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C APÍTULO 3

No documento MERCADO NO AGRONEGÓCIO (páginas 69-89)

Mercado do Agronegócio no Brasil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

� Conhecer as principais características e especificidades do agronegócio brasileiro.

� Fazer leitura da estrutura produtiva nacional, identificando janelas de oportunidades.

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

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Capítulo 3

Contextualização

A grande importância do setor agrícola marca a história do Brasil. Mesmo diante de períodos de intenso apoio estatal à industrialização, o setor não deixou de crescer. Assim, entender um pouco do mercado do agronegócio brasileiro, em certa medida, é entender um pouco o Brasil.

Apesar de uma redução da volatilidade externa que marcou o mercado global no período recente, com queda do preço das commodities, o cenário do agronegócio brasileiro, mesmo que em menor grau se comparado a outros setores, enfrenta um ambiente doméstico marcado por instabilidade. As crises política e econômica ainda são sentidas e tornam o ambiente incerto para previsões acerca do funcionamento esperado do setor para os próximos anos.

Para que estejamos aptos a analisar e entender tendências do mercado brasileiro é necessário primeiro que conheçamos características estruturais do agronegócio nacional, então, que conheçamos um pouco sobre os principais produtos produzidos e as projeções para o futuro. Somente a partir daí teremos possibilidade de identificar tendências, observando as oportunidades e os desafios futuros.

Características Gerais

O agronegócio brasileiro vem se posicionando como o setor responsável pela não recessão da economia do país, tendo seu PIB, mesmo no atual cenário de crises, apresentado taxa de crescimento anual considerável. Mola propulso-ra da movimentação de bilhões de reais no mercado bpropulso-rasileiro e estpropulso-rangeiro, o agronegócio é responsável por gerar empregos e reposicionar o Brasil no cenário internacional. Assim, o setor precisa ser entendido na medida em que vem se revestindo de alta tecnologia, bem como possui grande poder de influência na movimentação do mercado nacional e internacional.

Exemplo dessa influência capaz de desencadear ou agravar crises, bem como impulsionar a economia, de forma geral, é o vertiginoso crescimento da ex-portação de carnes brasileiras a partir do combate à febre aftosa que afetou os rebanhos do país. De outro lado, os recentes escândalos envolvendo produtos agropecuários ligados à Operação Carne Podre da Polícia Federal, por exemplo, influenciaram não apenas o mercado interno, mas também uma série de relações de exportação de carne cuja ruptura gerou sensíveis prejuízos à economia.

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

Dada a relevância do agronegócio para a economia brasileira, é funda-mental que suas principais características atuais fiquem claras ao estudante. Além disso, a recente modernização do setor no Brasil, sobretudo nas últimas três déca-das, demanda know how profissionalizado e especializado e, consequentemente, mão de obra cada vez menos braçal e mais técnica.

Não é sem motivo que a área de Pesquisa e Desenvolvimento e a inovação no agronegócio brasileiro têm sido fomentadas, com investimento privado e público, com forte incremento de mestres e doutores dedicados a pesquisas voltadas ao agronegócio nas universidades brasileiras. Compreender o cenário macro do mercado brasileiro é imprescindível, inclusive porque, por suas peculiaridades, os avanços tecnológicos ex-perimentados no mercado interno foram desenhados especificamente para a realidade do agronegócio brasileiro, tendo em vista sua larga escala e características tropicais.

Conforme Barros (2010), as características do agronegócio brasileiro po-dem defini-lo como um sistema único e novo, complexo, diversificado, economica-mente aberto, crescenteeconomica-mente privado e concentrado, de alto risco:

Sistema único e novo: comparado aos demais grandes players do agro-negócio mundial, o brasileiro é novo e o de maior escala do mundo entre os de clima tropical. Essas características definiram o Brasil como um grande investidor em pesquisas e novas tecnologias para o campo.

Sistema complexo: por apresentar grande número de cadeias comple-tas de produção, o agronegócio no Brasil se apresenta como complexo e congrega redes que envolvem importantes segmentos produtivos, que vão desde o de máquinas e insumos até a distribuição.

Sistema diversificado: a diversificação é tanto do lado da oferta quanto da demanda. Isto é, o país não só produz uma gama muito grande de produtos (carnes, laranja, café, soja, algodão, açúcar etc.), como também tem parceiros importantes no mercado externo, além de um importante mercado doméstico.

Sistema economicamente aberto: a abertura econômica, financeira e comer-cial da década de 1990 integrou de vez o agronegócio brasileiro ao internacio-nal, transformando o país em uns dos maiores produtores internacionais.

Sistema crescentemente privado e concentrado: Com as crescentes dificuldades que o Estado enfrenta e enfrentou no passado, importantes segmentos do agronegócio têm recebido apoio cada vez maior do setor privado e, dada a necessidade de grande volume de investimento, apenas grandes empresas têm esse poder.

Sistema de alto risco: os riscos podem se dividir entre os de produtividade, relativo às mudanças climáticas e por razões climatológicas; de variação de preços, que pode ser tanto de insumos como de produtos; de variação da taxa de câmbio, associado ao alto nível de globalização das economias e de seus mercados e, por último, o risco sanitário, que se agravou com a

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Capítulo 3

Contudo, há divergências teóricas a respeito dessas características traça-das por Barros (2010). A principal delas está em não considerar o agronegócio um “ente” dotado de características, mas sim um conjunto de diferentes merca-dos, com diferentes produtos, características, estruturas e desafios. Nesse mes-mo ponto, podemes-mos destacar que a complexidade do setor, levantada por Barros (2010), não considera a dependência externa do agronegócio brasileiro, tanto de insumos (fertilizantes, tecnologias, sementes), como em máquinas e equipamen-tos, avançando até a comercialização e a distribuição dos produtos. Nesse senti-do, podemos perceber o Brasil como um espaço físico em que há um agronegócio pujante, mas sem a participação de capital e empresas brasileiras na parte mais dinâmica e agregadora de valor. Há um alto volume exportado, mas que não apre-senta em sua pauta produtos com valor agregado. Ainda, podemos questionar a caracterização do Brasil como um mercado aberto, visto que segundo o World Economic Forum, o Brasil não se configura como um mercado realmente aberto.

Para ver os rankings do World Economic Forum, acesse:

Disponível em: <https://www.weforum.org/>. Acesso em: 20 out. 2017.

Contudo, mesmo ressaltando as imprecisões da caracterização traçada, ela se faz pertinente porque engloba particularidades existentes em praticamente todos os segmentos do agronegócio brasileiro. Assim, dadas as diversas características do agronegócio brasileiro, brevemente aqui traçadas, é possível reconhecer muitos fatores positivos, bem como desafios a serem enfrentados.

Nesse sentido, a pesquisa e desenvolvimento e os consequentes avanços tecnológicos e a inovação demandam especial incentivo.

A melhoria no sistema de infraestrutura, por sua vez, é urgente, sendo que atualmente tal sistema é marcado por defasagem de ferrovias e hidrovias, bem como pelos altos custos do transporte rodoviário, fatores responsáveis pelo encarecimento do processo de logística, comprometendo a competitividade frente ao comércio internacional.

Porém, se há duas palavras que precisam ser fixadas com relação ao agronegócio do Brasil, podemos dizer que essas palavras são diversificação e inovação. A seguir, o mercado agrícola brasileiro não é pautado em apenas uma atividade-chave, como ocorre em muitas outras economias pelo mundo. Na verdade, o Brasil é grande produtor de cana-de-açúcar, café, laranja, soja, milho, carne bovina, suína e de aves.

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

De outro lado, em um cenário distante daquele rudimentar, marcado majoritariamente pela agricultura familiar e próximo ao sistema de produção-padrão norte-americano, sobretudo no cerrado brasileiro, é imprescindível falar-se em inovação. Isso porque, como dito, trata-se de mercado que cada vez menos demanda mão de obra mecânica e cada vez mais profissional qualificada e disposta a assimilar as inovações tecnológicas, logísticas e ligadas ao manejo, melhoramento genético, nutrição e processos de gestão, tudo em busca de produtos mais padronizados e competitivos frente ao mercado interno e externo.

O Agronegócio Brasileiro

Como visto, o agronegócio é um setor com relevância histórica e econômica para o Brasil. Atualmente, o setor responde por aproximadamente 21% do PIB e quase 30% dos empregos, segundo dados do IBGE. Assim, visando conhecer um pouco mais sobre o nosso agronegócio, serão apresentados dados do mercado de insumos agrícolas, grãos e proteínas animais e as projeções esperadas para o futuro.

Insumos

Os insumos agropecuários, relevantes para o aumento da produtividade geral do agronegócio brasileiro, serão brevemente trabalhados em apenas três categorias com maior relevância econômica para o Brasil: as máquinas agrícolas, os defensivos e os fertilizantes.

a) Máquinas agrícolas

Conforme dito no capítulo anterior, a mecanização agrícola representa melhoria da produtividade e queda do número de trabalhadores rurais em um con-texto de crescente demanda por alimentos. De acordo com estimativas da Céleres (2014), desde 1982 o Brasil nunca havia tido uma frota tão nova de máquinas agrícolas, sendo que 30% das máquinas brasileiras no ano do estudo possuíam menos de cinco anos. Os fatores que mais colaboraram para uma frota nova foram a elevação dos preços das commodities durante a década de 2010 e crédito sub-sidiado para modernização da agricultura.

No mercado internacional, o Brasil posiciona-se como quarto maior merca-do mundial de tratores agrícolas, perdenmerca-do apenas para a Índia, China e Estamerca-dos Unidos. Contudo, quando analisado o número de tratores por mil hectares de área produtiva, o Brasil ainda apresenta valores bastante inferiores aos verificados em países desenvolvidos. De acordo com o estudo, é interessante ressaltar também

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Capítulo 3

sivo no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. São regiões com populações menores e áreas cultivadas maiores, o que aumenta a necessidade de mecanização no campo.

De acordo com as estimativas da Céleres (2014), ilustrada no gráfico a seguir, o baixo crescimento de vendas no setor agropecuário dos anos 1990 até meados de 2006 contribuiu para a baixa renovação da frota de tratores e, por isso, sucateamento no setor. Essa tendência se inverteu com a demanda forte depois desse período.

Gráfico 2 - Evolução da frota brasileira de tratores agrícolas por tempo de uso do veículo, em mil unidades

Mil unidades

1000

1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 800

600

400

200

< 4 anos 4 anos < 8 anos 8 anos < 12 anos

Total

> 16 anos 12 anos < 16 anos

0

Fonte: Céleres® e Anfavea (2014).

b) Defensivos

Os defensivos agrícolas, como visto no primeiro capítulo, são inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas etc. Visam proteger as lavouras de pestes, pra-gas, doenças e plantas daninhas. Esses produtos colaboraram para grandes ganhos de produtividade no Brasil e no mundo, mas devem ser utilizados so-mente quando necessário e dentro de programas de manejo integrado de pragas agrícolas.

Como a agricultura brasileira é realizada majoritariamente em um clima tropical, a incidência de pragas e doenças é maior do que em países de clima temperado, que são a grande maioria do ambiente que configura o agronegócio internacional.

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

Segundo Menten (2017), professor da USP/ESALQ e presidente do Con-selho Científico para Agricultura Sustentável, o Brasil é o único país do mundo que adotou um termo novo para designar as substâncias utilizadas na proteção de plan-tas: agrotóxico. O termo, em si, já cria na sociedade uma certa aversão, além do razoável a estes produtos. Nos outros países são chamados de agroquímicos, pro-tetores de plantas, pesticidas, praguicidas etc. No Mercosul, tenta-se padronizar o termo produto fitossanitário. Finalmente, foi aprovada, recentemente, no Congresso Nacional, a eliminação do termo agrotóxico da legislação brasileira.

O professor Menten (2017) afirma que de acordo com dados da Consultoria Internacional Phillips McDougall, em 2015 o Brasil foi responsável por 18,5% das ven-das dos produtos fitossanitários do mundo, termo utilizado internacionalmente.

c) Fertilizantes

Os fertilizantes servem como um complemento nutricional para os vegetais.

Enquanto os compostos orgânicos ou inorgânicos mais importantes para o desen-volvimento dos vegetais são nomeados macronutrientes, os menos utilizados são nomeados micronutrientes. Exemplos de macronutrientes são cálcio, nitrogênio, potássio, fósforo, e de micronutrientes, zinco, ferro, cobalto, manganês etc.

No Brasil, a soja é a cultura que atualmente mais demanda fertilizantes, sendo responsável por 36% de toda a demanda local. O milho vem logo atrás da soja, representando 24% do total, e a cana fica em terceiro, demandando 15%.

Essas culturas são os maiores mercados de fertilizantes nacionais porque são as culturas brasileiras. A FIESP (2017) projeta que em 2025 outros produtos ocupem uma fatia maior do mercado de fertilizantes, a soja aumente ainda mais sua partic-ipação e o milho, a cana e o trigo reduzam.

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Capítulo 3

Figura 10 – Participação no consumo doméstico de fertilizantes por cultura

OUTROS LARANJA

ALGODÃO

0 10 20 30 40

ARROZ CANA TRIGO FEIJÃO MILHO SOJA CAFÉ

Outros: 4 Laranja: 1

Soja: 36 Milho: 24 Feijão: 1

Cana: 15 Arroz: 6 Algodão: 5 Trigo: 2

Café: 3

2015

0 10 20 30 40

OUTROS LARANJA

ALGODÃO ARROZ CANA TRIGO FEIJÃO MILHO SOJA CAFÉ

Outros: 13 Laranja: 1

Café: 3

Soja: 37

Milho: 20 Feijão: 1

Trigo: 3

Cana: 13

Algodão: 5 Arroz: 5

2025

Fonte: Fiesp (2017).

A demanda de fertilizantes deverá passar de 14,7 milhões de toneladas em 2015, para 18,8 em 2025 e crescerá mais no Nordeste e no Norte do país, apesar de serem regiões que ainda demandarão parcela pequena do total nacional.

Território: Território:

Região: Região:

Região: Região:

Região: Região:

Região: Região:

Região: Região:

Nacional 14.693 mil t Nacional 18.874% mil t

4% 4%

8%

36%

10%

37%

20%

32% 28%

21%

Norte Norte

Nordeste Nordeste

Centro Oeste Centro Oeste

Sudeste Sudeste

Sul Sul

Figura 11 - Consumo doméstico de fertilizantes por região - 2017 e 2025

Fonte: Fiesp (2017).

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

De acordo com a projeção da FIESP (2017), a demanda doméstica será bastante elevada, marcada pela forte dependência externa destes produtos, especialmente de potássio.

Figura 12 – Estimativas de demanda doméstica, dependência externa e demanda doméstica de NPK para 2025

Fonte: Fiesp (2017, p. 83).

Grãos

O mercado de grãos é de extrema importância para o agronegócio brasileiro e mundial. Soja e milho são produtos que possuem um grande complexo produtivo e que impactam diretamente os resultados da balança comercial brasileira e o mercado de carnes. Por estas razões, são essenciais para a garantia da segurança alimentar mundial. Arroz e feijão, por outro lado, constituem base da alimentação básica do brasileiro e possuem importância significativa no mercado doméstico.

a) Soja

No capítulo 5, mais adiante, será ressaltado o setor externo, onde a soja tem importância fundamental no agronegócio brasileiro. O complexo soja (grãos, óleo e farelo) brasileiro tem ganhado cada dia mais protagonismo mundial, desbancando recorrentemente os Estados Unidos, que ocupou o primeiro lugar no ranking de produção da oleaginosa por anos.

Estima-se que se considerado todo o processo de soja exportada em grão, farelo, óleo, esmagada, bem como a carne bovina que se alimenta de soja para ser exportada, quase 90% da soja brasileira tenha o comércio internacional como fim.

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Capítulo 3

De acordo com as projeções da Fiesp (2017), a produção de soja alcançará 132 milhões de toneladas de soja na safra 2025/26, frente aos atuais 101 milhões. O crescimento da produção de 39% deverá ser em parte puxado pelo aumento de área (+18%) e em parte por ganhos na produtividade (+17%). O destino desse aumento da produção será majoritariamente para o setor externo.

Enquanto projeta-se um crescimento de consumo interno de 14%, espera-se um crescimento das exportações na faixa de 58% para 2025/26.

Quando analisadas as projeções para a origem da produção do farelo de soja, por outro lado (que estão estimadas em +14%), notamos uma estabilidade nas exportações e maior direcionamento ao consumo doméstico, que deverá crescer 26% na próxima década. Esse volume de farelo deve ser direcionado ao crescimento da produção de carne de gado. O óleo, que deverá também apresentar um crescimento mais modesto, de 15%, também deve ser direcionado ao consumo doméstico, que está previsto para crescer 18%, enquanto que as exportações líquidas devem apresentar queda de 1% no período. A demanda crescente do óleo é direcionada tanto à indústria e combustíveis, como ao consumo humano.

Gráfico 3 – Produção, consumo e exportação de grão soja 2015/2016 – 2025/2026

Fonte: Adaptado de Fiesp (2017).

Apesar do protagonismo da soja se estabelecer nas regiões Centro-Oeste e Sul, sendo as duas regiões juntas responsáveis por mais de 70% da produção nacional, o maior crescimento na próxima década deverá acontecer nas regiões Nordeste e Norte, que juntas representam cerca de 9% da produção nacional em 2015/16 e deverão representar cerca de 17% do total da safra 2025/26.

140000 120000 100000 80000 60000 40000

2015/16 2016/17 2017/18

Consumo doméstico Exportação Produção

2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25 2025/26 20000

0

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

A oleaginosa é bastante afetada por fenômenos climáticos, como o El Niño e La Niña. Se, por um lado, a safra de 2015/16 foi penalizada graças ao excesso de chuva causado pelo El Niño, espera-se maiores resultados da safra 2016/17 devido à La Niña. A Argentina, outro grande player mundial do mercado de soja, que durante a última década teve sua produtividade estancada devido a desincentivos externos, deve voltar a crescer e se mostrar como uma concorrência para o mercado brasileiro.

b) Milho

O milho, com a soja, representa boa parte do grande potencial do agronegócio brasileiro. O grão, contudo, possui mercado interno mais forte do que exportações.

A demanda por milho ocorre em maior escala pelos produtores de aves e suínos.

Assim, oscilações no preço do milho impactam diretamente esses setores, como aconteceu no último ano, quando o preço do grão se elevou em virtude de uma queda da oferta ocasionada pelo El Niño.

O gráfico abaixo mostra claramente como a produção de inverno, a antiga safrinha, tornou-se a maior safra do ano. A produção, que está projetada para crescer 59% nos próximos dez anos, deve ser mais puxada por ganhos de produtividade, que devem crescer 42%, do que por área plantada, que deve aumentar apenas 12%.

Contudo, apesar do mercado doméstico continuar sendo o maior destino da produção nacional, este deve crescer apenas 21%, com tendência de o milho brasileiro avançar de forma ousada no mercado internacional, com projeção de crescimento de 168% até 2026.

Gráfico 4 - Produção, consumo e exportação de milho 2015/2016 – 2025/2026

Fonte: Adaptado de Fiesp (2017).

120000 100000

60000 80000

40000 20000

Consumo Doméstico

Exportações Líquidas Produção 2 safra Produção 1 safra

2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22 2022/23 2023/24 2024/25 2025/26 0

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Capítulo 3

O Centro-Oeste, que já responde por 43% do total da produção nacional, deve avançar ainda mais, passando a ocupar 52% da fatia de mercado nacional em 2025/26. O Nordeste e o Norte, contudo, também apresentam alta tendência de crescimento da produção do grão para a próxima década.

Proteínas Animais

O Brasil possui participação ativa no mercado de carnes, não apenas no comércio interno, como estando entre os líderes de produção nacional. Apesar dos escândalos envolvendo a JBS e problemas sanitários que recorrentemente ocorrem, as projeções para o setor são de crescimento e consolidação.

a) Carne de frango

O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango. Contudo, percebe-se pelo gráfico abaixo que a maior parte da produção nacional percebe-se encaminha para o consumo interno. É projetado crescimento do consumo per capita da carne de 44,8 kg/hab/ano em 2015 para 49,6 kg/hab/ano em 2025.

Além da popularidade da carne de frango no Brasil, o produto funciona em períodos de crise como bem inferior, visto que a demanda aumenta frente à redução da renda dos consumidores, que passam a consumir mais frango em detrimento de carne bovina, que é mais cara. O setor, contudo, foi impactado negativamente pelo alto preço do milho, devido à redução da oferta do grão causado pelo fenômeno climático El Niño.

Apesar de recorrentemente o mercado ser afetado por questões de barreiras sanitárias, a FIESP (2017) projeta que apesar da elevação do consumo doméstico em 40% para a próxima década, as exportações líquidas devem crescer 65% e crescer na participação da produção nacional, que deverá se elevar em 25%.

MERCADO NO AGRONEGÓCIO

Gráfico 5 - Produção, consumo e exportação de carne suína 2015 – 2026

Fonte: Adaptado de Fiesp (2017).

5000

Consumo Doméstico Exportações Líquidas Produção 4500

4000 3500 2500 3000 2000 1500 1000

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 500

0

O Sul é a região que mais produz carne de frango no Brasil, tendo sido responsável por 60% da produção total em 2015. O Centro-Oeste, contudo, deverá apresentar uma elevação de 63% e tende a passar a responder por 20%

da produção total em 2025, frente à participação atual de 15%.

b) Carne bovina

O Brasil também assume protagonismo no mercado de carne bovina. O cenário projetado pela FIESP (2017) mostra-se otimista apesar dos recentes acontecimentos, tanto envolvendo a JBS, como a suspensão da importação de carne bovina do Brasil pelos Estados Unidos.

Antes dos escândalos no setor, estimava-se aumento de 24% na produção de carne bovina de 2015 até 2026, sendo estimado crescimento do consumo domésticod e 15% e 66% para exportações. Assim, as projeções apontam para 11,7 milhões de toneladas produzidas em 2026 (volume 24% superior ao de 2015), com crescimento de 12% na taxa de lotação, ficando 1,30 cabeças por hectares em 2026.

Regionalmente a produção bovina é bastante desconcentrada, com o Centro-Oeste assumindo a liderança. A região que mais deve crescer em produção é a Norte (+43%), que permitirá que saia de 21% do total Brasil para 24% na próxima década.

83 Mercado do Agronegócio no Brasil

Capítulo 3

c) Carne suína

A carne suína é a mais consumida mundialmente, mesmo que perdendo espaço para a carne de frango nos últimos anos. No mercado brasileiro o cenário é positivo para a proteína. A FIESP (2017) projeta crescimento de 32% da produção de 2015 para 2026. Apesar do consumo interno ser o principal destino da produção de carne suína no Brasil, as exportações tendem a crescer 75%, muito em virtude da demanda do mercado chinês, e o consumo doméstico deverá aumentar apenas 23%.

O consumo per capita deve passar de 13,9 kg/habitantes/ano computado em 2015 para 15,8 kg/habitantes/ano em 2026. Os embutidos representam grande parcela da carne suína no mundo e cada dia mais o setor investe em informação e marketing para desfazer a ideia de que a carne de porco é calórica e faz mal para a saúde. Com cortes cada vez mais magros, o setor busca se adaptar a mudanças da demanda da indústria de alimentos.

14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0

Consumo Doméstico Exportações Líquidas Produção

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026

Gráfico 6 - Produção, consumo e exportação de carne bovina 2015 – 2026

Fonte: Adaptado de Fiesp (2017).

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