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2 G OVERNANÇA E LETRÔNICA

3.5 Pornografia infantil

Com respeito às infrações relacionadas ao conteúdo, as que mais preocupam as autoridades públicas e os gestores da Internet estão relacionadas à pornografia infantil.

O crescente número de sites de pornografia infantil em toda a Internet é demonstrado na Figura 6, que se segue:

800 1300 1800 3000 4500 5200 4300 8500 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Fonte: ASACP (2008)

Figura 6 - Número anual de endereços IP suspeitos de hospedar pornografia infantil (2000-2007)

Organizações não-governamentais têm se constituído com a finalidade de combater a ciberpedofilia.

Nos Estados Unidos, uma destas entidades é a Association of Sites Advocating Child Protection (ASACP), uma organização sem fins lucrativos, dedicada a eliminar a pornografia infantil da Internet. A ASACP combate a pornografia infantil por meio de sua linha de ação de denúncias, que organiza esforços para combater o que esta associação considera como “crime hediondo do abuso infantil na indústria da Internet”. A ASACP também ajuda os pais a evitar que suas crianças vejam material inapropriado na rede mundial de computadores. Esta organização argumenta que capturar pedófilos que postam páginas suspeitas na Internet é difícil para os Governos, que recebem as denúncias, mas não têm condições de investigá-las. Assim, o site da ASACP promete investigar tais denúncias - pois possui aparato tecnológico para tal fim - e coloca à disposição de seus visitantes on-line, um link para que estes possam reportar suspeitas de crimes de pedofilia e pornografia infantil. Considera também que os usuários da Internet podem sentir-se mais à vontade contatando a Associação do que as agências governamentais. Dessa maneira, a própria ASACP pode contatar as autoridades, priorizando denúncias que realmente forem consideradas graves. No site da entidade, o modus operandi para o combate a estes crimes é descrito:

O que fazemos e como fazemos

x A ASACP providencia uma linha de denúncias para usuários da Internet e donos de páginas virtuais para reportarem suspeitas de pornografia infantil. Muitos de nossos membros possuem URLs22 para a linha. Assim recebemos milhares de denúncias todo mês.

x A ASACP investiga estas denúncias e determina o servidor, a fatura, o endereço IP, o dono e ligações para páginas suspeitas. A ASACP, então, envia o alerta vermelho para autoridades e associações apropriadas, incluindo o FBI e o Centro Nacional de Crianças Abusadas e Desaparecidas, assim como linhas européias. Nós também falamos com os servidores e processadores de pagamento que hospedam operadores de pornografia infantil.

x O programa de membros aprovados da ASACP oferece um modelo de auto-regulagem efetivo para a indústria adulta da Internet. Páginas de membros aprovados devem seguir nosso código de ética.

x A ASACP estabeleceu melhores práticas para seus membros, que são recomendadas não só para os mesmos, como também para páginas de busca, páginas de encontro virtual, entre outras.

x A ASACP criou a marca RTA (Restrito a Adultos) para melhorar o filtro adulto, e para demonstrar o compromisso da indústria adulta da Internet em ajudar os pais a impedirem que seus filhos sejam expostos a material 22 URL (Universal Resource Locator) Sequência de caracteres que indica a localização de um recurso na Internet. Ex.: http://www.asacp.org/page.php.

regulamentos condizentes à pornografia infantil e proteções da criança, assim como a legislação nova e a pendente.

x A ASACP trabalha para informar e educar seus membros, a indústria adulta da Internet, mentores das políticas governamentais, e o público geral sobre temas relacionados à proteção da criança, atividades virtuais ilícitas, e os esforços da indústria adulta da Internet em combater a pornografia infantil (ASACP, 2008, online).

No Brasil, a entidade similar à ASACP é a SaferNet, uma organização não-governamental que assim se define em seu site:

A SaferNet Brasil é uma associação civil de direito privado, com atuação nacional, sem fins lucrativos e econômicos, de duração ilimitada e ilimitado número de membros, sem vinculação político- partidária, fundada em 20 de Dezembro de 2005 por um grupo formado por cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito, reunidos com o objetivo de materializar as diretrizes e linhas de ação empreendidas ao longo dos anos de 2004 e 2005, quando estiveram diretamente envolvidos na realização de pesquisas e no desenvolvimento de projetos sociais relacionados ao combate a pornografia infantil (pedofilia) na Internet no Brasil (SAFERNET BRASIL, 2008, online).

A Figura 7 demonstra que esta entidade registrou mais de cinco mil denúncias destes crimes, que incluíram pornografia infantil, racismo, neonazismo e intolerância religiosa. Segundo dados desta ONG, o Brasil está em terceiro lugar no ranking da pornografia mundial, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Rússia. Conteúdo denunciado à Safernet Removido pelo Orkut/Google Removido pelo usuário Perfis pedófilos 4.135 7.991 2.020 Comunidades com pornografia infantil 1.693 1.472 719 Total de páginas denunciadas 5.878 9.463 2.784 Número estimado de imagens publicadas 49.620 113.556 24.240

Fonte: Safernet Brasil (2007).

Figura 7 – Páginas do Orkut denunciadas à Safernet contendo pornografia infantil (janeiro de 2006 a junho de 2007) Pornografia infantil 39,82% Intolerância religiosa 4,6 1% Apologia e inc itação a crimes c ontra a vida 28,15% Homofobia 4,07% Xenofobia

2,54% Maus tratos c ontra animais 5,2 3% Ra cis mo 7 ,53 % Neonazismo 8,03%

Atualmente, o Ministério Público Federal trabalha em parceria com a SaferNet, com o Comitê Gestor da Internet no Brasil e com a Associação Brasileira de Provedores de Internet (ABRANET) no combate a estes crimes, tendo sido fruto destas parcerias as seguintes ações:

x a confecção do Manual Prático de Investigação para Crimes

Cibernéticos, colocado à disposição de delegados, membros do Ministério Público, juízes e auxiliares de justiça. O manual em referência não pode ser reproduzido, pois contém descritos os passos necessários para investigar os cibercrimes, contendo inclusive anexos de peças processuais relativas à busca e apreensão de computadores por crime de racismo, pedido de interceptação de dados telemáticos por pornografia infantil, pedido de quebra de sigilo para provedores que hospedam sites de pornografia infantil, entre outros;

x acordos celebrados entre o Ministério Público Federal e o Google em

pelo menos quatro estados brasileiros (Ceará, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro). Tais acordos consistem, na verdade, de um compromisso do Google com o Ministério Público Federal, em fornecer indicações, arquivar dados, facilitar o acesso e até mesmo retirar páginas suspeitas de ilegalidades, como pedofilia e racismo, postados no Orkut (PICHONELLI; FERNANDES, 2007).

Os cibercrimes envolvendo menores vêm crescendo no Brasil. Segundo informa a SaferNet, em Juiz de Fora (MG), uma garota de 15 anos fugiu de casa para encontrar-se com um homem de 30 anos que conheceu pela Internet e com o qual passou dois meses, sem que a família recebesse quaisquer notícias. Em Nova Friburgo (RJ), dois homens foram presos por terem divulgado fotos pornográficas de adolescentes no Orkut. Casos como esses são cada vez mais comuns, e envolvem crianças e adolescentes muito jovens – existem registros envolvendo crianças de 9 anos ou menos.

Falta é claro, uma educação digital que poderia ser realizada pela televisão aberta, escolas, universidades e associações profissionais. Os jornais e a própria Internet já são porta-vozes dessas mensagens de alerta, que, entretanto,

desconhecimento das práticas de segurança na rede acabam favorecendo o aumento das ocorrências criminosas. Medidas básicas de proteção para diminuir tais problemas podem ser adotadas, bastando, para isso, que se tomem cuidados como instalar antivírus nos computadores e adotar a prática de alterar senhas de acesso com freqüência.

Essas medidas poderiam também ser amplamente divulgadas pelo Governo brasileiro, pelo Ministério Público Federal, pelo Comitê Gestor e pelos Provedores de acesso, especialmente os maiores, que têm a responsabilidade de operacionalizar uma campanha nacional em rede de televisão aberta para informar a sociedade civil das possibilidades e dos perigos que existem na rede.