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INCLUIR TUDO: A “HISTÓRIA EM QUE ME FAÇO COM OS OUTROS E DE CUJA FEITURA TOMO PARTE”

No documento Actas do I Encontro Internacional (páginas 174-177)

O processo de leitura com crianças em defasagem idade-série

INCLUIR TUDO: A “HISTÓRIA EM QUE ME FAÇO COM OS OUTROS E DE CUJA FEITURA TOMO PARTE”

Embora em caráter provisório com a certeza de que este tipo de pesquisa se caracteriza pela sua própria natureza de inacabamento6, ao chegarmos ao “final” desse estudo baseado em reflexões a partir das vozes dos sujeitos-alunos em defasagem idade-série do Programa de Aceleração de Aprendizagem, salientamos alguns aspectos importantes, para que pensemos sobre as reais possibilidades de sucesso desses e de outros alunos, considerando a urgência de mudanças das práticas rotineiras em nossas salas de aula e da organização de “programas” a fim de que se atenda a todos os alunos na diversidade de suas formas de aprender,

5Freire (1997) 6

almejando a difícil, mas possível, inclusão de todos, através daquilo que seja oferecido a eles.

Fazer esse estudo onde se contou com a colaboração de alguns alunos do PAA “rotulados” pelo sucesso obtido tornou possível o desvelamento de algumas representações dos mesmos frente ao processo do aprender acadêmico que se oferecido a todos e se atender às especificidades de cada um pode também levar à inclusão desse mesmo aluno no espaço escolar e também fora dele. A exposição feita pelos alunos sobre si mesmos e sobre a forma como se percebem aponta características de crianças bastante sofridas. Sofrimento causado pelas diversas situações difíceis com as quais viram-se obrigadas a viver, ainda convivendo com algumas delas. Mas também traz esperanças, crenças na educação e desvela recursos aprendidos pelos alunos para superar as diversidades.

Considerar tais fatos não significa que se esteja buscando um argumento para explicar a não aprendizagem da leitura e escrita com compreensão até esse momento, mas sim uma forma de organizar os dados fornecidos por eles articulando e rearticulando tudo que expressaram em seus depoimentos. Desse modo será possível ver cada aluno emergir na sua totalidade, conhecendo complexamente a unidade que é composta pelas partes que compõem a mesma unidade, numa relação de reciprocidade e de complemento. A complexidade dessa tarefa auxiliou, na medida em que não permitiu que se fragmentassem os sujeitos, obrigando-me a ter permanente cuidado durante a análise realizada com relação às subjetividades que se mostravam através das diferentes falas e situações, agora pretensamente expressas neste estudo.

A organização do trabalho no PAA revela uma certa monotonia, um ritmo mecânico e até condicionado de trabalho, pois o material utilizado é numeroso demais (7 livros), atrapalhando os alunos porque possuem dificuldades de leitura e escrita e comprometendo o cumprimento do que é proposto no tempo que se pretende. E ainda aplica uma metodologia rígida no cumprimento das atividades com ordens pré-estabelecidas para cada passo a seguir (refiro-me aqui aos ícones que estão distribuídos por todo subprojeto, a cada um deles, nos livros utilizados). A intenção é acelerar, mas é necessário ao professor e ao aluno que participam desse acontecimento, correrem juntos o risco do desengessamento, desacelerando na medida certa quando se fizer necessário para ambos. A aprendizagem da leitura e escrita, na perspectiva do letramento desses alunos, que se deu durante o acontecimento de um Programa na rede municipal, é um processo e, portanto precisa de participação, de atividade que leve à transformação, chegando ao produto que continua sendo processo. O compartilhamento desse e nesse processo

de aprender é a substância do desenvolvimento cognitivo. É o que deve guiar o nosso sistema de aprendizado.

A partir da análise das diferentes formas de representações propiciadas pelos alunos, a partir das entrevistas e observações que julgo terem fornecido dados ricos para um possível entendimento sobre quais as estratégias utilizadas por eles para aprender e progredir, foi possível destacar algumas baseado no que sugere Meirieu (1998) ao questionar o “como” aprender. Entretanto, classificar os alunos e suas estratégias de aprendizagem é aqui neste “término” de trabalho o que menos importa.

A sensibilidade às diferenças individuais na utilização de estratégias impele a que tanto os professores como os alunos tenham apoio durante a realização da aprendizagem da leitura e escrita. A escola precisa estar ciente e sensível para o fato de que todos têm condições de aprender algo, porém as modalidades de ação para se aprender são diferentes e precisam ser reconhecidas e estimuladas.

Uma forma de estímulo pode ser o Programa de Aceleração ou a idéia de superação que está implícita em seus objetivos, mas apenas acelerar não melhoraria em nada a vida desses alunos, como reconhecem alunos entrevistados. Aprender é o objetivo maior que os levou e continua levando diariamente milhões de crianças de volta à escola, mesmo que ela não reconheça isso no aluno e em si própria ao fazer suas avaliações. A ação do aluno no processo de construção da leitura e da escrita tem que ser o centro maior da observação do professor para que desenvolva um trabalho com diferentes procedimentos didáticos para atendê-lo.

A inclusão, como paradigma de pensamento e ação, poderá se efetivar no espaço escolar, possivelmente, se os professores utilizarem-se da estratégia de reflexividade do seu fazer no acontecimento do mesmo, em que pensará e agirá considerando-o passo a passo, certificando-se da exatidão desses passos nas diferentes etapas do seu agir, diminuindo ou aumentando, seguindo ou parando, indo para caminhos distintos, pois só assim aprenderemos e saberemos para onde caminhamos. Aí, talvez, não tenhamos que escolher entre avaliar, acelerar ou aprender, pois tudo fará parte do mesmo processo com as especificidades inerentes ao próprio processo e também àqueles que dele fazem parte. Para isto, devemos estar “antenados”, refletindo sobre o fazer pedagógico junto àqueles que o fazem conosco.

No documento Actas do I Encontro Internacional (páginas 174-177)