• Nenhum resultado encontrado

3. CAPÍTULO 2 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Campo da pesquisa e sujeitos participantes

O estudo foi realizado numa escola de assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Escola Municipal Catalunha, localizada no Assentamento Catalunha, a aproximadamente 45 km do município de Santa Maria da Boa Vista e 39 km do município de Lagoa Grande, na região do Sertão de Pernambuco. O nome da escola ainda não foi definido, estando em debate, entre educadores, estudantes e comunidade, três sugestões: Escola Municipal Paulo Freire, Escola Municipal Josué de Castro ou Escola Municipal José Arnaldo. Este último nome faz referência a José Arnaldo, assentado, técnico agrícola, educador e militante do MST no Assentamento da Catalunha desde o período de acampamento, que morreu no ano de 2011, vítima de uma emboscada. Justificado o interesse em estudar a escola do MST pelo fato de o movimento apresentar uma proposta curricular própria, diferenciando seu projeto educacional quanto à ideologia, à visão de mundo e às práticas sociais, atrelando-as ao contexto territorial, histórico, cultural, social e político do movimento, foi-nos indicada especificamente, pela representante estadual do Setor de Educação do Movimento, a Escola Catalunha, por ser, no estado de Pernambuco, uma das poucas escolas vinculadas ao movimento que oferta o Ensino Fundamental II e, principalmente, pelo fato de essa escola ser considerada como alinhada aos princípios ideológicos do MST.

A Escola Catalunha é conhecida, no movimento, por ser referência em pesquisas e estudos relacionados aos princípios educativos do MST. Por ano, ela recebe uma média

de 50 visitantes, entre eles pesquisadores vinculados a instituições de ensino, simpatizantes do movimento e membros de organizações e cooperativas mundiais.

O Assentamento Catalunha, localizado no município de Santa Maria da Boa Vista, na região do Sertão de Pernambuco, como já informado, na microrregião do submédio do São Francisco, na divisa do Rio São Francisco, limite com o estado da Bahia, em terras de Juazeiro, na rodovia BR – 428, km 70, tem uma área de aproximadamente 6.825,50 ha. A ocupação da fazenda Cataunha, onde hoje se encontra o assentamento de mesmo nome, ocorreu no dia 7 de setembro de 1996. Desde sua ocupação até os dias atuais, mais de 800 famílias viveram no assentamento. No dia 26 de julho de 1998, a área foi desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, e, no dia 27 de novembro do mesmo ano, foi oficialmente criado o assentamento.

A Escola Catalunha ergue-se, em 1998, por meio de articulações entre as lideranças da comunidade e os prefeitos dos municípios de Santa Maria da Boa Vista e Lagoa Grande, num barraco coberto de palha, com quatro salas de aula e uma cozinha, atendendo a oito turmas do Ensino Fundamental I, com 394 educandos e quatro professores. No ano seguinte, a escola estabelece-se em antigos galpões que serviam de oficinas de máquinas e tratores e de depósito para armazenamento de produtos e materiais da antiga fazenda. No ano de 2000, o número de matrículas de estudantes passou de 1.000: o quantitativo de funcionários passava de 50 e ônibus foram contratados, pela prefeitura, para realizar o deslocamento tanto de estudantes quanto de funcionários. Atualmente, a escola atende a 350 estudantes, na faixa etária de 4 a 65 anos, e compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos – EJA.

Dos atuais vinte trabalhadores da escola, quinze são funcionários efetivos do município de Santa Maria da Boa Vista e cinco têm contratos temporários. Com idades que variam de 22 a 50 anos, praticamente 90% dos funcionários deslocam-se de segunda a sexta da sede do município de Santa Maria da Boa Vista, a 45km do assentamento, em um coletivo cedido pelo poder público4.

4 Durante o período em que estivemos na escola, observamos que o serviço de transporte é um dos grandes problemas enfrentados pela instituição: o micro-ônibus que transporta professores e alunos de segunda a sexta-feira está em péssimas condições de funcionamento, causando grandes transtornos. Em dois dos dias que realizamos a pesquisa na escola, o transporte ficou impossibilitado de funcionar, prejudicando o andamento das atividades na escola: em uma noite, na volta à cidade, o coletivo atolou na estrada de barro e areia, deixando a mim e às professoras sem condições de retornar à cidade; em outra tarde, por conta do caso do atolamento, o micro-ônibus quebrou por falhas mecânicas e não pode buscar nem levar os funcionários para a escola.

Realizamos nossa pesquisa, durante o período de 30 de agosto de 2014 a 06 de setembro de 2014, com duas professoras de língua portuguesa atuantes na instituição. Inicialmente, eram dois os critérios de escolha dos sujeitos: ter participado de alguma formação docente realizada pelo Setor de Educação do MST e possuir algum vínculo com o movimento e seus princípios. Em conversa informal, para sondagem, com cada uma das professoras de português do ensino fundamental II da escola, percebemos, então, que nenhuma deles atendia, perfeitamente, aos critérios referentes à participação e ao vínculo com o movimento. Assim sendo, procuramos, ao escolher como sujeitos da pesquisa todo o corpo docente de português do ensino fundamental II da escola – formado pelas três sujeitas desta pesquisa –, perceber, em diferentes sujeitos e realidades, como se construía a aula de língua materna no universo específico de uma escola vinculada a um movimento social, mesmo quando o professor não se configura como um militante das causas do movimento.

Os sujeitos participantes desta pesquisa foram duas professoras, que compõem todo o corpo docente de língua portuguesa para o ensino fundamental II da escola. Com idades entre 30 e 40 anos, todas são formadas em Letras (com dupla licenciatura em Português e Inglês) pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco – CEVASF. A professora A leciona na Escola Catalunha há 8 anos, desde que se graduou; não cursou nenhum curso de pós-graduação na área, mas como também leciona aulas de inglês na mesma escola, pretende se dedicar um pouco mais ao ensino de língua estrangeira; nasceu e ainda mora na cidade de Santa Maria da Boa Vista. A professora B leciona na Escola Catalunha há pouco mais de 1 ano, mas já é graduada há 8 anos; foi transferida de uma escola de Belém do São Francisco para a escola do assentamento Catalunha; faz um curso de pós-graduação em ensino de língua portuguesa na mesma instituição em que se graduou; nasceu e morou durante muito em Belém de São Francisco, mas atualmente mora em Santa Maria da Boa Vista.