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O CAPITAL POLÍTICO PERSONIFICADO: AS VITÓRIAS ELEITORAIS DE CIRO GOMES (1988 e 1990) E AS RECONDUÇÕES DE TASSO JEREISSAT

AO GOVERNO ESTADUAL (1994 e 1998)

Nesse capítulo procederemos com uma análise das vitórias eleitorais de Ciro Gomes à Prefeitura Municipal de Fortaleza, em 1988, e ao Governo Estadual do Ceará, em 1990, contando com o apoio explícito e a mobilização de Tasso Jereissati, dando já mostras de sua notoriedade enquanto liderança com considerável capital político que agora, tendo incorporado-se em si, já poderia ser mobilizado em favor de outro político. Também será nosso intuito observarmos as vitórias de Tasso em 1994, quando retorna ao governo estadual, e sua fácil reeleição, em 1998, numa reedição do duelo travado com as “forças do atraso”, em 1986.

3.1-A disputa pela Prefeitura de Fortaleza: o “Cambeba” saindo-se vitorioso em meio às primeiras críticas

Se o ano de 1987 havia sido permeado por rompimentos que certamente trariam perda nos dividendos eleitorais de Tasso Jereissati (com o PMDB, com as esquerdas e com os empresários ligados ao “Pró-Mudanças”), o ano de 1988 apresentar-se-ia como importante momento para a tentativa de minorar os efeitos prejudicais à política tassista que poderiam vir a ocorrer. Urgia a necessidade de ações que pudessem conferir a Tasso Jereissati uma vitória na eleição para a Prefeitura Municipal de Fortaleza, dando mostras que, apesar do desgaste que passava, possuía capilaridade e força para emplacar um seu aliado no comando da capital cearense.

Com o pleito à vista, sobre quem recairia a escolha de Tasso para representar o grupo vitorioso em 1986? Que nome poderia contrapor-se à gestão de Maria Luiza Fontenele, que passava já por um grande desgaste? A participação como líder do governo na Assembleia, a defesa enfática do governo que havia feito durante as inúmeras greves dos primeiros meses, as visitas que fizera às favelas da capital, os embates com a prefeita de Fortaleza, dentre

outros elementos, fizeram com que a escolha recaísse sobre Ciro Gomes, que não era um nome natural, que guardasse uma identidade com o CIC ou com o PMDB, que ainda buscavam um certo espaço na condução do governo. Ciro e sua família, já com forte capilaridade política na cidade de Sobral, deram apoio à candidatura de Tasso ao governo estadual em 1986, sendo uma das primeiras manifestações de apoio de cidades do interior à sua candidatura. Ciro estava em seu segundo mandato como deputado estadual, colocando-se ao lado de Tasso na problemática eleição para a Mesa Diretora da Assembleia, que culminou com a eleição de Antônio Câmara, depois tornado um desafeto de Tasso.

Mas, um empecilho logo se apresentaria: Ciro possuía domicílio eleitoral na cidade de Sobral, e a legislação em vigor determinava o prazo de ao menos um ano para a devida transferência daqueles que pretendiam concorrer a um cargo eletivo.

Em recente entrevista ao programa “Memória Viva”, da TV OPOVO, Ciro relatou que Tasso levara esse empecilho ao então senador constituinte Mauro Benevides, que modificou as disposições transitórias da Constituição Federal, encurtando para quatro meses (exatamente o tempo que restava a Ciro Gomes) o prazo para a mudança de domicílio. Em troca, Mauro Benevides seria contemplado com a indicação do médico Juracy Magalhães, para a vaga de vice-prefeito. E assim montou-se a chapa que disputaria o comando da capital com o apoio e a estrutura do Governo do Estado.

Ocorre que a principal candidatura de oposição ao escolhido por Tasso Jereissati viria a ser formada por personagens que haviam se mobilizado em torno de sua candidatura, em 1986, e que agora apresentavam à sociedade cearense as primeiras críticas ao seu modo de conduzir a coisa pública. Um considerável número de empresários, liderados por Amarilio Macedo, reuniu-se em torno de um movimento suprapartidário denominado “Fortaleza, sim; Cambeba, não!” (Cambeba foi o nome escolhido para o Centro Administrativo do Governo do Ceará durante as gestões de Tasso Jereissati e que nomeou, a partir daí, os políticos ligados a si), que escolheu o radialista Edson Silva para disputar, contra aquela eleição, pelo PDT. Segundo Amarilio, aquele movimento

tinha por objetivo questionar e deslegitimar um “processo hegemônico de fechamento” político que propunha um “alinhamento incondicional” entre Estado e Prefeitura, rechaçando qualquer crítica e fazendo com que qualquer discordância fosse “tachada como proveniente de um descontentamento, de um interesse contrariado” (OPOVO, 22/10/1988).

As respostas ao movimento, que havia espalhado por toda a cidade adesivos com seu slogan, também veio acompanhada de adesivos em defesa do governo: “Fortaleza, sim. Cambada, não!”. Estava em curso, assim, um anseio de hegemonia política que não havia se encerrado com a vitória para o governo estadual e que agora buscava ampliar-se para a capital cearense. Também os políticos ligados ao regime militar, e que haviam sido derrotados na eleição de 1985 (quando lançaram o nome de Lucio Alcântara), lançaram o nome do pastor Gidel Dantas para disputar a prefeitura.

As coligações formadas foram as seguintes:

TABELA 03: COLIGAÇÕES ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE FORTALEZA 1988

COLIGAÇÃO CANDIDATOS PARTIDOS

COLIGAÇÃO DA MUDANÇAS CIRO GOMES PMDB, PMB

FRENTE DEMOCRÁTICA EDSON SILVA PDT, PCdoB

TRABALHANDO COM FORTALEZA GIDEL DANTAS PFL, PDC

ALIANÇA PARA A DIGNIDADE TORRES DE MELO ODS,PMN

FRENTE PROGRESSISTA MÁRIO MAMEDE PT,PSB,PCB,PV

LIBERAL PEDRO GURJÃO PL

HUMANISTA DALTON ROSADO PH

MARCOS CALS PSD

AGUIAR JUNIOR PJ

Apesar de ter uma carreira política consolidada na cidade de Sobral e de ser herdeiro de uma família de políticos, Ciro Gomes nem era conhecido do eleitorado da capital e nem representava os interesses do CIC. Sua apertada vitória, contudo, conferiu ao grupo político de Tasso Jereissati a condução ao comando da capital cearense, na única eleição em que esse grupo manteve-se, ao mesmo tempo, na condução do Estado e da Prefeitura da capital, uma vez

que esta constituiu-se, ao longo da “era Tasso” como um foco de resistência a esse projeto hegemônico de poder, sendo este seguidamente derrotado nas eleições ao Governo do Estado na capital; além disso, todos os outros nomes que concorreram à Prefeitura com o explícito apoio de Tasso (Assis Machado, em 1992; Socorro França, em 1996; Patricia Sabóia, em 2000 e 2008; Antônio Cambraia, em 2004; e Marcos Cals, em 2012) foram derrotados, obtendo votação aquém do esperado para um candidato apoiado por um governador com considerável capital político.

O resultado da eleição foi o seguinte:

Tabela 04: Eleição para a Prefeitura de Fortaleza 1988

CANDIDATO VOTAÇÃO % DE VOTOS

CIRO GOMES 179.274 25,79 EDSON SILVA 173.957 25,05 GIDEL DANTAS 95.162 13,69 TORRES DE MELO 62.425 8,98 MÁRIO MAMEDE 33.768 4,86 PEDRO GURJÃO 16.615 2,39 DALTON ROSADO 13.442 1,93 MARCOS CALS 6.171 0,89 AGUIAR JUNIOR 5.994 0,88 BRANCOS 62.888 9,05 NULOS 45.558 6,55 FONTE:TRE/CE

A apertada vantagem de Ciro Gomes sobre Edson Silva, o segundo colocado (vantagem esta que durante muitos anos fez permear uma série de dúvidas quanto à lisura daquela apuração), também verificou-se na eleição para a Câmara Municipal: a coligação de Ciro consegue eleger 7 vereadores contra 6 da coligação de Edson Silva.

3.2 “Ciro Gomes é Tasso”: a vitória de Ciro Gomes ao governo estadual nas eleições de 1990

As eleições estaduais de 1990, vencidas por Ciro Gomes a partir de uma escolha pessoal de Tasso Jereissati, são de suma importância para a compreensão da consolidação do capital político deste. Ressalte-se que essa foi

a primeira eleição em que o grupo disputa pelo PSDB, após inúmeras desavenças dentro do PMDB. Já em outra agremiação partidária, Tasso engendra alianças, novamente, com partidos de esquerda, desta vez com o PDT, que agora era liderado no Ceará por Lúcio Alcântara, um antigo desafeto seu, mas que possuía capilaridade política no interior do Estado.

Dentro do PMDB as divergências com Tasso e seu grupo ocorreram, antes de tudo, com a possiblidade deste vir a apoiar o nome de Fernando Collor de Melo à Presidência da Republica, na eleição de 1989, o que gerou a saída de três secretários ligados ao PMDB do governo. Também foram causadas pela busca de espaço no cenário nacional em que Tasso e seu grupo caminhava, espaço esse dificultado pelos limites colocados pela elite do partido, já consolidada a nível nacional, e que via com preocupação tal movimento de “nacionalização” do grupo cearense. Era, pois, com o grupo histórico do partido que Tasso entrava em atrito, o que ocasionou sérias dificuldades geradas por esse ao governo estadual. Assim, será com a entrada de Tasso e seu grupo no PSDB que seu espaço na política nacional será ampliado, sobretudo quando Fernando Henrique Cardoso sair vitorioso na eleição presidencial de 1994.

Abaixo seguem as coligações formadas, bem como os resultados da eleição:

Tabela 05 Eleições para o Governo do Ceará 1990

CANDIDATO COLIGAÇÃO VOTOS % NO ESTADO

CIRO GOMES PSDB/PDT/PDC 1.279.492 54,32%

PAULO LUSTOSA PDS/PMDB/PFL/PTR/PSD/PTdoB 871.047 20.08%

JOÃO ALFREDO PT/PCB/PSB/PCdoB 185.482 6,40%

AGUIAR JUNIOR PRN 19.508 0,67%

VOTOS BRANCOS 298.216 10,30

VOTOS NULOS 242.440 8,37%

TOTAL 2.896.185 100,00%

FONTE: TRE/CE

Observemos que a coligação apoiada por Tasso contou com o apoio do PDT, partido contra o qual havia disputado a eleição pela Prefeitura de Fortaleza dois anos antes. Como foi possível o acordo? Muitos políticos do PFL e do PDS

migraram para o PDT, permitindo o apoio de inúmeras lideranças que haviam sido derrotadas em 1986 ao grupo tassista, que começava a dar mostras de uma possível hegemonia a desenhar-se na cena política estadual. O PMDB, por sua vez, que havia sido importante na eleição de Tasso em 1986 e na de Ciro Gomes, em 1988, agora postava-se como oposição ao grupo político, lançando o nome de Paulo Lustosa, tendo Luzia Távora, esposa do coronel Virgilio Tavora, como sua candidata a vice.

O primeiro nome a surgir na disputa estadual foi o do deputado federal Lucio Alcântara, que havia passado pelo PDS e pelo PFL, e agora estava no PDT. Com grande espaço entre as lideranças do interior, um exímio político de laços tradicionais, a candidatura de Lúcio oferecia ameaças consistentes ao nome apoiado por Tasso, uma vez que era exatamente entre esses políticos que se registravam as maiores insatisfações com a forma pelo qual Tasso se relacionava com lideranças políticas. Assim é que os primeiros movimentos de Tasso serão no sentido de desqualificar Lucio Alcântara como um “político do modelo que passou”, representando uma sua possível vitória um “retrocesso ao Ceará” (MOTA, op.cit., p.156).

Graças à aproximação de Tasso com Moema Santiago, deputada federal pelo PDT cearense e com notoriedade política a nível nacional, conseguiu-se destruir a candidatura de Lúcio Alcântara e garantir o apoio do PDT ao nome escolhido por Tasso, mas com a indicação do vice devendo ser feita pelo partido, que acabou indicando o nome de Lúcio Alcântara, que também representava ameaças ao grupo tassistas, em segundo lugar, por terem sido divulgadas na imprensa cearense noticias que davam conta de um suposto acordo entre este e o deputado Paes de Andrade, igualmente desafeto de Tasso e com forte legitimidade entre a classe política cearense.

Vencida essa dificuldade, Tasso Jereissati teria de enfrentar outra: o surgimento do nome de seu aliado fiel, Sergio Machado, à sucessão estadual. Antes da entrada de Tasso nos quadros do PSDB, Lucio Alcântara, Sergio Machado, Beni Veras e Amarilio Macedo haviam participado exaustivamente dos movimentos de fundação do partido no Ceará. Isso por conta da posição de

Tasso no pleito de 1989, dando sinais de que apoiaria Collor, e não Mario Covas. Assim, somente depois é que Tasso comporia os quadros do PSDB, inclusive chegando a vetar nomes que constavam em sua lista de desafetos, como Lucio e Amarilio, nos quadros do partido. Somente quando estes constarem na lista de apoiadores de seu projeto é que serão convidados a filiarem-se, o que demonstra como desde os momentos iniciais o PSDB será conduzido pelos desejos pessoais de Tasso, na centralidade exaustiva de sua persona.

Quando ocorrem as filiações ao PSDB no Ceará, logo o nome de Sergio Machado surge como o candidato do partido à sucessão estadual:

Em todos os locais de filiação, o nome de Sergio Machado surgia como candidato oficial ao governo do Estado. As manifestações de apoio ao secretário ultrapassavam a euforia da filiação partidária.

E não era de se estranhar. O secretário desde a campanha eleitoral de 1986 que elegeu o governo Tasso, tornara-se o alter ego do governador e na administração imprimiu sua organização às ações desenvolvidas pelo governo como um todo, implicitamente autorizado para em seu nome falar e decidir em questões de natureza política.

Havia sido, inegavelmente, o condutor da campanha municipal que, a duras penas, levara o Cambeba a eleger o Prefeito de Fortaleza, transformando um candidato difícil numa complicada vitória eleitoral. (MOTA, op.cit. p.217).

Observe-se que a candidatura de Sergio Machado surge como expressão de uma coletividade que havia possibilitado a vitória de Tasso em 1986. De inicio, conforme salienta o historiador, não houve oposição de Tasso à candidatura de Sergio Machado, pois, segundo aquele “o importante é o projeto das mudanças” (IDEM, op.cit., p.218).

Contudo, ao ver seu nome cotado entre as lideranças políticas, Sergio Machado passa a ensaiar conversas com políticos que haviam sido derrotados por Tasso e seu grupo na eleição anterior (dentre eles, Adauto Bezerra e Aecio de Borba), conversas essas que tinham o objetivo de carrear apoios à sua candidatura, que não aparecia bem colocada nas pesquisas de opinião que iam sendo divulgadas.

Assim, uma celeuma instalou-se no grupo tassista, que passou a ver na empreitada de Sergio Machado um retrocesso ao passado por eles derrotado. A “mudança” iniciada com a vitória de Tasso corria, agora, sério risco de ver-se derrotada caso aquela aliança de fato se concretizasse. Nesse sentido, em março de 1990, Tasso emite declarações de que não interferiria no processo eleitoral, deixando ao PSDB a escolha do nome a suceder-lhe, mas que não permitiria alianças com partidos que representassem “retrocesso no processo de mudanças”. (MOTA, op.cit.,).

A escolha do nome de Ciro, decisão monocrática de Tasso Jereissati, passaria como um feito conturbado e desconfortável para o partido:

Eram 12h30min do dia 23 de março de 1990 quando o governador Tasso chamou ao seu gabinete o secretário Sergio Machado e ordenou: “Sergio, convoque a imprensa para amanhã e anuncie o nome de Ciro como nosso candidato a Governador”. Sergio surpreendido “o que é isso, Tasso, eu ainda posso melhorar nas pesquisas”. Ao que retrucou o governador: “não há mais tempo e você teve o tempo do mundo”. Sergio endurecendo: “O partido foi organizado por mim. Disputarei na convenção”. Tasso batendo forte na mesa de trabalho “não temos mais assunto”. [...] Tasso depois diria à imprensa que [...] “o desejo do povo tem que ser o nosso desejo, por isso resolvemos levar à convenção o nome do prefeito Ciro Gomes”. [...] Sergio Machado adotou um comportamento partidário e ético no episódio, anunciando que seria candidato a deputado federal e acataria a decisão do governador. (IDEM, op.cit., p.228). Além de ver Ciro Gomes eleito com uma ampla vantagem, Tasso Jereissati ainda veria outros números como sinais de seu fortalecimento pelo Estado: Beni Veras, empresário de sua estreita confiança (que depois seria eleito como seu vice-governador, em 1998) seria eleito senador com 1.026.965 votos (35,46% do total), derrotando o conhecido Paes de Andrade, que recebera apenas 752.950 votos (26%). Sua coligação (PSDB/PDT/PDC) elegeu 10 deputados estaduais contra 7 da principal coligação opositora (PMDB/PFL/PDS), e 22 deputados estaduais, contra 14 da coligação de Paulo Lustosa, sendo que somente do PSDB foram eleitos 18 deputados estaduais (o que representava 40% da Assembleia composta de parlamentares do PSDB, partido de Tasso Jereissati).

Na eleição municipal seguinte, de 1992, o grupo de Tasso amargaria a primeira das sucessivas derrotas na capital cearense. Tendo o vice-governador Lucio Alcântara sido lançado candidato pelo PDT, não contou com o apoio de Tasso e Ciro Gomes, uma vez que estes apoiaram abertamente o nome do empresário Assis Machado Neto, que foi derrotado (voltaremos a falar desse assunto no próximo capítulo). Apesar disso, o PSDB conseguiu eleger 86 prefeitos pelas cidades do interior, o que representava 47% das prefeituras do Ceará, dando mostras do volume de capital político daquela que era a maior notoriedade do partido no Estado: a persona política Tasso Jereissati.

3.3-A consolidação do capital político de Tasso: a recondução ao governo estadual (1994) e sua reeleição (1998)

As disputas eleitorais de 1994 e 1998 demonstram a forte dependência do grupo político ao nome de Tasso, observável sobremaneira pela dificuldade do surgimento de nomes de outras lideranças que viessem a compensar a capacidade ampliada de Tasso em aglutinar votos, bem como pela dificuldade em o PSDB conciliar as suas disputas internas que viabilizassem um consenso em torno de um outro candidato.

Em 1994, o então governador Ciro Gomes, eleito na sombra de Tasso Jereissati, esforçou-se em conduzir alianças eleitorais do com setores mais à esquerda, numa coligação que agregasse o PT, o PSB e o PPS, além do PDT, que havia rompido com o grupo desde a eleição de 1988. Contudo, a aliança nacional do PSDB com o PFL, levada a cabo por Fernando Henrique Cardoso, obrigou o grupo local a ter de incluir esse partido no seu leque de alianças. Também Lúcio Alcântara, então vice-governador, passa a buscar apoios em partidos de esquerda. Mas é o próprio Tasso quem também sugeriria a necessidade e o desejo de uma reaproximação com os setores da esquerda tal como havia desenrolado-se na eleição de 1986:

[...] no Ceará, o desejo dos tucanos é fechar acordo com forças progressistas [...] Tasso descartou qualquer acordo com o PFL, PMDB, PP e PPR, “pois estes partidos estão apoiando um candidato definido”, no caso o ex-prefeito Juracy Magalhães. Tasso voltou a afirmar não estar certa sua candidatura ao

Governo do Ceará. “O meu desejo não é esse. Eu quero que surjam novas lideranças, que haja renovação. Sinceramente, eu não quero ser candidato” – disse Jereissati. (O POVO, 13 de abril de 1994).

Apesar das inúmeras tentativas de reaproximação com as esquerdas, será com os setores empresariais e com os segmentos de lideranças políticas tradicionais que Tasso Jereissati disputará sua segunda eleição para o governo estadual, numa disputa sem nomes competitivos (a não ser o do ex-prefeito de Fortaleza, Juracy Magalhães, que sai coligado com o deputado Antônio Câmara na vaga de vice), e vencida ainda em primeiro turno. Essa disputa foi marcada pela adesão de inúmeras lideranças de outros partidos à candidatura de Tasso, agora um nome politicamente conhecido a nível nacional, tendo já presidido o PSDB e tendo sido cotado para a disputa para a Presidência da República. Dentre outras coisas, o que pode explicar a onda de adesões à sua candidatura é a popularidade do Plano Real e de este ser visto como “obra” de Fernando Henrique Cardoso, que era o candidato apoiado por Tasso a presidente do país:

O deputado federal Ernani Viana (PP) aderiu ontem à candidatura do tucano Tasso [...] O deputado prometeu a adesão de 50 vereadores filiados ao seu partido e disse que pretende “trabalhar pela adesão do deputado José Linhares” [...] salientou no encontro com Tasso que não existe divergência entre ele e o candidato peemedebista Juracy Magalhães. “Não é uma coisa pessoal. O Plano econômico elaborado por Fernando Henrique Cardoso é que está sendo implantado com seriedade, numa iniciativa que merece todo o nosso apoio”, comentou. (OPOVO, 19 de agosto de 1994).

Tasso concorreu tendo como vice o ex-delegado da Polícia Federal Moroni Torgan, que depois descolar-se-ia de sua imagem e empreenderia uma carreira política solo no Ceará, chegando por duas vezes a ser o deputado federal mais votado no Estado (1998 e 2002) e disputando por três vezes a prefeitura de Fortaleza, indo ao segundo turno em uma delas (2004). Os senadores da coligação foram o ex-deputado e ex-vice governador Lúcio Alcântara e Sergio Machado, novamente dando mostras da expressividade do capital político de Tasso, vencendo ele mesmo facilmente as eleições para o governo e fazendo com que seus apoiados saíssem-se também vencedores nas disputas pelas vagas do Senado Federal. As candidaturas formadas para esta eleição, bem como os resultados eleitorais, seguem abaixo:

Tabela 06: Eleições para o Governo do Ceará 1994

CANDIDATO COLIGAÇÃO/PARTIDOS VOTAÇÃO %

TASSO JEREISSATI PSDB/PDT/PTB 1.368.757 55,32

JURACY MAGALHÃES PMDB/PFL/PPR/PP/PSD 930.407 37,61

JOAQUIM CARTAXO PT/PPS/PSB/PCdoB 75.753 3,06