• Nenhum resultado encontrado

Internet nas eleições de 2006

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Internet nas eleições de 2006"

Copied!
226
0
0

Texto

(1)

Palanques Virtuais:

A campanha presidencial pela

Internet nas eleições de 2006

(2)

Francisco de Assis Fernandes Brandão Júnior

Palanques Virtuais:

A campanha presidencial pela Internet

nas eleições de 2006

Dissertação de Mestrado submetida ao Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do grau de Mestre em Ciência Política.

Área de concentração: Ciências Humanas Sub-área: Estudos Eleitorais e Partidos Políticos

Orientador: Prof. Dr. Carlos Marcos Batista

(3)

224 f.: il.

Dissertação (mestrado) – Universidade de Brasília, Instituto de Ciência Política, 2008.

(4)

Francisco de Assis Fernandes Brandão Júnior

Palanques Virtuais:

A campanha presidencial pela Internet nas eleições de 2006

Dissertação de Mestrado submetida ao Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos exigidos para obtenção do grau de Mestre em Ciência Política.

Área de concentração: Ciências Humanas Sub-área: Estudos Eleitorais e Partidos Políticos

Aprovada pela seguinte banca examinadora:

_________________________________________ Prof. Dr. Carlos Marcos Batista, UnB

Orientador

_________________________________________ Prof. Dr. David Verge Fleischer, UnB

Examinador interno

_________________________________________ Prof. Dr. Carlos Eduardo Esch, UnB

Examinador externo

(5)
(6)

Meus agradecimentos sinceros:

Ao professor Carlos Marcos Batista, pela generosidade com que me guiou nesta jornada. Aos professores David Verge Fleischer e Carlos Eduardo Esch, pela colaboração decisiva na conclusão deste trabalho.

Aos professores do Ipol-UnB, pelos ensinamentos. Aos dirigentes, funcionários e assessores do PDT, PSDB, PSOL e PT, em especial aos senadores Sérgio Guerra e Cristovam Buarque e ao sr. Valter Pomar, pelo acesso e fornecimento de e-mails da campanha. Aos funcionários e assessores do Tribunal Superior Eleitoral, do Comitê Gestor da Internet no Brasil e do Centro de Informação e Pesquisa da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, pelo envio de dados fundamentais para a pesquisa.

(7)

Resumo

A pesquisa analisa o uso da Internet na campanha presidencial brasileira, de agosto a outubro de 2006. Ela parte da visão de que a Internet pode aumentar a participação cidadã, ampliar o acesso à informação política e partidária, enriquecer o debate programático e organizar a campanha de maneira que se aproxime dos ideais democráticos. Com isso, seu propósito é verificar quais variáveis levam à participação on-line e se as TICs podem ser consideradas outra variável para definir o voto.

O uso da Internet pelos candidatos em 2006 foi impulsionado por três fatores: 1) uma nova legislação eleitoral que restringiu despesas em diversas áreas; 2) a forte oposição da mídia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disputava a reeleição; 3) o crescimento do acesso à Internet, que alcançou quase 25% do eleitorado. Como resultado, o número de sites eleitorais no Brasil (incluindo os candidatos a presidente, governador, senador e deputado) saltou de 542, nas eleições de 2002, para 2.640, em 2006.

A pesquisa inclui três bases de dados:

a) os e-mails enviados aos principais candidatos: o presidente Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, da oposição;

b) as mensagens trocadas em sites de relacionamentos nas comunidades virtuais desses candidatos e dos senadores Cristovam Buarque e Heloísa Helena, que também disputaram a Presidência;

c) os sites eleitorais dos quatro candidatos.

Algumas das variáveis utilizadas na pesquisa são: gênero, educação, idade, religião, partido, ocupação ou carreira, entre outras.

(8)

Abstract

The research analyses the use of the Internet in the electoral campaign to Brazilian Presidency, from August to October 2006. It assumes that the Internet can be used to improve the citizens participation, amplify the access to political information, enrich the program debate and organize the campaign in ways that move it closer to democratic ideals. Considering this, its purpose is to verify what variables lead to the participation on line and if the ICTs can be considered as another variable to define the vote.

The use of the Internet by candidates in 2006 was boosted by three factors: 1) a new electoral legislation that restricted expenses in several areas; 2) the strong oposition of the media towards the President Luiz Inácio Lula da Silva, who run for re-election; 3) the growth of the Internet access, that reached almost 25% of Brazilian voters. As a result, the number of electoral websites in Brazil (including the candidates who run for President, Governor, Senator and Deputy) has jumped from 542, in 2002, to 2,640, in 2006.

The research includes three databases:

a) the e-mails sent to the major candidates: President Luiz Inacio Lula da Silva and the opositionist Geraldo Alckmin, a former governor from São Paulo (the richest Brazilian State). b) the messages posted in social network services of those candidates and the senators Cristovam Buarque and Heloísa Helena, who also run for Presidency.

c) the websites of those four candidates.

Some of the variables used in the research are: gender, education, age, religion, partisanship, occupation or career, amoung others.

(9)

Lista de equações

Página 5.1 Conectividade de candidatos a governador – gênero masculino 86 5.2 Conectividade de candidatos a senador – gênero masculino 86 5.3 Conectividade de candidatas a senador – gênero feminino 87 6.1 Influência da participação on-line na votação de Cristovam Buarque 102

Lista de figuras

2.1 Diagrama das teorias de democracia e suas variáveis 33

3.1 Resultado por estados – primeiro turno de 2006 50

4.1 Percentuais de acesso da população acima de 10 anos, por estados – 2005 64

Lista de gráficos

3.1 Avaliação do governo do presidente Lula - 2003 a 2006 37

4.1 Evolução do registro de domínios .br – 1996 a 2006 61

4.2 Crescimento do acesso à Internet no Brasil – 2000 a 2006 62

5.1 Expansão da Internet nas eleições – 2000 a 2006 75

5.2 Percentual de candidatos ligados na rede, por vaga disputada – 2006 76

5.3 Média de votos dos candidatos –2006 77

5.4 Proporção de candidatos eleitos, em relação ao total de inscritos no TSE –2006 78 5.5 Comparação das taxas de acesso de candidatos e eleitores, por faixa etária –2006 84 5.6 Comparação das taxas de acesso de candidatos e eleitores, por região – 2006 85 5.7 Relação entre fatores demográficos, socioeconômicos e políticos

(10)

5.9 Comparação entre o gasto médio de campanha dos

candidatos ligados e fora da rede – 2006 94

6.1 Destaques das homepages dos candidatos a presidente – 1° turno de 2006 111 6.2 Destaques das homepages dos candidatos a presidente – 2° turno de 2006 112 6.3 Destaques de políticas públicas dos sites dos candidatos

a presidente, por temas - 1° turno/2006 118

6.4 Desvio médio de destaques de políticas públicas nos

sites dos candidatos a presidente, por temas - 1° turno 119 6.5 Percentual de destaques de políticas públicas

dos candidatos a presidente - 2° turno/2006 120

7.1 Distribuição dos percentuais de internautas que enviaram

e-mails aos candidatos a presidente, segundo o gênero – 2006 148 7.2 Percentual de manifestações dos e-mails enviados aos candidatos

a presidente pelo PSDB e pelo PT, segundo a interatividade – 2006 155 7.3 Percentual de manifestações dos e-mails enviados aos candidatos

a presidente pelo PSDB e pelo PT, segundo o tema da mensagem – 2006 160 7.4 Comparação entre os percentuais de e-mails enviados

para Alckmin e o conteúdo do site do candidato, por temas – 2006 161 7.5 Comparação entre os percentuais de e-mails enviados

para Lula e o conteúdo do site do candidato, por temas – 2006 162 8.1 Tópicos de discussão nos fóruns das comunidades

dos candidatos a presidente – 2006 173

8.2 Comentários nos fóruns de discussão das comunidades

dos candidatos a presidente – 2006 174

8.3 Tópicos de discussão das comunidades dos candidatos

a presidente, por freqüência do número de comentários – 2006 178 8.4 Comparação entre percentuais de participação nas comunidades virtuais

e o acesso de eleitores à Internet, por regiões – 2006 192

8.5 Participação nos fóruns das comunidades dos

candidatos a presidente - 1° turno/2006 197

8.6 Participação nos fóruns das comunidades dos

candidatos a presidente - 2º turno/2006 199

(11)

8.8 Temas nos fóruns das comunidades dos candidatos a presidente - 2° turno/2006 202

Lista de quadros

3.1 Escândalos políticos do Governo Lula e seus desdobramentos 2005-2006 40 4.1 Regulamentação eleitoral para Internet no Brasil e Estados Unidos – 2006 67

Lista de Tabelas

3.1 Distribuição dos municípios e votos segundo as coligações – 1º turno de 2006 47 3.2 Relação entre organização partidária e voto, por percentuais de

votação obtida pelos candidatos a presidente – primeiro turno de 2006 48 3.3 Percentual de votos dos candidatos a presidente,

segundo o tamanho da cidade – primeiro turno de 2006 49

3.4 Percentual de votos válidos recebidos pelos candidatos a presidente segundo

as prefeituras de partidos coligados, por regiões - primeiro turno de 2006 51 3.5 Percentual de valência das informações em jornais, por candidato – 2006 53 4.1 Eleitores com acesso à Internet por faixa etária – 2006 63 5.1 Candidatos ligados na rede, por ramo e classe de atividade – 2006 80 5.2 Candidatos ligados na Internet, por faixa etária – 2006 81 5.3 Candidatos ligados na Internet, por grau de instrução – 2006 81

5.4 Candidatos ligados na Internet, por gênero – 2006 82

5.5 Candidatos ligados na Internet, segundo a filiação partidária – 2006 82

5.6 Candidatos à reeleição ligados na Internet – 2006 83

5.7 Candidatos ligados na Internet, por Regiões e Unidades da Federação – 2006 83 5.8 Coeficientes de correlação de Pearson entre candidatos e eleitores

com acesso à Internet, de acordo com a faixa etária – 2006 84 5.9 Coeficientes de correlação de Pearson entre candidatos e eleitores

(12)

5.10 Conectividade por gênero – 2006 87 5.11 Conectividade por região (Ct) e por Unidade da Federação (Cd) – 2006 88

5.12 Conectividade por filiação partidária (Cp) – 2006 89

5.13 Conectividade de candidatos à reeleição (Cr) – 2006 92

5.14 Conectividade por classe e ramo de atividade (Ca) – 2006 92

5.15 Conectividade por grau de instrução (Ci) – 2006 93

5.16 Conectividade por faixa etária (Ce) – 2006 93

6.1 Recursos interativos nos sites dos candidatos à Presidência – 2006 97 6.2 Contribuições de campanha para candidatos a presidente – 2006 100 6.3 Coeficiente de correlação de Pearson entre acesso à Internet,

agentes mobilizadores e a votação de Cristovam Buarque por estados – 2006 102 6.4 Percentual de destaques de políticas públicas nas homepages

dos candidatos a presidente - primeiro turno/2006 117

6.5 Desvio médio do percentual de destaques de políticas públicas nas

homepages dos candidatos a presidente, por candidatos – 1° turno/2006 119 6.6 Desvio médio do percentual de destaques de políticas públicas nas

homepages dos candidato a presidente, por candidatos - 2° turno/2006 121 6.7 Destaques com vínculo partidário nas homepages dos candidatos a presidente – 2006 135 6.8 Destaques de metacampanha nas homepages dos

candidatos a presidente – primeiro e segundo turno de 2006 140 7.1 Estimativa de e-mails recebidos pelos comitês de campanha dos

candidatos a presidente e amostra – 2006 146

7.2 Coeficientes de correlação de Pearson entre os destaques dos sites de

campanha e os e-mails enviados aos candidatos a presidente, por temas – 2006 163 7.3 Percentual de manifestações sobre metacampanha nos

e-mails enviados aos candidatos a presidente – 2006 164

7.4 Percentual de e-mails com anexos nas mensagens enviadas

aos candidatos a presidente, por formato do arquivo – 2006 165 7.5 Percentual de e-mails com links nas mensagens enviadas aos

candidatos a presidente, por tipo de página de destino – 2006 165 8.1 Amostragem de tópicos das comunidades virtuais do Orkut – 2006 172 8.2 Percentual de tópicos das comunidades dos candidatos

(13)

8.3 Percentual de tópicos das comunidades dos candidatos

a presidente no Orkut, por horário – 2006 179

8.4 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentual de manifestações segundo o gênero– 2006 186

8.5 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentuais de manifestações segundo a faixa etária – 2006 186 8.6 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentual de manifestações segundo classe e ramo de atividade– 2006 187 8.7 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentual de manifestações segundo o grau de instrução– 2006 188 8.8 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentual de manifestações segundo a visão política – 2006 189 8.9 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentuais de manifestações segundo a religião – 2006 190 8.10 Distribuição dos participantes de comunidades virtuais dos candidatos,

por percentual de manifestações segundo região e Unidade da Federação– 2006 191 8.11 Coeficiente de correlação de Pearson entre participantes das comunidades

virtuais e eleitores com acesso à Internet, segundo a região – 2006 192 8.12 Capital social virtual de autores de posts nas comunidades

de candidatos a presidente – 2006 193

8.13 Correlação entre número de contatos pessoais e

comunidades inscritas dos autores de posts, com número de

comentários nas comunidades dos candidatos a presidente – 2006 194 8.14 Coeficientes de correlação de Pearson entre temas de sites de campanha e

comunidades virtuais dos candidatos a presidente – 2006 200 8.15 Percentual de manifestações com propaganda negativa e ataques nas

comunidades dos candidatos a presidente – 2006 203

8.16 Percentual de manifestações com metacampanha nas comunidades dos

candidatos a presidente – 2006 205

8.17 Percentual de tópicos com links nas comunidades

(14)

Sumário

Página

1 Introdução

...17 Apresentação do trabalho e descrição do tema. Justificativa, problema, hipóteses, definição dos termos do problema e das hipóteses, objetivo e metodologia.

2 Suporte teórico

...25 As possibilidades das TICs a partir das teorias de participação e democracia, em especial as voltadas à opinião pública. O trabalho toma como base as teorias de “escolha racional”.

3 Área de abrangência

...36 As variáveis eleitorais no Brasil e a influência da Internet nas eleições de 2006

3.1 Avaliação do desempenho do governo...36 Pode ser determinante, pois Lula era candidato à reeleição e tinha avaliação positiva 3.2 Crise do sistema partidário...38 A série de escândalos que gerou no eleitor desconfiança em relação à classe política 3.3 Peso dos atributos pessoais dos candidatos...43 Lula reforçava atributos pessoais e biográficos (não-políticos); Alckmin e Cristovam tinha perfil de administrador/político. Heloísa Helena, perfil político e ideológico

3.4 Posicionamento na escala esquerda-direita...44 Os candidatos de esquerda têm prevalecido nas eleições na América Latina.

3.5 Organização partidária local...46 Prefeituras de partidos coligados ao PT foram mais fiéis na eleição do que municípios ligados ao PSDB. Prefeituras “independentes” favoreceram Lula.

3.6 Apoio das igrejas evangélicas...51 Sem candidato ligado às igrejas, não foi uma variável decisiva em 2006, apesar de os dois principais candidatos terem buscado cativar o voto evangélico.

3.7 Influência da mídia e televisão...52 Pesquisas mostram consenso ao observar forte oposição da mídia a Lula

(15)

4 Condições da Internet no Brasil

...60

Condições de acesso e institucionais que podiam afetar a campanha em 2006 4.1 Breve história da Internet no Brasil...60

Crescimento acelerado da estrutura e organização da rede desde os anos 1990. 4.2 O abismo digital...62

Acesso atingiu 25% do eleitorado em 2006, mas com disparidades sociais e demográficas 4.3 Instituições e Internet...64

A regulamentação da Internet no Brasil em comparação à dos Estados Unidos 4.4 Guerra suja e ameaças à campanha virtual...72

Cibersquatting, invasões de sites e interrupção de comunidades virtuais em 2006

5 Os candidatos da rede e o abismo digital eleitoral

...74

Análise dos sites dos candidatos a governador, senador, deputado federal e estadual. Evolução do acesso por vaga 5.1 Conectados x desconectados...77

Candidatos com sites tiveram mais sucesso em 2006. Quem são, segundo instrução, profissão, estado, gênero, idade, cargo disputado, tentativa de reeleição e partido 5.2 Indicador de Conectividade do Candidato (C)...86

Construção de indicador para avaliar a relação entre fatores demográficos, sociais e políticos sobre os candidatos na rede. A principal variável é a filiação partidária 5.3 Elites on-line...93

Acesso à Internet é privilegiado pela elite política: candidatos de partidos grandes, mais instruídos, mais idosos, profissionais liberais, servidores e candidatos à reeleição

6 Comunicação: sites dos candidatos à Presidência

...96

Análise diária das homepages dos quatro principais candidatos. 6.1 Interatividade entre candidatos e eleitor ...97

Alckmin teve o site mais interativo. Visão geral das ferramentas disponíveis. 6.1.1 Doação de campanha e chat...98

6.1.2 Cadastro de visitantes, boletim eletrônico e mobilização...101

6.1.3 Material de campanha...104

6.1.4 Blogs e fotolog...107

(16)

6.2 Oferta de informação nos sites dos candidatos...108

Homepage de Lula foi a mais informativa e programática, enquanto Alckmin e Heloísa Helena lideraram a propaganda negativa. 6.2.1 Políticas públicas...116

6.2.2 Propaganda negativa...131

6.2.3 Vínculo partidário...134

6.2.4 Atributos dos candidatos...138

6.2.5 Metacampanha...140

6.3 Problemas na oferta de conteúdo dos sites...142

Sites apresentaram problemas quanto à oferta de informações e à predisposição dos candidatos em interagir com o eleitor.

7 Interação: e-mails para os candidatos a presidente

...145

Análise de mensagens enviadas para Lula e Alckmin. 7.1 Perfil dos internautas que enviaram e-mails...147

Participação era limitada por taxas de acesso e foi menor entre as mulheres 7.2 Como os candidatos respondiam os e-mails...151

Padrões de respostas das equipes de campanha e volume da demanda 7.3 Interatividade e motivação dos e-mails...153

Pedidos pessoais, apoio, críticas e sugestões 7.4 Temas dos e-mails enviados aos candidatos...159

Comparação entre temas das mensagens e dos sites de campanha 7.5 Propaganda negativa e contrapropaganda...166

Como a equipe de Lula reverteu os ataques com incentivo a participação

8 Organização social: comunidades virtuais

...169

Comunidades virtuais no Orkut de Alckmin, Cristovam, Heloísa Helena e Lula. 8.1 Padrões de participação nos fóruns...173

Comunidades aumentaram participação com eventos midiáticos, proximidade da votação e no segundo turno. 8.2 Quem participa dos debates nas comunidades...180 Distribuição dos participantes segundo gênero, idade, região, grau de instrução,

(17)

8.2.1 Capital social virtual...193

8.3 Formas de participação...194

Conteúdo dos tópicos inseridos nas comunidades 8.3.1 Temas...200

8.3.2 Ataques...202

8.3.3 Metacampanha e links...204

8.4 Organização democrática e participação...206

Comunidades serviram mais à organização do que ao debate da campanha.

9 Considerações finais

...208

Conclusões e recomendações para partidos, candidatos, eleitores e legisladores.

Bibliografia

...214

(18)

“Tudo teve início na cidade de Jataí, em Goiás, a 4 de abril de 1955, durante minha campanha como candidato à Presidência da República (...) No discurso que ali pronunciei, referindo-me à agitação política que inquietava o País, e contra a qual só havia um remédio eficaz – o respeito integral às leis –, declarei que, se eleito, cumpriria rigorosamente a Constituição. Contudo, era meu hábito, que viera dos tempos da campanha para a governadoria de Minas Gerais, estabelecer um diálogo com os ouvintes, após concluído o discurso de apresentação da minha candidatura. Punha-me, então, à disposição dos meus eleitores para responder, na hora, a qualquer pergunta que quisessem formular-me. Foi neste momento que uma voz forte se impôs, para me interpelar: ‘O senhor disse que, se eleito, irá cumprir rigorosamente a Constituição. Desejo saber, então, se pretende pôr em prática o dispositivo da Carta Magna que determina, nas suas Disposições Transitórias, a mudança da Capital Federal para o Planalto Central.’ Procurei identificar o interpelante. Era um dos ouvintes, Antônio Carvalho Soares – vulgo Toniquinho –, que se encontrava bem perto do palanque. A pergunta era embaraçosa. Já possuía meu Programa de Metas e em nenhuma parte dele existia qualquer referência àquele problema. Respondi, contudo, como me cabia fazê-lo na ocasião: ‘Acabo de prometer que cumprirei, na íntegra, a Constituição e não vejo razão por que esse dispositivo seja ignorado. Se for eleito, construirei a nova Capital e farei a mudança da sede do Governo.’ (...) Fixei-me na idéia. E, como resultado dessa fixação, aos 30 itens, que integravam meu Plano de Metas, acrescentei mais um – o da construção da nova Capital –, ao qual denominaria mais tarde a ‘Meta-Síntese’”.

KUBITSCHEK, Juscelino: Por que construí Brasília. Brasília: Senado Federal, Conselho

(19)

1 Introdução

Brasília representa a maior empreitada – material ou humana – já iniciada no Brasil como resultado do processo democrático das eleições. A construção da nova Capital foi incluída no programa de governo por sugestão popular, a partir de um comício de campanha, conforme relatou o próprio presidente Juscelino Kubitschek. Trata-se de um exemplo bem sucedido do ideal democrático de participação política – isso apesar de a teoria democrática descritiva muitas vezes relativizar a definição de políticas públicas nas eleições.

No entanto, o debate eleitoral no período de redemocratização (pós-1985 ou, para alguns autores, pós-1989) mudou radicalmente em relação à primeira experiência de democracia brasileira (1945-1964). Os comícios foram substituídos por showmícios de grandes proporções e os candidatos passaram a se comunicar com os eleitores principalmente com a ajuda do rádio e da televisão, os chamados “palanques eletrônicos”. Mas, ao contrário dos palanques de madeira, esses meios de comunicação de massa unidirecionais não permitem que o eleitor apresente suas demandas e anseios aos candidatos.

O advento da Internet traz para a campanha eleitoral a perspectiva de ampliar a participação política do cidadão ao criar um espaço midiático mais amplo e democrático para a interação entre governo, políticos, partidos e sociedade. Este aumento na participação pode ocorrer em dois eixos: vertical, intensificando a participação de indivíduos e grupos já inseridos no processo político, e horizontal, abrindo a participação a indivíduos e grupos alheios ao processo político ou com baixa inserção nesse processo.

O candidato também tem a ganhar com o uso das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Além do aumento na exposição – que não sofre as limitações de tempo, da mídia televisiva e do rádio, ou de espaço, da mídia impressa –, o custo de produção e manutenção de um site eleitoral é bem inferior ao da veiculação da propaganda eleitoral nas mídias tradicionais – cujo alto preço gera por si só um mecanismo de exclusão ou que, pelo menos, provoca reações moralmente duvidosas (GOMES, 2004).

(20)

Internet pode ser usada para melhorar a participação cidadã, ampliar o acesso à informação política, enriquecer o debate sobre o programa de governo e organizar a campanha de modo a aproximá-la dos ideais democráticos. Ainda se entende que a Internet não representa apenas um meio de comunicação, mas também de interação e de organização social.

A escolha das eleições para a mensuração das possibilidades das TICs é justificada pela posição do voto como o principal canal de participação no Brasil – no que se deve levar em conta seu caráter obrigatório. O uso da Internet pelos candidatos nas eleições de 2006 foi impulsionado por três fatores: o crescimento do acesso à rede mundial de computadores; uma nova legislação eleitoral que restringiu gastos de campanha em diversas áreas; e a forte oposição da mídia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua disputa à reeleição. Como resultado, o número de sites eleitorais no Brasil (incluindo candidatos a presidente, governador, senador e deputado federal e estadual) saltou de 542 websites, em 2002, para 2.640 websites, em 2006. Em relação ao número total de candidatos, houve um crescimento de 3,2% para 14,5%.

Embora ainda longe dos padrões dos Estados Unidos e de outros países europeus, o acesso à Internet teve um crescimento acelerado no Brasil desde o início do milênio. O número de usuários subiu de 5 milhões, no ano 2000, para 42,6 milhões, em 2006, passando de 3,7% para 27,3% da população1. Cruzando os percentuais de acesso por faixa etária com os dados eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral, chega-se a uma estimativa de 31,72 milhões de eleitores com acesso à Internet em 2006 – o que corresponde a 25,24% do eleitorado.

A legislação eleitoral também pode ter servido de estímulo para a campanha virtual ao limitar outras manifestações da propaganda dos candidatos. No esteio dos escândalos sobre corrupção, o Congresso aprovou no primeiro semestre uma minirreforma eleitoral (Lei 11300, de 10 de maio de 2006). Além de buscar moralizar e dar maior transparência ao financiamento de campanha , a nova legislação terminou por limitar uma série de gastos – a realização de showmícios (mesmo com artistas não remunerados); a propaganda com outdoors ou com cartazes, placas, faixas ou pichações em postes, viadutos, muros e outros bens públicos; a distribuição (ou até confecção pelos comitês) de camisetas, bonés e outros brindes de campanha. Todas essas restrições podem ter motivado os candidatos a buscar a Internet como mais um recurso para a propaganda eleitoral.

1 Esses números levam em conta a população acima de 10 anos que acessou a Internet nos últimos três meses.

(21)

Nas eleições de 2006, a perda de credibilidade e do pluralismo da mídia fez com que as novas mídias, especialmente os blogs, se consolidassem com uma rapidez muito maior (NASSIF, 2007). Uma análise empírica da campanha mostra que a falta de representatividade no agendamento da mídia tradicional provocou um uso maior da Internet, principalmente entre os eleitores do PT (BARROS FILHO; COUTINHO; SAFATLE, 2007). Esse aumento foi notado no número de postagens em blogs de notícias e de opinião, na circulação de contranotícias, em chamados de mobilização através de listas de e-mails e em acessos a vídeos políticos no Youtube. Para os autores, o uso da Internet foi importante principalmente para a mobilização de eleitores orgânicos do partido.

No entanto, a utilização da Internet como ferramenta eleitoral vai de encontro a necessidades muito além da conjuntura específica da disputa de 2006. O problema é definido a partir da mudança do debate eleitoral no período de redemocratização, uma transformação que começaria pelo próprio perfil do eleitorado. De um País predominantemente rural, o Brasil se firmou como uma sociedade urbana e industrial, de larga escala. Ao mesmo tempo, esse processo levou a uma significativa redução do número de analfabetos, o que se deve também a melhorias nas condições de vida das mulheres. Quando o eleitor readquiriu o direito ao voto, na década de 80, já não era o mesmo em comparação ao dos anos 60. Em 1945, os eleitores alistados representavam apenas 16,5% do total da população, alcançando quase 25% no final daquele período democrático. No início dos anos 1980, já chegavam a quase 50% da população, não parando de crescer ao longo da década.2

Nas eleições municipais de 1985, foi permitido pela primeira vez o voto dos analfabetos. A Constituição de 1988 – a mais democrática de todas no direito ao voto – confirmaria a integração ao eleitorado dos analfabetos e dos menores de 16 e 17 anos, ambos em caráter facultativo. Em 1989, na primeira eleição presidencial após o interregno do regime militar, os eleitores já atingiriam 82 milhões, ou 57,9% da população.3 Trata-se de um número quatro vezes superior ao pleito de 1960, com 15,5 milhões de eleitores.

Para conquistar o voto das massas já não seriam suficientes os comícios que marcaram as eleições entre 1945 e 1964. O eleitor teria de buscar as informações por meio do rádio e da televisão, mídias voltadas ao entretenimento. Junto com a redemocratização, formava-se uma subcultura específica, com público receptivo a mensagens de renovação e esperança. O

2 Os números foram colhidos a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral e das Estatísticas do Século XX, do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

3 Ao longo dos anos 1990 e na primeira década do século XXI, o eleitorado brasileiro manteve o crescimento,

(22)

espetacular processo brasileiro de urbanização havia dado à pobreza uma dimensão política e, ao mesmo tempo, empobrecera o voto (BARBOSA, 1988). No lugar do diálogo entre eleitor e candidato, levantou-se a voz da comunicação estratégica. A eleição se tornou um processo consensual baseado em emoções, na ânsia por um líder salvador. Mas nem sempre os favores conquistam o voto do eleitor pobre. Mais importante é a identificação com o candidato, por meio da construção de personagens que incluam elementos de sonho ou fantasia. Nesse sentido, procura-se questionar se a Internet pode restabelecer o diálogo entre candidato e o eleitor, incentivando a participação cidadã nas eleições.

Diante disso, o trabalho toma como hipótese que, uma vez garantido o acesso à Internet, os custos para a participação política on-line são menores do que as outras formas de participação, que exigem limites de tempo e espaço. Com isso, a nova tecnologia pode levar ao aumento e aprofundamento da participação cidadã.

Uma segunda hipótese é que a campanha eleitoral pela Internet oferece um teor mais informativo e diversificado da propaganda política, como contraponto ao alto teor estratégico de uma campanha eleitoral. Se essa hipótese for confirmada, isso significa que a rede pode atender melhor às demandas específicas do eleitor por informação.

A terceira hipótese é que a Internet permite interação maior entre eleitor e candidato no debate programático. Com isso, a ferramenta pode proporcionar o resgate da discussão pública de plataforma, planos e programas de atuação do candidato, no lugar da mera exibição pública, da cena política controlada pela comunicação de massa.

Como quarta hipótese, pressupõe-se que a Internet pode mudar a organização da campanha, aproximando-a dos ideais democráticos, ao permitir uma maior participação de eleitores e ativistas e, com isso, sua influência.

As hipóteses 2, 3 e 4 são condições necessárias para a hipótese 1.

A pesquisa ainda supõe que o desenvolvimento da campanha eleitoral on-line resultará de três variáveis: institucionais (leis ou normas que regulam sua utilização), socioeconômicas (que determinam o acesso à Internet) e políticas (como o relacionamento entre candidatos e eleitores). Dado esse princípio, uma quinta hipótese considera o ambiente da campanha favorável à utilização da Internet, embora ainda necessite de melhoras.

(23)

por sites, blogs ou boletins eletrônicos. Os aspectos comunicativos da Internet não servirão para medir a participação do cidadão, mas seu uso será importante para perceber o grau informativo da propaganda eleitoral on-line. Em sua função interativa, a rede permite a participação do internauta pelo envio de e-mails entre eleitores e candidatos, candidatos e eleitores ou eleitores entre si, além das salas de bate-papo (chats) em que os participantes podem interagir esporadicamente, sem organização fixa. A terceira e última dimensão da Internet, como meio de organização social, é relacionada por meio de comunidades virtuais de sites de relacionamento e fóruns de duração permanente, que permitem a inclusão e exclusão de membros e seu relacionamento interativo.

A partir dessas três perspectivas, a pesquisa deve cumprir o objetivo de verificar se a nova tecnologia realmente melhorou a participação cidadã nas eleições de 2006. Para isso, será realizado um levantamento sobre a utilização da Internet como ferramenta de campanha, com foco na disputa presidencial, levando em consideração três hipóteses independentes.

Para analisar a hipótese de que a nova tecnologia pode ampliar o acesso à informação política e diversificá-la, a pesquisa vai utilizar como base de dados os sites eleitorais oficiais dos quatro principais candidatos à Presidência da República – Cristovam Buarque, do PDT, Geraldo Alckmin, do PSDB, Heloísa Helena, do PSOL, e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Para verificar se a interação entre eleitores e candidatos vai enriquecer o debate programático, a pesquisa fará uso de e-mails enviados pelos eleitores aos sites oficiais de dois candidatos – Alckmin e Lula. Finalmente, o efeito da Internet na organização da campanha será conferido pela análise de mensagens trocadas por eleitores e apoiadores dos candidatos nas principais comunidades virtuais do Orkut.

Para verificar a hipótese de que o ambiente da campanha pela Internet foi favorável, embora necessite de melhorias, o trabalho vai observar a influência das instituições, em uma análise comparada das normas eleitorais do Brasil com os Estados Unidos, que aprovaram em 2006 uma legislação pioneira para campanha on-line.

Outros objetivos específicos são avaliar o perfil dos candidatos e eleitores conectados, de acordo com suas características demográficas, socioeconômicas e políticas.

A análise da série temporal começa em agosto de 2006, quando todos os sites eleitorais já tinham começado a funcionar, e vai até o fim do segundo turno, em 27 de outubro daquele ano4. Como objeto de análise, foram coletadas diariamente as homepages (páginas iniciais ou principais) dos sites de cada um dos quatro principais candidatos.

(24)

Os sites serão avaliados segundo o aspecto informativo de seu conteúdo e também as ferramentas disponíveis para interação com o eleitor. Para isso, a metodologia adapta ao ambiente da Internet as variáveis utilizadas na análise da eleição presidencial de 1994 (PORTO; GUAZINA, 1999, a partir de uma classificação proposta por JOSLYN, 1990). Além de verificar a quantidade e diversidade de temas das informações, o modelo de exploração e análise busca uma estrutura descritiva e explicativa para a interação entre eleitor e candidato. As variáveis foram agrupadas em duas classes:

- Informação: políticas futuras (programa do candidato, organizado em 15 temas: agricultura,

infra-estrutura/desenvolvimento urbano, direitos humanos e minorias, economia, educação e cultura, ética, finanças e tributação, meio ambiente, minas/energia, trabalho/emprego, relações externas/defesa, saúde, segurança pública, seguro social/família, turismo/desporto), políticas passadas (obras ou realizações do candidato, organizadas em 15 temas), atributos do candidato (profissional/pessoal, administrativo/político, ideológico ou ético), vínculo partidário (divulgação de apoio de partidos/políticos, personalidades, movimentos sociais, vínculo ideológico ou valores simbólicos), análise de conjuntura (organizada em 15 temas), propaganda negativa (ataque a outros candidatos) e metacampanha (agenda do candidato, participação em comícios, pesquisas de opinião e debates). - Interação: arrecadação de campanha, blog (que permita publicação de mensagens do

(25)

enviadas a Lula foram entregues pelos comitê de campanha em arquivos de dados condensados para leitura em programas de gerenciamento de e-mails.

A análise dos dados dos dois candidatos também é prejudicada pelo sigilo dos organizadores da campanha com relação à quantidade total de e-mails recebidos – estimativas informais indicam o recebimento de uma média de até 5 mil mensagens ao dia, no caso de Geraldo Alckmin, e até 1,3 mil, no de Lula. Levando em conta esses números, a amostragem obtida levaria a uma margem de erro relativamente baixa. Apesar disso, não se pode considerar que a análise tenha relevância estatística. Mesmo assim, o exame dessas informações se justifica por se tratar da ferramenta mais popular de comunicação na Internet, utilizada por quase 65% dos usuários.

As variáveis dos e-mails levam em consideração a interatividade, de acordo com o objetivo e comprometimento do eleitor: crítica ao candidato, apoio a outro candidato, dúvida sobre o programa, declaração de apoio ou voto, pedido de material de campanha digital ou outras formas de participação on-line; pedido de participação na campanha off-line, dúvida sobre a campanha, crítica à campanha, sugestão de campanha, crítica do programa e sugestão de programa. Também se analisam os atributos do candidato percebidos pelo eleitor, os ataques feitos a outros candidatos, à mídia e aos institutos de pesquisa e os temas das mensagens (15 categorias, além da metacampanha). Ainda será verificada a quantidade de mensagens com anexos (imagens, áudios, vídeos, documentos) e com links (de blogs, sites de notícias, sites de campanha ou outros).

Para a identificação do eleitor que enviou as mensagens, será verificado o gênero do remetente, sua idade, estado de origem e profissão. Também deve ser avaliado se o e-mail contém informações que ajudem sua identificação, como telefone e endereço.

(26)

comentários (posts). Para isso, foram coletados diariamente os tópicos das principais comunidades dos quatro candidatos.

A série temporal de Alckmin e Lula começa em agosto e vai até 5 de novembro; de Cristovam Buarque e Heloísa Helena, vai somente até 15 de outubro. Assim, foram coletados 969 tópicos na comunidade de Cristovam Buarque; 78.886 na de Geraldo Alckmin; 5.508 na de Heloísa Helena e 43.373 na de Lula. Tomando-se uma margem de erro de 3%, a base de dados para a análise possui 1.102 tópicos, na comunidade de Alckmin; 925 na de Heloísa Helena e 1.087 na de Lula. Apenas no caso da comunidade de Cristovam Buarque, optou-se por analisar todos os tópicos, por causa de seu número reduzido. No sorteio, os dados ainda foram estratificados por dia.

A pesquisa das comunidades virtuais utiliza praticamente as mesmas variáveis da pesquisa dos e-mails. Porém, na análise das condições demográficas e socioeconômicas dos internautas que inscreveram os tópicos, foi possível acrescentar mais dados por causa do cadastro dos integrantes da comunidade virtual. Para isso, foi necessário acessar a página de cada internauta que inscreveu os 4.083 tópicos selecionados na amostra. Além do gênero, da UF, idade e profissão, foi possível verificar a escolaridade, religião e visão política declarada.

(27)

2 Suporte teórico

As possibilidades das novas tecnologias de informação e de comunicação podem ser percebidas a partir das teorias de participação e de democracia – em particular as de opinião pública. Assim, a Internet está situada entre duas correntes muitas vezes conflitantes, mas também com constantes pontos de contato: a democracia representativa e a participativa. Como a pesquisa tem como objeto as eleições, o trabalho toma como principal suporte as teorias de “escolha racional” para explicar o processo de decisão eleitoral. Mesmo assim, é importante observar que a participação e a democracia formal têm um diálogo muito maior do que pretendem defensores e críticos de lado a lado. Apesar das ressalvas ao participativismo, a teoria dominante da democracia nunca negligenciou a participação concebida como envolvimento pessoal e ativo. “O que se afirmou foi que a magnitude aumenta e, na medida em que percorremos toda a distância situada entre os pequenos grupos até o nível do sistema político, a participação não explica a democracia representativa, nem tem condições de sustentar o seu edifício inteiro." (SARTORI, 1994, v.1, p. 159)

A ampliação do direito ao voto e das liberdades civis e políticas faz parte de um longo processo experimentado por todos os países democráticos5. Esse processo polariza uma tensão

entre democracia e democratização (PATEMAN, 1996). De acordo com a teoria dominante na Ciência Política, a democracia (variável dependente) é descrita como um arranjo institucional ou método político decisório, centrado na luta competitiva pelo voto popular. Pateman diferencia a democracia, como método, da democratização, entendida como um processo social e político, o resultado de um conjunto de variáveis independentes que representam, em suma, uma vida decente para todos os cidadãos – cidadania, consenso, direitos, igualdade, liberdade.

No entanto, deve-se ressaltar o inter-relacionamento mútuo entre instituições políticas e condições sociais, sistemas de crença e capacidades humanas. Para as instituições

5 Na terminologia de Robert Dahl, a poliarquia completa seria um sistema alcançado somente no século XX,

(28)

democráticas funcionarem satisfatoriamente, há uma série de condições complexas, muitas vezes contraditórias entre si. Essas contradições aparecem no processo de democratização, que desde o início foi parte do desenvolvimento do Estado moderno e da divisão entre cidadãos e estrangeiros. Apesar de a promessa de democratização ser proclamada em termos universais, a cidadania e os direitos podem ser exercidos somente por habitantes de um Estado particular, e freqüentemente apenas por membros de uma nação particular. Os cientistas políticos freqüentemente apresentam a cidadania no Ocidente como a incorporação lenta e gradual de vários setores da população, mas, ao contrário, foi tanto uma questão de exclusão quanto de inclusão (PATEMAN, 1996).

Nesse sentido, busca-se reverter o elogio à apatia do cidadão para a descoberta da conexão entre a participação e o processo de democratização:

A existência de instituições representativas a nível nacional não basta para a democracia; pois o máximo de participação de todas as pessoas, a socialização ou ‘treinamento social’, precisa ocorrer em outras esferas, de modo que as atitudes e qualidades psicológicas necessárias possam se desenvolver. Esse desenvolvimento ocorre por meio do próprio processo de participação. (PATEMAN, 1992, p. 60)

Apesar das críticas ao formalismo da teoria dominante de democracia, Pateman não chega ao exagero de alguns participativistas de rejeitar a eleição como participação real. A autora também reconhece que até a concepção mínima de democracia como método político concorda que a segurança do indivíduo é fundamental para a operação do sistema. No mesmo sentido, autores da teoria democrática pluralista admitem a necessidade de condições sociais:

Uma vez que somos educados para acreditar na necessidade de controles constitucionais recíprocos, pouca fé depositamos nos seus correspondentes sociais. (...) Ainda assim, se a teoria da poliarquia é aproximadamente válida, segue-se que, na ausência de certas condições sociais prévias, nenhum arranjo constitucional pode criar uma república não-tirânica. A história de numerosos Estados latino-americanos constitui, acho eu, evidência suficiente. Estejamos preocupados com uma tirania da maioria ou da minoria, a teoria da poliarquia sugere que as primeiras e cruciais variáveis para as quais os cientistas políticos devem dirigir sua atenção são sociais e não constitucionais. (DAHL, 1989b, p. 83) 6

6 Nessa hipótese, um aumento da atividade política está associado ao aumento da poliarquia. No entanto, ele

(29)

Antecipando o debate que tomaria conta dos Estados Unidos na década de 1960 sobre a participação, Dahl relaciona positivamente a atividade política em grau importante com variáveis como renda, status socioeconômico e educação, além de formas complexas como sistemas de crenças, expectativas e estruturas de personalidade. A propensão para a passividade política privaria de direitos políticos os pobres e ignorantes (DAHL, 1989b).

A participação política é definida como a ação dirigida explicitamente para influenciar a distribuição de bens sociais e valores sociais (ROSENSTONE; HANSEN, 1993). A definição envolve pressões públicas sobre atores privados ou públicos, com atividades dentro e fora do sistema. Isoladamente, os indivíduos avaliam o custo e benefício pessoal para participação e as atrações e obrigações dos recursos pessoais, interesses, preferências, identificações e crenças. No entanto, também há motivações sociais, como a identificação dos aspectos de vida social e política que fazem as pessoas acessíveis aos apelos dos líderes. Os padrões de participação (quem e quando participa) são vinculados a escolhas estratégicas de políticos, partidos, grupos e ativistas.

Em uma extensa análise dos indicadores de participação nos Estados Unidos entre 1952 e 1990, variáveis como escolaridade, renda e idade mostram que a participação cidadã é dominada por privilegiados, mas os padrões mudam conforme o tempo e a atividade política (ROSENSTONE; HANSEN, 1993). A escolaridade do norte-americano, uma das variáveis que influenciam a participação, aumentou da média de 1° colegial completo, em 1950, para 1° ano universitário, em 1990. Paradoxalmente, a participação eleitoral diminuiu no mesmo período. A confiança na capacidade de influenciar na decisão política, outro fator de participação, diminuiu de 75% da população, em 1960, para 40%, em 1988. Mesmo assim, a participação em organizações e grupos de pressão aumentou.

(30)

candidato (4%). No Brasil, onde o voto é obrigatório, as eleições ocupam papel de destaque ainda maior como canal de participação.7 Isso, por si só, justifica a escolha das eleições como objeto de estudo para analisar as possibilidades da participação on-line.

A participação resulta de incentivos e escolhas políticas oferecidas, da função de uma variedade de razões pessoais – e, para alguns, benefícios que possam receber. Os custos e recursos estão entre as variáveis que respondem quem participa: tempo, habilidades, dinheiro, conhecimento, autoconfiança. Assim, os ricos participam mais do que os pobres, não porque a política pode dar mais a eles, mas porque podem dar-se ao luxo de participar. As pessoas com educação mais elevada participam mais porque a educação proporciona habilidades que facilitam a participação. Também participam mais as pessoas com autoconfiança e senso de competência pessoal para entender e participar da política (eficácia interna) e para influenciar as ações do governo (eficácia externa). Esse senso é adquirido pelas redes de amigos, professores, familiares ou pela observação a partir de ações efetivas.

Já as recompensas pela participação têm várias formas – materiais (emprego público ou isenção fiscal), solidárias (status, deferência, amizade) e de propósito (sensação de satisfação por ter contribuído para uma causa). Também influenciam a participação o que está em jogo; a intensidade de preferência por determinada decisão; a identificação psicológica (issue activists); e as crenças (senso de dever cidadão). Apenas com as variáveis individuais, deveria-se supor que participação tem pouca variação no tempo. Porém, as pesquisas demonstram que os índices variam a cada mês, ano e eleição. Como exemplo, a participação nos Estados Unidos tende a ser maior nos meses de verão do que nos de inverno.

A participação nas eleições apresenta um paradoxo, já que o eleitor recebe benefícios coletivos. Isso desestimula o voto do eleitor racional, porque a chance de um único voto decidir a eleição é mínima. Ainda, a eleição custa tempo, energia e dinheiro para o eleitor se deslocar até o local de votação. O paradoxo do voto também vale para outras formas de atividade política.

7 Pesquisa Ibope realizada em novembro de 2006, logo após as eleições, questionou como seria a participação

(31)

O custo básico nas eleições é o custo da informação sobre os candidatos e os temas de campanha. As redes sociais (relações com família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho) sustentam a ignorância racional, recompensando aqueles que agem de acordo com o interesse comum. No entanto, as redes sociais tornam a ação política possível, mas não provável, porque falta conhecimento se seus interesses estão em jogo. Políticos, partidos, grupos de interesse, ativistas e cidadãos envolvidos sabem exatamente o que está na agenda política e como isso afeta as pessoas. Por causa disso há incentivo para repassar essas informações às pessoas que podem ajudá-los a vencer disputa. Dessa forma, a participação é um recurso que líderes políticos usam para disputas por vantagem política.

Esse custo da informação pode ser reduzido consideravelmente pela Internet, que permite aos os indivíduos acessar a informação de maior interesse, de forma mais conveniente e rápida, de uma multiplicidade de fontes e a qualquer tempo. Pesquisas empíricas apontam evidências de que as mudanças nas tecnologias de informação e comunicação podem desempenhar um papel importante na influência do comportamento eleitoral. Uma análise dos dados das eleições nacionais dos Estados Unidos em 1996 e no ano 2000 indica que a votação foi superior onde eleitores tiveram acesso à Internet (TOLBERT; MCNEAL, 2003). As simulações sugerem que o acesso à rede aumentou a probabilidade de votar em até 12%. Ao mesmo tempo, houve um declínio das notícias sobre as eleições nos meios de comunicação tradicionais, com a transferência da cobertura dos eventos políticos para a Internet.

Além de diminuir os custos, a rede de computadores tem a capacidade de aumentar os benefícios com o crescimento da participação on-line. Como ferramenta de organização social, a tecnologia pode ampliar e ultrapassar as redes sociais do indivíduo, utilizando ou criando redes virtuais para a ação política, em organizações de interesse comum – às vezes, interesses que não correspondem ou até mesmo contrariam o comportamento ou posições políticas das redes sociais off-line. O novo meio permite a troca de grandes quantidades de informação em velocidade instantânea e sem considerar os limites geográficos.

(32)

Há porém entre os estudiosos das eleições nos Estados Unidos um consenso emergente de que os padrões da participação política na Internet imitam ou até mesmo aprofundam os padrões de desigualdade na participação, por causa das disparidades no acesso à rede. Pesquisa realizada em 1998 encontrou uma relação positiva entre o engajamento na Internet e a participação política ou cívica (WEBER; LOUMAKIS; BERGMAN, 2003). Entretanto, a sondagem concluiu que a Internet parece exacerbar as diferenças socioeconômicas já existentes na participação política antes do crescimento da Internet. Nos Estados Unidos, a exclusão digital atinge principalmente as comunidades pobres, rurais, negras e hispânicas (BROWNING, 2002). Outra pesquisa mostra que as diferenças sociais, como a de escolaridade, são mais significativas do que as de gênero para explicar a participação, a variedade de interesses e a busca por informações políticas on-line (FULLER, 2004). Entre as poucas diferenças constatadas, os homens usam com mais freqüências sites com informações governamentais e discutem pela rede visões políticas, a economia, assuntos externos e impostos. Enquanto isso, as mulheres tendem a visitar os sites para entender melhor assuntos complexos e discutir ou aprender mais sobre questões femininas ou de gênero.

As principais limitações para a organização baseada na rede têm sido o custo dos computadores e o tempo gasto para aprender a usá-los (BROWNING, 2002). No entanto, os preços de computadores têm caído consideravelmente em função da evolução tecnológica8. Algumas previsões apontam até mesmo que um dia os computadores serão entregues de graça como parte de promoção para novos assinantes de serviços de Internet banda larga, assim como os celulares são gratuitos sob muitos planos de telefonia móvel. Ainda, a convergência tecnológica vai ampliar o acesso à rede por meio de celulares, que no Brasil têm alcance maior do que a própria rede de telefonia fixa. Outro argumento é que o foco no acesso tem limitações teóricas importantes diante das projeções de um futuro com acesso próximo do universal (KRUEGER, 2002). Com isso, deve-se buscar uma análise sobre quais indivíduos teriam maior participação com um acesso igualitário. Empiricamente, o autor conclui que, dado o acesso igualitário, a Internet mostra potencial verdadeiro para trazer novos indivíduos ao processo político. Uma pesquisa posterior mostra que as habilidades na Internet e o interesse político são uma grande determinante na mobilização on-line (KRUEGER, 2006). Esse fator não é observado porque as habilidades com informática são diretamente influenciadas pelo status socioeconômico.

8 No Brasil, a queda nos preços de computadores foi influenciada não apenas por fatores tecnológicos, mas

(33)

Na teoria democrática, a transferência do ideal democrático da cidade-comunidade para o Estado-nação moderno, em uma sociedade industrializada e de grande-escala, limitaria as oportunidades para os cidadãos participarem diretamente das decisões coletivas. Mesmo com os modernos meios eletrônicos de comunicação, o limite de participação política efetiva, no sentido de definir diretamente as políticas públicas, diminui rapidamente com a escala (DAHL, 1989a). Deve-se reconhecer que as novas tecnologias de informação e comunicação tornam praticável a democracia de referendo, a partir da própria superação dos limites de tamanho e espaço da democracia direta (SARTORI, 1994). Mesmo assim, é desaconselhável a substituição da democracia representativa pelas decisões diretas do demos, individualmente,

através de instrumentos de referendo. A democracia de referendo consegue ser “direta” apenas no sentido de dispensar intermediários. No entanto, como a decisão é individual e autônoma, há uma perda de compensações (negociações). O problema principal é que a maioria vence tudo e exclui os direitos da minoria, que perde tudo. Trata-se de uma encarnação menos inteligente da “tirania da maioria” (SARTORI, 1994). Outro problema é a necessidade de um eleitor muito mais preparado, trazendo um ônus sobre a opinião pública maior do que na democracia representativa.

Na teoria de democracia defendida por Sartori, o povo é governante apenas no momento das eleições. Fora desse contexto, apenas podem ser representadas as vozes das elites ou minorias. No modelo, a eleição não decide políticas concretas, mas sim quem vai

decidir sobre elas. A decisão pode até mesmo ir contra a preferência do eleitor, que depois poderá cobrar as explicações nas próximas eleições. Observe-se que raramente a preferência por um candidato equivale à preferência por determinada política (DAHL, 1989b). No entanto, a eleição não se restringe ao voto, mas envolve também o processo de formação de opinião – como o cidadão obtém informações e é exposto à pressão dos formadores de opinião. A opinião livre é uma condição para a eleição livre. O resultado é um governo sensível e responsável perante a opinião pública.9

Em um conceito político, a opinião pública é definida conforme a exposição e a temática, que exclui “assuntos privados” (SARTORI, 1994). A opinião é formada pela multiplicidade de público, cujos estados de espírito difusos (opiniões) interagem com fluxos de informações relativas ao estado da res publica. O autor observa que a expressão é

(34)

estruturação policêntrica dos meios de comunicação e de sua interação competitiva. Assim, é razoável conceber que as mudanças na tecnologia da informação trazidas pela Internet, com reflexões na estruturação dos meios de comunicação, possa também vir a impactar a formação da opinião pública e, conseqüentemente, a própria democracia.

Nesse sentido, a Internet pode estar relacionada principalmente ao eixo consensual da democracia, conforme descrito na “faxina conceitual” da Teoria da democracia revisitada

(SARTORI, 1994). Usando como base o Estado-nação e uma sociedade pós-industrial, o autor divide as teorias de democracia prescritiva em dois pólos: o consenso, que segue a regra da maioria e tem como principal fundamento as eleições, e a competição, apoiada na regra da minoria e fundamentada na representação. Trata-se de uma divisão semelhante à de Robert Dahl em Um prefácio à teoria democrática, que prescreve os modelos populista (maioria) e

madsoniano (minoria). As variavéis que influenciam os modelos de democracia consensual (também denominada horizontal) e competitiva (vertical) estão relacionadas na figura 2.1. Como condição comum a ambos os modelos está a aceitação das “regras do jogo”, o que Dahl define como o consenso básico sobre a poliarquia. Ou seja, o reconhecimento pelos grupos políticos e cidadãos de que a democracia é o sistema a seguir.

Deve-se ponderar que o eleitor não recebe as informações expostas pela mídia na campanha como uma tábula rasa, mas, ao contrário, já dispõe de suas posições (BERELSON; LAZARSFELD; MCPHEE, 1954). Mesmo assim, as pesquisas da Universidade de Colúmbia sobre as campanhas presidenciais nos anos 1940 – base dos estudos eleitorais modernos – reconhecem a importância da identificação partidária, da comunicação pública e da persuasão.10 Segundo as pesquisas, a mídia de massa não exerceria uma influência direta, mas seria mediada pelas discussões com os outros. Os eleitores são movidos não apenas por novos temas (as políticas futuras a serem adotadas), mas também por velhas questões que influenciaram a identificação partidária.

9 Seguindo essa teoria, Downs (1956) afirma que o governo é motivado pela opinião de seus eleitores, não pelo

seu bem-estar, já que as opiniões sobre seu bem-estar é que influenciam o voto.

10 Os estudos tinham como alvo o potencial manipulativo da mídia, principalmente a partir do poder do rádio,

(35)

O eleitor racional baseia seus votos mais nos eventos em curso – diferencial partidário corrente – do que nos futuros – diferencial partidário esperado (DOWNS, 1956). Apesar disso, o eleitor não ignora o futuro na votação, mas modula sua orientação de acordo com a tendência dos ajustes que ocorram no período eleitoral em curso. Ainda, se a política da oposição é idêntica à da situação, o eleitor avalia positiva ou negativamente o desempenho da situação com o do predecessor do cargo.11 Por causa do baixo incentivo para juntar informação sobre política, o eleitor busca atalhos de informação.

Nesse processo de busca, grande parte das informações é obtida no dia-a-dia, a partir da economia e da comunidade onde a pessoa vive (POPKIN, 1991). Como exemplo, os consumidores aprendem sobre inflação durante as compras e percebem a situação da

11 Essa estratégia de campanha foi utilizada nas eleições de 2006, quando o candidato Lula buscou comparar seu

governo com o de Fernando Henrique Cardoso e centrou seus ataques às privatizações. Seguindo a teoria, essa comparação foi ajudada porque Alckmin não trouxe muitas novidades em relação às políticas públicas.

Racionalidade Responsabilidade e responsividade frente à opinião pública Eleito decide a política pública

Mídia competitiva e com estruturação

policêntrica

Tecnologia de informação

(imprensa) Opinião pública livre e autônoma

Participação

Igualdade política Eleição livre e justa

Consenso

(Regra da Maioria)

Separação entre os três Poderes

Separação entre União, estados e municípios Difusão e equilíbrio do poder Limite a poder da maioria e da minoria

Mecanismos para resolução de conflitos Regras do jogo (consenso procedimental)

Oposição

Igualdade de oportunidade e de mérito

Renovação do grupo de controle

Controle recíproco entre líderes

Liberdade política

Regularidade e periodicidade nas eleições

Competição

(Regra da minoria)

Democracia

Base: Estado-nação Sociedade pós-industrial

Figura 2.1 Diagrama das teorias de democracia e suas variáveis

(36)

segurança e saúde com informações adquiridas na vida diária; a população também pode ser informada sobre programas e políticas governamentais por experiência própria. Ainda se destacam as informações recebidas da televisão, rádio, jornais e revistas – diretamente da mídia ou por meio de discussões com amigos, colegas de trabalho e vizinhos. Informações da mídia interagem com as da vida diária do eleitor, justamente para determinar a importância do tema na agenda nacional. Os eleitores podem ser orientados pela importância do tema para sua vida diária – como exemplo, idosos que têm a aposentadoria como único rendimento prestam muita atenção nos debates nesse assunto. Mas o uso dessa informação depende das condições nacionais ou dos termos políticos e coletivos que expliquem a situação pessoal do eleitor. O crescimento da educação no eleitorado teria como efeito um aumento na variedade de preocupações sobre políticas públicas, mais do que um aprofundamento no conhecimento cívico sobre as políticas públicas já em discussão.

As campanhas eleitorais aumentam a precisão sobre as percepções do eleitor (POPKIN, 1991). Na campanha, os temas em conflito entre os partidos recebem maior exposição pública – apesar de muitas vezes ignorarem fatos básicos sobre o governo, os eleitores conseguem reconhecer informações importantes sobre as principais diferenças entre os candidatos. Quando os eleitores se identificam com partidos ou candidatos, estão fazendo projeções com base na informação recebida. Com isso, o eleitor pode conceder o “benefício da dúvida”, quando não houver mais nenhuma informação disponível ou mesmo rejeitar informações que contrariem sua projeção. O “benefício da dúvida” e o julgamento sobre os argumentos da campanha influenciam fortemente as projeções e racionalizações do eleitor. Nesse sentido, a chamada “campanha negativa” é aquela que tem como motivação fornecer ao eleitor informações que derrubem suas projeções, mostrando a eles assuntos sobre os quais discordem com a posição de seu candidato ou partido. Quando a informação – ou o entendimento sobre elas – é incompleto, o eleitor pode recorrer a atalhos para reavaliar o conceito da identificação partidária. Entre esses atalhos estão as características demográficas dos candidatos (gênero, religião, laços regionais); estimativas sobre sua competência ou sinceridade; e o julgamento de sua integridade política a partir da moralidade pessoal. Os candidatos ainda podem ser julgados por suas amizades ou alianças. Todos esses atributos incorporam informações da campanha.

(37)
(38)

3 Área de abrangência: variáveis eleitorais no Brasil

A pesquisa se situa entre os estudos eleitorais e, nesse sentido, convém avaliar a posição da Internet em relação a outras variáveis eleitorais no Brasil. Como foi visto, a Internet pode modificar os padrões de participação e o próprio debate eleitoral. Mas, para avaliar essas mudanças, é necessário observar o comportamento das variáveis que influenciam as eleições no Brasil, especialmente seu impacto na campanha de 2006. Por meio dessa análise, será possível presumir como a Internet vai afetar as outras condições e se, por si só, a nova tecnologia pode influenciar diretamente a decisão do voto.

Na revisão dos estudos pioneiros no período de redemocratização, foram identificadas sete variáveis eleitorais: avaliação do desempenho do governo (CARREIRÃO, 2002); crise do sistema partidário (SALLUM JR.; GRAEFF; LIMA, 1990); peso dos atributos pessoais dos candidatos (CARREIRÃO, 2002); posicionamento na escala esquerda-direita (CARREIRÃO, 2002); organização partidária local (AMES, 1994); apoio das igrejas evangélicas (MARIANO; PIERUCCI, 2002); e influência da mídia e televisão (LIMA, 1990). O comportamento dessas variáveis em 2006 será analisado por meio de pesquisas eleitorais, artigos e trabalhos publicados ou a análise de dados do TSE. A Internet é discutida em seguida como um possível oitavo fator para influenciar o voto e as outras condições.

3.1 Avaliação do desempenho do governo

Ao contrário das eleições que mantiveram o presidente Lula no poder, as eleições de 1989 tiveram como contexto uma forte rejeição ao governo em exercício (Sarney), depois do fracasso da tentativa de estabilização econômica com o Plano Cruzado, em 1986, considerado um “estelionato eleitoral”. A queda de popularidade do PMDB, que apoiou o plano econômico, favoreceu inicialmente os candidatos de esquerda (CARREIRÃO, 2002).

(39)

Fernando Collor, havia sido eleito governador de Alagoas pelo PMDB, vindo antes do PDS. Com o naufrágio do governo, partiu para a oposição e passou a atacar a corrupção e ineficiência da administração Sarney. Apesar de o PMDB ter declarado “independência” do governo, seu candidato, o deputado Ulysses Guimarães, só obteve 4% dos votos.

No fim de 1988, as pesquisas de opinião eram lideradas por Lula, em sua estréia como candidato à Presidência pelo PT, e o ex-governador do Rio Leonel Brizola, pelo PDT. O “fenômeno Collor”, que arrebataria as eleições e venceria a disputa no segundo turno contra Lula, começou a despontar somente em março de 1989. A avaliação do desempenho do governo influenciou a estratégia dos candidatos e partidos na primeira eleição presidencial pós-redemocratização. Mesmo entre os eleitores que avaliavam o governo Sarney positivamente havia um forte predomínio do voto em candidatos de oposição. Não houve identificação dos candidatos Ulysses ou Aureliano Chaves (PFL) com o governo. Com isso, a análise do eleitor se concentrou na avaliação de candidatos de oposição.

Gráfico 3.1 Avaliação do governo do presidente Lula – 2003 a 2006

Fonte: Ibope (2006)

51 41 34 38 41 39 35 38 40 49 57 36 43

41 42 40 41 41 41

36 39 36 40 33 28 14 14 26 19 16 17 1919 16 13 4 3

2 2 2 2 3 2 2 2 1 1 1 1 2

43 43 29 29 29 44 40 38 37 22 22 7 11 23 32 32 8 6 0 10 20 30 40 50 60

mar/03mai/0 3

jul/03 set/0 3 nov/0 3 jan/0 4 mar/0 4 mai/0 4

jul/04set/0 4

nov/04jan/0 5

mar/0 5

mai/0 5

jul/05 set/0 5

nov/05jan/0 6

mar/0 6

mai/0 6

jul/06 set/0 6 nov/0 6 Pe rc e n tua is Escândalo do mensalão Escândalo dos sanguessugas Ótimo / Bom

Regular

Ruim / Péssimo

(40)

Com relação às eleições de 2006, a avaliação do desempenho do governo pode ter sido uma variável ainda mais determinante, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era candidato à reeleição. Apesar de ter sido alvo de uma série de escândalos envolvendo o Congresso e o Poder Executivo, o governo Lula gozava de bom desempenho nas pesquisas de opinião (ver gráfico 3.1), especialmente na área econômica, na qual a manutenção da estabilidade econômica se aliou a uma boa fase de crescimento da economia e o aumento do nível de emprego. Outro trunfo na avaliação eram as políticas sociais, reunidas debaixo do guarda-chuva do Bolsa Família.

Deve-se observar que a série de escândalos iniciada em meados de 2005, quase um ano antes das eleições, não conseguiu minar a avaliação do presidente, mesmo com o envolvimento de integrantes do mais alto escalão do governo – como o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Ao optar por Lula, o eleitor decidiu lhe conceder o “benefício da dúvida” ou mesmo desprezar informações contrárias a seu candidato. O motivo pode ser a própria estratégia da oposição de procurar desgastar lentamente o governo até as eleições, sem implicar diretamente o presidente. Ainda mais, a superexposição de escândalos sucessivos, envolvendo atores diferentes, em um processo intrincado e sem resultados, com a punição de poucos acusados, pode ter exaurido a própria capacidade de informação do eleitor, gerando uma repulsa genérica à “classe política” como um todo. Isso será analisado na próxima variável.

3.2 Crise do sistema partidário

(41)

construção da imagem do candidato e da organização da campanha – prazos legais, caciquismos, disputas ideológicas e equilíbrios regionais.

Os escândalos políticos no Governo Lula não se limitaram ao Executivo, mas envolveram o Legislativo. O Congresso também foi o palco principal das denúncias, resumidas no quadro 3.1. A crise teve como foco o relacionamento com a base aliada, no qual o problema está menos no enriquecimento pessoal do que no desvirtuamento ou quebra de práticas democráticas – como a compra de votos dos parlamentares com recursos públicos ou, na versão dos acusados, repasse de caixa 2 do financiamento de campanha. Deve-se observar que as denúncias investigadas nas comissões parlamentares de inquérito às vezes tiveram como alvo fatos alheios à administração federal e até mesmo anteriores ao Governo Lula. Os escândalos inspiraram a retomada da discussão sobre a reforma política, que no final foi novamente adiada. O Congresso aprovou apenas uma tímida reforma eleitoral, com medidas para reduzir os gastos de campanha e dar maior transparência (ver mais no capítulo seguinte). Apesar de fundador e principal articulador do PT, Lula conseguiu descolar sua imagem do partido, desgastado pelas denúncias de corrupção, e se comunicar diretamente com o eleitorado12. Coimbra defende a hipótese de que, com a desarticulação do sistema político e partidário anterior à redemocratização, as novas identidades não se estabeleceram através dos partidos, mas surgiram nas eleições presidenciais referenciadas à candidatura Lula, que foi uma constante nas eleições entre 1989 e 2006.

Pelo que ele foi e representou, essa presença teve efeito estruturante, com a seqüência de oportunidades de nele votar que foram se repetindo. Quem votou uma vez, depois outra, mais outra e ainda outra foi, progressivamente, adquirindo uma identidade ‘lulista’. Quem fez o oposto, recusando-se a nele votar uma, duas, três, quatro vezes, se firmou como ‘antilulista’. Quem não fez nem uma coisa nem outra ficou como um eleitor ‘independente’, podendo votar em Lula ou no adversário, conforme sua avaliação circunstancial. (COIMBRA, 2007, p. 192)

12 Mesmo o PT não se saiu tão mal na campanha. O partido conseguiu eleger 83 deputados em 2006, contra 91

Imagem

Gráfico 5.2 Percentual de candidatos ligados na rede, por vaga disputada - 2006
Gráfico 5.4 Proporção de candidatos eleitos, em relação ao total de inscritos no TSE –2006
Tabela 5.1 Candidatos ligados na rede, por ramo e classe de atividade – 2006
Tabela 5.5 Candidatos ligados na Internet, segundo a filiação partidária – 2006 Governador Senador Deputado federal Deputado estadual
+7

Referências

Documentos relacionados

Os estudos originais encontrados entre janeiro de 2007 e dezembro de 2017 foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: obtenção de valores de

A seleção portuguesa feminina de andebol de sub-20 perdeu hoje 21-20 com a Hungria, na terceira jornada do Grupo C do Mundial da categoria, a decorrer em Koprivnica, na

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

servidores, software, equipamento de rede, etc, clientes da IaaS essencialmente alugam estes recursos como um serviço terceirizado completo...

ensino superior como um todo e para o curso específico; desenho do projeto: a identidade da educação a distância; equipe profissional multidisciplinar;comunicação/interatividade

Considerando que o MeHg é um poluente ambiental altamente neurotóxico, tanto para animais quanto para seres humanos, e que a disfunção mitocondrial é um