve ser realizada numa perspectiva multidisciplinar para conseguir captar toda a sua complexidade. Mas neste sentido, também se deve referir que cada um dos factores, de cada uma das dimensões que compõem o fenómeno da criminalidade, deve ser estudado de modo mais aprofundado para permitir uma identificação mais precisa das causas criminais e um conhecimento mais claro das relações que mantém com outras variáveis associadas à criminalidade. De facto, só o isolamento de factor a factor, a sua dissecação em todos os ângulos relacionados com a criminalidade, e o enquadramento comparativo com outras variáveis retiradas de outras dimensões explicativas, é que poderá permitir a compreensão global deste fenómeno.

No caso específico deste trabalho, o estudo da criminalidade foi abordado a partir da perspectiva neuropsicológica com especial incidência no funcionamento pré-frontal dado que esta área tem vindo a ser repetidamente referida como uma das causas de perturbações comportamentais. De facto, há indícios que apontam para o envolvimento das Funções Executivas no comportamento criminal reincidente e, por isso, torna-se necessário estudar de um modo mais aprofundado que tipo de relação pode existir entre a perturbação do funcionamento executivo e esta tipologia criminal.

Assim, e a partir da revisão de literatura realizada, levantaram-se várias hipóteses de investigação que partem da questão central, problema, ou objectivo principal deste trabalho e que é analisar de que modo a prática de comportamentos criminais pode estar relacionada com alteração do funcionamento executivo. Mas para se responder a esta questão de um modo mais aprofundado torna-se necessário analisar a relação entre o funcionamento executivo e outras variáveis que estão associadas ao comportamento criminal,

nomeadamente a frequência das acções criminais, o tipo de crime cometido ou os níveis de agressividade.

Tendo em conta os estudos apresentados espera-se que encontrar uma alteração do funcionamento executivo em sujeitos condenados pela prática de crimes em comparação com pessoas sem registo criminal. Para isso, a investigação assentou na comparação de dois grupos distintos de sujeitos: um composto por reclusos a cumprir pena em estabelecimentos prisionais; e outro composto por pessoas sem registo de práticas criminais. Adicionalmente, o estudo das Funções Executivas e a criminalidade incidiu especificamente no grupo de reclusos e abordou aspectos como a reincidência criminal, e como a relação entre o funcionamento executivo e o tipo de crime cometido.

Mais ainda, e considerando as evidências sobre a relação da agressividade com o córtex pré-frontal e com o funcionamento deficitário das Funções Executivas, também se procurou analisar concretamente de que modo as alterações do funcionamento executivo estão ligadas aos níveis de agressividade. Assim, em relação à variável “comportamento agressivo”, pela análise feita até este ponto parece lícito esperar um aumento dos níveis de agressividade associados a um défice de controlo executivo sobre a impulsividade e mais acentuado nos casos em que a criminalidade está relacionada com os crimes contra as pessoas – e que manifestem claramente algum tipo de violência contra outrem, como os homicídios e agressões – e menos presente nos crimes contra a propriedade – como roubos ou furtos, isto é, crimes menos associados a condutas agressivas ou violentas. No que toca aos crimes contra a propriedade, a alteração executiva esperada está mais relacionada com a perseveração num certo registo comportamental devida a um défice da flexibilidade cognitiva, e a uma má capacidade para organizar o comportamento causada por perturbação da capacidade de planificação.

Adicionalmente, e porque algumas alterações do comportamento secundárias a disfunção das Funções Executivas apresentam vários pontos em comum com a Perturbação Anti-social da Personalidade, também se realizou um pequeníssimo estudo da personalidade para avaliar se existe uma relação entre esta perturbação e o rendimento executivo frontal.

De um modo muito resumido, a análise do funcionamento executivo será realizada com base num exame neuropsicológico dirigido especificamente para o estudo das capacidades cognitivas que foram identificadas no contexto da revisão teórica e que, no seu

conjunto, compõem as Funções Executivas. As restantes variáveis em análise – nomeadamente a Agressividade e a Perturbação da Personalidade Anti-Social – serão medidas com instrumentos de auto-preenchimento distribuídos pelos sujeitos da amostra. A avaliação neuropsicológica tem a clara vantagem de, além de permitir identificar quais as funções cognitivas pré-frontais afectadas, conseguir avaliar a dimensão do défice presente em cada uma delas. E a divisão do funcionamento executivo em várias funções cognitivas, além de permitir uma análise global do seu estado, possibilitará uma avaliação mais detalhada revelando a posição que cada uma delas ocupa em relação às outras, o que possivelmente poderá facilitar a elaboração de um perfil executivo dos sujeitos.

Ainda no contexto da recolha de dados, embora alguns dos instrumentos seleccionados, e que serão convenientemente identificados e descritos detalhadamente no capítulo dedicado à metodologia da investigação, apresentem dados normativos para a população portuguesa, é essencial criar dois grupos distintos com base no comportamento criminal. Ou seja, é imperativo criar dois grupos de sujeitos com características o mais semelhantes possíveis, excepto na variável criminalidade porque é indispensável comparar os resultados obtidos no grupo de casos composto por reclusos, com os resultados obtidos por sujeitos retirados da restante população que nunca tenham sido condenados pela prática recorrente de comportamentos criminais, para alcançar o objectivo principal deste trabalho e que é aferir o papel que as Funções Executivas desempenham nas práticas criminais. Assim, e dadas as circunstâncias da sociedade actual onde a cultura do crime e da violência é uma realidade cada vez mais presente e preocupante, pretende-se que através de uma metodologia de investigação capaz de reflectir o funcionamento cerebral e cognitivo, e ao mesmo tempo adaptada ao contexto prisional, se possa compreender que importância representa a dinâmica neuronal na problemática criminal para que no futuro se possa actuar, não só ao nível sistémico mas fundamentalmente no plano individual, sobre este factor específico de uma maneira mais objectiva.

II – ESTUDOS EMPÍRICOS

A argumentação teórica apresentada aponta para uma multifactorialidade de causas envolvidas nos comportamentos desviantes e anti-sociais. São vários os factores que se julgam estar envolvidos na génese das condutas de natureza anti-social e que podem ser agrupados em dois eixos causais principais que, à primeira vista, se apresentam distintos e independentes: um eixo que reúne a influência exercida pelo meio social e cultural, e um eixo que assume toda a dimensão biológica, neuronal e inata. Como já foi sugerido, talvez estes eixos não sejam assim tão independentes porque tal como a influência ambiental tem uma forte intervenção no estabelecimento das redes neuronais responsáveis pela expressão comportamental, também a capacidade biológica estabelece, mantém ou modifica estas mesmas redes de modo preponderante para a perpetuação de um registo de actuação. De facto, e apesar dos condicionalismos sistémicos representarem uma forte influência na génese da criminalidade, torna-se essencial investigar a nível individual o modo como o