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1.4. M ECANISMOS DE M ERCADO

1.4.2. C ONCORRÊNCIA COMO FORMA DE C OORDENAÇÃO

A coordenação é feita através da competição de mercado e surge, cada vez com mais frequência, como alternativa à coordenação assente na autoridade formal. As razões apontadas prendem-se sobretudo com o facto de, em diversas situações, esta solução ser mais eficiente e eficaz do que as soluções de hierarquia (Hood, 1994; Kettl, 2000; Ferris & Graddy, 1997; Stein, 1993; Gray & Jenkins, 1995; Osborne & Gaebler, 1992; Araújo, 2000).

Fonte: Elaboração Própria

Governo Central/Local (Unidade Governativa, responsável pelo Planeamento, Financiamento e Controlo) Relação Contratual com o Melhor Agente (segundo regras da concorrência) Agentes Externos (Unidade Produtiva responsável pela Produção e

Distribuição) Figura 10 - Esquema do Ciclo Produtivo

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Como já foi referido, o princípio básico dos mecanismos de governação de mercado é a competição entre os agentes que pretendam assumir a posição contratual de produtores de bens e serviços públicos. A competição é uma disputa concorrencial entre agentes económicos, que actuam num mercado, de maneira a destacar aqueles com mais capacidade para se superiorizar aos demais. Desta competição, espera-se que resultem soluções mais eficientes e eficazes para a Administração Pública; espera-se que haja uma maior flexibilidade na gestão dos serviços públicos bem como uma certa libertação relativamente ao ónus de assegurar alguns encargos financeiros fixos (Ferris & Graddy, 1986). Isto é, externalizando a produção, a realização do investimento inicial, a propriedade (registo, manutenção, abate) do activo fixo e a responsabilização perante os recursos humanos contratados, recaem no agente contratado. Desta forma, ganha-se flexibilidade, podendo a unidade governativa decidir o tipo, a extensão temporal da relação, a qualidade e a quantidade de bens e serviços públicos a disponibilizar à medida das solicitações dos cidadãos, acompanhando as variações destas. Assim, desta situação de concorrência perfeita, agentes públicos, privados e sem fins lucrativos esforçam-se por apresentar as soluções mais vantajosas, na expectativa de serem seleccionados para assumirem o compromisso de produtores de bens e serviços públicos.

No entanto, este conceito de concorrência perfeita pressupõe duas condições de racionalidade que dificilmente acontecem: primeiro, um livre e gratuito acesso à totalidade da informação de mercado; segundo, a capacidade do agente decisor tratar a informação disponível de maneira a tomar a melhor decisão. A abordagem de Simon (1957; 1960) ao processo de tomada de decisão sustenta uma posição de racionalidade limitada dos seres humanos, isto é, a sua incapacidade de processar toda a informação disponível e a sua capacidade limitada de construir cenários alternativos à tomada de decisão bem como a previsão de acontecimentos futuros. Perante esta situação, o processo de competição de mercado não é tão linear e instantâneo como seria de prever. De facto, o mercado é o espaço onde as unidades governativas, produtivas e os cidadãos interagem e põem em prática as suas estratégias. Mais concretamente, as unidades governativas esforçam-se por disponibilizar aos cidadãos bens e serviços que satisfaçam as suas necessidades de forma eficaz e eficiente. Partem do pressuposto que essa combinação lhes proporcionará uma avaliação política positiva, favorecendo a sua

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reeleição. Confiam também que a competição de mercado força os agentes produtivos a apresentarem propostas que servem, da melhor forma, as suas pretensões. Por seu lado, as unidades produtivas procuram a sua subsistência através dos bens e serviços que produzem. São forçadas a apresentar propostas que garantam a sua superioridade perante a concorrência no limiar do seu limite económico. Os cidadãos avaliam positivamente (confiança e votos) a entidade governativa que disponibilize bens e serviços capazes de cumprir com as suas expectativas (bons serviços e qualidade de vida) sem agravamentos de carga fiscal (boa gestão dos dinheiros públicos).

Figura 11 - Interacção de Mercado

Fonte: Elaboração Própria

Como estão numa situação de racionalidade limitada, todos os agentes envolvidos são obrigados a fazer escolhas sem terem o total conhecimento prévio do comportamento dos demais intervenientes. Em cada transacção, os agentes pressupõem que fazem as melhores escolhas e tomam as melhores decisões, à luz da informação que lhes está disponível. A sua ignorância cognitiva poderá arrastá-los para uma combinação de decisões que põem em causa a sua estratégia de maximização da utilidade. À medida que interagem, expõem a sua estratégia aos demais, adquirem informação sobre o comportamento dos seus parceiros, reequacionam as suas estratégias, modificam as suas ofertas e alteram os seus comportamentos (Krizner, 1991). No entanto, este reajustamento de estratégias está limitado, por um lado pelo facto da sua posição contratual e/ou governativa só se manter na medida em que se adeqúe à estratégia do outro agente14, por outro, pela concorrência exercida pelos restantes agentes

(económicos e políticos) que desejam ocupar a sua posição (Boyne, 1998). Ou seja, em

14 Governos e cidadãos, respectivamente, têm a capacidade para escolher, de entre agentes privados e

partidos políticos, quais os que melhor servem os seus interesses.

Unidades Governativas Unidades Produtivas Cidadão Contratos Votos Bens e serviços

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termos conceptuais, as unidades governativas não têm interesse em perpetuar uma ligação com unidades produtivas ineficientes, na medida em que tal poderá ter repercussões políticas e eleitorais, preferindo assim procurar alternativas disponíveis no mercado. Em suma, a concorrência no contexto político e económico, é a força que estimula os agentes para a eficiência e eficácia (Boyne, 1996; Feiock, Clingermayer, & Dasse, 2003).

Num contexto de mercado, as responsabilidades das unidades governativas passaram a incluir mais uma dimensão para além do planeamento, financiamento, e controlo dos resultados, uma responsabilidade que se centra na gestão de soluções de mercado. Esta consiste no esforço de reunir informação de mercado de maneira a seleccionar o melhor agente, na habilidade em negociar os termos da relação contratual, na construção de mecanismos de avaliação e monitorização o desempenho do agente externo e na regulamentação do mercado de modo a assegurar a livre concorrência (Brown & Potoski, 2006).

Tabela 14- Responsabilidades adicionais das unidades governativas

Tarefa Descrição

Informação Pesquisa de informação relativamente às ofertas e aos comportamentos

dos agentes de mercado. A resolução da assimetria de informação poderá permitir seleccionar o melhor agente e prever e antecipar

comportamentos futuros. Normalmente são usados mecanismos de sinalização de mercado como a certificação de processos e produtos de qualidade.

Negociação Capacidade para clarificar os termos da relação contratual, sobretudo no

que diz respeito à quantidade e à qualidade das actividades desenvolvidas.

Monitorização Capacidade para monitorizar e controlar a acção do agente contratado no

ambiente natural do agente contratado. Normalmente são usados indicadores previamente negociados para aferir da validade da acção do agente.

Regulação Como princípio básico deste mecanismo de governação está a

concorrência de mercado. Desta forma, é necessário regulamentar quer o acesso ao mercado, quer a informação disponível, quer a própria actividade dos agentes.

Fonte: Elaboração Própria

Apesar dos mecanismos de governação por hierarquia serem ainda maioritários, cada vez mais se verifica uma adopção de soluções através da governação por mecanismos de mercado (Brown & Potoski, 2003b; 2005; Rosenbaum, 2006).

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