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IV. Construção Estratégica da Imagem de Lula

IV. 5. Campanha Presidencial de 1998

IV. 5. 1. CONTEXTO BRASILEIRO

Quatro anos após o quarto troféu conquistado pelo Brasil na Copa Mundial de Futebol, a Seleção Brasileira disputava novamente a final do campeonato e perdia para a França, em Paris. Enquanto isso, a crise nas bolsas asiáticas prejudicavam fortemente as economias do Brasil e o governo era forçado a apelar mais uma vez ao Fundo Monetário de Investimento (FMI) para não afetar seu projeto.

Esse ano foi movimentado para a conjuntura nacional. A crise na Rússia alcançava o Brasil e marcava-se intensa evasão de dinheiro: mais de 10 bilhões de dólares em um só dia. Em contrapartida, o governo reagia com cortes nos gastos na área social. Os juros explodiam e a taxa passava dos 40%. A administração de FHC era marcada pelas privatizações das empresas estatais. Cerca de 35 empresas foram vendidas e aproximadamente 20 bilhões de dólares foram arrecadados.

A eleição presidencial de 1998 foi marcante para história do Brasil. Pela primeira vez a Constituição Federal consentia que um presidente fosse reeleito.

IV. 5. 2. CANDIDATOS PRINCIPAIS

Quatro candidatos disputaram as eleições para presidência em 1998, mas apenas dois tiveram campanhas expressivas. O líder petista, Luiz Inácio Lula da Silva, encontrava-se em dúvida se deveria ou não se candidatar pela terceira vez ao mais alto posto da nação e enfrentar a grande vantagem da inflação baixa, da estabilidade monetária e a popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso, correndo o

47 risco de fracassar mais uma vez.

Não obstante, com a proposição "Estou convencido de que é mais fácil derrotar FHC agora que na eleição passada", Lula deu início a sua terceira caminhada em direção à presidência do Brasil.

No entanto, Lula e seu vice, Leonel Brizola (PDT2) já começaram a campanha

com o Partido dos Trabalhadores enfrentando dificuldades. Aconteciam desde discordâncias entre os discursos de Lula e de seu vice no que se referia as propostas de governo, até problemas financeiros e de desorganização da agenda política do candidato.

Enquanto isso, o presidente Fernando Henrique Cardoso, candidato à reeleição, preparava-se para comemorar os quatros anos de êxito do Plano do Real e colhia os ótimos resultados de uma inflação abaixo de 1%. Ainda que os cálculos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano não explicassem qualquer sentimento otimista, as pessoas se acostumaram a reconhecer em FHC uma imagem de competência para exercer tal posto.

IV. 5. 3. IMAGEM DE LULA ATRAVÉS DA VEJA

Neste ano, Lula apresentou os primeiros sinais da idade. Apesar de ainda jovem, pode-se perceber que sua barba e cabelos não mantinham mais o tom escuro de antigamente. Agora, estavam misturados com muitos cabelos brancos, produzindo o aspecto grisalho. Outra mudança que pode-se notar é que se tornaram raras as imagens em que Lula não está de terno. Esta indumentária, que antes não fazia parte de seu guarda-roupa, tornou-se habitual. Tão habitual que em uma matéria em que o candidato "jogava uma bolinha" em um campo de futebol, fazendo alusão à Copa do Mundo, estava de terno.

A imagem em um campo de futebol, brincando com a bola, fez parte de uma estratégia que ficou em evidência nesta campanha eleitoral. Lula tentava se aproximar mais do eleitor, fazendo com que ele se identificasse com o candidato. Em razão desta

48 estratégia de aproximação, o candidato marcou presença na maior festa popular do Brasil, o Carnaval do Rio de Janeiro.

Consciente de que os gaúchos3 são muito tradicionalistas, fez questão de

vestir-se com roupas típicas regionais em comícios no Estado do Rio Grande do Sul. E, obviamente, aproveitou a realização da Copa do Mundo de Futebol para impulsionar sua popularidade entre os simpatizantes do esporte.

Figura 16. Capa da Veja (1998)

Foto: Revista Veja, ano 31, n.23, ed. 1550 10/06/1998, capa

O uso da tecnologia também foi marcante neste campanha. Ainda em janeiro, a revista Veja publicou uma imagem de Lula dentro de um avião particular, trabalhando em um notebook.

As mudanças visuais e estratégicas percebidas na campanha deste ano se deram em razão de seus assessores, principalmente, dos profissionais de marketing.

A imagem abaixo apresenta Lula e seu assessor de comunicação, Toni Cotrim.

3 Termo usado como gentílico para denominar os habitantes do estado brasileiro do Rio Grande do Sul

49 O rosto tenso de Lula se contradiz, fortemente, com o semblante do candidato no cartaz da campanha, colado na parede, ao fundo. A mão na boca, os braços cruzados e a vista ao horizonte, são amostras comportamentais de quem está pensando, talvez, buscando novas ideias para impulsionar a campanha já em fase final. Seu publicitário aparece à direita, encostado na parede em uma das mãos e a outra na cintura, parece estar cansado.

Sua campanha não andava bem. Em consequência disso, o momento exigia mudanças. Em matéria anterior, a revista comentava que o número de aprovação de seu programa no Horário de Propaganda Gratuita Eleitoral (HPGE) tinha ficado abaixo da média dos outros candidatos e que havia frustrado as expectativas dos eleitores.

Figura 17. Lula preocupado

Foto: Revista Veja, ano 31, n.27, ed. 1550 18/11/1998, 44-45

Nesta campanha, estabeleceu-se a imagem de um Lula com visões políticas distintas daquelas difundidas em sua primeira campanha. Iniciaram-se as negociações com empresários e políticos das mais diversas linhas ideológicas. Depois de tantas tentativas fracassadas como candidato, Lula compreendeu a necessidade de se aliar para alcançar a vitória. Contudo, o Partido dos Trabalhadores ainda não partilhava da mesma ideia e criava resistência.

Em congresso preparado pelo Instituto Cidadania, presidido por Lula, os militantes se surpreenderam com os nomes dos palestrantes, sobretudo com a presença de Antônio Ermírio de Moraes. A imagem acima, que ilustra a matéria,

50 apresenta o candidato petista com Antonio Ermírio em uma mesa de reuniões que aparentava ser o congresso. Nenhum dos dois demonstram estar feliz ou satisfeito. Posicionados um de costas para o outro, nenhum dos dois demonstram estar feliz ou satisfeito. Nitidamente, suas expressões são de preocupação. Pela matéria, não se tem certeza se houve ou não o congresso, mas a ausência de mais pessoas na imagem remete a impressão de poucas pessoas. Os trajes alinhados que vestem apontam o caráter formal da reunião e provavelmente importante para o apoio do Grupo Votorantim4, o qual Antônio Ermírio de Moraes era representante.

Figura 18. Lula e os novos parceiros

Foto: Revista Veja, ano 31, n.23, ed. 1550 18/03/1998, p.28-29

Não se pode dizer que nesta campanha a revista tenha feito uso as imagens publicadas para reduzir a importância de Lula em relação aos outros candidatos ou depreciar sua imagem. As imagens, em sua maioria, eram fotograficamente bonitas, bem coloridas, com efeitos e ângulos variados, revelando as mudanças positivas do candidato. O fato é que seu principal opositor, FHC, tinha grande aceitação do povo e da classe empresarial devido aos ótimos resultados do seu plano econômico e, por isso, conquistou a vitória novamente.

4 Grupo Votorantim é um conglomerado industrial brasileiro de capital fechado, que reúne empresas de

vários segmentos, com ênfase em setores de base da economia, presente em mais de 20 países. Ele está estruturado em três segmentos – industrial, financeiro e novos negócios –, e emprega mais de 40 mil profissionais.

51 Alguns pesquisadores afirmam que o fato de ser candidato à reeleição, com propostas claras de dar prosseguimento ao trabalho que havia desenvolvido em seu primeiro mandato, colaborou bastante para vencer as eleições. Venturi (2000), afirma que a reeleição provoca desigualdade de condições entre o candidato ao segundo mandato e seus adversários, especialmente se agravada pela possibilidade de manutenção do cargo.

Jornalistas e especialistas em política apontam a derrota de Lula em razão de sua imagem haver sofrido um desgaste natural por consecutivas derrotas:

A imagem de Lula ficou muito prejudicada pelos sucessivos fracassos e sistemáticas campanhas de difamação e desqualificação pelos media. A campanha não conseguiu reconstruir essa imagem. (KUCINSKI, 2000, p.144).

A análise da imagens publicadas pela revista Veja nesta eleição não causa prejuízos à imagem do candidato. Nas imagens, Lula apareceu melhor que nas campanhas anteriores. No entanto, mais que a abordagem feita pela revista, foi o candidato que mudou. A idade e as lições das duas eleições anteriores haviam amadurecido o candidato politicamente. Além disso, as alianças que formava com empresários colaboraram para sua maior aceitação. As causas que provocaram sua derrota, conforme mostraram Kucinski e Venturi, respectivamente, foram seus consecutivos fracassos anteriores e a grande vantagem de Fernando Henrique Cardoso pleitear à reeleição, com a graça do sucesso do Plano Real.

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