• Nenhum resultado encontrado

Campanhas comunicacionais contra o HIV/AIDS feitas por secretarias estaduais e

No documento stephanielyaniedemeloecosta (páginas 66-69)

2. AIDS COMO QUESTÃO COMUNICACIONAL

2.2 PESQUISAS EM COMUNICAÇÃO & AIDS NO BRASIL

2.2.3 Campanhas comunicacionais contra o HIV/AIDS feitas por secretarias estaduais e

Nesta subseção, vamos apresentar o estado da arte das pesquisas sobre as campanhas públicas comunicacionais de enfrentamento ao HIV/Aids feitas pelas secretarias estaduais (SES) e municipais de saúde. Adiantamos, desde já, que não há vasto material sobre o tema, tampouco sobre as campanhas específicas da SES de Minas Gerais, objeto particular de nosso interesse.

Indo na contramão de um dos princípios do SUS, o da descentralização, a elaboração das campanhas de prevenção à Aids feitas por organismos do governo no Brasil ainda está centrada na esfera federal, no Ministério da Saúde. Ainda que se entenda serem as respostas regionais à Aids mais eficazes no combate às características específicas da epidemia de cada localidade, a maioria das secretarias estaduais e municipais de saúde não realiza campanhas midiáticas e massivas de forma sistemática, havendo um “quase-monopólio da produção discursiva de caráter nacional sobre Aids versus a mobilização de diferentes segmentos sociais para ampliar sua participação no campo da saúde e da Aids” (CARDOSO, 2001, p. 25- 26).

Richard Parker (1994, p. 106) justifica a baixa produção de campanhas e materiais educativos sobre Aids por parte dos programas municipais e estaduais ao fato de eles não receberem tanta verba para isso e sofrerem as mesmas pressões que o Ministério de Saúde de grupos mais conservadores. Segundo Alessandra Nilo (2005, p. 53), com base em dados de 2005, “ao analisarmos os Estados e municípios, por exemplo, observamos que suas verbas anuais para comunicação e informação, em geral, representam menos de 2% do valor de uma

única campanha nacional” – que custava, em média, R$ 6 milhões para veiculação em torno de 15-30 dias65.

A avaliação sobre os programas educacionais mostrou que a mudança de comportamento é estimulada mais eficazmente por atividades de promoção de saúde mais específicas e direcionadas (como são as campanhas das SES), embora as orientadas de forma mais genérica (como são as campanhas ministeriais) também sejam importantes para a manutenção dessas mudanças ao longo do tempo (PARKER, 1994, p. 113).

Ainda que uma ou outra secretaria estadual e municipal de saúde invista, em alguns momentos, em campanhas de mídia tradicional (TV, rádio, outdoor etc.), a maioria das ações comunicacionais contra o HIV/Aids feitas por elas dá-se em outros formatos e conta com a participação voluntária de membros de OSCs-Aids. Trata-se da distribuição de material próprio ou de peças da campanha nacional em locais ou eventos frequentados por públicos prioritários, além de ações criativas de mobilização durante o carnaval e o dia mundial de luta contra a Aids, com a distribuição de preservativos e material informativo em espaços públicos. Um exemplo desse tipo de ação criativa de mobilização foi a “Abraço”, realizada pela SES-MG, em Belo Horizonte, no dia 1º de dezembro de 2012. Mais de cem voluntários circularam pela cidade vestidos com camisetas dizendo Eu tenho AIDS, me dá um abraço?;

Eu não tenho AIDS, me dá um abraço? e Eu não sei se tenho AIDS, me dá um abraço?.

Vale a pena citarmos aqui o estudo de Cardoso & Araújo (2005) em parceria com a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, denominado PesquisAids. O intuito era experimentar um novo método de avaliação e formulação de ações comunicativas para a prevenção que buscasse ir além dos métodos mais tradicionais. Estes, como vimos na subseção anterior, costumam obter como resposta apenas ecos da própria fala institucional, pois

[...] apenas nos informam o quanto as pessoas compreenderam ou se recordam das mensagens veiculadas, mas não falam do modo como elas articulam essas mensagens com seu acervo pessoal e social de conhecimentos, de informações e de opiniões. Por isto, não possibilitam apreender os sentidos sociais que são produzidos quando uma mensagem institucional entra em circulação (ARAÚJO, 2005, p. 26).

O PesquisAids buscou formular um novo método, com dois eixos principais: 1) favorecer que as pessoas produzissem suas próprias estratégias de comunicação para prevenção epidemiológica; 2) analisar essas estratégias para compreender os sentidos sociais

65

Os valores monetários informados correspondem ao montante investido na época, não tendo sido corrigidos para ao que equivaleriam hoje. Em 2007, cada campanha poderia custar entre R$ 4 milhões e R$ 8 milhões, ou mais (PAZ, 2007, p. 67).

produzidos. Tinha-se como objetivo, também, que esse método pudesse ser incorporado à dinâmica dos serviços e instituições de saúde das localidades estudadas.

Nesta pesquisa, as autoras abordam o conceito de “mobilização” como a potencialização do movimento já existente de produção e circulação dos sentidos sociais: é evidenciá-los, favorecer sua circulação e contribuir para que as vozes da população estudada fossem consideradas pelas instituições responsáveis pelas políticas públicas:

Buscamos a proposta de Bernardo Toro, que considera que mobilizar é favorecer que os sentidos sociais que geralmente não são ouvidos, que ficam abafados pelas vozes das mídias e das instituições, possam ser ampliados e escutados. E aí firmamos um conceito importante para nós: mobilizar é favorecer o movimento, o movimento das pessoas, sim, mas sobretudo o movimento dos sentidos. E criar condições para que este movimento seja percebido. (ARAÚJO, 2005, p. 29).

É o conceito acima de mobilização que adotaremos nesta dissertação – e não o mais corrente segundo o qual ela é “um processo que pede à população uma ‘paralisação’ das atividades cotidianas para atender ao chamado de ação coordenada em geral pelas instituições” (CARDOSO & ARAÚJO, 2005, p. 03).

O PesquisAids foi realizado entre fevereiro de 2002 e julho de 2003, nos bairros cariocas de Curicica (Zona Oeste) e Lins de Vasconcelos (Zona Norte), com adolescentes em situação de risco social, na faixa de 13 a 24 anos. Dentre as principais conclusões, está a evidência de que os contextos locais e os dos serviços de saúde, ao mesmo tempo em que exigiram a reconfiguração do método de pesquisa, reforçaram que os sentidos não estão prontos, nem nas mensagens e informações ofertadas, nem no campo da recepção: “Os sentidos são configurados no espaço de encontro (e também de desencontro) entre eles, da interlocução e, portanto, são sempre contextuais” (CARDOSO & ARAÚJO, 2005, p. 01). As autoras identificaram, também, que não se pode supor serem “os jovens” uma categoria homogênea, mas composta por grupos os mais diversos – daí “como supor que uma estratégia poderia ser eficaz para o ‘jovem em geral’?” (CARDOSO & ARAÚJO, 2005, p. 09).

A solução, portanto, estaria na descentralização da comunicação, seja no seu diagnóstico, no planejamento, na implementação ou na avaliação. Refletindo sobre o estudo das autoras, argumentamos que as secretarias de saúde e as OSCs desempenhariam papel importante na concretização da descentralização das campanhas de prevenção à Aids.

A seguir, veremos como são algumas das campanhas de prevenção à Aids feitas pelas OSCs-Aids no Brasil.

2.2.4 Campanhas comunicacionais contra o HIV/AIDS feitas por organizações da

No documento stephanielyaniedemeloecosta (páginas 66-69)