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Fluxograma 1 Resultados do PROMETRÓPOLE

5 PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO NA

5.3 Um passeio pelas instâncias: União, Estado e Município e a situação

5.3.2 Urbanização Unidade de Esgotamento Sanitário-23 Campo Grande

5.3.2.1 Capilé e Saramandaia: um enfoque de campo

Como parte integrante da investigação, a visita de campo no território foi imprescindível para possibilitar a apreensão da realidade cotidiana da população habitante das áreas. No caso da UE-23, especificamente as localidades de Saramandaia e Capilé, foi possível compreender como a fragmentação da ação, decorrente do alongamento da execução, trouxe impactos negativos para as condições vida da população local. Negado o direito de morar e a moradia, a população passa a ocupar áreas diversas dos territórios, criando conflitos na ordem social e política, haja vista as constantes promessas realizadas na área.

Nessa ótica, a pertinência das reflexões de Harvey (2015, p. 205) é aqui retomada, no sentido de problematizar que tipo de cidade e ações cabem aos moradores decidir; segundo o autor, “Nós, o povo, não tempos o direito de escolher o tipo de cidade que vamos habitar”. Mesmo tratando da realidade norte-americana, a assertiva posta encaminha nossos olhares para a realidade aqui tratada. Com isso, a liberdade de escolhas e opções é mediada pelo dinheiro, pois quem o detém, lembra Harvey (2015, p. 205), “[...] dispõe de liberdade para escolher entre mercadorias suntuosas [...] mas aos cidadãos como um todo é negada toda escolha de sistema político, de formas de relacionamento social ou de meios de produção, de consumo e de troca”.

Se pensarmos nessa relação entre liberdade de escolhas e as cidades, situando o caso do Recife, podemos indagar, por exemplo, como o planejamento urbano é processado na cidade? Como a população participa das decisões do Estado? Ou mesmo, como são construídas as metodologias de participação popular, no processo de execução de intervenções de impacto?

Trilhando essas indagações, de forma crítica, teremos subsídios para analisar a relação e o diálogo que se constrói entre poder público e população local, que no território da UE-23 muitas vezes é marcado por conflitos de interesse, como apontaremos abaixo.

Imagem 21 - Unidade construída pelo PROMETRÓPOLE com modificação na estrutura original

Fonte: Gondim (2018)

Imagem 22 - Campo de futebol na área de Saramandaia com habitações construídas pelo PROMETRÓPOLE ao fundo

Fonte: Gondim (2018)

Como momento inicial da visita, pudemos observar as transformações do espaço ao longo dos anos. A área de Saramandaia, como analisada no capítulo III, foi uma das localidades selecionadas com piloto para a execução das obras do PROMETRÓPOLE. Lá

encontramos, além das habitações construídas pelo programa (imagem 21), equipamentos sociais, como escolas, posto de saúde e áreas de lazer: praças e campo de futebol (imagem 22).

Imagem 23 - Início do terreno ocupado para a construção das Unidades Habitacionais

Gondim (2018)

A visita foi acompanhada por um morador da localidade e por um dos representantes do Fórum do Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social (PREZEIS), que apontaram as mudanças ocorridas nas estruturas originais das moradias na área (imagem 23), com a construção de garagens, “puxadinhos” e abertura de lojas e quitandas, o que gerava, por vezes, conflitos entre os moradores. A área onde se encontram as unidades habitacionais do PROMETRÓPOLE é ampla e dotada de serviços básicos, como esgotamento sanitário, pavimentação e abastecimento de água.

Além das habitações oriundas do PROMETRÓPOLE, nas proximidades de Saramandaia, também é possível encontrar habitações construídas pelo Estado e entregues no ano de 2011 - o habitacional Palha de Arroz. No entorno dessas novas moradias, observamos, além de uma fração do Canal do Arruda, uma aglomeração de casas oriundas da ocupação do terreno que seria destinado à construção das 132 unidades habitacionais (imagem 24), pelo governo do Estado, por meio do PAC (Urbanização da UE-23). Não tivemos acesso ao

território por questões externas, mas pudemos perceber que a estruturação das ocupações assume uma tipologia predominante de casas de alvenaria, bem diferentes de outras áreas das margens do rio Beberibe, como é o caso do V8 e V9, em Olinda, onde as habitações do tipo palafitas ainda são presentes.

Imagem 24 - Final do terreno ocupado para a construção das Unidades Habitacionais

Fonte: Gondim (2018)

Durante a visita de campo, em conversa com moradores, ouvimos relatos apontando que as obras do governo do estado na área estão paradas, marcando ainda que a única intervenção concluída nos últimos anos foi a demarcação da área de construção dos habitacionais e a construção de algumas estruturas (bases). No entanto, não foi possível observar, uma vez que o adensamento da ocupação é bastante expressivo.

Conforme um dos representantes do PREZEIS, a ocupação do espaço já existe há mais de um ano, e por ser uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), não é passível de reintegrações truculentas, nem mesmo de desapropriações aleatórias. As maiores reivindicações da população, sem dúvida, são a permanência da população no lugar, tendo em vista que muitas famílias já investiram na construção e melhoramento das habitações –

processo de autoconstrução -, e outras, reivindicam uma contrapartida do Estado para que possam deixar a área.

Nesse caso, o poder público utiliza-se de uma retórica inflexível que denota a ausência de diálogo direto com a população, estabelecendo uma relação verticalizada nas arenas de decisão. A proposta apresentada à população, segundo os moradores, é unicamente a remoção das famílias, que é justificada pela possível retomada das obras. Porém, ao cruzarmos os dados obtidos, observamos uma inconsistência entre o discurso e a prática. A obra na UE-23, que já está listada desde o ano de 2007 como intervenção do PAC, além de aparecer como obra paralisada nas próprias Notas Técnicas da Secretaria de Habitação do Estado - sem previsão de retorno -, também é listada no Ministério do Planejamento como uma obra paralisada, sem previsão de retomo no ano de 2019 (BRASIL, 2018). Ou seja, não existem prognósticos para a retomada das ações nas áreas, sobretudo da construção das unidades habitacionais.

No caminho para a comunidade de Capilé, também unidade de intervenção do extinto PROMETRÓPOLE, observamos a descontinuidade das obras de pavimentação; muitas ruas em chão batido, além de vários buracos e vias sem escoamento das águas, indicando a ausência de drenagem (imagem 25). Segundo os moradores, no período de chuva, as casas são inundadas, agravando, portanto, a situação local, já muito precária.

Na conversa com os moradores, verificamos que muitos estão recebendo auxílio- moradia, e outros já receberam do Governo do Estado uma espécie de ata prioritária para o acesso às “futuras” unidades habitacionais, mas continuam na insegurança e expectativa em relação à execução das obras de melhorias urbanas e das unidades habitacionais.

Na área, também existem habitacionais construídos pelo PROMETRÓPOLE, assim como apresentam características muito semelhantes aos habitacionais de Saramandaia quanto às modificações estruturais (imagem 26), embora com formas mais discretas. Em relação às mudanças, por exemplo, a presença de “puxadinhos” e ampliações para a construção de garagens não é muito comum, diferentemente de Saramandaia. Já a ampliação de muros e modificação das faixadas, com a colocação de cerâmicas e grades maiores, são características do local.

Um habitacional, o H-12, conhecido como Conjunto Habitacional Deputado Estadual Guilherme Uchoa, também estava em processo de construção no local (Imagem 27 e 28) no período da visita. Esse conjunto faz parte do escopo de intervenções do PAC Beberibe, mas não foi integrado à Urbanização da UE-23. O conjunto foi entregue em dezembro de 2018,

beneficiando 36 famílias, que receberam as moradias, tipo casa, divididas em quatro blocos. Os novos moradores residiam nas margens dos rios Beberibe e Morno.

Imagem 25 - Rua sem asfalto na área da UE-23

Fonte: Gondim (2018)

Imagem 26 - Modificações na estrutura original das habitações em Capilé

Imagem 27 - Canteiro de obras do Habitacional Deputado Guilherme Uchoa

Fonte: Gondim (2018)

Imagem 28 - Frente do Habitacional em construção

Fonte: Gondim (2018)

Na sequência do caminho, observamos o adensamento das casas (imagem 29), muitas delas, incluídas no programa de melhorias habitacionais, financiadas pelo governo do estado. Muitos moradores denunciavam que algumas das obras de requalificação das moradias não foram feita de forma correta, posto que algumas casas encontram-se rachadas, indicativo da baixa qualidade das habitações destinadas à população pobre; e outras que,

mesmo tendo sido atendidas pelas obras de requalificação, apontaram que não existiram ações integradas de pavimentação e drenagem das ruas.

Ao final da visita, caminhamos pelas margens de um pequeno canal em frente à Escola Municipal Jandira Botêlho, a principal escola do bairro, que atende às populações de Saramandaia e Capilé.

Imagem 29 - Casas em Capilé que tiveram intervenções de melhorias habitacionais124

Fonte: Gondim (2018)

Em síntese, na visita, constatamos que entre o dito e o feito existe uma fenda. A situação da população das áreas da UE-23 (Saramandaia e Capilé), embora não se equipare, em alguns casos, com a de outras áreas do Beberibe, como citamos, merece ser destacada para que as providências, por parte dos entes públicos, responsáveis pelas ações, sejam retomadas e efetivadas. A questão orçamentária ou a ocupação do terreno dos habitacionais não devem pautar as respostas finais do Estado diante dos problemas latentes na área.

5.3.3 Urbanização - Bacia do Beberibe - Unidades de Esgotamento Sanitário-03, 04, 08, 17,