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Jogos poéticos «Leitura» de imagens ambíguas, por técnica de colagem Naga e Cordeiro-Vegetal, com panos de fundo

No documento Actas do I Encontro Internacional (páginas 37-43)

Itinerários para a promoção do livro e da leitura: Estratégias psicopedagógicas

4. Funções cruzadas dos hemisférios cerebrais – arte, humor, linguagem e fantasia

5.4.5. Jogos poéticos «Leitura» de imagens ambíguas, por técnica de colagem Naga e Cordeiro-Vegetal, com panos de fundo

Efectuou-se a colagem em papel de dez figuras híbridas, ilustrações de «O livro de dragões e outros animais míticos» (Nigg, 2002), com cenários buscados em manchas do Teste de Rorschach (1949, orig. 1921). O suíço Hermann Rorschach pretendeu estimular e examinar a imaginação e analisar as interpretações, com borrões de tinta ambíguos. Essas situações-estímulo originam uma diversidade de respostas, a partir dos elementos e atributos das pranchas não serem modelos claramente definidos ou uniformes. Exige-se pensamento divergente.

Duas professoras não supunham o efeito desse material, que depois as crianças pediram para ser continuado, em novas «leituras».

Nessa condição de contexto escolar, formaram-se grupos de quatro alunos e colocaram-se acetatos das imagens no retroprojector, sendo utilizada música melodiosa.

Para cada acetato, pediu-se às crianças que dissessem o que viam, construindo frases, para um «poema» de fantasia e imaginação, em atenção aos motivos seleccionados e localizados no desenho. No final, leu-se cada texto e contaram-se as histórias dos bichos.

Mas o que é uma Naga, presente na Prancha I? Todos quiseram saber. A

Naga (Nigg, 2002, trad. port. 2002, pp. 34-35) é uma serpente das águas, lendária

na Índia, por relatos dos feitos da maior criatura mitológica – o dragão. Também é comparada à Serpente Arco-Íris ou ao dragão chinês. É um dos dragões «bons» da terra, da água, do céu ou do paraíso. Em diferentes locais, tem distintas formas. Guardiã dos tesouros da terra, também vive em palácios de ouro, rubis vermelhos e esmeraldas verdes, situados no mar. De modo duplo, é benéfica (dá rubis aos seres humanos) e é destrutiva (o seu veneno é mortal). Que o diga o pássaro gigante

Garuda, montada de Vixnu, na mitologia hindu, seu inimigo eterno, sempre à luta

E o que é um um Cordeiro-Vegetal? Um Cordeiro-Vegetal (ob. cit., pp. 74-75) nem é um cordeiro nem é um vegetal. Pode crescer nas plantas. Essa raridade híbrida surge identificada, pela primeira vez, em «O diário de Frei Odorico», por relação à Índia e à Tartária – onde viveram Tártaros (exército de Gengiscão, formado por mongóis, turcos...), na zona oeste da China, tendo aparecido registos escritos, localizando o bicho até no mar Cáspio. Nessa última região, tem forma específica, como uma semente do tamanho do melão. Uma outra espécie nasce da abóbora, como um cordeirinho, enrolados em lã. Conta-se, que os pés são pêlos compactos, sabe a caranguejo e alimenta-se da vegetação, estando o Cordeiro-

Vegetal ligado pelo cordão umbilical ao útero da planta. Importa informar, que as

plantas não têm útero. Esses cordeiros também não são carnívoros; os lobos comem-nos ou chegam a morrer de fome.

Falecido Gengiscão (1227), afirmava-se ainda comer a sua carne e o seu sangue saborosos, enquanto os ossos se utilizavam em rituais e o pêlo servia aos Tártaros para a confecção de gorros. A pele guarneceu casacos quentinhos. A Universidade de Oxford, Inglaterra teve exposto o casaco da Rainha Isabel I, oferecido pelo Embaixador inglês na Rússia.

Existem pessoas, que acreditam na existência de Nagas e de Cordeiros-

Vegetais, mas também existem outras pessoas, que pensam serem invenções

fantasiadas, com base na cobra ou na planta de algodão. Contudo, existe um terceiro grupo, que não sabe se acredita ou não nas histórias.

Com essas imagens, não se procurou trazer ao presente estudo animais considerados malévolos ou propícios a medos, mas antes criaturas encantadoras, «podendo personificar desejos, que todos possuímos: saúde, sabedoria e imortalidade» (ob. cit., p. 6). A adesão fácil pela publicidade mundial impõe, por exemplo, a presença de dragões em restaurantes chineses e de grifos em marcas registadas. Convivemos com imagens.

Discussão final

Um dos maiores desafios cognitivos a todos os que se preocupam com a educação talvez seja a união entre aprender e prazer, dito que o desenvolvimento humano constitua uma dimensão básica da vida, que extravasa a aprendizagem na escola (Zamith-Cruz, 2002, pp. 295-308). No Ensino Básico, podemos dialogar sobre tudo o que nos faz questionar. O poeta açoreano Herberto Helder defendeu-o, na expressão: «Tudo é mesa para o pensamento».

As professoras envolvidas no estudo acreditaram ser possível mudar formas de trabalho, tendo chegado, anteriormente a duvidar da eficácia dos «interrogatórios

a que as crianças foram submetidas». Aperceberam-se, inclusive, que um professor não precisa de ser um contador de histórias «profissional» ou um actor, para contar aventuras. Pode fazer algo mais com contos do que mostrar as suas imagens, com

passarinhos e colibris... Pode expor imagens, enquanto se cante uma canção e

procurar boas histórias, como «A planta do pé dá flores» de Luísa Ducla Soares. Os exemplos da natureza animal, as histórias incríveis, as imagens pictóricas e as metáforas educam de forma menos tradicional. Importa fornecer perspectivas, como quando se mostram figuras ambíguas ou se contam segredos, escondidos em ilustrações intrigantes.

As crianças mostraram-se entusiasmadas, curiosas e interrogaram-se mais com o que é conflitual, inesperado ou realizado com textos desconhecidos e personagens fantásticas, inculcando experiências lúdicas, por via das situações exemplares e abstractas, mescladas com a existência quotidiana.

Utilizaram-se textos sonoros/lúdicos, narrativos e poéticos/estéticos, alguns deles por ênfase em ilustração de qualidade. Essa é uma forma de «tradução» de elementos e impressões conceptuais e abstractas em elementos visuais. Das imagens, criaram-se representações mentais, que favoreceram a criação de textos.

«A narrativa convence pela sua semelhança com a vida» (Bruner, 1986, trad. esp. 1988, p. 23). Ambicionou-se, que as crianças integrem uma multiplicidade de conhecimentos e talentos, de modelos e de valores humanos, para adquirirem energias estimulantes, que lhes permitam arrostar a experiência e a sua auto- narrativa de cambiantes emocionais, ricos de significado.

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Eu leio, tu lês, ele lê... mas para quê?

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