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G

EMIDOS, BAIXOS E ALTOS, acordaram Gage, e levou um momento para descobrir que o barulho vinha de Brady.

― Não, ― ele gemeu.

O brilho fraco da luz da rua derramando pela janela pegou gotas de suor enquanto corriam pelas têmporas de Brady.

― Brady, está tudo bem.

Sem resposta, apenas mais uma exortação para quem estava mexendo com ele na Terra do Sonho para dar o fora.

Gage se virou para encará-lo totalmente e pousou a palma da mão no ombro bom de Brady. Sem nenhum aviso, e com a força de chicote de um raio, Brady disparou em linha reta, segurou a garganta de Gage e apertou. Seus olhos negros se abriram, sem ver, e quando Gage se retirou instintivamente, a mão de Brady apertou em reflexo. Ainda não é um aperto assassino, mas com certeza está chegando lá.

― O que você quer? ― ele estalou em uma voz que não soava como Brady. Ou vagamente humano.

― Sou eu Gage.

― Quem?

― Gage. Seu cara.

Piscando uma, duas vezes, Brady tirou a pata da garganta de Gage.

― Porra... eu... que porra você está fazendo aqui?

Gage resistiu ao desejo de esfregar a garganta onde Brady havia apertado. ― Você estava tendo um pesadelo.

Brady esfregou a mão no rosto, limpando a testa suada. Vários momentos tensos se passaram antes que ele falasse. ― Não era para eu adormecer.

Então isso confirmou. Brady ficava acordado sempre que Gage dormia. ― Quer falar sobre isso?

― Apenas merda estúpida.

― Tenho um PhD em merda estúpida.

Nada além de um silêncio contundente, o típico Modus Operandi de Brady de segurar cada palavra como se fosse uma joia preciosa. Gage respirou fundo. ― Você conversou com alguém sobre o que você passou? Conseguiu ajuda profissional?

― É padrão no interrogatório.

Então, seis anos atrás, quando ele foi arrastado para fora daquela masmorra no Afeganistão. Gage apostaria na fazenda que o teimoso de merda não estava recebendo nenhuma ajuda agora.

Ele se inclinou e acendeu a luz da mesinha de cabeceira. ― Eu sei que você não pega nenhum cochilo quando estou aqui. Você fica acordado a noite toda como se estivesse em guarda, mas esta noite você finalmente conseguiu adormecer porque está completamente fodido.

Brady ficou carrancudo. ― Eu não durmo porque há uma chance de machucar você. O que foi exatamente o que aconteceu. ― Ele pulou da cama, sua mão esfregando sua testa como se ele pudesse esfregar o horror do que aconteceu.

― Eu sou um bombeiro de aço, forte como a merda, construído para foder.

Você não vai me machucar.

― Eu quase estrangulei você!

Gage riu disso, embora ele estaria mentindo se o pensamento não o deixasse inquieto. ― Considere como preliminares.

Não era engraçado, se a expressão do rosto de Brady fosse alguma indicação. Agora ele estava diante de Gage, nu, cheio de cicatrizes, tatuado. Lindo. A fúria consigo mesmo irradiava dele em ondas.

Bem, Gage poderia ficar chateado também. ― Talvez você devesse ter me contado sobre o seu problema de sono para que pudéssemos resolver algo.

― Eu queria você aqui. Prefiro nunca mais dormir do que não ter você ao meu lado.

Deus, isso foi tão doce, mas doce não chegou a ser prático, não enquanto Brady estava sofrendo.

― Você pode falar comigo, Brady. Não sou tão egoísta quanto as pessoas pensam que sou.

Algo brilhou nos olhos de Brady. Algo quente e sabendo que dizia que não haveria necessidade de conversar, querido, porque não é isso que estamos fazendo aqui, é? e Gage ficou envergonhado com o calor em seu peito que significava alívio. Assim como quando ele descobriu que sua mãe havia retornado ao seu submundo sombrio. Ele ofereceu seu ombro, mas quando o impulso veio, ele não tinha certeza se era forte o suficiente para lidar com a verdade de Brady. Uma coisa era ouvir de segunda mão de Eli, ler algumas notícias distantes. Entrar na sujeira emocional com o cara apresentava todo um conjunto de complicações que Gage poderia dispensar agora.

Sexo ele poderia fazer. Intimidade não era realmente sua praia.

Brady pareceu sentir a hesitação de Gage. Ele estendeu a mão para ele e Gage foi como o covarde que era. Ele inclinou sua boca sobre a de Brady e foi bom, bom pra caralho, e se pudesse ser sempre assim, Gage teria arriscado um milhão de noites com a ameaça da mão de Brady em sua garganta.

Mas isso era um meio-termo, pegando o caminho mais fácil e enterrando a merda na caixa sanitária. Este era o cara que Gage amava, e Deus, como ele o amava.

Amar alguém significa que você se senta com essa pessoa, mesmo quando ela não lembra o quanto a magoou porque você nasceu da carne dela e isso tinha que significar alguma coisa. Amar alguém significa que você daria sua vida por seus irmãos adotivos e irmã chata, porque sangue não importa quando você foi escolhido para ser um Dempsey. E amar alguém significa que você luta pelo que ele precisa - pelo que vocês dois precisam - porque juntos vocês poderiam conquistar qualquer coisa.

Quebrando o beijo, ele suavizou Brady de volta e passou a mão sobre suas cicatrizes. Na têmpora e na lateral do rosto. Em seu torso cobrindo o lado direito de sua caixa torácica. Ele veio descansar sobre seu coração, onde as cicatrizes estavam escondidas, mas não menos prejudiciais.

― Como você conseguiu isso?

― Você conhece a essência. A história do nosso ilustre prefeito foi uma grande notícia há alguns anos.

― Essa é apenas a versão que faz Eli Cooper parecer bem.

Brady falou em uma voz baixa e perigosa. ― Não é como as outras marcas no meu corpo. Eu não escolhi isso.

― Não a torna menos significativa. De todas as marcas em sua pele, eu diria que essas são as mais importantes de todas. E agora quero ouvir sobre eles em suas próprias palavras.

B

RADY OLHOU FIXAMENTE PARA GAGE, desejando que ele recuasse. Para simplesmente deixar ir. Contanto que eles pudessem adorar os corpos um do outro à luz de velas tão lisonjeira, por que complicar as coisas? Mas esta versão forte de Gage não iria ceder à carranca de Brady.

― Isso foi um erro. ― Agarrando seu jeans, Brady enfiou uma perna em cada uma e arrastou-as com movimentos bruscos de não estamos falando sobre isso.

Gage vestiu a cueca e deu a volta na cama para ficar diante dele. ― Talvez o sexo fantástico tenha trazido à tona todas essas emoções para as quais você não está pronto, mas você vai ter que parar de ser um bebê de merda e lidar.

O cara não entendeu. Brady disparou, jeans ainda desabotoado, seu pau endurecendo com a adrenalina. Ele colocou o antebraço sobre o peito de Gage e o empurrou de volta para a cômoda, apenas para que ele ficasse claro sobre a força que só conseguia controlar quando estava acordado.

― Você não está ouvindo. Cinco minutos atrás, agarrei sua garganta e apertei porque pensei que você fosse me matar. Todas as noites, eu acordo, lutando contra eles, pensando que esta é a noite em que eu termino. Faço o que não fui capaz de fazer seis anos atrás.

Gage colocou a mão sobre o antebraço de Brady e o acariciou, como faria com um animal encurralado.

― O que você não pôde fazer?

― Colocar uma bala na cabeça dele.

Brady não tinha dúvidas de que Gage era mais corajoso do que qualquer pessoa que ele conhecia. Ele veio de uma família de bombeiros incríveis, uma irmandade de fogo que incutiu coragem e sacrifício. Todos os dias ele colocava

sua vida em risco para ajudar os outros. Dizer a este homem que admirava tanto como ele falhou e assistir seu respeito desaparecer mataria Brady. No entanto, era exatamente o que precisava acontecer.

― Não posso dormir com você na minha cama porque posso te machucar. Não posso te foder porque posso te machucar. Eu não posso... ― Ele acenou para o resto, mas a maneira como o rosto de Gage caiu disse que ele sabia como aquilo terminava.

Eu não posso te amar porque... eu sou um maldito maricas.

― O que aconteceu? Diga-me. Deixe-me ajudá-lo.

― Eu não o matei.

― Quem?

Brady se sentou na cama e passou a mão na boca. ― O líder. Ele era o pior, aquele com os eletrodos e o ácido e todas as maneiras de fazer você gritar como uma menina. Era o sexto dia e eles não estavam tirando nada de nós. Apenas nos cutucando por esporte. Eles iam nos matar em breve. Você podia sentir isso no ar. Naquele ponto, eu basicamente parecia um figurante em um filme de terror por tudo o que eles fizeram comigo. Ainda assim, pensei que teria força suficiente para terminar quando chegasse a hora. A adrenalina iria entrar em ação, sabe?

Gage balançou a cabeça em silêncio, seus olhos tão escuros que as pupilas absorveram todo aquele azul brilhante. Resistente, Dourado. Você queria ouvir isso.

― Eli descobriu uma fraqueza no dia anterior, um deles que deixou sua arma por aí. Aconteceu tão rápido que tive de rebobinar dez vezes em minha cabeça antes de perceber o que havia acontecido. Eli pegou a arma e seis segundos depois, ele acertou dois deles e deixou o líder incapacitado com um tiro no ombro. Oswald não tinha nada contra ele. Ele salvou nossas vidas, fez com que pudéssemos reservar imediatamente. Ele poderia ter matado o filho da puta principal, mas...

― Mas o quê?

― Ele o deixou para mim.

Brady não conseguia olhar para ele na próxima parte. O frio que agarrou o espaço ao redor de seu coração estava rastejando glacialmente em suas veias. Tão estranho quando tudo de que ele conseguia se lembrar era o calor do

deserto e o calor do sangue de Haynes enquanto bombeava litros pelos dedos de Brady.

― Eli colocou a arma na minha mão. Eu estava tremendo, mal conseguia ficar de pé, mal conseguia segurar. Ele me disse para fazer isso. O cara estava deitado lá, olhando para mim com todo esse ódio contra mim e América e Deus sabe o que, e a satisfação de tirar a foto... ― Ele forçou um suspiro. ― Eli tentou me dar isso porque ele sabia que eu estaria ferrado se não terminasse sozinho.

Gage ficou branco como giz. ― O que aconteceu?

― Eu não poderia fazer isso. Meus dedos travaram, mas talvez fosse meu cérebro. E então Haynes, meu sargento... ― Merda, merda, merda. ― Meu sargento Haynes chegou perto demais. O líder não estava tão fraco quanto pensávamos e ele tinha uma faca. Haynes deu um chute em sua cabeça, teve sua artéria femoral cortada. Aquele bacaca idiota. Tudo o que ele precisava fazer era ficar fora do alcance, deixar Brady lidar com isso. Deixar seu comandante terminar o trabalho. Praticamente livre em casa e uma hesitação de uma fração de segundo por parte de Brady elevou o desastre para os níveis de Alerta 1.

― Assim que aquela faca pousou na perna de Haynes, Eli agarrou a arma e fez o que eu deveria ter feito, bem no meio dos olhos. Haynes sangrou em três minutos. ― Seus gritos pararam depois de dois, mas continuaram na cabeça de Brady por seis anos. ― Eli carregou a mim e a outro cara para fora de lá.

Fodido Eli. Ele jogou Gage em seu caminho porque pensava que Brady só precisava transar para se curar. Bem, ele teve um ótimo sexo com um cara lindo e ele ainda estava tão confuso como sempre. Na verdade, ele estava pior, porque agora não tinha apenas ele mesmo com que se preocupar quando fechava os olhos. Ele tinha Gage.

Ele encontrou o olhar azul horrorizado de Gage. ― Em seis anos, eu nunca quis ninguém perto de mim até que conheci você. Naquela época, meu corpo era um traidor. Naquele deserto, ele estava fraco, se virou contra mim, e eu saí de lá com a sensação de que não podia confiar. Esse prazer que sinto com você, essa... necessidade que tenho de você, não posso confiar nisso. É um gatilho que vai desencadear o que está dentro de mim.

― Brady, não estamos falando sobre o Kraken aqui. ― Gage sorriu, mas desmoronou nas bordas e o esforço que ele estava colocando derreteu o coração de Brady. Inferno, ele realmente achava que isso era corrigível. ― É normal precisar de alguém, confiar em alguém.

― E quando eu acordo, pensando que estou sendo pressionado quando tudo o que você está fazendo é envolver um braço em volta do meu corpo e me puxar para perto?

― Eu vou dormir em plástico bolha. Nós podemos fazer isso.

― Gage, sou uma granada com o pino puxado. Eu vou te machucar. Talvez não nesta semana ou na próxima, mas eventualmente você vai acordar comigo sufocando ou socando você. Ou você pode nem acordar.

Uma sacudida veemente da cabeça de Gage foi sua resposta. ― Nós veremos um terapeuta. Juntos. Lidaremos com isso. Juntos.

Depois de tudo que ele acabou de dizer a ele, esse cara lindo ainda via as possibilidades. É hora de acabar com essa merda de conto de fadas.

― Estamos apenas transando, Gage. Mal isso.

O rosto de Gage desabou, simplesmente caiu sobre si mesmo. Cristo, era como chutar um cachorrinho.

― Eu posso aguentar muita coisa, Brady. Você não acreditaria no que posso suportar. Eu posso nos ajudar nisso...

― O que você saberia sobre suportar qualquer coisa, Gage? Você tem uma vida e uma família perfeitas e nada te incomoda. Você acha que tudo pode ser consertado com uma longa conversa e uma longa foda e o mundo sentimental feliz vai te amar de volta.

Aí está. Essa face de dor mudou para fúria. Bom. Já era hora de o deus dourado ficar puto com alguma coisa. Brady precisou de uma escavação profunda em suas reservas de idiota para fazer isso acontecer. Ele se preparou para Gage sair da reserva.

Mas como sempre, esse era o cara que se recusava a seguir o roteiro.

― Você está certo. ― Alcançando o chão, Gage agarrou seu jeans e camiseta, e os vestiu.

Espere um segundo; ele deveria estar mais louco do que uma vespa mamãe. ― Gage...

Ele ergueu a mão e cortou os olhos para os de Brady, mais nítidos do que nunca. ― Você está certo, Brady. Não posso apreciar o que você passou porque vivi uma vida verdadeiramente abençoada. Sim, era uma merda quando eu era criança, mas caí de pé com os Dempseys. E embora eu tenha perdido pessoas

de quem gosto, minha família estava lá para me ajudar. No final das contas, sou um filho da puta sortudo.

Ele pegou suas botas, afrouxando os cadarços. ― Eu amo ser bombeiro e dançar em bares com caras gostosos e sair com minha família e amigos. Não sou especialmente profundo, tenho uma opinião muito elevada de mim mesmo e não levo minha vida muito a sério. ― Seu olhar subiu para o corpo com cicatrizes de Brady e continuou até seu rosto devastado. ― Você sempre teve na cabeça que um cara como você não tem nada a oferecer a um cara como eu, mas na verdade é o contrário. Você nunca me viu como um namorado. Você nunca me considerou digno de compartilhar seus problemas. Eu sou apenas o cara do outdoor, o cara da fantasia que é bom para o curto prazo, mas Deus sabe que você não leva isso para casa para conhecer os pais.

Enquanto Gage calçava as botas, Brady buscou as palavras certas para suavizar isso. Voltar para a diversão e o flerte de antes. Como sempre, ele não tinha nada. As emoções gêmeas de humilhação e fracasso duelaram em seu peito.

E algo mais. O doloroso conhecimento de que Gage estava certo.

Gage se levantou e fisgou Brady com aquele olhar azul claro. ― Meu coração bate mais rápido quando estou com você, mas provavelmente são apenas hormônios hiperativos ou meu pau comandando o show. Eu poderia dizer que estou apaixonado, mas você diria que sou louco só de pensar nisso.

Ele fez um gesto desesperado com as mãos, como se não pudesse acreditar que tudo havia acabado.

Tinha acabado.

Batidas suaves no piso de madeira foram sua trilha sonora para a porta, e então houve um guincho quando Gage se virou rapidamente e olhou de volta. Aqueles olhos azuis brilharam e aquela boca milagrosa se contraiu antes de se mover suavemente sobre os lábios de Brady. Tão rápido que parecia que nunca tinha acontecido.

― Foda-se, vou dizer de qualquer maneira. Amo você, Brady Smith. Não faz sentido e não me faz sentir tão bem quanto deveria, mas eu te amo. Eu só queria que você pudesse acreditar nisso, em nós, do jeito que eu acredito. Digamos que você possa me machucar durante o sono ou que essas cicatrizes o deixem com pena ou que somos óleo e água, mas ambos sabemos que são apenas desculpas. A verdadeira razão é que você não acha que merece ser adorado, e se essa for a sua atitude, então você vai passar a vida se conformando com o segundo melhor. ― Seu sorriso, triste e bonito ao mesmo tempo, destroçou os

pulmões de Brady. ― Eu gostaria de dizer que foi divertido, mas não foi. Na verdade. Talvez a diversão seja superestimada. Talvez isso deva parecer confuso, cru e doloroso.

Ele caminhou até a porta, um pouco menos arrogante do que o normal, os cordões das botas desfeitos. Só de ver aquela vulnerabilidade, aquela sugestão de imperfeição, do deus dourado perfeito e perfeito cortou Brady ao meio.

Gage se virou, com a mão na maçaneta. ― Ei, quantas pessoas podem dizer que um grande chef deu o nome de um sanduíche? Não muitas, provavelmente. Cuide-se, Brady. ― E então ele se foi.

Brady levou dois dedos à boca, tentando segurar o calor do último beijo de Gage. Mas seus lábios já haviam esfriado. Ao contrário de um pesadelo, onde tudo o que ele precisava fazer era abrir os olhos para fazer as coisas ruins irem embora, não havia como escapar desse.

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