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O CAPITAL POLÍTICO EM OCASO: AS ELEIÇÕES ESTADUAIS DE 2002 E DE 2006 E DISPUTA SENATORIAL DE

Nosso último capítulo será dedicado a descrever e compreender os

mecanismos de ocaso do capital político de Tasso Jereissati – o que, na mesma linha de pensamento, CARVALHO (2002, p. 26) vai considerar como “desgaste”, a nosso ver iniciado ainda em seu terceiro governo (1999-2002) pelos diversos embates com os movimentos sociais (em especial com a onda de privatizações realizadas em seu governo – COELCE, BEC – e com o aumento da dívida pública), com políticos tradicionais e com a própria Assembleia Legislativa, de onde sairão as principais defecções que, se não ocasionaram diretamente seu ocaso político, contribuíram sobremaneira para seus contínuos enfraquecimentos políticos que culminariam com sua primeira derrota pessoal ao disputar a reeleição para o Senado Federal em 2010.

Iniciaremos analisando o processo eleitoral de 2002, dando ênfase às defecções na base tassista com as saídas de Wellington Landim e Sergio Machado para disputarem o governo do Ceará com fortes discursos de ataque à “era Tasso” e na escolha de um político tradicional e sem vínculos históricos com o próprio Tasso e nem com o grupo que o havia conduzido ao poder; focalizaremos nas dificuldades eleitorais de Lucio Alcântara em vencer a disputa no segundo turno e no encolhimento iniciado no número de deputados do PSDB, mas destacaremos sua vitória ao Senado Federal.

Depois, abordaremos o processo eleitoral de 2006, quando Tasso esvaziaria a candidatura de Lucio Alcântara à reeleição, retirando assim o apoio do PSDB ao candidato, e contribui para a eleição de Cid Ferreira Gomes (PSB) para o governo do Estado, político com quem mantinha vínculos pessoais e que havia sido já seu líder na Assembleia Legislativa.

Por fim, nossa análise recairá sobre o pleito de 2010, em que Tasso disputa a reeleição para o Senado Federal e, por não contar com o apoio do então governador Cid Gomes, amarga sua primeira e, talvez, definitiva derrota

eleitoral, dando mostras do ocaso em que seu capital político iniciara-se, segundo parece-nos, desde a eleição de 2002.

4.1- Contextualizando a disputa eleitoral de 2002: a quem delegar o capital político de Tasso Jereissati?

A eleição de 2002, sem dúvida alguma, trazia como questão principal a sucessão de Tasso Jereissati, que implicava na escolha de um nome que pudesse aglutinar forças e apoios políticos tais que viessem a garantir a continuidade de um longo projeto de poder iniciado com sua vitória em 1986. Da primeira vez em que não podia disputar a reeleição, em 1990, havia se saído vencedor com escolha de Ciro Gomes, conforme salientamos no capítulo anterior, escolha essa que havia provocado alguns desconfortos no grupo de poder e algumas defecções na sua base de apoio.

Começava ali o modus operandi de escolha de candidatos que caracterizaria a centralidade das decisões em um restrito grupo: Tasso, Ciro e algum convidado ocasional, no mais das vezes, o senador Luis Pontes (PSDB). Em 2002 as coisas não ocorreriam de forma diferente.

O debate em torno do escolhido para suceder Tasso reacenderia arestas e atritos que não haviam sido extintos desde a eleição de 1990, no caso de Sergio Machado, ou a partir do tratamento dispensado à Assembleia Legislativa, no caso de Welington Landim e mesmo, se formos remontar à formação do comitê “Pró-Mudanças”, veremos atritos que agora seriam reavivados com a candidatura do antigo aliado de primeira hora, Pedro Albuquerque, pelo PDT, que teceria duras críticas a Tasso e a seu candidato em 2002, Lucio Alcântara.

Porém, antes de tudo cabe aqui formularmos uma pergunta: que governo era esse que seria sucedido naquela eleição? Que legado haveria de ser defendido por quem quer que fosse o candidato escolhido? E, mais ainda, que elementos teria ele para apresentar-se de forma deslegitimada pelos candidatos opositores? Para responder a essas perguntas, faremos uma ligeira contextualização da situação política do Ceará naquele momento.

As relações do Executivo com o Legislativo, desde 2000, haviam sido marcadas pela tensão que demonstrava-se com as mensagens enviadas à Assembleia, vindas sempre com o carimbo de “urgência” para a aprovação.

Tais mensagens, que causavam um certo desagrado na base de apoio, acabaram por canalizar forças à oposição para convocar audiências públicas e negociações do Governo com importantes segmentos sociais. A subserviência do Legislativo, então presidido por Welington Landin (importante político com forte penetração na Região Centro-Sul do Ceará, deputado estadual havia 3 mandatos, e então filiado ao PSDB), ao Executivo possível pela imensa maioria que o governo possuía ali, só começou a desfazer-se quando este anunciou sua saída dos quadros do PSDB, junto com outros seis deputados, indo todos ao PSB, partido que naquela eleição lançaria Antonny Garotinho à presidência da República e que, por isso mesmo, atuaria fortemente no Estado durante a campanha.

O primeiro abalo ocasionado com a saída de Landin e seu grupo deu-se com a mensagem enviada pelo Executivo em que se tratava do reajuste salarial do funcionalismo publico estadual, em 4 de setembro de 2001, a quase um ano da eleição.

A nova configuração de forças na Casa proporcionou a primeira derrota do Governo, estampada no dia seguinte nas primeiras páginas de todos os jornais estaduais. Tasso vetou as emendas feitas pelos parlamentares, em especial as 6 emendas eu concediam aumento de 10% ao funcionalismo estadual, mas seus vetos foram todos derrotados pela Assembleia, um dia depois de ter sido ali instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar desvios de recursos e concessões escusas de créditos feitas pelo Banco do Estado do Ceará (BEC) a grandes empresas do Ceará e que não estavam honrando os pagamentos e nem sendo cobradas a faze-lo.

A nova correlação de forças na Casa, desencandeada com a saída do presidente Welington Landin do PSDB, deixou o bloco governista desorientado. Desacostumados com o processo de negociação, com toda uma história de truculência e autoritarismo, os tassistas sequer apareceram no plenário, com medo de perder. Para que os vetos fossem derrubados, eram

necessários 24 votos. Do lado oposicionista, ninguém perdeu a chance de comparecer à histórica sessão. No momento da votação, 27 parlamentares responderam à chamada. O clima na Assembleia era de pura euforia. As galerias da Casa ficaram lotadas de servidores do Legislativo, fazendários, policiais civis e militares. Todos atingidos por vetos do Executivo. A cada resultado divulgado contra o Governo, seguiam-se aplausos e gritos de entusiasmo. (BRUNO, 2002, p.80).

De repente, esvaindo-se a maioria governamental, na Assembleia instalou-se CPI para investigar gestão temerária no BEC, derrubaram-se vetos, discutiu-se orçamento, entre outras mutações no comportamento do Legislativo. Quebrou-se, assim, o “pacto homologatório” entre governador e deputados estaduais, marcado pela vinculação partidária comum do governador e do partido e coalizão parlamentares majoritários, advinda das urnas. Em 2001, o curto-circuito que provocou o rompimento – sobretudo pelo seu aspecto simbólico – do presidente da Assembleia Legislativa com o governo estadual trouxe na esteira a candidatura do mesmo presidente a governador. (MORAES, 2002, p.8)

O enredo do rompimento tem como tônica a postura imperial do governo no trato com os políticos, até mesmo aliados, implicando em frustração das pretensões de candidatos a cargos majoritários não ungidos por suas graças. Landin filia-se ao PSB com apoio de lideranças do PT, PCdoB e do PDT, que festejavam o fato como alvissareiro ao projeto de unir as esquerdas em uma frente única contra a hegemonia do PSDB no Ceará. (CARVALHO, 2003a, p.7)

Assim, pois, a saída de Landin dos quadros do PSDB provocou uma importante defecção que veio a modificar o cenário para o quadro sucessório de 2002. Seu rompimento foi exposto na capa da revista “Fale”, em outubro de 2001, espalhada em outdoors pelas ruas da cidade de Fortaleza com o seguinte texto: “Welington Landim- o homem que peitou Tasso”. A reportagem fazia referência ao seu rompimento com o governador e à instalação da CPI do BEC.

Outra importante defecção que auxilia-nos a compreender os desgastes e os sinais de ocaso da liderança e da hegemonia de Tasso Jereissati na política cearense, e em especial dentro do PSDB, deu-se com a saída de Sérgio Machado. Conforme salientamos anteriormente, na primeira sucessão de Tasso, em 1990, Sérgio Machado viu criar-se em torno de seu nome as expectativas de que a escolha recaísse sobre seu nome, o que foi frustrada com a decisão pessoal de Tasso em escolher Ciro Gomes.

Em 2002, o movimento se repetiria. Dentre os vários nomes que se levantaram dentro do partido para aquela sucessão, estava o seu. Sergio havia sido o principal coordenador da campanha de Tasso em 1986, e um de seus principais aliados. Sua dedicação àquela campanha conferiu-lhe a marca de “senhor paciência” (SARAIVA, 2011, p. 155), uma vez ser deles as várias formações de acordos com políticos tradicionais que iam aderindo à candidatura de Tasso e também de ir convencendo esses políticos quanto às novas modalidades de políticas a serem implantadas por Tasso.

Incansável e dormindo poucas horas, tinha a incrível capacidade para ouvir pessoas em conjunto ou individualmente, a todos dispensando muita atenção [...] Sergio incorporou ou transformou em cabos eleitorais, em cada munícipio, pessoas que até então eram conhecidas pelas suas atividades de pequenos empresários, como por exemplo distribuidores de gás, refrigerantes e cervejas. [...] O engenho de Sérgio permitiu a construção de um espinhaço humano e suficientemente capaz, por onde trafegava, também a necessidade de informação, de tal modo que os políticos envolvidos na campanha, eram acompanhados de perto. (IDEM, op. cit., pp. 168-169).

A inteira dedicação de Sergio Machado à campanha de Tasso, além de transformá-lo em seu maior e mais dedicado apoiador, também legou-lhe os mais importantes atritos com lideranças políticas que foram construindo-se ao longo da “era Tasso”, inclusive já durante a campanha de 1986 e nos primeiros passos de formação da referida temporalidade:

Sua inteira dedicação à causa que abraçou levou-o a contrair adversários. Durante a campanha observou-se uma certa emulação com Amarílio Macedo que tomou a iniciativa de instalar um comitê visando à participação da sociedade civil [...] posteriormente, se soube que havia realmente um desentendimento. Esse desentendimento ficou claro, quando a nova administração se instalou e Amarilio tentou transformar o Pró-Mudança em governo paralelo, que teria o objetivo de acompanhar a concretização do que a sociedade reclamava. (IDEM, ibidem).

Um dos principais elementos constituidores da “era Tasso”, no que diz respeito ao tratamento dispensado aos políticos que procuravam seu apoio, considera-se como de responsabilidade de Sergio Machado: trata-se do “chá de cadeira”, mecanismo pelo qual se fazia com que os políticos esperassem longamente por uma audiência com Tasso, chegando muitos deles a desistir da

empreitada sem que a audiência de fato acontecesse. Tal postura acarretou um enorme desgaste político que, em vez de ser capitalizado por Tasso, tinha em Sergio Machado o seu escape.

Apesar disso, acumulara importância política no Estado, tendo sido eleito senador em 1994, pelo PSDB, na coligação que reconduziu Tasso ao governo estadual, e cuja outra vaga para senador havia sido ocupada por Lúcio Alcântara. Face às declarações de Tasso de que não pretendia disputar a reeleição em 1998, o nome de Sérgio Machado havia sido lembrado, junto ao de outros políticos, como Lúcio Alcântara, Luis Pontes, Raimundo Viana e Amarilio Macedo, mas novamente não consegue sacralizar-se, uma vez Tasso decidir, de última hora, lançar-se à reeleição.

Tendo negado pela terceira vez seu desejo de disputar o governo pelo grupo político no qual estava inserido desde 1986, Sergio Machado troca o PSDB pelo PMDB em 3 de outubro de 2001, fazendo um duro discurso no Senado com severas críticas ao “PSDB cearense”, alegando estar “mudando de partido, mas não de objetivos ou ideais”, pois quem havia mudado era o “PSDB do Ceará, que prega a democracia mas não a pratica internamente”.

O fato é que Sérgio Machado, coligado ao PFL de Moroni Torgan (que havia sido vice de Tasso entre 1995 e 1998, mas havia rompido politicamente com este, e a quem Sergio Machado havia apoiado na disputa para a Prefeitura de Fortaleza em 2000, contrariando a ordem de Tasso de apoiar Patrícia Sabóia, ex-mulher de Ciro Gomes), sai para disputar o governo estadual em 2002.

Em entrevista publicada no jornal O Povo (22/10/2001), Sergio Machado explicita sua decisão de posicionar-se como o grande candidato de oposição, invocando sua condição de ex-aliado para legitimar-se como “conhecedor” dos problemas mais intrínsecos do governo, articulando uma crítica a partir de dentro, de quem conhece internamente os caminhos indesejáveis do projeto político em curso:

Não sou daqueles que entraram no acabamento do projeto. Eu entrei nos alicerces e, por conhecer os alicerces desse projeto, é que sou crítico. Eu não entrei quando a obra estava acabada.

Esse projeto é um sonho de combate à miséria, de democracia e de inclusão social. E o caminho seguido mudou.

Alguns elementos teóricos permitem-nos compreender melhor as palavras acima. Antes de tudo, percebe-se que a credencial de Sergio Machado, o momento de sua entrada no “projeto”, no momento inicial, de formação, garante-lhe uma “legitimidade por filiação”, em que o político detém atribuições decorrentes “do fato de pertencer a certo grupo social”, que o permite “invocar o testemunho dos antigos” para legitimar-se enquanto candidato (CHARAUDEAU, op.cit., p.71).

Observemos, também, que invocando um projeto político do qual fora construtor, e legitimando-se por nele estar como construtor, como filiado de primeira hora, Sergio Machado invoca um imaginário pautado pela “busca das origens”, em que se defende “os valores que, em um tempo passado, foram fundadores de uma comunidade e pelos quais seus membros deveriam sentir-se responsáveis” (IDEM, op.cit., p.211). Assim fazendo, ao mesmo tempo em que se religava aos anseios democráticos de participação, construção coletiva e de combate à miséria, mostrava Tasso e os que com ele continuavam como “traidores” do projeto iniciado ainda no final da década de 70.

Logo, dois grandes nomes ligados ao grupo hegemônico de Tasso não mais estavam dispostos a fazer alianças em prol da manutenção do grupo político tassista. Visualizava-se, sem dúvida, um momento importante da história política do Ceará, que traria de volta a competitividade eleitoral no cenário estadual. É o que podemos compreender a partir do seguinte texto publicado pela revista Inside à época:

Sucessão, profecias e milagres – há poucas semanas ninguém

nos bastidores políticos duvidava que o PSDB de Tasso elegeria seu sucessor, quem quer que fosse. Com o surgimento de mais candidaturas parecidas com a modernidade neoliberal e o surpreendente avanço no processo de coalizão das esquerdas, a coisa mudou. Pela primeira vez em 15 anos os cearenses podem ter uma alternativa real ao poder e nenhum mágico vai tirar da manga da camisa ou coelho da cartola alguém para entronizar no Cambeba (Revista Inside, janeiro de 2002).

Conforme já foi destacado aqui, a centralidade do poder estadual e do poder político-partidário nas mãos de Tasso Jereissati configurou-se por

apresentar momentos eleitorais de pouca competitividade em que, tanto Tasso Jereissati quanto seus aliados, sempre venceram as eleições estaduais (Governo, Senado Federal, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa) com bastante facilidade, e no caso das eleições para o Governo, sempre em primeiro turno, demonstrando o considerável volume de seu capital político tanto para si quanto para seus apoiados.

Essa possibilidade, pelo próprio desgaste por que passava o campo político tassista, estava longe de tornar-se realidade, pois vislumbrava-se uma campanha que traria de volta a competitividade perdida. Assim, seria a primeira vez que teríamos a realização de um segundo turno para o cargo de Governador do Ceará:

De fato, resultados não antecipados talvez tenham sido a característica mais presente nos resultados das eleições de 2002 no Ceará, diferentemente do que ocorreu nos pleitos dos anos 90, quando as vitórias e derrotas eram vitórias e derrotas anunciadas pelos institutos de pesquisa com distâncias a perder de vista. Agora, foi a primeira vez que aconteceu um segundo turno em eleição para governador do Estado, desde que, pela Constituição de 1988, tal mecanismo foi instituído [...] Pedindo de empréstimo a imagem, aconteceu um raio num céu de meio- dia ensolarado, a pedir pesquisas de maior profundidade do processo político-eleitoral cearense que meras estatísticas. (MORAES, op.cit.,, p.1-2)

Tal quadro de análise apresenta o pleito de 2002 como um momento de volta da competitividade eleitoral mas também, e talvez exatamente por isso, como um momento que marca o declínio da expressividade do capital político de Tasso Jereissati, que comandava a política cearense já há 16 anos. Assim, convém compreender que tal eleição “acabou por ganhar um traço plebiscitário” (IDEM, op.cit., p.8), levando os eleitores a decidirem apertadamente pela manutenção ou não do modelo político hegemônico há mais de uma década.

Um terceiro elemento que permite compreender os sinais do ocaso do capital político de Tasso (o que significa falar também em ocaso das formas com que conduzia as decisões políticas do PSDB e de seu grupo político) diz respeito à escolha do nome do candidato do partido à sua sucessão. Se seu capital não desse já sinais de ocaso, sobre quem recairia tal escolha? Certamente, sobre um político que fosse o mais semelhante e próximo a si. Contudo, não foi isso o

que aconteceu. O político “tradicional” Lúcio Gonçalo de Alcântara, um “político de raízes”, com trânsito fácil entre lideranças políticas tradicionais, foi o escolhido.

A possibilidade de ampliar as bases eleitorais do PSDB em outras arenas eleitorais, agora com fortes ameaças de desfazer-se devido aos rompimentos engendrados no ano anterior (uma vez que Landin e Machado possuíam grande penetração no interior do Estado), pesara a favor da escolha do nome de Alcântara, uma vez que este era tido por um político com grande habilidade de manter relações com lideranças de partidos aos quais havia participado antes do PSDB, como o PFL e o PDT.

Após longo período de hegemonia, o grupo político empresarial enfrentou as primeiras dificuldades na eleição de 2002. Nesse momento, o candidato escolhido para disputar o governo do Ceará é Lúcio Alcântara, que não tem forte identidade com o

grupo, mas foi uma alternativa diante das disputas no interior do bloco tassista e por se apresentar como uma das lideranças com

capacidade para vencer aquele processo eleitoral. [...]

Assim, a escolha de Lúcio Alcântara para a disputa eleitoral de

2002 pode ser considerada um indicativo de esgotamento do ciclo de poder hegemônico dos empresários que se aglutinaram

no CIC. Esta hipótese se sustenta na percepção de que se dispunha, naquele momento, de outros candidatos capazes de representar com mais identidades aquele grupo (Cid Gomes ou Luis Pontes).(NOBRE, 2008, p. 85-86, grifo nosso).

Há fortes razões a indicar que a escolha de Lúcio Alcântara para disputar o cargo de governador deve-se à racionalidade instrumental que caracteriza o centralismo tassista, como

resposta à maré montante do oposicionismo originário das defecções na grei governista. Em Lúcio Alcântara, político que

vive para a política e não da política, lembrando a disjunção proposta por Max Weber, Tasso Jereissati teria vislumbrado um

candidato com possibilidades mais concretas de vitória, a despeito de ser um político que transita em faixa própria, com idéias e projetos não automaticamente alinhados ao estilo de fazer política tassista. Em favor de Lúcio Alcântara desistiram

outros candidatos a candidato, a saber, o senador Luis Pontes, posto como o preferido de Tasso Jereissati há muito tempo, Marcus Tavares, ex-Ministro do Planejamento e Raimundo Viana, ex-Secretário Estadual do Desenvolvimento (MORAES, op.cit., p.3, grifos nossos).

A candidatura de Lúcio Alcântara constituía-se, antes de tudo, numa reação às defecções sofridas no interior do bloco de apoio em torno de Tasso, optando por uma liderança com trânsito fácil entre os espectros políticos mais tradicionais do estado, e também entre alguns setores da intelectualidade cearense. Mas, mesmo deixando os nomes mais ligados a si - Cid Gomes,