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5 C ONSIDERAÇÕES F INAIS

C ONTROLES /L EGISLAÇÃO /S EGURANÇA

Com isso também, é muito difícil de se aplicar legislação na rede. Fora isso, a rede não é de ninguém. Então, por exemplo, algumas iniciativas do tipo identificar o acesso do usuário à rede é uma coisa estranha porque eu posso identificar o acesso de alguém a minha casa, mas eu não posso identificar o acesso de alguém à rua ou à praia, quer dizer, se eu não tenho um sujeito que é responsável pela estrutura em si, eu não posso botar uma porteira em algo que é aberto, então eu acho que nós temos de tomar o máximo de cuidado pra quem entra na nossa casa, no nosso site, no nosso banco, na nossa loja, mas nós não podemos impedir que alguém entre na rede, porque a rede não é especificamente nossa; se a gente dificultar a entrada na

rede aqui, ele vai entrar por outro lugar, quer dizer, não há como você cercar a praia e impedir o acesso ao oceano – então, é muito importante o balanço entre, digamos o serviço de Internet, de acesso livre, de conteúdo disponível, etc. e tal, e as formas que você tem de controlar os mal feitos sobre a rede, acho que é fundamental que se consiga inibir e punir os que cometem delitos na rede, mas temos que tomar muito cuidado pra não punir a rede, acho que a rede em si é inimputável – eu “to” dizendo isso porque tem uma pergunta que envolve o caso Cicarelli no YouTube, onde quem foi punido foi o acesso ao YouTube, que não tinha nada a ver com o caso Cicarelli em si. Quer dizer, se alguém fez um vídeo inadequado, que ele seja justiciado de alguma forma, punido de alguma forma, mas não que percamos o acesso a um recurso como o YouTube, que era usado pelo governo do Rio Grande do Sul, por exemplo, na campanha contra a dengue, então, é muito importante separar a rede em si, que na minha opinião é inimputável, dos usuários da rede que obviamente são responsáveis pelos seus atos. Então, continuando nessa parte digamos de conceitos da Internet que de alguma forma vão afetar o nosso dia a dia – além desse aspecto de legislação que eu comentei, que é muito difícil ter uma legislação sobre a rede em si, porque a rede não tem fronteiras, a legislação nacional não se aplica a rede como um todo, então na minha opinião a legislação tem que se aplicar aos que atuam na rede, e eles devem ser punidos se cometerem delitos ou não mas a rede em si é inimputável, eu diria que tem mais alguns aspectos da rede que são muito interessantes e que provavelmente nós estamos examinando só no começo desse seu efeito e não sabemos como é que será daí pra frente.

Um deles, por exemplo, é essa geração de conteúdo na mão do indivíduo, quer dizer hoje todos podem gerar conteúdo e colocar na rede e você vê isso pela proliferação de blogs, de wicks, de sites em que existe informação, evidente que com isso a qualidade é muito variável, existem informações corretas, existem informações falsas, existem calúnias, existem difamações, existem todo tipo de coisas boas e ruins, mas de qualquer forma o poder do usuário de poder colocar informação na rede é algo muito importante e não havia... Então, estávamos falando da capacidade de cada um editar conteúdos na rede, isso inclusive gerou por exemplo (...) a Wikipedia, que é uma enciclopédia gigantesca, com a colaboração de milhares de indivíduos, e que tem uma qualidade bastante boa, eu diria, na verdade, o fato de a coisa ser aberta, de todos colaborarem, não é obrigatório que se gere

disponível a todos que colocarem o que acham, existe certamente uma facilidade de propagação de coisas que não são verdadeiras, ou não são corretas.

Agora, eu acho que esse é um custo a pagar pela liberdade da rede, acho que é importante que nós mantenhamos essa abertura e que todos possam dizer o que queriam, evidentemente o pessoal da legislação, da justiça e tal, vai ter que ver como coíbe os que falam coisas inadequadas ou falsas ou inverídicas sem que o abuso impeça o uso, não é, uma das regras básicas em geral que se tem, liberais, abertas, democráticas, é que o abuso não deve tolher o uso. Se alguém abusa de algo, isso não quer dizer que devemos tirar o uso legal daquilo, porque está havendo um abuso. Mas, outros dois aspectos que também queria comentar que acho que são fundamentais nessa história, é que alguns dos conceitos que nós temos de algumas áreas certamente serão afetados pela rede de uma forma muito profunda que nós ainda não conseguimos entender em toda a sua extensão.

Um deles, por exemplo, é toda a parte ligada à propriedade intelectual. A propriedade intelectual baseou boa parte da sua operação, no fato de que existia um meio de suporte físico onde a propriedade intelectual se expressa, então o autor de um livro, ele imprime um livro, e pelo fato de imprimir n exemplares do livro, ele pode ter uma conta que vai gerar à ele uma receita porque o livro carrega a idéia dele em papel.Da mesma forma que um compositor de música grava um meio físico, onde a música dele, de alguma forma, pode ser transportada e ele pode controlar isso.Mas, se nós voltarmos ao passado, não tão distante assim, na época dos compositores clássicos, Bach e outros, a coisa não era assim. Na verdade Bach, quando compunha um oratório, ou o que fosse, ele ganhava pra fazer aquilo, mas ele não ganhava para que estocassem aquilo, ao contrário, ele gostaria que tocassem bastante aquilo, porque toda vez que tocavam aquilo, provavelmente ele iria receber uma encomenda de um novo oratório, e ele ia ser pago pra produzir mais uma missa ou uma cantata, ou o que fosse. Então, o meio de remunerar o autor a partir que os meios de produção geraram o suporte físico da idéia. A Internet, de alguma forma, volta a destruir esse negócio, quer dizer, o suporte físico da idéia desaparece. Além de desaparecer o suporte físico da idéia, o intermediador desaparece. A rede “desintermedia” as coisas: quer dizer, o autor e o consumidor são colocados diretamente em contato. Eu posso gerar um texto e passar diretamente pros meus leitores através do meu blog sem ninguém no meio do caminho. E eu não tenho

como numerar quantas vezes aquilo foi lido ou não lido, porque uma vez lido por alguém isso sempre pode ser espalhado pela rede e, uma vez gerada a informação, ela se distribui e é muito difícil controlá-la.Então, certamente, eu acho que nós teremos algum impacto na área de propriedade intelectual, as coisas vão ter que ser revistas, provavelmente conceitos serão revistos, provavelmente a forma de remunerar o autor será revista, porque certamente não há como tampar as infinitas possibilidades que a rede tem de você copiar algo.

Se tentou fazer assinaturas e formas de criptografia e de fazer, mas, uma vez que esteja disponibilizado para leitura, ta na rede, e como nós já falamos, todos os bits são iguais e não tem mais como segurar. Esse é um ponto que eu acho que a rede vai trazer impacto.

Um outro ponto, que a rede também vai trazer impacto é o seguinte: muitos dos serviços nossos de telecomunicação passarão a ser feitos sobre a rede, como nós já estamos vendo hoje; então, estruturas específicas não é, muito custosas que eram operadas por grandes operadoras e, portanto, tinham uma barreira de entrada muito grande pra competição, por exemplo, telefonia, perdem essa barreira de entrada, no momento em que telefonia vira simplesmente mais um serviço sobre a rede, e da mesma forma que correio eletrônico, e som e texto e o diabo andam em cima de pacotes TCP/IP. Então, telefonia é um exemplo, mas na verdade, uma porção de serviços que nós temos hoje, migrarão para serem operacionalizados sobre o protocolo da rede e com isso, o modelo econômico muda drasticamente. Então, os modelos de várias indústrias, não é, que existem hoje, na área de comunicação, serão afetados pelo fato da rede existir. Isso envolve jornais, envolve TV, envolve telefonia, envolve todos os meios de comunicação, por quê? Porque hoje a rede é um meio ubíquo, não é, está em todo o lugar, e ela transporta informação de uma forma neutra, sem que a gente saiba se aquela informação é uma notícia importante, ou um pedaço de uma piada, ou um pedaço de uma imagem, com isso, os modelos econômicos dessas indústrias, desses segmentos serão afetados pela existência da rede. Não há uma conta específica que alguém esteja pagando, quer dizer, a Internet não é um serviço que seja subsidiado por alguém. Na verdade, todos pagam a conta de alguma forma. As linhas de telefone são pagas aos provedores de telecomunicação, as infra-estruturas de comunicação de dados são pagas de alguma forma a provedores. A Internet trouxe um novo modelo em que a integração de milhões de pequenos pagamentos geram uma

veja por exemplo, um buscador como o Google, que tem um investimento de infra- estrutura enorme: são milhares e milhares de máquinas, sem contar uma tecnologia extremamente sofisticada da distribuição da carga pelas máquinas e uma confiabilidade muito grande e que, a ponto que todos usamos esse serviço diariamente. Essa empresa hoje vale muito dinheiro, é uma das empresas mais valiosas do mundo, mas se se pensar bem, porque ela vale tudo isso? Quer dizer, ela vale tudo isso porque ela tem milhões de usuários o tempo todo no mundo e porque ela “ta” usando um modelo de micro-pagamentos que vem a partir dos anúncios classificados que eles têm, que são ligados à busca que você faz, que cada um deles é extremamente barato, portanto, várias pequenas empresas podem pagar esse tipo de anúncio, mas a integral, quer dizer, a soma desses pequenos pagamentos dá um montante que justifica o valor que a Google tem.Então, essa mesma tendência que a Internet traz, uma tendência em que nós diluímos os pagamentos, ninguém ta subsidiando nada, a rede em si se mantém, mas a soma de pequenas frações de pagamentos que todos nós fazemos de alguma forma no nosso dia-a-dia sustenta os serviços.