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Observemos que, mais uma vez, Tasso evoca a instância cidadã para explicar sua derrota: “essa foi uma decisão dada primeiro pela população e

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ciclo político sob a liderança de Tasso Jereissati, ou a “Era Tasso”, é um

momento de suma importância para a história política do Ceará, carregado de significados. Ao estudar tal temporalidade política podemos perceber que ela oferece elementos de compreensão da contemporaneidade política de nosso país. À medida em que essa pesquisa foi se desenhando, no intuito de compreender a particularidade da forma como o capital político de Tasso foi sendo gerado dentro de uma coletividade e aos poucos vai centralizando-se em sua persona, dando-os mostras de que o Ceará está, como de resto o país inteiro, ainda entregue ao fenômeno da personalização da política, a um sistema político em que a centralidade das decisões, e mesmo a centralidade dos processos eleitorais e da própria política ainda encontra-se refém do carisma e da liderança pessoal de sujeitos que, por elementos tidos socialmente como valiosos – capitais – conseguem destacar-se e assumir a condução do Estado.

Até onde pudemos compreender, graças ao nosso estudo, a “Era Tasso” constituiu-se em um novo ciclo de poder, um novo ciclo hegemônico na política cearense, que teve à frente elementos de modernidade que pautaram a prática política de empresários. Isso inscrevia-se em consonância com um contexto nacional, que clamava por mudanças tanto a nível de sistema político – a luta pela redemocratização – quanto a nível de políticas governamentais, numa luta ensejada no combate à todas as formas de miséria.

Nosso objetivo maior foi, partindo da teoria sociológica de Pierre Bourdieu, apresentarmos uma compreensão mais elucidativa de como se constituiu, consolidou e entrou em ocaso a liderança política de Tasso Jereissati. Sua teoria dos campos foi-nos de grande valia. Com efeito, compreender a política enquanto uma arena de lutas e disputas, em meio a seus jogos, interesses, regras e atores, permitiu-nos contextualizar cada momento eleitoral por nós selecionado para a realização da pesquisa e identificarmos os seus elementos constituintes.

Foi assim que, para compreendermos a razão da vitória de Tasso Jereissati, em 1986, fomos aos primórdios da inserção política do Centro

Industrial do Ceará, ainda na década de 70, e percebendo que, na verdade, precisávamos remontar ao seu período de fundação, para melhor compreendermos sua refundação que colocou-lhes as bases para a decisão pela inserção na vida política do Ceará.

Foram as lutas pela redemocratização e pelo combate ostensivo à miséria que permitiram a Tasso Jereissati e a seu grupo saírem vencedores naquela eleição, em que o capital político constitui-se nessas bandeiras de luta, tão valiosas para uma sociedade há muito refém de práticas políticas que legavam a si uma permanência em temporalidades que não acompanhavam e nem faziam visualizar tempos de mudança.

Mas, pudemos perceber como o maior dos anseios, o maior interesse, aquilo que havia colocado os atores no envolvimento daquela disputa, o desejo de maior participação na condução política do Estado, logo seria abandonado, desautorizado, não seria mais uma “palavra política”, no novo ciclo de poder. As bandeiras de luta e a participação da sociedade na condução do governo, e também na condução dos rumos e decisões do partido ao qual Tasso e seu grupo migrariam, o PSDB, logo seriam centralizadas em sua persona e compartilhada por alguns poucos de sua estrita confiança. O capital político, a notoriedade, o prestígio acumulado por uma coletividade, aos poucos ia sendo incorporado em Tasso Jereissati e por ele utilizado para legitimar o seu prestígio. Com isso é que impõe e elege, por duas vezes seguidas, Ciro Gomes como seu candidato, em detrimento de outras candidaturas que se colocaram com maior representatividade coletiva.

Assim é que vemos que, ao passar do tempo, o partido tassista acumulava mais forças ao longo das cidades do interior, com um número crescente de prefeituras a cada eleição; a Assembleia Legislativa passava, eleição após eleição, a ser composta em sua esmagadora maioria por políticos ligados a Tasso; as eleições para o Senado Federal, facilmente vencidas por seus apoiados; e as eleições para o governo igualmente conquistada por um grau de facilidade, a ponto de nunca precisar seguir ao segundo turno para vencer-se a si mesmo como o grande vencedor.

A situação de seu capital, sua notoriedade começaria a ser posta em cheque quando precisa escolher um nome para sucedê-lo, em 2002. Tendo sido forçado, pela força das circunstâncias, a escolher um nome sem aparente ligação a si, com o risco de sair derrotado pela primeira vez, Tasso vê a primeira eleição estadual a ser disputada em segundo turno, e vencida por seu candidato por uma estreita vitória. Ali, dar-se-iam os primeiros sinais de desgaste e corrosão de seu caráter, em especial por ser o momento anterior ao surgimento e consolidação de outros atores políticos que, também aceitando as regras do jogo da política, investiriam pesadamente no intuito de acúmulo de capital.

Luizianne Lins, pelo campo político da esquerda, e Cid Gomes, apoiado por esta mas com fortes ligações com Tasso e com lideranças políticas do interior, seriam os responsáveis maiores por atestar o ocaso político de Tasso Jereissati: a sua derrota eleitoral para a reeleição ao Senado, em 2010, que, na própria enunciação de Tasso, poria fim â sua vida política.

Compreendemos que, ao menos em termos de Brasil, o capital político em prestígio, tal como expresso durante a “Era Tasso” (com um grande número de eleitos ao longo do período em que hegemonizou a cena política estadual, em eleições com pouca competitividade), envolve o controle da máquina estatal. Percebemos isso ao vermos que: com a entrada de Tasso no PSDB, aumenta- se ao longo dos anos os parlamentares e prefeitos do partido eleitos pelo Ceará; os senadores cearenses são de seus quadros partidários; o seu apoio é mais buscado enquanto permanece como governador. Prova disso é que, quando em 2002 Lucio Alcântara se candidata à reeleição, os quadros do PSDB e prefeitos de outros partidos vão em busca de seu apoio, abandonando sua candidatura a medida em que as chances de vitória vão esvaindo-se. Ao achegar-se ao poder estadual um loutro grupo político, inclusive partidário (PSB, de Cid Gomes), vemos os mesmos mecanismos de consolidação de hegemonia presentes na “Era Tasso”, inclusive com o aumento dos quadros partidários, numero de eleitos e eleições com baixa competitividade. Os mesmos sinais e elementos agora a constituírem um novo ciclo político, uma nova temporalidade que por nós será estudada durante nosso doutorado, realizado nessa mesma instituição.