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APÊNDICE J − REALIZAÇÕES DO VOCÁBULO ‘LUZ’ (QFF009)

2 NAS TRILHAS DAS CAPITAIS BRASILEIRAS: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA SOCIAL DAS LOCALIDADES ESTUDADAS

2.5 AS CAPITAIS DA REGIÃO SUL

Figura 7 – Estados e capitais da região Sul do Brasil

Fonte: <http:///www.mapas.ibge.gov.br>.

Assim como a região Centro-Oeste, a região Sul do Brasil também é composta por três Estados e três capitais: Paraná (Curitiba), Santa Catarina (Florianópolis) e Rio Grande do Sul (Porto Alegre).

Dentre as regiões brasileiras, é aquela que ocupa a menor porção do território nacional, com somente 576.409,6 km² de extensão. A região assistiu, ao longo do século XX, à penetração constante de imigrantes estrangeiros, porém, a partir da década de 1970, esse

movimento decresceu, fazendo com que o percentual ocupado pela sua população, no quadro geral da nação, crescesse apenas de 10% para 15% entre o final dos séculos XIX e XX.

O processo de povoamento da área começou a se efetivar no século XVII, por ocasião das entradas e bandeiras. No entanto, nesses momentos iniciais, a colonização portuguesa permaneceu restrita a áreas do atual Estado do Paraná e a uma pequena faixa no litoral, não avançando, inicialmente, para o Extremo Sul, que esteve fora dos domínios brasileiros até o século XVIII.

A constituição de Curitiba remonta, precisamente, a essa primeira fase. O domínio e a exploração de suas áreas dizem respeito ao ciclo da mineração aurífera. Bandeirantes e garimpeiros paulistas depararam-se, por volta de 1611, com a área conhecida como Campos de Curitiba ou Sertão de Paranaguá (onde hoje se localiza a cidade de Paranaguá, a 91 km da atual Curitiba) e lá se fixaram com suas famílias. Ao redor desse assentamento inicial, firmaram-se povoados, os quais foram alçados à condição de vila em 1693, por temor da ação de aventureiros e invasores. Durante esse processo, destaca-se a participação de indígenas e mamelucos e como atividades motivadoras para essa ocupação são apontadas a mineração, a criação do gado e o cultivo agrícola.

A região de Curitiba esteve atrelada aos interesses paulistas até meados do século XIX. Apenas em 1853, com a elevação da 5ª Comarca de São Paulo à categoria de Província, a antiga Vila de Nossa Senhora dos Pinhais de Curitiba, já se chamando, a essa altura, Curitiba, se tornou a capital da Província do Paraná.

Na atualidade, Curitiba é uma das maiores metrópoles do país, possuindo, em 2010, uma população de 1.751.907 habitantes. Destaca-se, no panorama nacional, como referência em planejamento urbano e qualidade de vida, ocupando também o papel de cidade com a economia mais forte no Sul do Brasil, sobretudo pela presença de importantes multinacionais nas áreas da automobilística e da informática. Seus habitantes são também contemplados com um grande número de instituições de ensino superior. Seu IDH de 0,823 lhe garante o lugar de segunda capital do Sul mais desenvolvida, estando atrás somente de Florianópolis.

A história da capital de Santa Catarina, Florianópolis, é marcada pela presença esporádica de estrangeiros, nos séculos XVI e XVII, e pela ocupação definitiva apenas entre os séculos XVIII e XIX. A região era primitivamente habitada por índios Guaranis e, à aurora da colonização brasileira, por Tupis. Após ser visitada e ocupada, de modo temporário, por navegadores de diferentes nacionalidades e ter sido povoada por bandeirantes paulistas, a antiga Vila de Nossa Senhora do Desterro, estabelecida na ilha catarinense, se viu, em 1689,

abandonada pelos habitantes, inclusive índios e escravos. Esse fato teve como motivador a destruição das benfeitorias do fundador, Francisco Dias Velho, por piratas.

No século XVIII, a área de Florianópolis voltou a ser ocupada por indivíduos oriundos de São Vicente. Nesse mesmo século, chegaram os imigrantes dos Açores, que viriam a corresponder a importante parcela da população florianopolitana e a lhe transferir importante contribuição cultural.

Essa migração foi incentivada pela Coroa portuguesa e, assim como no caso das áreas ao Norte do Brasil, teve como objetivo o povoamento das áreas brasileiras pouco povoadas àquela altura e, além disso, aliviar o excedente populacional encontrado na Ilha dos Açores.

Hoje, Florianópolis diverge de outras grandes capitais por viver, basicamente, do turismo, do comércio e dos investimentos em tecnologia, sendo incipiente a atividade industrial. Com o maior IDH dentre as capitais brasileiras (0,847), destoa, ainda, das suas vizinhas, no Sul e Sudeste, por não poder ser considerada uma metrópole, possuindo, em 2010, uma população de 421.240 habitantes. A educação também é um fator distintivo para essa capital. Considerando apenas esse quesito, o seu IDH é de 0,800, um dos mais altos do país, sendo cerca de 92% dos seus moradores alfabetizados.

Ressalte-se ainda que, no caso da região Sul, os açorianos não permaneceram restritos a Florianópolis, sendo figuras importantes também na ocupação da área de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. O ponto inicial da consolidação da capital gaúcha é considerado a doação de uma sesmaria, pelo rei de Portugal, em 1740, a um português, que já constituíra uma fazenda no local, em 1732. Compusera-se ali a povoação de Capela Grande do Viamão, conhecida como Porto de Viamão, por servir de ancoradouro a embarcações que chegavam ao local.

As levas de casais açorianos, direcionadas de Santa Catarina, chegariam a essa área em 1751. Outros casais chegaram diretamente dos Açores um ano mais tarde e foram levados a porções específicas da vila, de onde se espalharam por toda a Porto de Viamão. Com essa dispersão, a área passou a ser conhecida também como “Porto dos Casais” e “Porto de São Francisco dos Casais”.

Com a migração açoriana para áreas pouco povoadas, a Coroa portuguesa desejava uma ocupação baseada na colonização estável, assegurando o seu domínio, ameaçado, no Sul, sobretudo, pelos espanhóis. Esses indivíduos atuariam na cultura agrícola, determinando o rei de Portugal que cada casal recebesse, ao chegar, instrumentos para o cultivo, armas e uma porção de terra, cujos limites poderiam se ampliar, se a sua família aumentasse. Sobre a ocupação açoriana no Sul, Diégues Jr. (1960) esclarece e sintetiza:

O açoriano não povoou apenas a faixa litorânea do Rio Grande; também foi êle o povoador do litoral catarinense. Nos séculos XVIII, começaram a chegar a Santa Catarina as levas de ilhéus, localizados em vários lugares, onde iniciaram a prática de uma atividade agrária [...]. [...] foram êles, os ilhéus, que ocuparam o litoral catarinense em vários pontos, como que estabelecendo focos de contacto com o Sul e com o Norte. As póvoas e vilas por êles criados tornaram-se os núcleos de agregados humanos, onde se fixavam não só as bases do domínio lusitano como também seus valores culturais. (DIÉGUES JR., 1960, p.310-311).

Ainda acerca da formação de Porto Alegre, na segunda metade do século XVIII, milicianos paulistas se juntaram a essa população, que se ampliou com a chegada, no século XIX, de imigrantes europeus. Em 1773, a designação “Porto Alegre” foi oficializada e a cidade passou a ser capital.

No decurso do século XX, assistiu ao seu crescimento urbano e populacional, tornando-se uma das metrópoles brasileiras, apresentando, ao fim da primeira década do século XXI, uma população de 1.409.351 habitantes. Com IDH de 0,805, destaca-se também no campo da educação, tendo recebido do MEC, em 2007, o status de Cidade Livre do Analfabetismo.

Sobre a composição étnica das áreas ao Sul do Brasil, salienta-se que, durante o período de ocupação, persistiram os indígenas, os mamelucos paulistas, em algumas porções, e, sobretudo, o português, representado, majoritariamente, pelos açorianos. Posteriormente, vieram os europeus e outros estrangeiros, como os japoneses, persistentes, principalmente, em Curitiba. Os escravos africanos compuseram uma pequena parcela dessa população. Esse quadro ecoa na história atual, revelando-se, a partir dos resultados do Censo de 2000, que os brancos eram maioria na região Sul (83,3%), enquanto os autodeclarados pretos e pardos eram pouco expressivos ali.

Apresentadas as particularidades da história social das 25 cidades aqui estudadas, percebe-se que, de fato, elas refletem momentos diferenciados da história brasileira, havendo desde aquelas cujas primeiras notícias acerca do povoamento se referem ao princípio da colonização portuguesa no Brasil, como áreas do litoral nordestino e São Paulo, àquela (Porto Velho) constituída já no período republicano, no século XX.

Compreende-se, a partir daí, que o tempo, somado aos agentes que proporcionaram as suas ocupações e aos episódios que culminaram em seus estabelecimentos, e também as suas situações no panorama nacional da atualidade são elementos que lhes propiciaram diferentes caracterizações socioculturais e que, por conseguinte, deverão repercutir nos usos linguísticos locais. É justamente a possível heterogeneidade na realização das vogais em sílabas fechadas por /S/, decorrente das particularidades de cada uma dessas áreas, que se intenta identificar neste estudo.

3 DIALETOLOGIA E SOCIOLINGUÍSTICA: CAMINHOS PARA O TRATAMENTO