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Definição das variáveis controladas e preparação para a análise quantitativa

PROCEDIMENTOS ESTABELECIDOS

7.2.2 Definição das variáveis controladas e preparação para a análise quantitativa

7.2.2.1 A variável dependente

Infere-se, do que foi anteriormente exposto, que se estabeleceu como variável dependente, para este estudo, a alternância binária entre presença e ausência de ditongação vocálica diante de /S/.

7.2.2.2.1 Variáveis extralinguísticas

Conforme já se comentou no segundo capítulo e consoante as particularidades dos informantes e da amostra, aqui expostos, controlam-se quatro variáveis de ordem extralinguística, sendo uma variável geolinguística e três variáveis sociais:

Variável geolinguística

Localidade / Distribuição diatópica - cada uma das vinte e cinco cidades consideradas.

Variáveis sociais

Nível de escolaridade - nível fundamental e nível superior; Gênero - homens e mulheres;

Faixa etária - faixa I (de 18 a 30 anos) e faixa II (de 50 a 65 anos). 7.2.2.2.2 Variáveis linguísticas

Na definição das variáveis linguísticas, priorizou-se a interface sonora do português, quer em nível segmental, quer se tratando do nível prosódico. Os grupos, que foram definidos com base em leituras sobre processos de ditongação, em análises preliminares, e, também, a partir da intuição acerca dos elementos envolvidos no processo, constituem oito variáveis de caráter intralinguístico, as quais se comentam e se ilustram adiante.

7.2.2.2.2.1 Domínio prosódico ao qual se vincula a sílaba travada por /S/

Diante das questões abordadas no Capítulo 4, mais especificamente na Seção 4.1.3, surgiu a necessidade de estabelecer uma variável independente que funcionasse como uma tentativa de controle do comportamento das sílabas inseridas nesses grupos clíticos, sobretudo aquelas que compõem as partículas átonas, perante as sílabas das demais palavras fonológicas, uma vez que algumas dessas partículas pareciam manter certa identidade lexical.

Estabeleceram-se, então, com base na visão hierárquica dos constituintes prosódicos, anteriormente explanada, dois fatores:

Palavra fonológica: fóisforo [»fçjSfoRU], churrasco [Su»xaskU], paz [»pajs]. Grupo clítico: nais pessoas [najspe»soås], as pratilêra [aspRatJi»leRå].

Saliente-se que na amostra estavam presentes ocorrências da conjunção ‘mas’ (átona), diante de pausa. Para esses casos, por não ser constituído, necessariamente, um grupo clítico e nem se tratar de uma palavra fonológica independente, a variável foi desconsiderada, tendo sido codificada com o símbolo ‘/’(não se aplica).

7.2.2.2.2.2 Número de sílabas do item

Evidenciou-se, através dessa variável, a influência exercida pela extensão do item sobre o fenômeno em observação. Com esse propósito, compuseram-se quatro fatores:

Uma sílaba (Monossílabos): paiz [»pajs], luz [»lus].

Duas sílabas (Dissílabos): deizvio [dejz»viw], festa [»fEStå]. Três sílabas (Trissílabos): uis dentes [ujz»de)tJIs], incostá [i)koS»ta].

Quatro sílabas ou mais (Polissílabos): churraisqueira [Suxajs»keRå], companheiros [ko)på)j)»eRUs].

7.2.2.2.2.3 Posição da sílaba no item

Examinou-se, com a observação desse grupo de fatores, o modo como a posição da sílaba travada, no item em análise, incide sobre a ditongação variável. Compuseram-se, assim, quatro possibilidades:

Posição inicial: rúisticas [»xujstjikås], us povo [us»povU].

Posição medial: coleisterol [kçlEjstE»Rçw], acustumado [akustu)»madU]. Posição final: colegais [kç»lEgåjS], turistas [tu»Ristås].

Em algumas das análises quantitativas realizadas, o grupo funcionou juntamente com outra variável, de modo a melhor esclarecer os condicionamentos do fenômeno em análise. 7.2.2.2.2.4 Acentuação da sílaba

Definiram-se, para esse grupo, dois fatores38:

Sílabas tônicas: japôneis [Zapo)»nejs], feroz [fE»Rçs].

Sílabas átonas: dais favelas [dajsfa»vElås], desvio [dez»viw]. 7.2.2.2.2.5 Posição da consoante no item

O controle dessa variável decorreu da necessidade de saber se o processo seria favorecido ou não a depender da posição ocupada pela consoante em coda silábica na estrutura do item em que está inserida. Nesse sentido, delimitaram-se três possibilidades:

Consoante em coda interna, medial, não absoluta ((C)V_(S)$): raizgá [xajz»ga], lagosta [la»gostå].

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Para o caso dos grupos clíticos, considerou-se o acento aplicado à sílaba mais proeminente das palavras fonológicas que atuam como hospedeiro dos clíticos nesses grupos.

Consoante em coda externa, final, absoluta ((C)V_(S)#): trêis [»tRejs], vidros [»vidRUs].

Consoante em ataque silábico, casos de ressilabação ((C)V#CV): três a quatro, conjuntos habitacionais [ko»Zu)tUzabitasio)»najs].

Através da avaliação desse último fator, tencionou-se verificar de que modo o processo de ressilabação (juntura), envolvendo uma consoante, inicialmente em coda final, e uma vogal, inicial (como em ‘rapaz amigo’, ‘as árvores’ etc.), ou duas consoantes de igual articulação, uma em coda e a outra em ataque silábico (‘nós chamamos’, ‘nos seios’), interfere na formação de ditongos aqui analisada.

Compreende-se que esse tipo de processo fonológico atua sobre a consoante final, que passa à posição de ataque da sílaba subsequente, proporcionando o estabelecimento de novos padrões silábicos: se, inicialmente, estar-se-ia observando uma sílaba travada por /S/ ((C)VC#), com a juntura passa-se a uma sílaba destituída de consoante de travamento ((C)V$CV).

Ressalte-se que, embora esse fenômeno seja, em alguma medida, comum no PB (pois atua no sentido de reforçar o padrão silábico CV, característico dessa língua), “[...] ainda não foi estudado em todos os seus aspectos.” (COLLISCHONN, 2005a, p. 129). Assim, fazem-se aqui tentativas de esclarecer, dentro dos limites possíveis, as interferências desse processo na ditongação vocálica diante de /S/.

Bisol (1992), sobre o domínio de atuação dessa regra e sua relação com o acento primário, informa que: “Nestes casos apenas a consoante é carregada para o vocábulo seguinte, submetendo-se ao domínio do acento primário do segundo vocábulo.” (BISOL, 1992, p. 93).

Nesse sentido, todas as decisões tomadas com relação à interpretação da tonicidade das sílabas observadas, do número de sílabas presentes e da posição da sílaba no item analisado, em caso de ressilabação, foram tomadas pautando-se na ideia de que apenas a consoante é atraída para o vocábulo subsequente, havendo reestruturação das sílabas, mas não da estrutura vocabular e da pauta prosódica.

7.2.2.2.2.6 Realização fonética da consoante em coda silábica

Buscou-se, mediante o controle desse grupo, observar a relevância dos traços articulatórios da consoante foneticamente realizada em posição de coda na sílaba em destaque na ocorrência de ditongação. Agrupando-se realizações vozeadas e desvozeadas, definiram-se três contextos:

Consoantes fricativas alveolares [s, z]: ais placais [ajs»plakåjs], restôrante [xesto»Rå)tJI].

Consoantes fricativas palato-alveolares [S, Z]: paiz [»pajS], voz [»vçS].

Consoantes fricativas glotais [h, ˙]: deihde (= desde) [»dej˙dI], muitah (= muitas) [»mu)j)tå˙].

Para os casos de ressilabação, em que a consoante deixa de ocupar a posição de coda silábica, a variável foi desconsiderada.

7.2.2.2.2.7 Qualidade da vogal de base

Ao controlar esse grupo de fatores, buscou-se verificar as possíveis interferências das características fono-articulatórias da vogal que ocupa o núcleo da sílaba em observação. Para isso, estabeleceram-se seis fatores, explicitados e exemplificados abaixo:

Vogal média-alta anterior oral [e]: trêis [»tRejS], a mesma [»mezmå]. Vogal média-baixa anterior oral [E]: deiz [»dEjs], imprestado [i)pRES»tadU]. Vogal baixa e média-baixa central oral [a, å]: aliáis [ali»ajs], casas [»kazåz]. Vogal média-alta posterior oral [o]: arroiz [a»xojs], gostosa [gos»tçzå]. Vogal média-baixa posterior oral [ç]: nóis [»nçjz], fósfo[»fçSfU].

Vogal alta posterior oral [u, U]: luiz [»lujs], amigos [å)»migUs]. 7.2.2.3 Preparação das ocorrências: a etapa de codificação dos dados

O ato de codificar consiste em transformar os dados linguísticos em cadeias de caracteres legíveis ao programa utilizado. Os códigos utilizados devem se referir à variável dependente, em análise, e às variáveis independentes controladas, uma vez que são as relações entre estas que se deseja verificar.