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Propaganda negativa

No documento Internet nas eleições de 2006 (páginas 133-136)

6.2 Oferta de informação nos sites dos candidatos

6.2.2 Propaganda negativa

Alvo preferencial da propaganda negativa, por estar na frente das pesquisas e na Presidência, Lula sofreu a maior parte dos ataques por conta das acusações de corrupção em seu governo. Em seguida vieram a ausência nos debates televisivos e a crise de segurança em São Paulo. Durante a onda de violência do Primeiro Comando da Capital (PCC), o ex- governador acusou Lula de se omitir frente ao problema (8 ago. 2006) e usar a burocracia para reter um repasse de R$ 100 milhões à Secretaria de Administração Penitenciária do estado (9 ago. 2006). Em resposta, Lula dizia que o governo de São Paulo havia ignorado a verba federal para a segurança (8 ago. 2006). Alckmin ainda destacou notícias sobre a investigação de uma suposta ligação entre PCC e PT (23 ago. 2006). Enquanto isso, Heloísa Helena afirmou que a crise na segurança pública de São Paulo era responsabilidade do governo federal e do PSDB e prometeu coordenar um pacto federativo na segurança (8 ago. 2006).

Em relação à ética, Alckmin afirmou que Lula mentiu ao dizer que demitira os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Fazenda, Antonio Palocci. O tucano também deu repercussão a entrevista do ex-petista Hélio Bicudo, na qual declarava que Lula teria sido o mandante e o beneficiário de parte da corrupção denunciada pelas CPIs (18 ago. 2006). A homepage utilizou várias outras notícias da imprensa sobre denúncias de corrupção, entre elas a máfia dos vampiros (26 ago. 2006) e o favorecimento de ONG de amigo de Lula com verbas do programa Primeiro Emprego (24 ago.2006). A compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, tornou-se o centro da propaganda negativa na segunda quinzena de setembro. Cristovam Buarque propôs uma investigação coletiva do caso, que considerou o “11 de setembro da política brasileira”. “Antes, eram pequenos atos terroristas. Agora, derrubaram as duas torres", comparou (19 set. 2006). Para Cristovam, Lula teria interesse de divulgar o dossiê contra Serra e Alckmin, porque não tinha uma folga muito tranqüila nas pesquisas para vencer o primeiro turno (22 set. 2006). Outra candidata com grande arsenal de ataques contra Lula, a senadora Heloísa Helena ironizou a troca de acusações no caso do dossiê dizendo que tucanos e petistas entendiam de corrupção. “Quem se cerca de porcos acaba comendo farelo”, atacou a candidata do PSOL (22 set. 2006). Ela ainda acusou o presidente Lula de influenciar a corrupção no Congresso (17 ago. 2006).

Grande parte da propaganda negativa de Alckmin se valia das próprias declarações de Lula, como as de que “democracia não é só coisa limpa” (6 set. 2006); de que tinha vontade

de fechar o Congresso (17 set. 2006); e de que faltou sabedoria popular para que fosse eleito no primeiro turno (2 out. 2006). Outros ataques do tucano faziam referência ao aumento de impostos (11 ago. 2006), aos juros altos (17 ago. 2006), ao abandono da infra-estrutura (24 ago. 2006), à falta de prioridade na geração de emprego (27 ago. 2006). Alckmin também fez menção ao bloqueio de subsídios da Caixa Econômica para compra da casa própria (23 ago. 2006). Muitas vezes, o candidato tucano relacionava ataques entre temas diferentes, como quando disse que o governo “tem dinheiro para mensalão, sanguessugas e não tem para financiar casa para quem precisa” (28 ago. 2006). Na área de finanças, Alckmin elegeu o avião presidencial, o “Aerolula”, como símbolo dos gastos elevados do governo federal. Em resposta, a campanha petista afirmou que o corte nos gastos públicos pregado pelo PSDB causaria uma recessão (9 out. 2006). Lula ainda tentou desqualificar as críticas dizendo que o ex-governador de São Paulo teria gasto mais que o valor do Aerolula em viagens (10 out. 2006) e a oposição queria privatizar “até o avião” (17 dez. 2006).

A propaganda negativa contra Alckmin no segundo turno tinha como foco principal a área econômica. A estratégia de trazer as discussões eleitorais para esse campo era forçar uma comparação entre seu governo, com alto índice de aprovação, e o anterior de Fernando Henrique. A ligação entre Alckmin e Fernando Henrique foi feita por meio dos ataques contra as privatizações – segundo o petista, enquanto Fernando Henrique privatizou “quase tudo que existe no País”, Alckmin “privatizou o que pôde” em São Paulo (17 out. 2006). Como uma resposta às perguntas sobre a origem do dinheiro utilizado na compra do dossiê contra Serra, Lula questionou: “Eles privatizaram tudo. E onde está o dinheiro? Eles não sabem administrar, só sabem vender o patrimônio público para pagar dívidas que eles contraíram” (9 out. 2006). O candidato governista tachou os tucanos de “exterminadores do futuro” (16 out. 2006) e disse que o País não queria uma volta ao passado (10 out. 2006). Ainda desafiou a oposição a admitir que é privatista e acusou Alckmin de planejar a venda de mais empresas estatais (14 out. 2006). É interessante notar que, já no primeiro turno, o candidato do PT não poupou ironias contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (16 set. 2006) e apontou o nervosismo da oposição nas comparações entre os dois governos (17 set. 2006), dizendo que recebeu de seu antecessor um Brasil quebrado, com a inflação alta e quase sem reservas.

No primeiro turno, Lula foi bastante criticado pelos três adversários por causa da ausência nos debates. Como exemplo, Alckmin dizia que o petista "foge do contraditório e só gosta de monólogos" (30 ago. 2006). A participação de Lula no primeiro debate do segundo turno, em 8 de outubro, também marcou uma escalada na propaganda negativa contra

Alckmin, que o atacara duramente. De uma média de três destaques de propaganda negativa por dia, o site do petista dobrou os ataques para cerca de seis – chegando a alcançar o pico de 14 em apenas um dia. Segundo o candidato do PT, o tucano não teria propostas para o País, comportava-se como “um delegado de porta de cadeia” (9 out. 2006) e seria despreparado (10 out. 2006). O petista ainda tentou regionalizar o conflito ao se declarar vítima do preconceito contra os nordestinos (9 out. 2006) e dizer que Alckmin “não conhece o Brasil” (17 out. 2006). A homepage de Lula também destacou artigo do escritor Ziraldo, que exortava os mineiros a reeleger o presidente e apontava como principal defeito do candidato tucano o fato de ser paulista (12 out. 2006). O recurso já fora usado no primeiro turno por Heloísa Helena, que acusou Lula e Alckmin de quer manter o Nordeste pobre (28 ago. 2006).

Lula usou novamente a ironia ao comentar a aliança entre Alckmin e Garotinho e destacou o rompimento de aliados do tucano, como a candidata ao governo do Rio Denise Frossard (4 out. 2006). Ao mesmo tempo, acusou o adversário de falta de ética por ter impedido a realização de 70 CPIs na Assembléia Legislativa de São Paulo. Em troca, Alckmin comentou a “troca de afagos” entre Lula, Collor e Maluf (5 out. 2006). No primeiro turno, Cristovam Buarque já dissera que o petista havia adotado a ética de Collor (9 set. 2006) e dava “aula de analfabetismo político” nas alianças com o PMDB do Pará (18 set. 2006). Vários ataques de Heloísa Helena e de Cristovam Buarque procuraram mostrar que Lula e Alckmin tinham pouca diferença entre si. A senadora do PSOL afirmou que ambos representavam “duas faces da mesma moeda” e, caso eleitos, continuariam “governando para os ricos, para os banqueiros e demais poderosos” (28 ago. 2006). “Talvez tenham até se reunido para combinar as propostas", ironizou Cristovam (1° ago.2006). O candidato do PDT procurou se diferenciar do petista, que no primeiro turno também apostava na educação como principal meta de governo. Ele afirmou que Lula “só começou a se interessar por educação agora” (25 ago. 2006). Para marcar a diferença, a homepage exibiu o vídeo feito para Internet “Carta ao Lula” que explicava a saída de Cristovam Buarque do Governo Lula a partir da busca do ministro por mudanças na educação e a falta de resposta de Lula a suas propostas, apresentadas em uma carta. Tudo é apresentado por meio de uma história, que tem como ponto de partida uma visita de Lula a Caruaru (PE), após um pouso forçado do helicóptero presidencial, em fevereiro de 2005. O vídeo busca uma comparação entre Cristovam e o presidente Lula, a partir da diferença de reação dos dois à realidade das crianças do sertão nordestino. “Foram apenas alguns minutos [de visita], o suficiente para Lula distribuir beijos, sorrisos, autógrafos e até providenciar lanches para a criançada. [...] Abril de 2005. Cristovam

chega a Caruaru. Quer saber quem são as crianças, em que condições elas vivem e como se preparam para o futuro. Cristovam volta com um nó a ser desatado e ainda mais obstinado a mudar o futuro de milhões de crianças. Desta visita Cristovam redige a 'Carta ao Lula' apresenta propostas e clama por mudanças.”

Cristovam Buarque ainda alertou para a ameaça da Lula sofrer uma “tentação autoritária”, caso vencesse no primeiro turno (21 ago. 2006), até mesmo porque estaria fragilizado com as denúncias de corrupção. (19 set. 2006 ). Diante da confiança de que a eleição seria definida no primeiro turno, Cristovam comparou o comportamento do candidato do PT ao de um “imperador metalúrgico”, um “monarca” com “resquícios do império” (26 set. 2006). Semelhantemente, Heloísa Helena apelidou Lula de “rei da abobrinha” e “sua majestade barbuda" (26 ago. 2006). Outras críticas do pedetista se voltavam contra o Bolsa Família, tido como uma “medida eleitoreira” (24 ago. 2006), e o crescimento do trabalho infantil (15 set. 2006).

Na propaganda negativa, Heloísa Helena ainda fez 24 ataques contra banqueiros, 8 contra institutos de pesquisas, 1 à grande imprensa e 1 ao Congresso. A senadora do PSOL afirmou que seu governo acabaria com o “Bolsa-Banqueiro” em uma referência à política econômica de juros altos (18 ago. 2006). Em relação aos institutos, Heloísa procurava mostrar que as pesquisas de intenção de voto “são desmentidas pelo clima das ruas” e disse ser vítima de uma “tentativa orquestrada pelos diversos institutos de pesquisa de ocultar seu crescimento na preferência do eleitorado brasileiro” (11 set. 2006). O site de Cristovam Buarque também fez sete ataques a institutos de pesquisa e seis contra o Congresso. Nesta última série, destacava-se o discurso do candidato a vice, senador Jefferson Peres, no qual comentava o desencanto com o Parlamento e anunciava que deixaria a vida pública.

No documento Internet nas eleições de 2006 (páginas 133-136)

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