• Nenhum resultado encontrado

Campinas no novo século: os Planos Diretores de 2006 e de

Pesquisa de campo

5 LEGISLAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO “Walkability is both an end and a means,

5.2.3 Campinas no novo século: os Planos Diretores de 2006 e de

A chegada do século XXI vê a população de Campinas se aproximar do total de um milhão de habitantes acompanhada de um crescimento desordenado da malha urbana, formando uma mancha descontínua e permeada de vazios urbanos.

Em 2005 teve início o processo de revisão do plano diretor, sinalizando que o novo plano seria uma evolução do seu antecessor. O Plano Diretor de 2006 possuía uma característica mais participativa, envolvendo técnicos de diversas secretarias e órgãos municipais, não tendo sido contratados profissionais externos na sua construção. A proposta foi a de serem elaboradas macrodiretrizes para a cidade, que seriam detalhadas numa segunda etapa, através dos Planos Locais de Gestão (PLGs), específicos para cada macrozona. No entanto, apenas alguns dos Planos Locais foram concluídos. O texto substitui a “Política Municipal de Sistema Viário e Transporte” pela “Política de Transporte, Trânsito e Mobilidade Urbana”, trazendo as questões da acessibilidade e da universalização do acesso ao sistema de transporte mais próximas do debate, mantendo o objetivo de priorizar a utilização do sistema viário pelo sistema de transporte público e para o trânsito de pedestres.

Um década mais tarde, em 2016, foi iniciada uma nova revisão do Plano Diretor, sendo aprovada no início de 2018 pela Lei Complementar no 189, após diversos adiamentos do encaminhamento da proposta à Câmara de Vereadores. Chamado de Plano Diretor Estratégico, o novo texto apresenta muitas mudanças em relação ao anterior. Um dos pontos de maior debate é a definição do perímetro urbano, essencial para o controle da expansão urbana desordenada e da segregação socioespacial. O Caderno de Subsídios, texto base que inclui os estudos e resultados das oficinas de participação popular, aponta que “o espraiamento urbano é um dos principais fatores que encarecem e comprometem a qualidade da infraestrutura urbana e do transporte público”24. Após levantamento e estudo dos vazios urbanos, aponta que “o município possui um estoque de área urbana não edificada suficiente para absorver o crescimento populacional previsto para as próximas seis décadas, não justificando a ampliação do

24 Caderno de Subsídios – Versão final, março/2017, p. 103. Disponível em https://planodiretor.

perímetro urbano para tal fim”25. No entanto, pressões de diversos setores fizeram com que a lei do PD deixasse aberta a possibilidade de ampliação do perímetro urbano, condicionando-a a projeto específico futuro. Tais pressões surtiram efeito, e no final do mesmo ano foi aprovada a Lei Complementar no 207, que acrescenta ao perímetro urbano e estabelece a Zona de Expansão Urbana, vinculada à Macrozona de Desenvolvimento Ordenado prevista no Plano Diretor, onde são permitidos “usos urbanos compatíveis com o rural” (Prefeitura Municipal de Campinas, 2018).

O texto do novo plano define que os princípios norteadores da Política de Desenvolvimento Urbano são estruturados “na visão de uma 'cidade para todos', cujo objetivo é a construção de uma cidade compacta, equitativa e solidária, que promova a qualidade de vida e a justiça social a seus habitantes a seus habitantes” 26. Entre os princípios estão o direito à cidade, a função social da cidade e da propriedade e a acessibilidade, o que demonstra uma visão de cidade concordante com ideais bastante contemporâneos.

Uma das principais questões levantadas pela população ao longo dos debates públicos foi a mobilidade urbana, com destaque para necessidade de priorização do pedestre no meio urbano. Entre diversos pontos, foram citadas a “necessidade de integração entre modais e de priorização do pedestre e do transporte coletivo”27, além da “falta de acessibilidade nos espaços públicos e a má qualidade dos passeios públicos”. Dentre as sugestões recebidas da população estão a ampliação e padronização das calçadas, prioridade do pedestre na travessia, redução do espaço destinado aos automóveis, entre outros. Assim, aparecem como diretrizes gerais da Política de Desenvolvimento Urbano o incentivo à requalificação dos passeios públicos e da área central da cidade. Dentre as Políticas de Estruturação Urbana na área de Mobilidade e Transporte, o texto inclui diretrizes para o Plano Cicloviário, e sistemas BRT e VLT (os dois primeiros já em processo de implantação). Tem como propostas o “desenvolvimento e implantação de nova política de calçadas que valorize e priorize o deslocamento a pé e a convivência” e “priorização da utilização das vias e logradouros

25 Ibid., p. 302 26 Ibid., p. 281 27 Ibid., p. 172

públicos para calçadas, transporte público, modos não motorizados”28, posteriormente traduzidas para o texto da lei. Além disso, apresenta um diferencial, que é a promoção de políticas baseadas no conceito do DOT (ver pág. 59).

Paralelamente ao processo de aprovação do novo Plano Diretor Estratégico, com a inclusão das diretrizes voltadas a uma mobilidade mais sustentável e à valorização do pedestre, algumas medidas já estão sendo colocadas em prática. Além da implantação do corredor do BRT e de eixos cicloviários, algumas intervenções têm como foco o pedestre. Uma delas, ainda em fase de projeto, é a transformação de um trecho da Rua José Paulino, na região central, segundo o modelo de “rua completa” (ver item 2.2.1). Entre as medidas propostas está a redução da largura da via, com alargamento das calçadas e diminuição da velocidade do tráfego. Esse projeto segue um plano maior de renovação da região central, que teve início com diversas intervenções planejadas para a Avenida Francisco Glicério. Nos últimos meses foi concluído o alargamento das calçadas, através da remoção de uma faixa de circulação de veículos, o aterramento da fiação elétrica e padronização do mobiliário. O resultado foi alvo de bastante críticas, devido a aparência incompleta dos trabalhos. A superfície das calçadas ficou comprometida com a grande quantidade de caixas de inspeção e a fiação aérea das ruas laterais foi mantida, comprometendo a proposta de melhorias no aspecto visual. Além disso, o projeto não previu o plantio de árvores nas calçadas, o que ajudaria bastante não apenas na questão visual como também no conforto térmico, ao prover sombreamento nos passeios.

Seguindo a aprovação do Plano Diretor Estratégico, foi atualizada a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), através da Lei Complementar no 208. A legislação anterior havia sido aprovada em 1988 já contava com mais de 30 alterações! A nova LPUOS inclui definições mais atualizadas, como espaço de fruição pública, fachada ativa e permeabilidade visual. As atuais propostas, se efetivadas, podem colocar a cidade de Campinas em sintonia com conceitos atuais de planejamento urbano e na direção de ser tornar uma cidade mais amigável ao pedestre.