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CAPÍTULO 3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 REVISÃO TEÓRICA

3.1.5 Campo do Poder

Bourdieu, em sua teoria, não reduziu o poder a ações isoladas de pessoas, mas procurou defini-lo na essência como força de ação nos elementos dos campos, particularmente do campo social, econômico e político, que com suas ações desencadeiam no espaço social o poder, que pode existir como forma de organização, ou então como mecanismo de dominação. Então, diferentemente de outros teóricos, Bourdieu não se contenta em reduzir o poder ao que chamamos de “autoritarismo”, ou dominação, mas amplia a percepção buscando nas entrelinhas dos três campos (político, social, econômico) a sofisticação do surgimento do poder, que nem sempre é

personalizado ou materializado, mas também é expressado de forma simbólica, fazendo “do poder simbólico, poder subordinado, uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de poder [...]” (BOURDIEU, 2002, p. 15).

Bourdieu fundamenta o poder no espaço social, o que obrigatoriamente leva- nos a buscar explicações sobre o poder na Teoria dos Campos, nas relações que se estabelecem dentro do espaço social, possibilitando ao poder adequar-se ao habitus existente nos campos, o que ao mesmo tempo dá uma identidade própria no exercício do poder a cada organização. Dificilmente encontraremos a mesma forma de exercer o poder em uma instituição religiosa e um partido político. O que pode acontecer é encontrarmos metodologias semelhantes, porém aplicadas de forma diferente.

Bourdieu, quando fala de poder simbólico, lembra que as pessoas vivem e convivem com o poder, e mesmo quem diz não ter poder, poderá utilizar-se desta tomada de posição para exercer o poder, que aparecerá na forma simbólica, na capacidade de gerar trocas, o que não significa que o poder é irreal ou que não exista.

3.1.5.1 Campo Social

No campo social as relações e as tomadas de posição são mais caracterizadas, pois aí é que os agentes se encontram e estabelecem grupos que na maioria das vezes independem das regras dos demais campos, pois no campo social encontramos desconstrução de formas de poder que existem nas diversas organizações do espaço social. Para Bourdieu o campo social é onde os agentes são reconhecidos como representantes dos diversos campos, mas ao mesmo tempo utilizam o campo social para neutralizar o poder simbólico adquirido no exercício de determinadas funções e cargos.

O campo social também concentra em si o capital social, que para Bourdieu é simbólico e colabora com as tomadas de posição. Ele descreve

o campo social como um espaço multidimensional de posições tal que qualquer posição atual pode ser definida em função de um sistema

multidimensional de coordenadas cujos valores correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes: os agentes distribuem-se assim nele, na primeira dimensão segundo o volume global do capital que possuem e, na segunda dimensão segundo a composição do seu capital – quer dizer segundo o peso relativo das diferentes espécies no conjunto das suas posses (BOURDIEU, 2002, p. 135).

Então, estar no campo social é garantir sua posição e mais ainda, tornar seguro que poderá exercer sua representatividade, ser reconhecido como tal, ou seja, identificado como agente que tem determinadas características e é “possuidor” de um capital simbólico que lhe garante em determinada posição, que mudará conforme a movimentação dos demais agentes do campo.

3.1.5.2 Campo Econômico

Se buscarmos em Bourdieu argumentos para justificar o poder econômico como algo meramente financeiro, ou monetário, não encontraremos, pois ele, ao invés de reduzir, amplia a compreensão do campo econômico, colocando-o em contato com os demais campos e grupos sociais, através das trocas. O espaço social se mantém em contato permanente com o campo econômico, seja através do poder de troca real ou virtual, através do poder financeiro, ou mesmo simbólico, permitindo assim que no campo econômico as trocas e o aumento de capital aconteçam permanentemente, não significando necessariamente compra ou venda, mas segundo Bourdieu,

podemos utilizar a economia das trocas simbólicas como analisador da economia da troca econômica, também podemos, inversamente, pedir à economia da troca econômica que sirva de analisador das trocas simbólicas (BOURDIEU, 1996, p.168).

A Teoria dos Campos busca compreender e responder às grandes questões presentes no mundo. Preocupa-se de maneira especial com a economia e as exclusões sociais que esta provoca, causando danos irreparáveis aos agentes e aos diversos campos.

As trocas simbólicas necessitam de uma “moeda” simbólica, que Bourdieu chama de capital simbólico, capaz de “movimentar” a economia, sem ao menos utilizar os bancos para isso. Lembra ainda que, numa perspectiva de futuro, podemos

supor que a teoria econômica [...], em vez de ser modelo fundador, deve antes ser pensada como um caso particular da teoria dos campos que se constrói pouco a pouco, de generalização em generalização e que, ao mesmo tempo permite compreender a fecundidade e os limites de validade de transferências (BOURDIEU, 2002, p.69).

3.1.5.3 Campo Político

Na Teoria dos Campos, Bourdieu integra o campo político ao campo econômico e ao campo social, formando assim o campo do poder. O campo político não pode ser confundido com a estrutura política de determinado partido político. O que Bourdieu propõe não é o isolamento deste campo em relação aos demais, ou seja, a auto-existência deste campo.

O campo político mantém uma forte influência na organização do espaço social, seja através dos agentes que o representam, seja através de sua organização, em especial o Estado (governos) que muitas vezes especializa-se na “utilização” do poder, pois

o Estado é resultado de um processo de concentração de diferentes tipos de capital, capital de força física ou de instrumentos de coerção (exército, polícia), capital econômico, capital cultural, ou melhor, de informação, capital simbólico, concentração que, enquanto tal, constitui o Estado como detentor de uma espécie de metacapital, com poder sobre os outros tipos de capital e sobre seus detentores ( BOURDIEU, 1996, p.99).

O campo político influencia diretamente todos os campos do espaço social, e conseqüentemente é influenciado pelos campos mais organizados, pois seus agentes são representantes dos mais variados campos e subcampos do espaço social, o que gera uma participação que pode ser apenas aparente, ou mesmo estruturada para manter a dominação e exclusão, capaz de desconstruir os diferentes habitus, ou mesmo de transformá-los em capital que represente unidade.