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5 C ONSIDERAÇÕES F INAIS

G OVERNANÇA E LETRÔNICA

Bom, a gente “tá” discutindo governança na Internet, então é importante primeiro pegar as origens da administração da Internet, prá ver como é que foram geradas as estruturas que nós temos hoje. Importante a notar é que ela nasce dentro de um projeto chamado ARPANET, patrocinado pelo governo americano, pelo departamento de defesa, mas rapidamente se descola desse segmento da sociedade e vira algo que fica na mão da academia, então basicamente, a academia, evidentemente com verbas federais dos Estados Unidos, foi a principal responsável pelo desenvolvimento dos protocolos e dos padrões que geraram a Internet, aliás a palavra Internet ela não é usada na origem da rede, a rede chamava-se ARPANET e Internet ela vai dar um pedaço do nome do protocolo que chama-se Internet protocol, quer dizer o protocolo que liga as diversas redes e este pedaço de nome do protocolo acabou dando a nome a rede como um todo. Ela passa a se chamar Internet a partir de 86 mais ou menos, um pouquinho antes, talvez 82, 84, quando ela começa a ter popularidade na versão TCP/IP. Antes da versão TCP/IP, ARPANET tentou outras soluções em termos de protocolos, que depois foram abandonados em função de que o TCP/IP foi considerado o mais adequado. TCP/IP foi escrito pelo Vinton Cerf e pelo Robert Cant, dois pesquisadores aí que até hoje estão por aí e que são considerados pais desse protocolo e, portanto, pais da rede. Bom, então, a rede começa com uma administração informal, a partir de algumas pessoas da academia envolvidas diretamente com a estruturação da rede e baseia-se especificamente em colaboração - que se quer dizer com isso - a rede é formada de vários segmentos de

protocolo e com uma fraca administração central, cuja única função é garantir que os números que são atribuídos às máquinas e os nomes que são atribuídos às máquinas de serviço são únicos – quer dizer, se eu garantir que de alguma forma, minha máquina tem um nome único na rede e tem um número único na rede, é isso que eu preciso, em termos de administração central, eu não preciso mais do que isso.E assim foi no começo.

Então por exemplo, quando John Postel que faleceu há 10 anos atrás, não, 8 anos atrás, passou a administrar nomes e números e foi criado um negócio chamado IANA, (Internet Assigned Numbers Authority) que era praticamente o próprio Postel e mais alguns estagiários e ele passou então a pensar em estruturas de nomes que pudessem permitir a expansão da rede mundialmente e então o que que ele fez – ele pegou uma tabela por exemplo da ISO, a ISO 3166, que tinha acrônimos de duas letras associados a territórios no mundo – ele pegou cada um desses acrônimos e atribuiu a ele uma entrada na raiz de nomes da rede chamada DNS (Domain Name Systems) e passou a atribuir prá cada um desses acrônimos, quando havia no território específico uma iniciativa de redes, alguém que cuidasse daquilo. Então por exemplo, o Brasil, foi incluído nessa raiz em 89 (Ponto br. foi registrado em 18 de abril de 89) e foi apontado pra vida acadêmica brasileira na época, então quais eram as redes acadêmicas, havia a rede da ANSP (Academic Network at São Paulo), que ficava na FAPESP, e a RNP, a Rede Nacional de Pesquisa, no caso como a FAPESP era o lugar onde a operação central da rede acontecia, foi pra atribuído o apontador do ponto br. Então, o que eu quero dizer com isso é que o br, que representa o território associado ao Brasil, foi atribuído a um grupo envolvido em redes, sem nenhum envolvimento, nem do governo americano, nem do governo brasileiro, nem de nenhuma instância oficial, mas simplesmente dos atores envolvidos em redes naquele instante.

Então eu tava falando que o br foi atribuído a esse grupo de pessoas – outros domínios, o ponto ar, da Argentina, o ponto cl do Chile, etc. tal, foram atribuídos a outros grupos de pessoas, normalmente da área de universidades, ou da área de academia, porque era o pessoal envolvido com redes na época. Então, a Universidade do Chile tocava o ponto cl, e assim por diante. Com o tempo, a partir de 86 principalmente, a rede começa a ter um afluxo cada vez maior de serviços não acadêmicos, então a área comercial começa a descobrir a rede, e com isso,

algumas novas preocupações surgem, não é, como garantir que aquela estrutura informal pudesse de fato ser sólida, como garantir, se houvesse necessidade de incluir outros nomes na raiz, isso fosse feito de uma forma justa, homogênea, coerente, tudo mais, e com isso, em vários lugares do mundo que foram criados, foram, nasceram discussões sobre como isso seria feito.

No Brasil, por exemplo, em 95, foi criado o Comitê Gestor, por uma portaria de dois ministros, o ministro da Ciência e Tecnologia e o Ministro das Telecomunicações e o Comitê Gestor então, chamou a si aquela administração que era inicialmente feita de forma informal pelo grupo operador inicial, que trabalhava na , então, tanto o domínios, nomes, quanto números passaram a ser, digamos a ter responsabilidade administrativa do Comitê Gestor.

Analogamente, no cenário mundial, a IANA começou a sentir que poderia ser complicada a gestão informal que havia e aí houve uma proposta do governo americano de criar então uma transição para um órgão que fizesse o que a IANA fazia em termos de nomes e números e esse órgão então, devia ser um órgão neutro e pluralista, etc. e tal, e foi feita uma chamada de propostas, foi escrito um texto chamado Green Paper e que gerou então depois as propostas e, a proposta de uma organização da Califórnia chamada ICANN, que é Internet Corporation for Assigned Names and Numbers, um pedaço do IANA está no meio do nome dele, acabou sendo digamos, a organização eleita para operar isso aí numa fase de transição e, o Departamento de Comércio Americano, ficou encarregado, digamos, de supervisionar essa transição até o ICANN ser auto-suficiente e ter um funcionamento devidamente é, digamos, tranqüilo, garantido, correto, neutro e tudo mais. Por vários motivos, que é muito longo explicar agora e que depois podemos discutir com cuidado, essa transição até agora não acabou, isso gera evidentemente uma polêmica de porque um determinado governo tem mais controle do que o outro na rede, visto que está gerindo essa transição para o ICANN, o ICANN é um organização na Califórnia, uma organização portanto que segue as leis norte- americanas, e isso também pode ser um motivo de polêmica, talvez devesse ser uma organização mais neutra ou internacional de alguma forma, mas eu queria deixar muito claro isso, quer dizer, a Internet nunca foi ligada nem a governos, nem a empresas privadas e nem mesmo à academia em si, mas sim a grupos que cooperavam para que isso funcionasse, então, ela é o que a gente chama de uma rede multistakeholder, você tem vários segmentos interessados no seu

entre si.

Tanto a área acadêmica, quanto o governo, quanto o setor privado e, pelo menos em minha opinião, seria fundamental, pra liberdade da rede, para o crescimento da rede, que essa característica fosse mantida, essa característica de cooperação entre todos os segmentos e essa característica de não controle da rede por um determinado setor específico.