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IV. Construção Estratégica da Imagem de Lula

IV. 4. Campanha Presidencial de 1994

IV. 4. 1. CONTEXTO BRASILEIRO

Este ano foi bastante positivo para o país. O Brasil alcançava mais um troféu no Campeonato Mundial de Futebol, se estabelecia como a 9ª economia mundial e tinha o primeiro polo industrial entre os países do Terceiro Mundo.

Ainda que esta conjuntura fosse favorável, o Brasil afundava nos juros de uma dívida externa que passava de 120 bilhões de dólares e temia novamente a subida da inflação.

Para contornar esta realidade, o então Ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, divulgou a estrutura de um plano de equilíbrio econômico cuja base deveria apoiar-se na estabilização monetária. Elaborado para ser executado em três etapas, o plano previa primeiramente a implantação de um indexador, em seguida, uma moeda de transitória e, por fim, a moeda definitiva, o Real. Ainda que os preços promovidos pela indústria e pelo comércio na véspera do terceiro estágio fossem abusivos, a inflação seguia caindo consideravelmente, baixando a menos de 1% no final de setembro. O Plano Real apresentou eficácia na estabilização da moeda e no controle da inflação.

IV. 4. 2. PRINCIPAIS CANDIDATOS

As eleições de 1994 aconteceram em meio ao entusiasmo do Real. Visto como um dos mentores do Plano, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) saiu

41 fortalecido para a disputa das eleições presidenciais de 1994. Já o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou-se em campanha à frente de todos os outros candidatos, tendo se preparado para pleitear novamente a presidência desde o final das eleições de 1989. Alguns meses após essas eleições, Lula passou a viajar bastante pelo Brasil em sua "Caravana da Cidadania". Lula foi também o que definiu primeiro um amplo programa de Governo para as eleições de 1994. As ideias de que era preciso acabar com o medo que cercava a imagem de Lula, buscar confiança e mostrar um candidato mais experiente politicamente serviram de premissas para que fosse elaborado o programa do candidato do PT.

Tanto o programa de Fernando Henrique Cardoso quanto o de Lula deram enfoque para os seguintes setores: educação, saúde, meio-ambiente, desenvolvimento, igualdade, democracia, tecnologia, ciência e cultura. À medida que no programa de FHC era abordado que "o grande desafio histórico que temos de enfrentar é redefinir um projeto de desenvolvimento..." (Veja, ed.1329, p. 43), na proposta de Lula era enfatizado que, "com o Governo Democrático e Popular, as maiorias nacionais serão chamadas a um engajamento ativo na definição das questões econômicas". (Veja, ed. 1329, p. 43)

Mais sete candidatos concorreram à Presidência do Brasil em 1994. No entanto, nunca alcançaram quantidade significativa de votos nas pesquisas de opinião que cogitassem a possibilidade de que venceriam a eleição.

IV. 4. 3. IMAGEM DE LULA ATRAVÉS DA VEJA

Em 1994, nota-se algum cuidado de Lula com seu visual. Em alguns comícios ousou usar paletós e a constância com que aparecia de terno aumentou. No entanto, ainda predominavam roupas mais "despojadas", entre elas a camiseta e o jeans.

No início do ano, a revista acompanhou algumas de suas passagens com a “Caravana da Cidadania”, jornada realizada em cidades do interior do país, dando palestras e coletando ideias, como mostra a capa da revista abaixo.

42 Após o lançamento oficial da campanha, prevaleceram as imagens em que Lula se reunia com autoridades, organizava encontros do seu partido, participava de reuniões eleitorais, etc. Há também imagens de seus comícios, contudo, nessas imagens, a revista optou por fotos tiradas na direção da plateia para o palco, onde o povo aparecia de costas. Com esse artifício, ficava difícil para o leitor ter uma noção da quantidade de pessoas que participavam do evento, se eram muitas ou poucas.

Figura 13. Capa da Veja (1994)

Foto: Revista Veja, ano 27, n.09, ed. 1329 02/03/1994, capa

A revista ocupou-se, em grande parte de suas matérias, em veicular as desconfianças de corrupção que cercavam seu candidato a vice, José Paulo Bisol.

Em uma das edições, há uma matéria criticando seus pronunciamentos durante os comícios. De acordo com a revista, o candidato petista usa a técnica do catastrofismo - quanto pior estiver a conjuntura social do Brasil, melhor será a situação para ele. Narra-se que ele repete as histórias e, em cada local que passa, aumenta um pouco o drama. A imagem selecionada colaborou para dar ênfase e firmar essa ideia. Lula está de frente para a multidão em cima do que parece um

43 palco, pelo que o esta imagem permite deduzir. Pelo formato da imagem, permite-se observá-lo de corpo inteiro e, ainda, o plateia desfocada e de costas e sua equipe ao fundo.

Nessa imagem, percebe-se um pouco de distração e falta de motivação do público, que pouco se movimenta, nem agita bandeiras. Ainda que a plateia esteja desfocada, nota-se um rosto virado para o lado, postura de quem não se atém às palavras do candidato em campanha. No palco, poucos de sua equipe estão direcionados para ele. O que se percebe é muita conversa paralela. Segundo o contexto da revista, possivelmente estavam fatigados de ouvir o mesmo discurso.

Figura 14. Lula em comício (1994)

Foto: Revista Veja, ano 27, n.32, ed. 1352 10/08/1994, p.36-37

O excessivo número de elementos na imagem atrapalham a identificação de Lula, de modo que a atenção do receptor se dispersa e não se atrela à imagem do candidato. Assim, a revista aguça a incapacidade de mobilização de Lula nesse momento da campanha.

44 e público, que se traduz em poucas esperanças de vitória nas eleições.

Durante essa campanha eleitoral, percebe-se que há duas situações antagônicas se comparado os períodos antes e depois da divulgação do Plano Real. Antes, Lula era congratulado, estava em primeiro lugar nas pesquisas de opinião e alcançava bons resultados da “Caravanas da Cidadania”. Depois, percebe-se um candidato mais contido, intuindo perder, mais uma vez, o posto de Presidente do Brasil; vencido por um plano econômico e por uma expectativa de mudança.

Lula continuou adotando a barba. No entanto, ela não era mais tão densa; nas imagens, a barba colaborava para denegrir a imagem do candidato, transmitia a sensação de falta de higiene. O surgimento dos primeiros cabelos brancos desponta a distância cada vez maior daquele tempo em que suas ideias eram abraçadas por multidões.

Foi a partir do mês de julho que a situação da campanha, antes favorável a Lula, começou a se transformar. Já no quarto dia do Plano Real, a diferença nas pesquisas de opinião entre Lula e FHC diminuiu, tornando o sociólogo seu principal adversário. Sua expressão começou a mudar e a segurança foi dando lugar à incerteza. Foi neste momento que Lula se sentiu ameaçado, uma vez que todas as atenções centralizavam-se no mentor do novo plano econômico.

A princípio, o candidato petista teve uma reação negativa ao Plano Real. Pensava ser um plano com fins meramente eleitoreiros. Alguns pesquisadores como Dimenstein e Souza, na obra “Trama de uma sucessão”, afirmam que o plano, num primeiro momento, tinha realmente esse objetivo. Mas ele havia sido criado para gerar resultados positivos em relação ao aspecto econômico do país que, obviamente, influencia todos os outros aspectos de uma nação. Lula ainda não tinha essa percepção e acreditava que seria mais um plano passageiro, como tantos outros criados anteriormente. Com o decorrer da campanha, observou que a população alimentava expectativas com relação ao plano e que, se o atacasse, diminuiria suas chances de chegar à vitória.

Na imagem selecionada abaixo, Lula ainda não tinha tomado ciencia de que denegrir o plano econômico seria um grande erro. O candidato fez diversas críticas enquanto segurava na mão direita uma nota de um real.

45 fornecem suporte técnico e moral.

Figura 15. Lula e o Plano Real

Foto: Revista Veja, ano 27, n.32, ed. 1352 23/11/1994, p.33

Seu semblante fechado mostra sua insatisfação com o plano que, segundo ele, foi criado para derrubá-lo. A imagem é, como um todo, uma representação da mudança de humor do candidato e, inclusive, denuncia seu motivo central: o Plano Real. Essa não foi uma imagem favorável a Lula. Ela gera o sentimento que Lula estava contra o Real, ou seja, não seria ele o candidato daqueles que alimentavam expectativas de que o novo plano econômico pudesse apresentar lucros para o país.

Em agosto, FHC já possuía uma vantagem consolidada sobre Lula e ameaçava vencer as eleições ainda no primeiro turno. As imagens na revista, a partir deste momento, demonstravam o desalento do candidato petista.

De acordo com Medeiros (1994), a falta de liberdade dos assessores que conduziam a campanha de Lula foi considerada um dos principais motivos do fracasso da campanha em geral. Nos primeiros dias de agosto, com a queda de Lula nas pesquisas de opinião, a imagem da campanha é um pouco a imagem de seu criador, seja nos media ou nas ruas, a imagem que se encontra é triste, sombria, nada amigável. Se em sua primeira campanha presidencial, a imagem de Lula esteve associada ao sonho e à esperança, em 1994 esteve ligada à agressividade e ao mau

46 humor.

Mas a parcialidade dos media, pendendo em peso para a campanha de Fernando Henrique Cardoso, foi a principal defesa dos petistas para a derrota de Lula, que alegavam que os media eram um partido único. (MEDEIROS, 1994, p.187).

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