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1.5. M ECANISMOS DE N ETWORK

1.5.2. C LARIFICAÇÃO DO C ONCEITO

O modelo de governance e o conceito de networks surgem na literatura especializada como algo muito vago, relativamente impreciso e com múltiplos significados (Barry, Berg, & Chandler, 2006). Embora possa ser identificado com actividades que visam, através da acção conjunta de uma série de actores governamentais ou não, a mais-valia para o serviço público, continua a ser uma definição muito vasta. Pode ter uma dimensão de coordenação vertical ou horizontal. Pode limitar-se às fronteiras do sector público, ou pode envolver outros actores sociais (privados e terceiro sector). Pode envolver relações de hierarquia, de mercado ou parcerias (Mossberg, 2007). Facilmente se conseguem encontrar definições contraditórias (Pierre & Peters, 2005). Hirst (2000) propõe cinco definições, Rhodes (2000) sete. Vamos clarificar este conceito e justificar o uso do termo networks como um mecanismo de governação alternativo.

Assim, e apesar das inúmeras definições que se podem encontrar, é possível identificar duas abordagens suficientemente generalistas (Mossberg, 2007). Uma referente à gestão do processo político propriamente dito, onde a atenção recai na acção do governo, nas relações que mantém com os restantes actores sociais e na construção de mecanismos alternativos de governação. Klijn e Koppenjan (2000) entendem-na como o acto que promove a interacção entre diferentes actores sociais de maneira a construir a combinação mais adequada de métodos de governação. Para Löffler (2003) trata-se de conseguir o mix óptimo entre organizações burocráticas, relações de mercado e parcerias com organizações sem fins lucrativos. A governação pode também ser entendido como um conjunto de regras (in)formais que define formas e métodos para que um conjunto de stakeholders (cidadãos, organizações sem fins lucrativos, agentes privados, mass media, governo central e governos locais) possa exercer o seu poder e a sua capacidade de influência no processo de tomada de decisão (Bovaird & Löffler, 2001). Na mesmo linha de pensamento, este mesmo conceito pode ser entendido como

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uma maneira de gerir a complexidade envolvente, usando diferentes mecanismos de governação, de maneira a maximizar o bem estar dos stakeholders Nesta óptica, Rhodes (1991) apresenta um conjunto de cinco níveis de análise de networks, que variam conforme a sua abrangência, nível de participação e estabilidade (tabela 19)26.

Tabela 19 - Tipologia de netwoks

Tipo de Network Características

Territorial Estrutura de relações estáveis; Participação limitada de actores

locais de uma determinada circunscrição administrativa.

Profissional Estrutura estável: Particularmente destinada à defesa dos interesses

de uma profissão.

Intergovernamental Estrutura formal, da administração central que pretende articular

horizontal e verticalmente actores intervenientes.

Produtores Composta por actores variáveis dependendo do tipo de actividade

a ser prestada: protegem os interesses dos produtores.

Issues Estrutura instável; elevado número de agentes envolvidos.

Fonte: Adaptado de Rhodes (1997)

Esta é uma visão mais global que prefere encarar o Governo como um parceiro que promove a coordenação (por autoridade, concorrência ou colaboração) entre os elementos da sociedade civil (Barry, Berg, & Chandler, 2006). Esta é uma abordagem de tal forma vasta que engloba os diversos mecanismos de governação.

Uma segunda abordagem, que será por nós adoptada nesta investigação é menos focalizada nas variáveis políticas e mais na operacionalização de soluções integradas para a resolução de problemas complexos em actividades concretas (Mossberg, 2007). Nesta perspectiva, governação é o acto de activar e coordenar actores sociais de maneira a satisfazer as necessidades colectivas extremamente complexas, dinâmicas e diversas (Kooiman & Van Vliet, 1993). Para Verhoest, Peters, Beuselinck, Meyers e Bouckaert (2004) trata-se de uma interacção estável de diversos agentes autónomos, em torno de uma matéria, onde todos são parte interessada. Na prossecução dos seus objectivos, estas organizações tornam-se dependentes. Segundo O'Toole (1997), as networks são estruturas de interdependência que envolvem múltiplas organizações, onde não existe nenhum mecanismo de “opressão” como os que existem nas outras formas de

26 Podemos rapidamente, a título exemplificativo, aplicar esta tipologia ao problema dos incêndios

florestais. Assim, teríamos como intervenientes ao nível de network territorial, todos os serviços locais de bombeiros e protecção civil, juntamente com a câmara municipal e os elementos das juntas de freguesia e das forças policiais. Ao nível da issues network estaríamos a lidar com grupos ecologistas, partidos políticos, grupos de interesse, elementos da administração central e local, elementos dos governos locais, forças de segurança, conselho nacional de bombeiros, entre outros.

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governação (autoridade e concorrência). Neste caso, as organizações encontram-se num estado de perfeita liberdade para actuarem conjuntamente se assim o desejarem. Também podem ser descritas como sendo padrões de relacionamento, a médio/longo prazo, entre actores mutuamente dependentes, dependência esta que está inerente ao surgimento de qualquer problema que um deles, agindo isoladamente, não consegue resolver (Klijn, Koppenjan, & Terneer, 1995). Para Provan e Milward (2001), uma

network é criada sempre que duas ou mais organizações actuam de forma consciente e voluntária de maneira a produzir resultados mais eficientes do que os provenientes da acção individual de cada uma. Na opinião de Lowndes e Skelcher (1998) uma network significa que os actores são capazes de identificar interesses complementares desenvolvendo a sua relação com base na confiança e lealdade.

Resumindo, a primeira perspectiva identifica-se mais com o conceito de boa governação (good governance) discutido no início deste capítulo; enquanto a segunda abordagem diz respeito à criação de parcerias como uma alternativa ao mercado e à hierarquia para a produção de bens e serviços públicos, numa perspectiva de co-management, ou seja, a produção conjunta a cargo de várias organizações (Brandsen & Pestoff, 2006; Mossberg, 2007). É neste sentido que assumimos e trabalhamos o conceito de network.