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Cadastro de visitantes, boletim eletrônico e mobilização

No documento Internet nas eleições de 2006 (páginas 103-106)

Os quatro candidatos contavam com cadastro de visitantes para recebimento de boletim. A homepage de Cristovam Buarque começou a oferecer o cadastro em 25 de agosto, mas apenas para quem acessasse o hotsite de mobilização, inscrevendo seu nome, cidade, estado, faixa etária, e-mail e site pessoal. Também era possível declarar o nível de envolvimento com a campanha: muito envolvido, envolvido, pouco envolvido, talvez me envolva, neutro, não busco envolvimento, não quero ser mobilizador.

Os mais envolvidos eram inscritos na lista de “agentes mobilizadores” da campanha e contavam com uma senha de acesso para o hotsite de mobilização. O objetivo era que esses colaboradores fizessem contato entre si, formando uma rede para organizar atividades de

28 A minirreforma eleitoral daquele ano (Lei 11300, de 10 de maio de 2006) já exigia a prestação de contas pela

campanha em cada região ou localidade. O próprio site explicava: “Ao fazer o cadastro, você poderá ter seu nome inscrito na lista de mobilizadores, espalhar idéias mobilizadoras, trocar informações com outros mobilizadores e também vai receber materiais de divulgação, notícias e orientações.” O usuário ainda assistia a um vídeo do candidato, convocando o eleitor a participar da “revolução através da educação”. Em tom personalista, Cristovam Buarque convidava: “Essa revolução é possível e depende de você.”

Os agentes mobilizadores poderiam ser encontrados no site por meio de um mapa. Ao selecionar o estado, o internauta encontrava a lista de outros mobilizadores, com nome, cidade e e-mail. No total, a campanha conseguiu reunir 4.242 organizadores, presentes em todos os estados. Esse número representava quase 10% do total de cadastrados no boletim – 49 mil internautas, segundo informação dos organizadores da campanha. É interessante observar que, na distribuição entre as Unidades da Federação, há uma forte ligação entre os colaboradores e a população com acesso à Internet. O índice de correlação chegou a alcançar 0,97. Isso mostra a importância de proporcionar condições de acesso mais igualitário para permitir uma maior participação pela Internet. O número de colaboradores também se relaciona diretamente com o resultado da votação, com correlação de 0,91. Já a relação entre o acesso digital e o resultado da votação é menor, mas ainda assim significativo, com correlação de 0,85. Esses índices aparecem destacados na tabela 6.3.

Tabela 6.3 Coeficiente de correlação de Pearson entre acesso à Internet, agentes mobilizadores e a votação de Cristovam Buarque por estados - 2006

Agentes mobilizadores População conectada Resultado da votação

Agentes mobilizadores 1

População conectada 0,97 1

Resultado da votação 0,91 0,85 1

Fonte: Levantamento do autor a partir de dados do TSE, CGI.br e site de Cristovam Buarque

Com isso, pode-se levantar a hipótese de que o número de agentes mobilizadores on- line (variável dependente) foi influenciado diretamente pelas condições de acesso à Internet (variável independente) – e em certo sentido limitado pelos problemas de exclusão digital. Já o resultado da votação (outra variável dependente) seria influenciado pelos mobilizadores e, indiretamente, pelo acesso à Internet. Essa hipótese pode ser descrita na seguinte equação:

Equação 6.1 Influência da participação on-line na votação de Cristovam Buarque acesso à Internet ➜ agentes mobilizadores ➜ resultado da votação

Uma hipótese contrária seria que o número de eleitores de Cristovam Buarque em cada estado teria influenciado o número de agentes mobilizadores. Mas então, como explicar que a correlação dos agentes mobilizadores com o resultado da votação é menor do que com a população conectada? E ainda, a correlação entre o resultado da votação e o acesso à Internet? Os índices são significativos ao observar a relação do candidato com outras variáveis eleitorais: o PDT não contava com alianças, nem com uma forte estrutura partidária local; o senador também não dispunha de muito tempo no Horário Eleitoral Gratuito, nem despertou a atenção da mídia como os três candidatos à frente nas pesquisas – Lula, Geraldo Alckmin e Heloísa Helena. Nessas condições, conclui-se que a Internet pode ter representado uma variável importante na votação de Cristovam Buarque, embora não se deva desprezar outros fatores. O elo entre a Internet e o voto pode ser encontrado justamente nos agentes mobilizadores ou colaboradores que participaram da campanha na rede.

Assim como a campanha de Cristovam, o site de Lula se diferenciava por oferecer opções de interatividade específicas para militantes e colaboradores, com conteúdo segmentado. Como exemplo, a campanha do PT utilizou a Internet para oferecer um curso a militantes sobre a fiscalização das eleições. As aulas foram ministradas por webconferência a fiscais e delegados de 27 estados brasileiros. As palestras explicaram como realizar o processo de preparo das urnas; os cuidados necessários para evitar fraudes; e a comparação dos resultados entre o TSE e os fiscais da campanha. Manuais do curso ficaram disponíveis no site da campanha, além de orientações sobre propaganda eleitoral, registro de candidaturas, prestação de contas. Com o uso da Internet, a coordenação de campanha conseguiu aumentar a participação de dirigentes e militantes e reduzir significativamente os custos. O curso foi descrito pelo partido como um marco importante no processo de comunicação entre a instância nacional da campanha e sua base operacional e política.

O site de Lula também buscava, com grande destaque na homepage, o cadastro de prefeitos aliados. Os políticos encontravam formulário para se cadastrar e participar do movimento de apoio à reeleição “Municípios com Lula e pelo Brasil”. No cadastro, o político deixava nome, prefeitura, cargo, partido, telefone, e-mail e mensagem. Ainda havia um vídeo de agradecimento de Lula aos prefeitos e um manifesto, com carta compromisso, explicando “as mudanças implantadas pelo governo Lula, principalmente no relacionamento do Executivo com outros poderes e com todos os prefeitos independentes de partidos”. Na carta, Lula assumia o compromisso de aprovar a reforma tributária para ampliar em 1% o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), além de medidas para facilitar o acesso dos municípios a

convênios federais, reforçar e valorizar o Bolsa Família e implantar o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Na página, o usuário poderia consultar a relação dos prefeitos que apoiavam a reeleição, sempre atualizada ao longo dos eventos e comícios organizados nos estados para apoio a Lula.

Os sites de Lula, Heloísa Helena e Geraldo Alckmin ainda dispunham da relação de comitês de campanha e diretórios regionais dos partidos que apoiavam cada candidato. Essa lista ganhava mais destaque na homepage de Alckmin, que apresentava um mapa com endereços e telefones de comitês de campanha em cada estado. O internauta ainda encontrava links para comunidades e sites relacionados, entre eles a comunidade do candidato no Orkut.

O site de Heloísa Helena também fazia cadastro de apoiadores de campanha, pedindo nome, cidade, gênero, data de nascimento, e-mail e RG. O interessado deveria indicar como gostaria de ajudar na campanha. Entre as sugestões disponíveis estava participar de panfletagem, colocar uma faixa em casa, pintar o muro de casa, organizar reuniões com vizinhos e amigos, montar um comitê de apoio. O site ainda permitia que o eleitor fizesse uma recomendação de iniciativa para ajudar a campanha.

Mais simples, o cadastro para boletim eletrônico no site de Lula pedia apenas nome e e-mail; o de Geraldo Alckmin, nome, UF, cidade e e-mail. A inscrição em ambos os sites recebia mais destaque do que em relação aos de Heloísa Helena e Cristovam Buarque. O site de Lula também se diferenciava por apresentar um arquivo com os boletins eletrônicos já enviados e enviar mensagens específicas para militantes e jovens – grupo que representa a maioria dos internautas. O boletim para jovens divulgava as ações do governo Lula voltadas à juventude, atividades de campanha e propaganda negativa contra Alckmin.

No documento Internet nas eleições de 2006 (páginas 103-106)

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