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Filantropia, Sinônimo de Compromisso Social e Político

CAPÍTULO 4 METODOLOGIA

1.1 OBRAS SOCIAIS MARISTAS E A LEI DA FILANTROPIA

1.1.3 Filantropia, Sinônimo de Compromisso Social e Político

O fato de o Estado não ter condições de executar todos os serviços públicos de que a sociedade necessita, obriga-o a contratar serviços de entidades, ou então, como no caso da Assistência Social, fazer parcerias, convênios ou concessões que

25 Conforme o Artigo 1º da lei 9.790, compreende-se o processo para uma entidade tornar-se

filantrópica: “Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta lei.”.

26 Num seminário sobre filantropia, realizado no município de Canela, no ano de 1998, a origem da

filantropia foi assim descrita: “Lei 3577, de 04 de julho de 1959. Isenta da taxa de contribuição de previdência aos institutos e caixas de Aposentadoria e Pensões as entidades de fins filantrópicos reconhecidas de utilidade pública, cujos membros não recebam remuneração”.

possibilitem a execução de serviços, por parte destas entidades, aos cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade social.

A filantropia é uma destas concessões feitas pelo governo para que entidades possam executar, fiscalizadas pelo Estado, ações de responsabilidade do próprio governo. Esta “troca” tem regras, no caso, um conjunto de leis, que regulamentam a participação nas diversas políticas públicas ligadas às ações das entidades. A participação social, imposta pelo governo, foi destacada “positivamente” pelos entrevistados: “Como disse, as evidências do mandato do Capítulo Geral e a nova lei da Filantropia não deixavam mais dúvida de que a Província devia dar uma

guinada na direção dos mais necessitados [...]”.27

Outro Irmão Marista, ao ser indagado sobre como é realizada a fiscalização da Filantropia por parte do Governo, reforça o posicionamento anterior fazendo um breve e saudoso relato, em que enfatiza a seriedade do trabalho realizado nas obras sociais:

Primeiro eu vou lhe contar o seguinte: Em 97 veio aquela comissão, quase 98, ficou quatro meses na USBEE analisando tudo o que é documento. E quis saber o que significava obra social. Bom, então disse: “Queremos ver as obras sociais de vocês”. Então me deram o nome de uma comunidade de irmãos, mas eu pedi desculpa e disse que não era responsável por comunidades dos irmãos. “Sim, então o que o senhor faz?”. Eu sou responsável pelas comunidades de ação social, de obra social junto a crianças e adolescentes, e não de uma comunidade dos Irmãos de escolas. Então convidei a comissão para visitar as duas obras já existentes: “Olha, aqui já temos duas obras, lá o CESMAR, e outra aberta que é o Artesanato Santa Isabel: Foi em 98, e já tínhamos mais seis ou sete pelo estado. “Mas como é que funciona?”, perguntaram. Disse: “Vamos buscar o carro e vamos lá ver”. Então fomos lá no CESMAR. Fui mostrando: “Olhem tudo isso aqui é uma obra social”. Ficaram olhando assim meio espantados: “E o que é?”. “Bom, vejam as crianças aqui, vejam a realidade”. Depois passamos com carro no meio da vila. E ai eles ficaram, meio sem jeito, porque realmente era uma resposta social que a Província estava dando28.

Optar pela filantropia é, em primeiro lugar, identificar-se com ações sociais, ou seja, prestar atendimentos que beneficiem os diferentes grupos sociais, sejam eles educacionais, de assistência social, ou de saúde. No momento em que as

27 Entrevistado C. 28 Entrevistado A.

entidades pedem seu certificado de filantropia (CEBAS)29, estão se comprometendo socialmente a executarem serviços que estão previstos em seus estatutos sociais e ao mesmo tempo caracterizam-se como serviços públicos, sem qualquer distinção de cidadãos, independentemente da natureza da obra que executa o atendimento.

Mesmo que as entidades filantrópicas não sejam religiosas, ou não busquem nenhuma certificação de “caridade”, são obrigadas por lei a executar serviços de atendimento gratuito para cidadãos que se encontram em situação de

vulnerabilidade social, sob pena de perderem o certificado de filantrópica30, o que

para algumas entidades seria condená-las à morte financeira, uma vez que dependem das isenções para se manterem.

Toda entidade filantrópica deve caracterizar-se pela defesa de direitos sociais do cidadão, que vão desde o direito à vida até à distribuição de alimentos. É uma espécie de “seguridade social”, em que o cidadão sente-se amparado pela entidade, protegido por ela. Por isto é característica destas entidades a presença

nas “lutas” sociais31 e o relacionamento permanente com os diversos campos do

espaço social, principalmente o do poder.

Uma das ações do Governo, na regularização da Lei da Filantropia, foi incumbir as entidades que atuam na defesa dos direitos a se envolverem com as políticas públicas através dos diversos conselhos que existem, seja da criança e adolescente, tutelar, de assistência social... Este modelo de participação levou as entidades a se organizar e exigir políticas públicas construídas a partir da base, da discussão dos mais diferentes grupos sociais que se fazem representar nos conselhos e que existem nos municípios, nos Estados e em nível federal. Esta também é a compreensão dos maristas que atuam junto às obras sociais: buscar as soluções através do campo político, das leis, da participação nas políticas públicas... Quando este Irmão é questionado sobre a importância da participação nas políticas públicas, ele prontamente responde que

29 A sigla CEBAS – Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social – é o nome dado ao

Certificado concedido pelo Conselho Nacional de Assistência Social às Entidades Filantrópicas (CNAS), conf. Resolução CNAS 177/00.

30 Esta afirmação está fundamentada no Decreto 2536/98, Art. 8º: O INSS, por solicitação do CNAS,

realizará diligência externa [...] com visitas à adequada instrução de [...] manutenção do Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos [...], o que vem sendo reestudado e poderá sofrer mudanças com um novo decreto, previsto para este ano de 2006.

31 Conforme “O tempo do... SUAS”. Publicação do Governo Federal, em referência à Política Nacional

de Assistência Social (PNAS). O texto encontra-se na íntegra no endereço eletrônico: www.desenvolvimentosocial.gov.br.

[...] sim, porque a lei está aí, muito bem feita, talvez melhor que as de origem européia, mas não respondem à nossa realidade. Temos que ter uma lei que primeiro responda a esta realidade, a este pouco que temos. E eu, falando com a promotoria, me disseram: olha, nós estamos sendo derrotados pela lei, porque nós queríamos ter creches diferentes, mais simples e mais populares [...]32.

O compromisso social das entidades filantrópicas e seu envolvimento com as políticas públicas vão além da obrigatoriedade, tornando-se espaço de organização, construção da rede de atendimento e garantia de direitos perante os órgãos governamentais. Buscar espaço e representatividade nos diversos organismos governamentais é também aumentar o poder simbólico, o capital, junto ao campo político. Com a participação nos momentos de mudança das políticas públicas, os direitos e benefícios são garantidos para os cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade. Nas obras sociais, a participação na elaboração das políticas públicas é fundamental, a fim de garantir os direitos dos cidadãos que estão em situação de vulnerabilidade.

1.1.4 Reestruturação da Província Marista e o Papel da Comissão de