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APÊNDICE J − REALIZAÇÕES DO VOCÁBULO ‘LUZ’ (QFF009)

2 NAS TRILHAS DAS CAPITAIS BRASILEIRAS: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DAS LOCALIDADES ESTUDADAS

2.4 AS CAPITAIS DA REGIÃO CENTRO-OESTE

Figura 6 – Estados e capitais da região Centro-Oeste do Brasil

O Centro-Oeste brasileiro é caracterizado pela presença de apenas três Estados e suas respectivas capitais: Mato Grosso (Cuiabá), Mato Grosso do Sul (Campo Grande) e Goiás (Goiânia). Há, também, o Distrito Federal e a sua capital e capital do país, Brasília. Porém essa última cidade, por razões já explicitadas, não compõe a rede de pontos do Projeto ALiB e, portanto, não é contemplada nesta investigação.

A região Centro-Oeste ocupa uma área de 1.606.371.505 km², sendo, com apenas três Unidades Federativas, a segunda em extensão territorial. Comparando-se os dados do Censo do ano 2000 com informações referentes ao fim do século XIX, a sua população praticamente triplicou, passando de 2,1% do total nacional a 6,8%. Todavia ainda continua a ser uma daquelas com menor contingente populacional. Seu IDH de 0,815 é considerado elevado e sua taxa de urbanização, de 88,4%, é a segunda maior dentre as grandes regiões brasileiras.

As referidas áreas foram, de modo geral, alcançadas, em fins do século XVII e início do século XVIII, pela empreitada colonial brasileira, por ação dos missionários e bandeirantes.

O espaço do que se considera hoje como o Estado de Mato Grosso foi alcançado por volta de 1719, formando-se, a partir de então, pequenos arraiais. A busca pelo ouro é responsável por atrair levas de indivíduos para a região, formando-se, desde então, agregados de homens negros, brancos e mestiços, pertencentes a províncias como São Vicente, Bahia e Pernambuco, que se deslocavam para esse espaço, penetrando-o, em função da atividade exploratória. A história do que veio a ser, em 1748, a Capitania de Mato Grosso e Cuiabá, é, inicialmente, marcada pelo extermínio dos homens que buscavam as minas e pela instabilidade decorrente do aparecimento e sumiço rápido dos arraiais, consoante sintetiza Diégues Jr. (1960):

[...] o próprio bandeirismo saído do Cuiabá que dissemina a ocupação do Mato Grosso. Não foi, é claro, uma ocupação permanente e progressiva, como se verificara nas Minas Gerais. Ao contrário: devassou-se o território, fincaram-se os esteios do povoamento, disseminaram-se os arraiais, mas a população não cresceu senão nos ímpetos dos achados iniciais. De qualquer forma, a população espraiou-se, cobriu o território, pontilhou de arraiais o que seria depois a Capitania, a Província e hoje o Estado de Mato Grosso. A decadência da mineração foi tão rápida como havia sido o encontro dos veios auríferos, e, com êste, o surto de uma riqueza que logo se mostrou transitória. (DIÉGUES JR., 1960, p. 277)

A capital Cuiabá, portanto, tem os movimentos em prol da sua formação delineados desde esses momentos iniciais. Muito embora a sua importância nesse quadro, é elevada ao posto de capital apenas em 1825 e teve o seu desenvolvimento retardado em decorrência de agitações políticas internas e de seu afastamento do centro político-econômico do país.

Concentra, no presente, sua atenção no comércio e na agroindústria, além do turismo, que é feito em torno, sobretudo, dos patrimônios históricos e das riquezas naturais. Sua população de 551.098 pessoas, dispersas em uma área de 3.495,424, garante à cidade uma das menores densidades demográficas (aproximadamente 158 habitantes por quilômetro quadrado) dentre as capitais. Configura-se como uma área em desenvolvimento, alcançando IDH de 0,785.

O atual Estado de Mato Grosso do Sul e a sua capital Campo Grande têm as suas histórias sociais ligadas ao Mato Grosso, uma vez que constituíram uma só unidade federativa até 1977. A formação da cidade de Campo Grande é datada da segunda metade do século XIX (1872) e o seu contato já no início do século XX com outras áreas, em decorrência da chegada do primeiro trem, em 1914, é responsável pelo seu progresso e pela reivindicação de sua autonomia, iniciada em 1916. Percebe-se, assim, que, diferentemente de Cuiabá, essa capital já surge na conjuntura brasileira com “ares” de centro urbano.

Mais recentemente, tem como atividade fundamental o comércio, além da construção civil. Apresentava, em 2010, população de 786.797 habitantes e, assim como Cuiabá, baixa densidade demográfica (cerca de 97 pessoas por quilômetro quadrado). Seu IDH é de 0,784.

No que toca ao espaço de Goiás, sabe-se que foi alcançado em fins do século XVII, datando os registros mais confiáveis do ano de 1672, tendo vivenciado o processo extrativista desenvolvido no Mato Grosso. O surgimento da capital Goiânia, entretanto, é bastante posterior, correlacionando-se com a necessidade de situar o centro econômico e social de Goiás em uma área que atendesse a todos os municípios goianos. Estabeleceu-se, assim, em 1932, uma comissão com vistas a estabelecer o local de fundação da nova capital. Goiânia surgiu, oficialmente, em 1935.

O processo de urbanização de Goiânia foi iniciado logo nos primeiros anos do século XX, com a construção de prédios públicos. Na década de 1960, já contava com grande contingente populacional, sendo essa época crucial para a sua consolidação como uma das metrópoles brasileiras, pois, nesse momento, surgiram novos bairros, fundaram-se universidades e, sobretudo, inaugurou-se Brasília, em área próxima. Hoje, é um dos maiores centros financeiros do Brasil, destacando-se no agronegócio e nos serviços voltados à saúde, à administração pública e às atividades imobiliárias. Dentre as capitais do Centro-Oeste, é aquela com IDH mais elevado (0,799) e a que apresentava, em 2010, o maior número de habitantes (1.302.001).

Interessa notar que, diferentemente de outras áreas urbanas no Brasil, as capitais do Centro-Oeste têm os seus passados longínquos e, em certa medida, também os recentes

desvinculados das atividades peculiares aos grandes centros urbanos, como a indústria, o comércio e o turismo, tendo como atividades principais a economia agropecuária e a mineração. Destaca-se, nesse sentido, a situação peculiar de Campo Grande, que, além de ter sido atrativo para migrantes de outras áreas do país e estrangeiros, como japoneses e libaneses, por muito tempo, tende a refletir em seus hábitos características particulares, como o afetado desnível econômico entre as classes sociais:

Os integrantes de classes sociais altas [...] sustentam um padrão de vida superior, traduzido nas habitações, na apresentação ao meio social, nos meios de transporte próprios; os de classe baixa [...] vivem cercados de dificuldades de tôda sorte [...] (DIÉGUES JR., 1960, p. 294)