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3 AS ESCOLAS E SUAS LOCALIDADES

3.4 O CAMPO DE SANTANA

O bairro Campo de Santana se localiza na região Sul de Curitiba, e têm seus limites com os bairros Umbará, Caximba e Tatuquara, e com os municípios de Araucária e Fazenda Rio Grande.

Segundo informações do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC), o Campo de Santana tem suas origens ligadas ao tropeirismo, assim como demais bairros da região Sul. Durante o século XVIII, tropas de gado vindas dos Campos Gerais passavam por Araucária e adentravam onde hoje são os bairros Caximba, Sítio Cercado, Umbará e Campo de Santana. O nome do bairro se deve justamente ao grande conjunto de propriedades que a família Santana possuía naquela região, por volta da segunda metade do século XIX (CURITIBA EM DADOS.2019).

A localidade ficou conhecida como Campos dos Santana, que mais tarde viria a inspirar o decreto de criação de bairros e tinha como referência em suas imediações, um povoado denominado Prensa, ligado por acessos diretos com Tatuquara e Umbará. O antigo Campo de Santana estava inserido no contexto de vida social da Paróquia de São Pedro em Umbará, juntamente com os demais núcleos de ocupação surgidos nas suas vizinhanças. A antiga Estrada do Tietê (Rua Delegado Bruno de Almeida) era um referencial marcante nessa

55 Ver anexo 22.

56 O Colégio Cônego Camargo, apesar de não ser uma escola da rede pública de educação, atendia

gratuitamente alunos da região do Bairro Alto (SOUZA, 2009), mantendo suas atividades até pelo menos o ano de 2009, sendo posteriormente vendido para uma instituição educacional privada.

localidade e fazia importante ligação de Curitiba com as regiões situadas além dos confrontantes limítrofes na sua porção sul (CURITIBA EM DADOS, 2019 não p.).

Segundo as informações do mesmo órgão governamental, apesar de ter importância na passagem das tropas, e de se caracterizar como uma região produtora de mercadorias agrícolas, o Campo de Santana não teve alteração de seu desenvolvimento até o início dos anos 2000, permanecendo uma localidade com pouco adensamento populacional. Contudo, a partir do início do século XXI, o crescimento demográfico que marcou todas as regiões da capital paranaense e, em especial, aquelas localizadas na região Sul da cidade, também trouxe transformações para o Campo de Santana.

Por décadas a região constituiu-se de um povoado com pequenas proporções em relação ao seu entorno, porém, no início dos anos 2000 uma nova composição de ocupação marcou a paisagem. O núcleo local, convivendo com hábitos rurais, enfrentou os impactos do adensamento populacional que, no decorrer dos anos, transformaram significativamente a sua porção oeste e determinaram um novo aspecto típico dessa nova feição (CURITIBA EM DADOS, 2019 não p.).

Apesar dessa característica de pouco desenvolvimento urbano até o início do século XXI, é interessante notar que a região do Campo de Santana não estava totalmente isolada das atividades econômicas da capital. Exemplo disso foi a existência de uma grande fazenda pertencente ao grupo de Supermercados Mercadorama, onde se produziam os hortifrutigranjeiros que a empresa fornecia em suas lojas nos bairros mais populosos de Curitiba. Essa propriedade se localizava onde atualmente é o loteamento Moradias Rio Bonito no Campo de Santana, um dos grandes núcleos populacionais que hoje compõe o bairro. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2011).

A região do Rio Bonito começou a ser ocupada por famílias de baixa renda a partir do ano de 2005. Tal realidade fez com que a COHAB iniciasse um projeto de loteamento e construção de moradias. Com 6,2 mil lotes, o Rio Bonito hoje tem residências em alvenaria, centro comercial, postos de saúde, escolas municipais e um colégio estadual, que integra o presente recorte (PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2011).

No ano de 2010, após um processo de negociações entre a Prefeitura de Curitiba e lideranças indígenas locais, foi inaugurada a primeira aldeia urbana do Sul do Brasil, na região do Campo de Santana, a aldeia Kakané-Porã.

[...] Ela fica no bairro de Campo de Santana, na Zona sul de Curitiba. O nome do local, “Kakané-Porã”, foi dado pelo indigenista Edívio Battistelli, e significa “fruto bom da terra”. Kakané-Porã é uma junção de uma palavra em caingangue e outra em guarani, em homenagem a duas das três etnias que habitarão a área. A terceira é a xetá, em extinção. [...] A aldeia abrigará cerca

de 150 pessoas, em 44 mil metros quadrados, sendo nove mil metros quadrados de bosque, área para cultivo e reflorestamento (REDE MOBILIZADORES, 2010).

O Bairro Campo de Santana integra a Regional Tatuquara em Curitiba, composta pelos bairros Caximba, Tatuquara e pelo próprio Campo de Santana. Segundo os dados do Censo de 2010, essa Regional possuía um total de 82.959 habitantes e, no comparativo com os dados do ano 2000, foi aquela que mais cresceu em termos populacionais relativos, com um aumento de 77,6%. Dentre os bairros da Regional Tatuquara, o Campo de Santana foi o bairro que apresentou maior acréscimo populacional relativo, passando de 7.335 habitantes, para 26.657 habitantes, ou seja, um aumento de mais de 250% no período. Ainda assim, o bairro Tatuquara é o que concentra maior número de habitantes naquela Regional, com 52.780 moradores, ou seja, 64% da população total. Em termos econômicos, o Campo de Santana fica em segundo lugar no ranking de estabelecimentos formais da Regional, com um total de 31,6% dos estabelecimentos, a maioria deles ligados a atividades comerciais57 (AGÊNCIA CURITIBA, 2017d).

A Regional Tatuquara é composta por bairros com recente ocupação populacional e, dentro desse processo, chamam a atenção dois dados sobre as realidades econômica e social da região: no ranking do número de estabelecimentos formais, assim como no do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares permanentes das regionais, a Regional do Tatuquara ocupa o último lugar entre as demais regionais de Curitiba (AGÊNCIA CURITIBA, 2017d). Isso significa que as atividades econômicas, e a renda da população que ali vive, ainda está em grande atraso em relação a outras partes da capital, demonstrando a desigualdade que marca a história entre os ditos bairros nobres e a periferia de Curitiba 58 .

Neste contexto, a inauguração do Colégio Estadual Nirlei Medeiros, que se localiza no Conjunto Habitacional Moradias Rio Bonito, é resultado da pressão ocasionada pelo expressivo aumento populacional da região na primeira década do século XXI.

3.4.1 – COLÉGIO ESTADUAL NIRLEI MEDEIROS

O Colégio Estadual Nirlei Medeiros foi inaugurado no ano de 2006, recebendo a autorização para o funcionamento do Ensino Fundamental de 6º a 9º ano, e do Ensino

57 Ver anexo 23.

Médio por meio da Resolução nº 3667/2006. Atualmente a denominação da escola é Colégio Estadual Nirlei Medeiros – Ensino Fundamental e Médio (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO, 2009d.).

Localizado na Rua Antônio Bertoldi, O Colégio Nirlei Medeiros está situado na região norte do Campo de Santana, integrando o Conjunto Habitacional Rio Bonito, loteamento construído num período recente na região59.

No ano de sua inauguração, em 2006, o Colégio Estadual Nirlei Medeiros tinha 1223 matrículas efetivadas nas modalidades do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. No ano de 2010, esse número foi para 2025 matrículas efetivadas nas modalidades do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e aulas de apoio. Em 2018, o número de matrículas efetivadas nas mesmas modalidades do ano de 2010 era de 2019 alunos (CONSULTA ESCOLAS, 2019m).

Segundo o Projeto Político Pedagógico da instituição, datado de 2010, a realidade social dos alunos que frequentam a escola é marcada pela forte presença das mulheres como responsáveis econômicas entre os estudantes mais jovens, sendo que essas mães possuem baixa escolaridade, e estão mais sujeitas aos problemas de desemprego. Entre os alunos do Ensino Médio, a presença dos homens integrando o núcleo familiar como responsáveis econômicos é maior, sujeitos que possuem maior escolaridade, e que são afetados por menores índices de desemprego. De forma geral, a comunidade discente é descrita como pertencente às classes populares, com parte considerável integrando grupos que vivem em preocupante risco social (COLÉGIO ESTADUAL NIRLEI MEDEIROS, 2010).

[...] Sendo a renda familiar composta no turno da tarde em sua grande maioria unicamente pelas mães. A maioria diz viver em média entre dois e três salários mínimos, isso principalmente, pela ajuda governamental como o “BOLSA ESCOLA”. Se levarmos em consideração o número de pessoas por residência, em média cinco pessoas, teremos índices preocupantes de famílias que dizem viver com menos de um salário mínimo, ou melhor, renda per capita menor que R$70,00 por pessoa, ou seja, abaixo da linha da pobreza, se juntarmos a isso, o número de pessoas que declaram viver com um salário mínimo (sobre a linha da pobreza) teremos mais de 30% da comunidade escolar em uma situação econômica de miséria (COLÉGIO ESTADUAL NIRLEI MEDEIROS, 2010. p. 18.).

Por outro lado, o processo de regularização das moradias, com a criação de grandes loteamentos executados pela COHAB, como é o caso das Moradias Rio Bonito, favoreceu a situação das famílias de menor renda que, uma vez assentadas em casas

quitadas, ou com valores acessíveis de financiamento, têm melhores condições de prover as necessidades básicas de seus membros (COLÉGIO ESTADUAL NIRLEI MEDEIROS, 2010).

As informações que conseguimos levantar sobre Nirlei Medeiros, pessoa que nomeia a instituição escolar estadual do Rio Bonito foram muito escassas, apenas indicando que se tratava de uma arquiteta, que ingressou na Universidade Federal do Paraná no ano de 1968. Não conseguimos qualquer outra informação sobre as ligações de Nirlei Medeiros com a comunidade do Campo de Santana, ou com projetos educacionais. Em contato com a escola, nos informaram que não possuem nenhum tipo de acervo sobre a homenageada, e que sabem por funcionários antigos e parentes que ela era arquiteta da FUNDEPAR (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional), e que morreu em consequência de um câncer.