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2.1 - Promoção da Saúde

O movimento da promoção da saúde iniciou-se no Canadá, com a publicação, em 1974, do Informe Lalonde, que se expressou como o primeiro documento de motivação política a denominar a promoção da saúde, uma maneira de reduzir custos e conter os agravos das doenças crônicos degenerativas. Esta iniciativa, que foi de caráter inovador no cenário das políticas públicas de saúde, apresentava uma abordagem com foco nas mudanças de estilo de vida, com ênfase na ação individual e preventiva (HEIDEMANN, 2014) e posteriormente reforçado com o Relatório Epp - Alcançando Saúde Para Todos (1986) (BRASIL, 2002).

Estes dois acontecimentos estabeleceram as bases para importantes movimentos de convergência na conformação de um novo paradigma formalizado na Conferência de Alma-Ata (1978) com a proposta de Saúde Para Todos no Ano 2000 e a estratégia de Atenção Primária de Saúde, que alcançou destaque especial na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (1986), com a promulgação da Carta de Ottawa, e que vem se enriquecendo com a série de declarações internacionais periodicamente formuladas nas conferências realizadas sobre o tema (BRASIL, 2002).

A promoção da saúde é uma ferramenta importante para reduzir as desigualdades em saúde e das populações e capacitá-las para cumprimento do seu potencial de saúde e tem sua base a Carta de Otawa quando foram colocados seus cinco princípios da chamada nova promoção da saúde, entre eles, o desenvolvimento das habilidades pessoais, promover escolhas saudáveis e, criando ambientes suportivos (MENESES, 2015, p.133).

Desta forma, entre os cinco campos de ações propostas pela Carta de Ottawa, destaca-se desenvolvimento de habilidades pessoais, pois se pode trabalhar a autonomia do indivíduo, estimulando sua capacidade com um variado rol de estratégias de educação em saúde, dando ênfase em programas educativos voltados para os riscos comportamentais e hábitos passíveis de mudança. Essas tarefas podem ser realizadas nas escolas, domicílios, locais de trabalho e em outros espaços comunitários. As ações devem se realizar através de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias, bem como pelas instituições governamentais (SALCI et al, 2013, p. 226).

A promoção da saúde é um conceito amplo que vai em direção de um bem-estar global. Este conceito está associado a um conjunto de valores: vida, saúde,

38 solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e campos de ação conjunta. Refere-se também a uma combinação de ações de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes saudáveis, reforço da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais, e reorientação do sistema de saúde.

Para Czeresnia e Freitas, (2009, p.19) ao analisar o discurso vigente no campo da promoção da saúde, constata-se que:

Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, a promoção da saúde propõe a articulação de saberes técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seu enfrentamento e resolução (CZERESNIA; FREITAS, 2009, p.19).

A autora reforça que hoje em dia, decorridos mais de vinte anos da divulgação da Carta de Otawa, em 1986, um dos documentos fundadores do movimento atual da promoção da saúde, este termo está associado inicialmente a um “conjunto de valores”: vida, saúde, solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e parceria, entre outros. Refere-se também a uma “combinação de estratégias”: ações do Estado (políticas públicas saudáveis), da comunidade (reforço da ação comunitária), de indivíduos (desenvolvimento de habilidades pessoais), do sistema de saúde (reorientação do sistema de saúde) e de parcerias intersetoriais; isto é, trabalha com a idéia de “responsabilização múltipla”, seja pelos problemas, seja pelas soluções propostas para os mesmos (CZERESNIA; FREITAS, 2009, p.19).

De acordo com os autores Lefevre; Lefevre (2004, p.141) entre diversos aspectos abordados nos relatórios das conferências mundiais de Promoção de Saúde destacam-se: "oferecer oportunidades para que as pessoas conquistem a autonomia necessária para a tomada de decisão sobre aspectos que afetam suas vidas" e "capacitar as pessoas a conquistarem o controle sobre sua saúde e condições de vida”.

Autonomia significa que é o indivíduo que deve escolher, de forma esclarecida e livre, entre as alternativas que lhe são apresentadas. É ele que decide o que é o "bom" para si, de acordo com seus valores, expectativas, necessidades, prioridades e crenças pessoais. A pessoa autônoma deve ter liberdade de manifestar sua vontade, isto é, deve estar livre de coações internas ou externas de monta que a impeçam de exercer suas escolhas. A pessoa ainda deve ter capacidade para decidir de forma racional, optando entre as alternativas que lhe são apresentadas e compreender as consequências de suas escolhas.

39 O reconhecimento por parte do Ministério da saúde vem a partir das elaborações de ações educativas, como o Manual de Educação em Saúde e Autocuidado na Doença Falciforme, que visa à capacitação de profissionais de saúde da equipe multidisciplinar no âmbito da assistência a pessoas portadoras de doenças falciformes. Desse modo, esses profissionais podem fomentar e facilitar as ações de promoção em todos os níveis de atenção à saúde, reconhecendo que a promoção de saúde é fundamental para ser utilizada na atenção primária, capacitando os profissionais da saúde das diversas áreas.

Alguns autores da literatura têm discutido as questões de justiça e equidade em relação ao acesso a saúde dessa população específica que pela história de vulnerabilidade socioeconômica e exclusão social, necessitam serem ouvidos e incluídos nessas ações de saúde para completa responsabilização do Estado no que diz respeito à garantia a saúde. Essas ações devem trabalhar o empoderamento que passa pelo cognitivo, psicológico e social, promovendo uma abordagem interativa inspirada nas idéias de Paulo Freire, aplicadas na educação em saúde desde o início da década de 1990 (MENESES, 2015, p.133). O empoderamento possibilita aos indivíduos, de forma particular e coletiva, um aprendizado que os capacita a viverem todas as etapas de vida, lidando com restrições impostas pelas enfermidades eventuais (FONSECA et al, 2015, p.755).

Um conceito clássico define empoderamento como “um construto que liga forças e competências individuais, sistemas naturais de ajuda e comportamentos proativos com políticas e mudanças sociais”. Trata-se da constituição de organizações e comunidades responsáveis, mediante um processo no qual os indivíduos que as compõem obtêm controle sobre suas vidas e participam democraticamente no cotidiano de diferentes arranjos coletivos com competências para criticar seu ambiente (SALCI et al, 2013, p. 227).

Ainda de acordo com a autora, podemos utilizar o empoderamento como uma forma para fomentar a promoção da saúde, realizando uma educação em saúde com ações individuais e coletivas que nos traga resultados eficazes, evidenciando esse referencial como uma ferramenta que pode ser utilizada para a promoção da saúde. Portanto, tem-se a Promoção da Saúde como responsabilidade não exclusiva do setor saúde, mas cabe o envolvimento de uma combinação de setores, atores sociais, políticos, educacionais, econômicos e culturais (OHARA, SAITO, 2014, p.460).

Esse movimento deu origem ao capítulo da Saúde na Constituição Brasileira de 1988 que instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecendo a saúde como um direito de todos e um dever do Estado, resultante das condições de vida e trabalho. Pela

40 primeira vez se dá ênfase aos fatores determinantes e condicionantes da saúde (AGUIAR, 2015, p.43).

A promoção da saúde busca modificar condições de vida, para que sejam dignas e adequadas; aponta para a transformação dos processos individuais de tomada de decisão para que seja, predominantemente favoráveis à qualidade de vida e à saúde; e orienta-se ao conjunto de ações e decisões coletivas que possam favorecer a saúde e a melhoria das condições de bem-estar (Franco et al. apud Gutierrez et al., 1997). Já a prevenção, diferente da promoção, se orienta mais às ações de detecção, controle e enfraquecimento dos fatores de risco ou fatores causais de grupos de enfermidades ou de uma enfermidade específica; seu foco é a doença e os mecanismos para atacá-la mediante o impacto sobre os fatores mais íntimos que a geram ou precipitam (CZERESNIA; FREITAS, 2009).

Os autores acima conceituam promoção da saúde como:

O conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar o melhoramento de condições de bem-estar e acesso a bens e serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de estratégias que permitam à população um maior controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a nível individual e coletivo (CZERESNIA; FREITAS, 2009, p.37).

A Promoção de Saúde se veio para se configurar como um novo paradigma para a saúde e não como um mero modismo, deve romper com esta visão ou perspectiva tão solidamente arraigada, admitindo a idéia e assumindo suas conseqüências práticas, de que a doença não é uma fatalidade e que a saúde tampouco é uma resposta a ser permanentemente reproduzida a esta fatalidade (LEFEVRE; LEFEVRE, 2004).