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Parte I – Dimensão Reflexiva

3. O caminho que pretendo percorrer como educadora e professora do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias (Cury, 2012, p. 58). A caminhada percorrida em EI e em 1.º CEB, permitiu-me desenvolver múltiplas aprendizagens que me fizeram crescer (e muito!) a nível pessoal e profissional.

Através das experiências que tive oportunidade de vivenciar e como estou a finalizar a dimensão reflexiva, sinto que chegou o momento de me expressar sobre o que pretendo para o meu futuro profissional. Como tal, este último ponto da dimensão reflexiva será uma introspeção sobre a educadora e professora do 1.º CEB que pretendo ser.

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Quando iniciei este percurso, tive sempre como primeiro objetivo estabelecer com as crianças uma relação de confiança, na medida em que estas percebessem que o adulto que estava a interagir com elas se preocupava em perceber quais as suas necessidades e interesses, e as respeitava e amava na sua individualidade. Carrego na esperança que a educação possa, cada vez mais, assentar-se nestes prossupostos e assim cumprir verdadeiramente a sua missão (Mialaret, 1991).

Assim, como futura educadora/professora, não tenho dúvidas que esta é uma prática que pretendo manter. Acredito que uma relação saudável estabelecida entre criança-adulto será o ponto de partida para uma dinâmica de ensino potencializadora de aprendizagens significativas uma vez que o que a criança sente ou pensa tem um papel de destaque para que se desenvolva e aprenda harmoniosamente (Gal, 1977).

Para que o educador/professor conheça a criança na sua totalidade não pode deixar de parte a interação com o meio que a rodeia. Assim, pretendo que não haja barreiras entre a escola e a família, levando a esta a perceber que uma boa relação “favorece o diálogo entre pais e filhos, reforça a confiança entre professores e pais” (Estanqueiro, 2010, p. 111), o que só traz benefícios para todos os envolvidos.

Ora, para que no futuro possa desenvolver uma prática pedagógica com estas características sei que se torna preponderante a utilização da observação e da reflexão. Estes dois métodos são imprescindíveis a uma prática educativa que se visa contextualizada.

No meu ponto de vista, um bom profissional educativo está em constante reflexão sobre o que observa, o que planeou, a sua intervenção, enfim… o que de uma forma ou de outra possa influenciar a sua ação educativa. No entanto, penso que a reflexão-na-ação, termo definido por Schön, necessita de um esforço cognitivo maior por parte do agente educativo. Como refere Gómez (1997, p. 102),

a vida quotidiana de qualquer profissional prático depende do conhecimento táctico que mobiliza e elabora durante a sua própria acção. Sob a pressão de múltiplas e simultâneas solicitações da vida escolar, o professor activa os seus recursos intelectuais, no mais amplo sentido da palavra […], para elaborar um diagnóstico rápido da situação, desenhar estratégias de intervenção e prever o curso futuro dos acontecimentos.

Com isto, o educador/professor tem bases para desenvolver com as crianças experiências aliciantes. Isto é, experiências que proporcionem o gosto pela descoberta, motivando-as a questionar e a refletir sobre o que observam. Ora, é crucial desenvolver nas crianças estas competências para que estas se tornem seres autónomos na construção do seu próprio conhecimento, ou seja, que consigam “definir objectivos pessoais, organizar e gerir tempos e espaços, auto-avaliar e avaliar processos, controlar ritmos, conteúdos e tarefas na sua relação com os objectivos a seguir, procurar meios e estratégias relevantes” (Alarcão, 1994, p. 6).

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Através dos vários momentos de PES pude realmente perceber o verdadeiro significado da palavra experimentação e hoje não tenho dúvidas que é através das múltiplas experiências que as crianças vivenciam que vão construir o verdadeiro conhecimento, uma vez que

apenas a experiência é registada de maneira privilegiada nos solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória capazes de transformar a personalidade. Por isso, fazem sempre a transferência das informações que transmitem para a experiência da vida (Cury, 2012, p. 59).

Penso que para que se possa desenvolver um percurso pedagógico baseado na experimentação é importante que o educador/professor seja criativo. “A criatividade pode ser planeada no sentido de ser o produto de uma experimentação deliberada; ou pode ser invulgar, inesperada e repentina” (Woods, 1999, p. 131), mas tem de existir!

Tenho como ideal para o meu futuro desenvolver uma prática educativa que se apoie nesta dinâmica. É neste sentido que também surge outra das minhas ambições para o meu futuro profissional, ser uma educadora/professora investigadora. Considero que esta postura é importante pois permite aprofundar os conhecimentos no contexto em que nos encontrámos e desta forma responder aos alunos de forma adequada e contextualizada. Por outro lado, estamos num mundo que se encontra em constante mudança e é necessário que o educador/professor esteja sempre em atualização. Ou seja, ser educador/professor investigador “é ser capaz de se organizar para, perante uma situação problemática, se questionar intencional e sistematicamente com vista à sua compreensão e posterior solução” (Alarcão, 2001, p. 6).

Em suma, ser educador/professor “é uma função complexa, que requer a mobilização de conhecimentos, capacidades e atitudes a vários níveis, mas que exige, sobretudo, uma grande capacidade reflexiva, investigativa, criativa e participativa para se adaptar e intervir nos processos de mudança” (Alonso & Silva, 2005, p. 49). Percebemos assim que ser educador/professor não é tarefa fácil, o que não faz com que deixe de ser bastante gratificante e enriquecedora, uma vez que estamos a contribuir para o crescimento de pessoas que irão ser futuros cidadãos ativos e interventivos na sociedade. Como dizia Pitágoras, “educa as crianças para que não tenhas de castigar os homens”.

A construção do profissional da educação tem início com a formação inicial, contudo, esta fase inicial, embora apresente um papel fulcral no desenvolvimento profissional de qualquer educador/professor, não é suficiente pois o seu crescimento pessoal e profissional continua ao longo da vida. Isto irá permitir-lhe desenvolver e aprofundar “capacidades de investigação e reflexão, competências curriculares e pedagógico-didáticas, valores e atitudes pessoais e atitudinais” (Costa & Santos, 2005, p. 102). Enquanto futura profissional continuarei a valorizar a aprendizagem ao longo da vida, numa perspetiva de construção contínua das minhas competências e da minha identidade profissional, procurando aperfeiçoar-me de forma a poder ir ao encontro das necessidades e interesses das crianças, num mundo em constante mudança.

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