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2.3 Doenças Crônicas não-transmissíveis e a Doença Falciforme

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são doenças multifatoriais que se desenvolvem no decorrer da vida e são de longa duração. Atualmente, elas são consideradas um sério problema de saúde pública, e já eram responsáveis por 63% das mortes no mundo, em 2008, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (BRASIL, 2011).

44 Seguindo essa tendência mundial, no Brasil, em 2013, as DCNT foram à causa de aproximadamente 72,6% das mortes (SIM – DATASUS, 2015). Isso configura uma mudança nas cargas de doenças, e se apresenta como um novo desafio para os gestores de saúde. Ainda mais pelo forte impacto das DCNT na morbimortalidade e na qualidade de vida dos indivíduos afetados, a maior possibilidade de morte prematura e os efeitos econômicos adversos para as famílias, comunidades e sociedade em geral (BRASIL, 2011).

Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Reunião de Alto Nível sobre DCNT, com a presença dos Chefes de Estado sobre o tema em comento. A reunião resultou em uma declaração, na qual os países-membros comprometeram-se a trabalhar para deter o crescimento desse grupo de doenças, e a OMS a elaborar um conjunto de metas e indicadores para monitorar o alcance desses objetivos (MALTA, 2013). Nesse mesmo ano, foi lançado o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, 2011-2022, que tem como objetivo promover o desenvolvimento e a implantação de políticas públicas efetivas, integradas, sustentáveis e baseadas em evidências para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco, incluindo o fortalecimento dos serviços de saúde. As estratégias e ações propostas estão estruturadas em três eixos: vigilância, informação, avaliação e monitoramento; promoção da saúde; e cuidado integral (BRASIL, 2011).

Esse Plano de Ações Estratégicas criado pelo Ministério da Saúde é de suma importância para práticas em pessoas com AF, pois suas ações nos serviços de saúde podem melhorar a qualidade de vida e diminuir a mortalidade por parte da doença.

Para Silva (2013, p.438), a anemia falciforme é tida como um problema de saúde pública relevante devido a sua morbimortalidade e se configurar como uma condição crônica, termo apresentado pela Organização Mundial da Saúde para designar doenças de longa duração e que exigem cuidados continuados e prolongados. Características próprias dos agravos que se apresentam como condições crônicas precisam ser consideradas, dada sua alarmante ascensão em nível mundial e seu decorrente impacto econômico.

A autora reforça dizendo que vivenciar o adoecimento crônico é:

“Viver alicerçado por um sentimento de ambiguidade em que se tem a sensação do limite e da terminalidade, sendo esta tensionada com um querer viver e a necessidade de se aproveitar o aqui e agora. Mas, ao conviver com a condição crônica, há que se desenvolver a capacidade de lidar com os desafios que ela impõe, “buscando não

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restringir os modos de andar a vida às limitações” (SILVA, 2013, p.438).

Desse modo, a doença falciforme pode ser considerada como uma situação crônica negligenciada, pois o diagnóstico muitas vezes é tardio, sendo comum, no cotidiano destas pessoas, atendimentos em serviços de emergência e frequentes internações que se constituem em momentos de desequilíbrio e de dificuldades. Além disso, o contexto dos serviços de saúde como espaço de manutenção e legitimação das desigualdades sociais e raciais permite que sejam criados mecanismos para práticas de discriminação racial por meio de atitudes negativas, como conversas depreciativas e tratamento injusto ou humilhante (CORDEIRO; FERREIRA, 2009; FIGUEIRÓ; RIBEIRO, 2017, p.90).

O preconceito e a discriminação racial têm sido objeto de análise pelos cientistas sociais no Brasil, especialmente para pensar o impacto que estes fenômenos produzem na dinâmica das relações sociais e de desvendar e revelar a discriminação, racismo e outros processos que produzem a exclusão social. Com relação ao campo da saúde, os estudos são mais recentes e, sobretudo, mais difíceis de serem realizados, devido à dificuldade em evidenciar nas suas minúcias o intrincado campo das relações sociais entre usuários, profissionais de saúde e serviços de atendimento (CORDEIRO; FERREIRA, 2009; FIGUEIRÓ; RIBEIRO, 2017).

Por se tratar de uma doença crônica, o tratamento é feito ao longo da vida e, para que seja bem sucedido, os familiares, desde o diagnóstico, devem aprender sobre os sinais das complicações e como agir corretamente nas diferentes intercorrências, pois indivíduos que não possuem adequado suporte social, econômico e familiar tendem a apresentar mais problemas decorrentes da doença e das dificuldades de se ajustar a ela (AMARAL et al, 2015).

Assim como em outras doenças crônicas, aspectos psicossociais afetam a adaptação emocional, social e acadêmica dos pacientes com DF durante toda a sua vida. Ansiedade, depressão, comportamento agressivo e medo, relacionados à natureza crônica e fatal da doença, são manifestações frequentes e se intensificam frente às repetidas crises de dor e internações (FELIX; SOUZA; RIBEIRO, 2010, p. 204).

A cronicidade da doença é caracterizada pela incerteza do futuro. Isso porque, embora as pessoas tenham períodos de estabilidade, elas necessitam estar sempre alerta e adotam mudanças nos hábitos alimentares, como medidas de autocuidado. As estratégias de autocuidado, que são desenvolvidas com a experiência, estão mergulhadas

46 na prática cotidiana e tem como sentido manter a vida o mais próxima possível da normalidade (CORDEIRO, 2014).

De acordo com Amaral, et al (2015), percebe-se a importância de se ampliar o conhecimento sobre os aspectos de saúde, socioeconômicos e demográficos, que envolvem a pessoa com doença falciforme, pois os impactos que ela traz para a vida do enfermo são inúmeros, aliados a limitações diversas. A compreensão dessas limitações permite identificar problemas e delinear ações adequadas de intervenção, para modificar variáveis que interferem negativamente no bem-estar e na qualidade de vida dessas pessoas. Tal conhecimento pode subsidiar o profissional de enfermagem em ações educativas mais específicas de promoção da saúde e prevenção de agravos da pessoa com DF.