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C – T INFORMATIVO * Reflexão sobre estratégias

No documento Actas do I Encontro Internacional (páginas 87-90)

Texto(s), literacia(s) e objectivo(s): algumas propostas de trabalho

C – T INFORMATIVO * Reflexão sobre estratégias

de inserção de argumentos no texto informatiivo. (Língua Portuguesa, História, Educação Cívica) * Valoração do texto informativo em termos de neutralidade face à informação veiculada (Língua Portuguesa, História, Educação Cívica) * Reflexão sobre

procedimentos de hierarquização da

informação face a diversas opiniões sobre o assunto (Língua Portuguesa, Educação Cívica)

* Produção de diferentes formulações textuais de acordo com as diversas opiniões (Português, Educação Cívica)

A Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada

Mistérios da Flandres

Lisboa, Caminho, 1990, pp. 78-80 (…)

Simão era um homem invulgar. Baixo, encorpado, de ombros largos, vestia com luxo desmesurado, ostentando vários anéis de brilhantes e pedras preciosas. Mas o que mais impressionava era o olhar vivo, inteligente, que se podia tornar duro, ou muito doce, conforme as circunstâncias. Tinha um efeito violento nas pessoas. Umas adoravam-no, outras detestavam-no, mas a ninguém era indiferente.

Quando soube ao que vinham, a sua atitude modificou-se. A alegria de receber três portugueses que julgava trazerem notícias frescas deu lugar a uma expressão cautelosa.

- Nicolas Van der Epst? - perguntou. - Vêm à procura dele?

- Sim - disse Orlando. - E temos a maior urgência em saber do seu paradeiro. - Nesse caso, venham comigo. É melhor termos uma conversa em particular. Atrás do dono da casa, percorreram então várias salas, salinhas, salões, até desembocarem num corredor sombrio ao fundo do qual havia uma porta com três pesadas fechaduras. Ana e João ardiam em curiosidade para saberem o que iriam encontrar do lado de lá, pois só podia tratar-se de algo muito importante. Simão retirou um molho de chaves da algibeira, escolheu três e fê-las rodar com força. As linguetas de ferro, deslizando para trás, fizeram um ruído considerável! E os gonzos rangeram ligeiramente quando a porta, de uma espessura impressionante, se entreabriu para lhes dar passagem.

Ao entrarem no aposento detiveram-se, hesitantes, pois não havia luz. Simão foi acender algumas lamparinas de azeite e logo que as chamazinhas tremeluziram os dois irmãos soltaram um Ah! de espanto. O quarto era todo em pedra, sem janelas, e com bancadas de madeira a toda a volta. Havia mil instrumentos minúsculos, como pinças, limas, martelinhos e balanças. Mas o que os deixou assombrados foram as caixas de madeira forradas de veludo negro que continham centenas de diamantes!

Grandes, pequenos, talhados ou em bruto, faiscavam silenciosos, testemunhando a fabulosa riqueza do anfitrião.

- Isto parece uma gruta encantada! - exclamou a Ana. - Que maravilha! Simão Rodrigues sorriu-lhe, satisfeito.

- É o fruto de muitos anos de trabalho. Quando vim para cá, não passava de um pequeno comerciante. Tive sorte nos negócios em que me meti.

Orlando olhou-o com admiração. O traje escuro, a gola branca aos canudinhos, conferiam-lhe um ar imponente de grande homem, de vencedor. Não era de espantar que fosse conhecido pela alcunha de Pequeno Rei.

- Isto é a minha oficina de diamantes – explicou – Nicolas é um mestre na lapidação de pedras preciosas. Há muitos anos que trabalha para mim.

- Ele é que cuida disto tudo? - perguntou o João, admirado.

- Não. Tem quatro ajudantes. Mas eu só tenho confiança nele. Por isso fechei a oficina desde que desapareceu.

- Faz alguma ideia do sítio para onde possa ter ido?

- Infelizmente, não. Se ele me tivesse pedido ajuda, eu próprio lhe arranjaria um esconderijo. Somos muito amigos, portanto suponho que teve de fugir de imprevisto. Caso contrário, tenho a certeza de que me avisava. Alguém lhe deve ter dito que ia ser preso.

- Por causa da religião? - perguntou a Ana. - Ou por causa das bruxarias?

- Perseguem-no, porque são ignorantes! Nicolas é um sábio. Aplica todo o dinheiro que ganha nas suas experiências. Sozinho, conseguiu fazer pomadas e elixires fabulosos. A minha mulher sofria horrivelmente com dores nos ossos e ele curou-a. Só por isso ficar-lhe-ei eternamente grato. Mas não foi só ela. Cá em casa toda a gente utiliza os seus medicamentos. Eu próprio tive uma doença de pele bastante complicada e fiquei bem graças a ele.

- Não posso entender que um homem assim seja perseguido. Deviam era dar- lhe apoio, para ele fazer mais experiências.

- Tens razão, meu filho. Mas estes são tempos difíceis. Há mais intolerância do que compreensão. E as lutas religiosas só contribuíram para afastar as pessoas umas das outras.

- Também não compreendo por que é que cada um não há-de ter a religião que lhe apetecer!

Simão olhou-os com tristeza.

- Nem eu. Vocês nem imaginam os horrores que se têm cometido em nome de Deus. Quando acendem fogueiras para queimar homens, mulheres e até crianças, fecho portas e janelas para não ter de ouvir os gritos de dor e desespero!

(…)

B Jornal PÚBLICO, 24/8/03

"A mais bela paisagem humanizada do Minho”

Aldeia de Sistelo prendeu as atenções do "Passeio Público" num percurso entre Arcos de Valdevez e Monção que ficou ainda marcado pelas paragens

em Cabreiro, Longos Vales e Cambeses. JOSÉ AUGUSTO MOREIRA

Mais que a história da arte ou o património edificado, o desafio colocado por Eduardo Pires de Oliveira aos participantes no último "Passeio Público" centrou-se essencialmente no encanto e harmonia da paisagem, num percurso por aquela que considera como "a mais bela paisagem humanizada do Minho". Partindo da acolhedora e bem cuidada avenida marginal de Arcos de Valdevez, a caravana de participantes cruzou o Vez demandando Monção pela estrada que segue o traçado do curso fluvial num doce serpentear por entre o verde ondulado do vale. Até à primeira paragem, em Cabreiro, o percurso fez-se por entre aldeias onde se destaca o cuidado e asseio de casas e arruamentos, sendo visível o gosto na utilização do granito que sobressai na típica arquitectura da região. Parece, finalmente, postergada a utilização dos assustadores azulejos, que nesta zona não são já visíveis em qualquer construção.

Arcos de Valdevez é provavelmente o concelho do país com o maior número e .mais belas pontes medievais, e Cabreiro tem também o seu exemplar quatrocentista cruzando o rio que dá nome à localidade já perto do seu encontro com o Vez. A igreja local apresenta ainda um conjunto de restos românicos, destacando-se no seu interior um fresco medieval, descoberto em consequência de recentes obras de restauro.

Eduardo Oliveira empolga-se com a vista de Sistelo e o impressionante cenário onde se destaca a ruína do que nunca chegou a ser o castelo do visconde local. É uma espécie de longo anfiteatro tripartido, já que a encosta é ali rasgada pelos leitos dos rios Couço e Vez, emergindo a zona central que alberga o casario da aldeia como autêntica boca de cena.

Um primeiro plano é dado pela confluência dos dois cursos, dominado pelo doce murmurejar de águas límpidas saltando por entre enormes pedras roladas. Levantando a vista, vê-se, dum lado e doutro, uma espécie de enormes jardins

suspensos que outra coisa não são que o resultado de cuidada e laboriosa intervenção do homem, que à custa da construção de pequenos socalcos logrou cultivar praticamente toda a encosta. No centro fica o casario de pedra, qual presépio estrategicamente colocado para poder receber os favores do sol praticamente desde que se levanta e até desaparecer por detrás da vigorosa montanha.

Além da inquestionável beleza do local que bem poderia ser classificado como local de interesse e assim merecer especiais cuidados na sua preservação, a partir de Sistelo é também possível percorrer alguns trilhos de montanha. Na aldeia existe mesmo um centro de interpretação do Parque Nacional da Peneda-Gerês, mas parece que nem sempre estará aberto para poder apoiar os visitantes.

Em Longos Vales, está-se já em território de Monção e a estrada desce a encontro do rio Minho. Ao lado do antigo mosteiro, provavelmente de cónegos regrantes de Santo Agostinho", a igreja conserva a cabeceira românica que se destaca pela sua grande volumetria pouco vulgar no romano português e a denunciar claras influências da igreja galega. O edifício, datado de finais do séc. XII, é mesmo apontado como exemplo do românico da ribeira Minho.

Debaixo de um sol implacável e já com os estômagos a reclamar, a comitiva teve ainda forças para se acolher no Santuário da Nossa Senhora dos Milagres, em Cambezes, onde Eduardo Pires de Oliveira destacou a extraordinária notoriedade, da confraria – que chegou a publicitar a (exagerada) existência de setenta mil irmãos. Quanto ao templo, além do grande retábulo-mor do período nacional, merece especial destaque o altar-relicário de rara beleza, de estilo galego e muito pouco comum em Portugal.

Exaustos (mas compensados) os resistentes visitantes renderam-se por fim aos prazeres do estômago. Em Monção não poderia faltar o típico prato de cabrito – a famosa "foda à Monção" – que, diga-se, deixou bem satisfeitos os comensais.

O "Passeio Público" volta a Braga no próximo destino, desta vez para apreciar a qualidade das obras de restauro efectuadas nas igrejas da Misericórdia e de Santa Cruz.

C Jornal PÚBLICO, 24/8/03

No documento Actas do I Encontro Internacional (páginas 87-90)