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2.3 O CAMPO DE PESQUISA NO BRASIL – CEFFA CEA REI ALBERTO

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EM NOVA FRIBURGO (BRASIL)

2.3 O CAMPO DE PESQUISA NO BRASIL – CEFFA CEA REI ALBERTO

A partir de Nicoulin (1981) e Jaccoud (1999) 39 podem-se estabelecer aspectos relevantes da história de Nova Friburgo e da localidade do estudo. O Município de Nova Friburgo teve sua ocupação iniciada em meados Século XVIII, no local da então denominada Fazenda do Morro Queimado. Com a vinda da Família Real para o Brasil, o Rei Dom João VI comprou a fazenda e deu início a um processo de colonização e povoamento por meio da imigração de suíços. Por conta disso, em 1819, chegou ao Brasil, a primeira leva de imigrantes não portugueses autorizados a entrar no país, estabelecendo-se no local que, em 1920, recebeu o status de Vila de Nova Friburgo40. Logo após a independência do Brasil, os suíços foram seguidos, em 1823, por imigrantes alemães. Posteriormente, no final do Século XIX e início do século XX, chegaram também imigrantes italianos, libaneses, austríacos e japoneses.

As famílias desses imigrantes suíços e alemães receberam lotes de terras, pelo sistema de doação vigente na época, para que desenvolvessem a atividade agrícola nas áreas da então Fazenda do Morro Queimado, destinadas a esse processo de ocupação. Porém, como afirmaram Jaccoud (1999) e Nicoulin (1981), muitas famílias receberam terras inóspitas a ocupação e migraram para outras regiões.

De acordo com Grisel (2013), alguns colonos, cujos lotes não eram viáveis e que não tinham condições de voltar para Europa, trocaram a pobreza de Nova Friburgo pela esperança nas terras aptas para o cultivo do café na região de Cantagalo, então pequena vila mais desenvolvida, ao Norte de Nova Friburgo. Outros conseguiram concessões e mudaram-se para o Leste em áreas do Quinto e Sétimo Distrito de Nova Friburgo. Porém, um número indeterminado de colonos suíços e alemães decidiu ir trabalhar como empregados em fazendas já estabelecidas, como a Fazenda March (futura Teresópolis) ou as Fazendas Mendes e a Fazenda Machado, na região do Terceiro Distrito de Nova Friburgo, onde hoje está localizado o CEFFA CEA Rei Alberto I, iniciando lento processo de substituição da mão de obra escrava. Assim, de 1800 a 1850, ocorreram dois movimentos migratórios importantes: de um lado, o lento avanço dos brasileiros de 1800 a 1819 (descendentes de portugueses), apropriando-se de largos espaços dados pelo governo e, do outro lado, o recuo do território de indígenas da serra. Entre 1819 e 1850, o primeiro movimento ampliou-se com a chegada dos colonos suíços e alemães.

Na área dessas grandes fazendas, em função das condições favoráveis, introduziu-se o cultivo de hortaliças (batata-inglesa, couve-flor, ervilha e alcachofra) e frutas (pêra, laranja, banana e pêssego), utilizando, então, principalmente, mão de obra escrava, para abastecer o mercado da cidade do Rio de Janeiro. A sobrevivência dos colonos recém-chegados dependia, então, da produção de alimentos para o autoconsumo e da venda eventual da força de trabalho para as grandes fazendas. Com a promulgação da Lei de Terras, votada em 1850, os colonos não podiam mais obter concessão gratuitamente. Em quase todas as fazendas estabeleceu-se o mesmo processo de remuneração da mão de obra: as famílias recebiam 50% do lucro líquido das glebas que trabalhavam. Foi assim que surgiram os primeiros meeiros em Nova Friburgo (GRISEL, 2013).

Desta forma, apesar das dificuldades, as famílias que se destinaram ao Terceiro Distrito de Nova Friburgo, encontraram as condições propícias para a implantação de um dinâmico processo de produção agrícola, que se manteve, evoluindo com poucas mudanças até aproximadamente os anos 1950 (NICOULIN, 1981 e JACCOUD, 2001). A partir de então, principalmente nos anos 1970, começou uma transição para as técnicas e inovações advindas da Revolução Verde. Assim, foram introduzidas as técnicas de preparo de solo com

39Ver também: Correa Filho (1947).

motomecanização, uso de sementes melhoradas, técnicas de irrigação, fertilização química e uso de agrotóxicos. Também ocorreram mudanças na infraestrutura, com a abertura de estradas para o escoamento da produção, favorecendo a transição para uma agricultura nos moldes que se tem hoje: produção de hortaliças com base no elevado aporte de agroquímicos e intensivo uso do solo (GRISEL e ASSIS, 2010; CEFFA CEA REI ALBERTO I, 2008 e 2010).

Com o crescimento das famílias e o processo de sucessão, as propriedades foram divididas a cada geração, determinando, atualmente, que algumas propriedades sejam tão pequenas que se restringem a casa, um caminho para chegada a porta e o restante do espaço tomado pelo cultivo de hortaliças. Também é característico destas localidades, em função da restrição de espaços adequados disponíveis para a produção agrícola, o uso intensivo das áreas com forte restrição ao pousio (CEFFA CEA REI ALBERTO I, 2010).

Atualmente, a região rural do Terceiro Distrito de Nova Friburgo é composta pelas comunidades de São Lourenço, Campestre, Baixada de Salinas, Três Picos, Santa Cruz, Jaborandi, Patrocínio, Salinas, Barracão dos Mendes, Fazenda Rio Grande, Florândia da Serra, Alto de Vieiras, Conquista, Prainha, Três Cachoeiras e Campo do Coelho, esta última como sede do distrito. Estas localidades, juntamente com outras vizinhas nos municípios de Sumidouro e Teresópolis, configuram hoje a principal região de produção de hortaliças do estado do Rio de Janeiro. As localidades de Nova Friburgo destacam-se na produção de couve flor e tomate, mas sendo também grande o volume de produção de alface, couve mineira, brócolos, beterraba, vagem, ervilha, morango, jiló, berinjela, salsa, dentre outras culturas.

Analisando as relações de trabalho e as características naturais e produtivas presentes na região, Grisel e Assis (2010) identificaram cinco diferentes sistemas de produção (Tabela 10). Isso permitiu verificar que os agricultores mantém, em torno de si, um conjunto de outras atividades que interagem e se complementam, mantendo uma relação de interdependência, como, por exemplo, atividades de prestação de serviços como o preparo de solo, transporte e (re)venda da produção agrícola.

Verifica-se ainda na região a forte presença de um mercado de venda de insumos agroquímicos e implementos agrícolas, amplamente utilizados nos diferentes sistemas de produção descritos por Grisel e Assis (2010), determinando que a região seja grande consumidora destes produtos.

Com o crescimento da população e mudanças no estilo de vida de algumas famílias, núcleos urbanos têm surgido e crescido nas últimas décadas. Com isso, atrelada à atividade agrícola, e interdependente desta, surgiram também atividades comerciais e de serviços: supermercados, postos de gasolina, padarias, dentistas, oficinas mecânicas, borracharias, serralherias, salões de beleza, marcenarias, etc. Da mesma forma, vem se observando a configuração de um grupo de pessoas que busca no turismo rural a diversificação da atividade agrícola, principalmente as famílias que estão no entorno do Parque Estadual dos Três Picos. Desta forma, vêm se integrando a atividade das famílias, pequenas pousadas, artesanato e serviços diversos para atendimento aos turistas (CEFFA CEA REI ALBERTO I, 2010).

Tabela 10: Classificação dos sistemas de produção no distrito de Campo do Coelho, Município de Nova Friburgo – RJ.

Sistema Produtivo

Relação de trabalho Características gerais SP1 Sistema semelhante às de um sistema

patronal, pois, apesar do uso de mão de obra familiar, há excedente de área que é utilizado com a contratação de mão de obra através de meiação.

Destacam-se o cultivo de couve flor, tomate e outras hortaliças com pouca diversificação, em geral nas áreas mais planas do relevo.

O proprietário da terra tem total controle das decisões relacionadas à atividade produtiva.

Os lucros são divididos entre o proprietário e o meeiro.

SP2 Sistema com uso de mão de obra familiar, mas sem a posse da terra que utilizada na forma de meiação.

Os cultivos e as áreas são semelhantes ao SP1, mas, neste caso, diferentemente, o meeiro é que controla as decisões que afetam a atividade produtiva.

Os lucros são divididos entre o meeiro e o proprietário.

SP3 Sistema com uso exclusivo da mão de obra familiar.

Em geral nas áreas de meia encosta do relevo.

Destacam-se também o cultivo de couve flor, tomate e outras hortaliças, mas com alta diversificação, incluindo cultivos para a subsistência da família.

SP4 Sistema com uso intensivo da mão de obra familiar e forte restrição de espaço.

Restringe-se a produção de mudas em estufa em áreas planas do relevo.

SP5 Sistema com predominância da mão de obra familiar.

Sistema de produção encontrado geralmente nas áreas mais íngremes do relevo, onde é desenvolvida a criação de gado leiteiro em pequena escala, para produção de queijo vendido em mercados locais.

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