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2.2 – Prática Educativa em Saúde e Educação em Saúde

O surgimento dos movimentos de educação popular na saúde está relacionado com a resistência ao regime militar nos anos 1970. Trabalhadores de saúde comprometidos com a transformação social deslocaram-se para periferias urbanas e áreas rurais para construir, com a população, práticas alternativas. As experiências objetivavam a emancipação das classes populares e vinculavam-se a movimentos progressistas, sobretudo da igreja católica (SEVALHO, 2017, p.05).

41 As práticas educativas em saúde podem ser aplicadas tanto nas ações destinadas à população, denominadas de educação em saúde, quanto naquelas voltadas para os trabalhadores de saúde, intituladas de educação na saúde (FALKENBERG et al, 2014, p.848). A educação em saúde possui perspectiva teórica orientada para a prática educativa e o trabalho social emancipatórios, almejando a promoção de autonomia, a formação da consciência crítica e a cidadania participativa (FEIO, OLIVEIRA, 2015, p. 705).

Coerentemente, no discurso institucional do Ministério da Saúde, a educação em saúde é explicitada como um processo de construção e de reconstrução do conhecimento, com o enfoque em ações que auxiliem na cidadania, na autonomia do cuidado de pessoas, grupos e comunidades, bem como no exercício do controle social. Para isto, as práticas educativas em saúde são preconizadas numa vertente dialógica, emancipadora, participativa, criativa e ancorada na subjetividade inerente aos seres humanos, aproximando-se do pensamento educacional freiriano (BRASIL, 2011).

Além disso, abarca o processo saúde-doença nas duas facetas dessa ação na saúde, se faz necessária para sua manutenção ou para evitar e/ou retardar a presença de doença, e a doença, torna-se essencial para trazer qualidade de vida à pessoa e/ou retardar as complicações do processo de adoecimento (SALCI, 2013, p.225).

Para Salci et al (2013) a concepção de educação em saúde está atrelada aos conceitos de educação e de saúde. Tradicionalmente é compreendida como transmissão de informações em saúde, com o uso de tecnologias mais avançadas ou não, cujas críticas têm evidenciado sua limitação para dar conta da complexidade envolvida no processo educativo. Concepções críticas e participativas têm conquistado espaços e compreendem a educação em saúde como desenvolvida para alcançar a saúde, sendo considerada como “um conjunto de práticas pedagógicas de caráter participativo e emancipatório, que perpassa vários campos de atuação e tem como objetivo sensibilizar, conscientizar e mobilizar para o enfrentamento de situações individuais e coletivas que interferem na qualidade de vida”.

A educação em saúde não pode ser reduzida apenas às atividades práticas que se reportam em transmitir informação em saúde. É considerada importante ferramenta da promoção em saúde, envolvendo os aspectos teóricos e filosóficos, os quais devem orientar a prática de todos os profissionais de saúde. (SALCI et al, 2013)

No caso da Doença Falciforme, a educação em saúde está preconizada pela portaria 1.391/05 através do parágrafo II, que garante a promoção do acesso à

42 informação aos portadores de DF, visando o fortalecimento desse público alvo (BRASIL, 2005; MORAES et al, 2017).

Além disso, um dos principais objetivos da educação em saúde é tornar o educando um ser mais autônomo, permitindo-o realizar escolhas que modificarão sua qualidade de vida. Para aumentar esse potencial, o que o educando necessita é de práticas efetivas por parte dos profissionais de saúde, apoiando-os em seu próprio cuidado (BELLATO et al, 2011).

A realização de atividades educativas proporciona uma maior aproximação da equipe multiprofissional de saúde à pessoa com DF, demonstrando ser esta uma boa ferramenta motivacional. É importante que a prática educacional seja realizada continuamente, independente dos recursos econômicos e humanos disponíveis, na intenção de formar laços de confiança para com os clientes (CARVALHO et al, 2015)

Portanto, educação em saúde pode ser conceituada como o somatório de todas as influências que determinam conhecimentos, crenças e comportamentos relacionados à promoção, manutenção e restabelecimento da saúde nos indivíduos e comunidades. Pressupõe que todos os indivíduos recebem educação em saúde de várias formas ao longo da vida seja na educação formal, nas escolas, seja na informal, com a família ou mesmo na comunidade (PEDROSO; BRITO, 2014, p. 37). O processo de desenvolvimento integral dos seres humanos necessita de mediações, ou seja, o aprendizado por si só não promove o desenvolvimento (DOS SANTOS et al, 2017, p. 181).

Franco, Silva e Daher (2011, p.21), afirmam que a prática da educação em saúde quando apoiada no modelo biomédico e no propósito de modificação de comportamento pela razão, não leva em consideração aspectos culturais, sociais e subjetivos que envolvem o processo de saúde-doença. Dessa forma, reproduz o modelo de educação em saúde que apenas fornece informações sobre determinados assuntos, sem compreender como o sujeito cuida si mesmo. Portanto, apresenta-se como não suficiente na promoção da discussão, reflexão e construção do conhecimento em saúde.

Destas iniciativas, influenciado pelo ideário de Paulo Freire, desenvolveu-se o campo da Educação Popular em Saúde no Brasil, no entanto, sempre marginalmente à sombra da Educação em Saúde tradicional. A prevalência de idéias e práticas autoritárias e conservadoras, subordinadas à cientificidade biomédica no contexto de programas verticais dirigidos para doenças específicas, é revelada por investigações de campo no âmbito do SUS (OLIVEIRA, 2014).

43 Sevalho (2017), admite que a Educação em Saúde no Brasil é dominada por perspectivas unidirecionais, centradas na transmissão de informação; e procede, portanto, sua exclamação de que “mesmo no Brasil, a pátria de Paulo Freire, esse importante filósofo e metodólogo da educação, modelos limitados e limitantes de educação preventiva foram amplamente importados e utilizados”.

Nesse contexto, o ambiente educacional é imprescindível para a promoção da saúde, pois possibilita que os indivíduos e grupos sociais ampliem seus conhecimentos a respeito dos determinantes e condicionantes de vida e podendo assumir o controle sobre eles com uma decisão crítica e reflexiva (LUQUEZ, 2017, p.30).

Embora a educação em saúde seja um dos instrumentos da promoção da saúde, tal prática tem sido pouco difundida no sistema de saúde, destacando-se a necessidade dos profissionais dessa área receber educação permanente que abranjam novas possibilidades metodológicas de atuação (SALCI, 2013).

Cabe ressaltar que a importância da promoção da saúde é inegável e tem sido reconhecida através dos tempos por diferentes autores como fator imprescindível para a melhoria da qualidade de vida. A Educação em Saúde tangencia o trabalho, mas não é o foco, e sim a promoção da saúde. Essas discussões teórico-prática-política são interligadas, dialogando a todo tempo (LUQUEZ, 2017, p.30).

Destaca-se que a prática de muitos enfermeiros ainda encontra-se focada na doença e que a educação em saúde, como um instrumento de promoção da saúde, vem sendo realizada com a utilização de abordagens educativas tradicionais, em que a cultura e o saber popular não são levados em conta.

Nesse sentido, é imprescindível desenvolver um processo educativo que parta do reconhecimento dessa realidade cultural, possibilitando que elas próprias construam um novo conhecimento. Isso requer uma concepção pedagógica onde o diálogo e o respeito pelo outro seja o referencial de atuação dos profissionais da saúde (SALCI, 2013, p. 229).