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Capítulo II – Metodologia de Investigação

2. Contexto do estudo

A recolha de dados da investigação enunciada realizou-se na instituição particular do distrito de Leiria onde realizei a PES em Jardim de Infância, e, como já foi referido, assentou na observação das interações estabelecidas entre a Mariana e as restantes crianças nos momentos de brincadeira livre após o lanche da tarde, a exceção do dia 14 de janeiro de 2014 que se realizou a observação de manhã uma vez que foi dada às crianças a oportunidade de brincar livremente. O espaço para a recolha de dados na instituição foi a sala de atividades do grupo participante no estudo, nomeadamente na zona onde estava a Mariana que era entre a área de expressão plástica e da estante da biblioteca ou na área do encontro. Por essa razão, torna-se pertinente caraterizar de uma forma sucinta esse espaço.

A sala de atividade encontrava-se organizada em seis áreas, nomeadamente área do encontro, da casinha, da banca de ferramentas, dos jogos de mesa, da expressão plástica e da garagem, sendo que tinha ainda uma área que se denominava de biblioteca.9 Nesta última encontrava-se uma estante na

qual estavam duas caixas com diversos materiais (imagens 25, 26 e 27) para apoiar as experiências educativas realizadas pelos adultos com a Mariana (educadora titular de sala, estagiárias e educadora de intervenção precoce). Uma vez que estes materiais não se encontravam acesso livre das crianças, estas solicitavam à educadora a sua utilização para brincarem com os mesmos e com a Mariana. Desta forma as crianças tinham os objetos que pertenciam à Mariana, os objetos da sala e ainda alguns objetos vindo de casa com os quais poderiam interagir ao longo do período de recolha de dados.

9 Para ver a caraterização completa da sala de atividade consulte o anexo XXVII.

Imagens 25 - Sacos de

gel de cor amarela, vermelha, azul e verde.

Imagens 26 - Tule azul. Imagens 27 - Varinha

mágica da estrela que dava luz e som.

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2.1. Participantes do estudo

Na presente investigação, a amostra em causa é uma amostra acidental uma vez que os participantes do estudo foram escolhidos devido à sua interação voluntária com a criança com Necessidades Educativas Especiais (NEE), no momento em que se deu a observação/recolha de dados (Freixo, 2010). Ao mesmo tempo, a própria criança com NEE é ela, também, participante no estudo.

2.1.1. Caraterização do grupo de crianças

De modo a que se compreendam melhor os dados obtidos torna-se relevante caracterizar o grupo de crianças que está envolvido no estudo. Sendo assim, no quadro 3 estão destacadas informações acerca da idade, género, número de irmãos e percurso na instituição de cada um dos participantes do estudo.

Quadro 3 – Caraterização das crianças quanto à idade, género, n.º de irmãos, percurso e observações.

Perante a apresentação do quadro anterior podemos verificar que a presente investigação foi realizada num grupo constituído por 14 crianças, 6 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 2 e os 5 anos de idade, sendo que a moda é de 3 anos de idade. É importante mencionar que, duas das crianças (D e MM) transitaram da creche para a sala de jardim de infância durante o período em que foi feita a recolha de dados.

Em relação ao percurso realizado pelo grupo de crianças, é importante referir que todas as crianças já estavam na instituição no ano letivo anterior, pelo que quatro transitaram da creche (SI, S, G, GB e T) no início do ano letivo e duas no mês de janeiro (D e MM). As restantes crianças já se encontravam na mesma sala e com a mesma educadora de infância. Treze crianças frequentaram a creche da mesma instituição, ao contrário da L, que entrou para a sala de JI com idade de creche por não se conseguir adaptar ao grupo de creche uma vez que este era constituído por crianças mais novas.

Idade Género Nº de irmãos

Percurso na

instituição Observações

D 2 M 1 Creche e JI Transitou em Janeiro de 2014 para o JI GB 2 M 0 Creche e JI Transitou em Setembro de 2013 para o JI MM 2 M 0 Creche e JI Transitou em Janeiro de 2014 para o JI

B 3 F 0 Creche e JI ---

G 3 M 0 Creche e JI Transitou em Setembro de 2013 para o JI I 3 F 1 Creche e JI ---

SI 3 M 0 Creche e JI Transitou em Setembro de 2013 para o JI S 3 F 1 Creche e JI Transitou em Setembro de 2013 para o JI T 3 M 2 Creche e JI Transitou em Setembro de 2013 para o JI E 4 F 1 Creche e JI ---

L 4 F 0 JI ---

M 4 F 1 Creche e JI Criança com NEE R 4 M 0 Creche e JI --- F 5 M 1 Creche e JI ---

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Neste grupo existiam diversos interesses estando estes relacionados com pinturas, histórias, canções, jogos, cozinhar bolos quando alguma criança fazia anos, brincadeiras, desafios, coisas novas e surpreendentes. Quando as crianças tinham a oportunidade de escolher para que local da sala de atividades podiam ir brincar livremente estas optavam por ir para a área da casinha, especialmente as meninas mais velhas. No grupo também existia algum interesse por brincar com brinquedos da caixa da Mariana, principalmente quando a área da casinha não podia ser utilizada.

As crianças eram bastante afetuosas e em termos de interação, o grupo de crianças interagia “muito bem com toda a gente quer seja com grupo de crianças quer seja com adultos, são calmas e rebeldes, dependente dos dias” (anexo XXVIII - entrevista à Educadora Titular da Sala (ETS).

2.1.2. Caracterização da criança com NEE

A criança com Necessidades Educativas Especiais chama-se Mariana (nome fictício) e tem, mais especificamente, uma multideficiência grave de seu nome encefalopatia mioclónica precoce. Segundo uma entrevista realizada à ETS (anexo XXVIII), a Mariana “tem paralisia cerebral, epilepsia, esclerose múltipla e baixa visão”. Assim sendo, a Mariana apresentava graves limitações a nível motor, cognitivo, visual, de fala e linguagem. Quando se iniciou o período de recolha dos dados, a criança tinha como idade cronológica quatro anos de idade, sendo que durante o mesmo fez 5 anos.

A Mariana por vezes estava sentada na sua cadeira de rodas (imagem 28) e outras vezes na plataforma sluding form (imagem 29) que servia para ela se manter com uma postura mais direita e para realizar algumas experiências educativas.

Esta criança tinha terapias quatro manhãs por semana antes de chegar à instituição, nomeadamente, natação, música, terapia da fala e terapia ocupacional. Para além disso, às terças e sextas tinha terapia com a Educadora de Intervenção Precoce (EIP) na instituição.

Em relação ao seu percurso educativo nesta instituição, a Mariana começou por frequentar o berçário com um ano e meio e transitou para a sala de jardim de infância com 2 anos e meio, uma vez que “em termos de grupo na creche havia crianças muito pequeninas naquele ano, muito bebés […] A Mariana estava a precisar de mais interação não só por parte do pessoal docente, de nós, como também por parte das crianças” (entrevista à ETS). As crianças que acompanharam a Mariana desde que esta se encontrava na sala de jardim de infância eram o Filipe (F), a Eva (E), a Lisa (L), o Rui (R), a Isabel (I) e a Bianca (B)10. Apesar disso, “todos conhecem a Mariana desde que a Mariana cá

está” (entrevista à ETS) porque nos momentos de fazer a sesta todos se cruzavam com a ela.

10 Todos os nomes das crianças apresentados são nome fictícios.

Imagem 28 - Mariana na cadeira

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A criança, em termos relacionais, é caraterizada pela ETS como uma criança que se relaciona “com os outros, consegue interagir, consegue fazer sons e mostrar expressões faciais de agrado e desagrado”, inclusive destaca uma situação que ilustra o que referiu anteriormente, “se eu chego de manhã e começo a falar com as outras colegas e a receber recados e a trocar recados ela reclama porque eu não lhe fui dizer bom dia”. Para além disso, a EST também salienta que a Mariana manifesta interações diferentes face a determinadas crianças, referindo como exemplo o Filipe e ilustrando com um dos momentos em que observou isso.

No que diz respeito à relação de interação que se estabelecia entre o grupo de crianças e a Mariana, a ETS refere que era muito boa e que estes faziam de tudo para que esta estivesse incluída e se relacionasse com todos, interagindo com ela de forma espontânea e afetuosa. Como, por exemplo, nos momentos de atividades livres, na hora da manta quando era a altura de dizer olá! nunca se esqueciam da Mariana, entre outros. No entanto, a educadora também refere que existem crianças que interagem de uma forma mais espontânea com a Mariana do que outras, apresentando como motivo o facto de não perceberem muito bem o que se passa com a criança e não terem tanto à vontade e um pouco de medo do desconhecido. Sobre as crianças que interagem mais, a educadora aponta como motivo o facto de serem mais velhas e já conviverem com a Mariana há mais tempo.